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segunda-feira, 11 de março de 2024

CARTA À MARUJA

Bartolomé Blanco Márquez (Córdoba, 1914) foi um mártir da perseguição religiosa na Espanha nos anos 30 do século passado. Foi executado em 2 de outubro de 1936, antes de completar 22 anos, enquanto gritava 'Viva Cristo Rei!' Em seu processo de beatificação (Blanco foi beatificado em 28 de outubro de 2007 pelo papa Bento XVI), consta a seguinte carta escrita à sua noiva Maruja, às vésperas de sua execução, e traduzida a seguir.


Prisão provincial de Jaén, 1 de outubro de 1936

Maruja da [minha] alma:

A tua memória vai me acompanhar até o túmulo e, enquanto o meu coração bater, baterá de afeto por ti. Deus quis sublimar estes afetos terrenos, enobrecendo-os quando os amamos por meio d'Ele. É por isso que, embora nos meus últimos dias, Deus seja a minha luz e o meu anseio, Ele não impede que a lembrança da pessoa que me é tão querida me acompanhe até à hora da morte.

Sou assistido por muitos sacerdotes que, como uma doce consolação, derramam os tesouros da graça na minha alma, fortificando-a; olho a morte de frente e, acredite de verdade, que não a temo nem a receio.

A minha sentença no tribunal dos homens será a minha maior defesa perante o Tribunal de Deus: procurando denegrir-me, enobreceram-me; procurando condenar-me, absolveram-me; procurando perder-me, salvaram-me. Compreendes isso? Porque, com a morte, deram-me a verdadeira vida e, ao me condenarem por defender sempre os ideais elevados da Religião, da Pátria e da Família, abriram-me as portas do Céu.

Os meus restos mortais serão sepultados num nicho deste cemitério de Jaén; enquanto me restam apenas algumas horas antes desse repouso definitivo, permita-me que te peça apenas uma coisa: que em memória do amor que tivemos um pelo outro, e que neste momento se intensifica, tenhas como principal objetivo a salvação da tua alma, porque assim estaremos reunidos no céu por toda a eternidade, onde nada nos poderá separar.

Até lá, então, Maruja da minha alma! Não te esqueças que estou a olhar para ti do céu, e procura ser um modelo de mulher cristã porque, no fim da nossa vida, de nada servem os bens e as alegrias terrenas se não conseguirmos salvar a nossa alma.

Um pensamento de gratidão é dirigido para toda a tua família e, para ti, todo o meu amor, sublimado nas horas da morte. Não te esqueças de mim, minha Maruja, e que a minha memória te sirva para teres sempre presente que há outra vida melhor e que alcançá-la deve ser a tua mais alta aspiração.

Sê forte e reconstrói a tua vida, és jovem e bondosa, e terás a ajuda de Deus, a quem eu implorarei do seu Reino. Adeus, até à eternidade, quando continuaremos a amar-nos para sempre.

Bartolomé

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

SOBRE AS VIRTUDES HEROICAS


A noção de heroicidade deriva de herói, originalmente um guerreiro, um semideus; portanto, expressa uma conotação de certo grau de bravura, fama e distinção que coloca um homem acima dos demais. Santo Agostinho aplicou pela primeira vez o título de herói aos mártires cristãos; desde então, prevaleceu o costume de o atribuir não somente aos mártires, mas a todos os confessores cujas virtudes e boas obras superam em muito as das pessoas de bem comuns. Bento XIV, cujos capítulos sobre a virtude heroica são clássicos, descreve assim a heroicidade: 'Para ser heroica, uma virtude cristã deve permitir ao seu possuidor realizar ações virtuosas com prontidão, facilidade e prazer invulgares, a partir de motivos sobrenaturais e sem ponderações humanas, com abnegação de si mesmo e pleno controle sobre as suas inclinações naturais'. Uma virtude heroica, portanto, é um hábito de boa conduta que se tornou uma segunda natureza, uma nova força motriz mais forte do que todas as inclinações inatas correspondentes, capaz de tornar fácil uma série de ações que seriam, para um homem comum, uma tarefa cheia de grandes dificuldades, e certamente insuperáveis.

Além das quatro virtudes cardeais, o santo cristão deve ser dotado das três virtudes teologais, especialmente da caridade divina, a virtude que informa, batiza e consagra, por assim dizer, todas as demais virtudes; que as associa e unifica num poderoso esforço de participação na vida divina. Como a caridade está no cume de todas as virtudes, assim a fé está no seu fundamento. Com efeito, é pela fé que se chega primeiro a Deus e se eleva a alma à vida sobrenatural. A fé é o segredo da consciência; para o mundo, ela se manifesta pelas boas obras realizadas: 'A fé sem obras é morta' (Tg 2,2). Tais boas obras são principalmente: 
  • a profissão externa da fé, 
  • a observância rigorosa dos mandamentos divinos, 
  • a oração, 
  • a devoção filial à Igreja, 
  • o temor de Deus, 
  • o horror ao pecado, 
  • a penitência pelos pecados cometidos, 
  • a paciência na adversidade. 
Todas ou algumas delas atingem o grau de heroicidade quando praticadas com perseverança incansável, durante um longo período de tempo ou sob circunstâncias tão difíceis que homens de perfeição comum seriam dissuadidos de agir. Os mártires que morrem em tormentos pela Fé, os missionários que a propagam sem descanso por toda a vida ou os pobres humildes que, com infinita paciência, arrastam pela vida afora a sua existência miserável somente para cumprir a vontade de Deus e colher a sua recompensa no futuro, estes são os heróis da Fé.

(Excertos da Catholic Encyclopedia)

quarta-feira, 20 de maio de 2020

LEMBRANDO OS MÁRTIRES DE ABITENE...


Em 24 de fevereiro de 303, o imperador Diocleciano publicou um decreto proibindo aos cristãos, sob pena de morte, ter posse das Escrituras, reunir-se aos domingos para celebrar a Eucaristia e construir templos para os cultos da sua religião. Em Abitene, pequena localidade da África romana (na atual Tunísia), o bispo local (chamado Fundano) sucumbiu covardemente ao edito e entregou os Textos Sagrados às autoridades romanas. 

Alguns cristãos, porém, se recusaram a abdicar da fé cristã e continuaram professando a devoção corrente aos sacramentos. Num certo domingo, rezando a missa clandestinamente, 49 cidadãos de Abitene foram denunciados, presos e levados à presença das autoridades romanas em Cartago. Um a um, foram interrogados sobre a ilegalidade destes encontros e um a um, mesmo sob tortura, ratificaram os seus atos e a sua participação no santo sacramento da eucaristia por vontade e consciência próprias. 

O presbítero Saturnino, que havia presidido o culto, morreu sob tortura sem abdicar da sua fé cristã, sendo o seu ato seguido igualmente pelos seus quatro filhos: Saturnino, Felix, Maria e Hilarião, o mais novo. Quando perguntaram a Emérito porque participara do culto, ele respondeu: Sine Dominico non possumus! [Sem o domingo, não podemos (viver)!]. Isto é, sem o domingo, sem o sacramento da missa e da eucaristia, não podemos ser realmente católicos, não podemos viver sem celebrar o Dia do Senhor! Todos os demais proclamaram esse mesmo princípio e, por ele, foram todos assassinados como mártires da eucaristia.

Segundo a Tradição, eis os nomes dos 49 mártires de Abitene: Saturnino (pai), Saturnino (filho), Felix, Maria, Hilarião, Emérito, Dativo, Ampélio, Felix (outro), Rogaciano, Quinto, Maximiano ou Máximo, Tecla ou Tazelita, Rogaciano (outro), Rogado, Januário, Cassiano, Vitoriano, Vicente, Prima, Ceciliano, Restituta, Eva, Rogaciano (terceiro com o mesmo nome), Givalio, Rogado (outro), Pompônia, Secunda, Januária, Saturnina, Martino, Clautus, Felix (terceiro com o mesmo nome), Margarida, Maggiora, Honorata, Regiola, Vitorino, Pelúsio, Fausto, Deciano, Matrona, Cecília, Vitória, Herculina, Secunda (outra), Matrona (outra), Januária (outra) e Benigno, filho recém-nascido de Ampélio.

Acabamos de viver uma Páscoa sem sacramentos - um cenário indescritível nos 2000 anos da Igreja. Fundano é exemplo para quem? Pelo sangue destes mártires, a Igreja primitiva nos faz recordar que é melhor um cristão morrer do que abdicar da eucaristia e dos santos sacramentos... Quantos homens de Deus, nestes tristes tempos, seriam capazes de seguir até o fim o exemplo extremado dos 49 mártires de Abitene: sem o Domingo, o dia do Senhor, nós já não podemos viver?

segunda-feira, 25 de julho de 2016

SANTOS E MÁRTIRES (VII)

SÃO CRISTÓVÃO


Embora seja um dos santos mais venerados da Igreja, pouco se conhece historicamente da vida de São Cristóvão. A sua referência tem origem em lendas que se perdem no tempo e que o descrevem como um gigante que, prostrado à beira de um rio muito caudaloso, fazia valer a sua força e a sua altura para ajudar as pessoas a atravessá-lo.

Eis que de uma certa feita, tal travessia lhe foi solicitada por um menino muito formoso. E, acostumado à tarefa, o gigante se dispôs de imediato a fazê-la. À medida que avançava pelas águas, porém, o peso da criança tornava-se assustadoramente maior, a ponto de submergi-los. Arfando e espumando de cansaço sob o peso descomunal e, amparado em um longo bastão em que se apoiava no fundo do rio, o gigante conseguiu reunir todas as suas forças remanescentes e finalmente depositar a criança em segurança na margem oposta, após uma luta tremenda contra os seus próprios músculos e resistência.

Limpando o suor do rosto em fogo, com as narinas dilatadas e sorvendo sofregamente o ar que lhe fugia dos pulmões, Cristóvão virou-se para o menino com voz entrecortada:

'O mundo não é mais pesado do que tu!'

E o menino, sorrindo-lhe docemente, retrucou:

'Tu levaste sobre os ombros mais do que o mundo todo, levaste o seu próprio Criador e Aquele a quem deves servir'.

E assim se deu a conversão de Cristóvão - 'aquele que carrega o Cristo'. O santo é retratado comumente levando o menino Jesus às costas e passou a ser invocado como o protetor dos condutores de veículos e pelos viajantes de maneira geral. O Martirológio Romano confirma de forma resumida o martírio desse varão católico: tendo sido ferido com varas de ferro e preservado da violência do fogo pelo poder de Jesus Cristo, foi finalmente transpassado por flechas e recebeu o martírio pela decapitação.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

OS PRIMEIROS MÁRTIRES DA IGREJA


1. ESTEVÃO

Santo Estevão foi o primeiro mártir da Igreja. Seus executores, excitados de ódio, o expulsaram da cidade, apedrejando-o até matá-lo. A época em que sofreu o martírio supõe-se geralmente ser a Páscoa posterior à da crucifixão de Nosso Senhor. Em seguida, suscitou-se uma grande perseguição contra todos os que professavam a crença em Cristo como Messias, ou como profeta. São Lucas nos diz de imediato que 'fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém', e que 'todos foram dispersos pelas terras da Judeia e de Samaria, exceto os apóstolos' (At 8,1). Por volta de dois mil cristãos, incluindo Nicanor, um dos sete diáconos, padeceram o martírio durante a 'tribulação suscitada por causa de Estevão' (At 11,9).

2. TIAGO MAIOR 

O seguinte mártir que encontramos na História dos Atos dos Apóstolos, cerca de dez anos depois da morte de Estêvão, é Tiago, filho de Zebedeu, irmão mais velho de João e parente de nosso Senhor. Assim que Herodes Agripa foi designado governador da Judeia, com o propósito de congraçar-se com os judeus, suscitou uma intensa perseguição contra os cristãos. Clemente de Alexandria dá o testemunho de que, quando Tiago estava sendo conduzido ao lugar de seu martírio, seu acusador foi levado ao arrependimento, caindo aos seus pés para pedir-lhe o perdão, professando-se cristão e juntando-se a Tiago na coroa do martírio. Por isso, ambos foram decapitados juntos. Timão e Parmenas sofreram o martírio por volta daquela época; o primeiro em Filipos, e o segundo na Macedônia. Estes acontecimentos tiveram lugar no ano de 44 d.C. 

3. FELIPE 

Nasceu em Betsaida da Galileia, e foi o primeiro a ser chamado como 'discípulo'. Trabalhou diligentemente na Ásia Superior e sofreu o martírio em Heliópolis, na Frígia. Foi açoitado, encarcerado e depois crucificado, em 54 d.C. 

4. MATEUS 

Sua profissão era a de arrecadador de impostos, tendo nascido em Nazaré. Escreveu o seu evangelho em hebraico, que foi depois traduzido para o grego por Tiago Menor. Os cenários de seus trabalhos foram Partia e a Etiópia, país em que sofreu o martírio, sendo morto com uma lança na cidade de Nadaba, no ano 60 d.C. 

5. TIAGO MENOR 

Foi escolhido para supervisionar as igrejas de Jerusalém, sendo o autor da Epístola de Tiago. À idade de noventa e nove anos, foi espancado, apedrejado e morto pelos judeus, que lhe esmagaram o crânio.

6. MATIAS 

Dele se sabe menos do que da maioria dos discípulos; foi escolhido para preencher a vaga deixada por Judas; foi apedrejado em Jerusalém e depois decapitado. 

7. ANDRÉ 

Irmão de Pedro, pregou o evangelho a muitas nações da Ásia; mas ao chegar a Edessa foi preso e crucificado numa cruz cujos extremos foram fixados transversalmente no chão, o que deu origem á chamada Cruz de Santo André

8. MARCOS 

Nasceu de pais judeus da tribo de Levi. Supõe-se que foi convertido ao cristianismo por Pedro, a quem serviu como amanuense, e sob cujo cuidado escreveu seu Evangelho em grego. Marcos foi arrastado e despedaçado pelo populacho de Alexandria, numa grande solenidade ao ídolo Serapis

9. PEDRO 

Entre muitos outros santos, o bem-aventurado apóstolo Pedro foi condenado à morte e crucificado, provavelmente em Roma. Hegéssipo diz que Nero buscou razões contra Pedro para condená-lo à morte; e que quando o povo percebeu isso, rogaram-lhe insistentemente para que fugisse da cidade. Pedro, ante a insistência deles, foi finalmente persuadido e se dispôs a fugir. Porém, chegando até as portas da cidade, viu o Senhor Cristo diante dele e, adorando-o, disse: 'Senhor, aonde vais?' ao que o Senhor lhe respondeu: 'Ser de novo crucificado'. Com isto, Pedro voltou imediatamente à cidade. Jerônimo diz que foi , então, crucificado de cabeça para baixo, sob sua própria vontade pois considerou-se indigno de ser crucificado da mesma forma que o Senhor. 

10. PAULO 

Também o apóstolo Paulo, que antes se chamava Saulo, após seu enorme trabalho e obra indescritível para promover o Evangelho de Cristo, sofreu também duras perseguições. Diz Obadias que Nero enviou dois de seus cavaleiros, Ferega e Partêmio, para que lhe dessem a notícia de que ia ser executado. Ao chegarem até Paulo, que estava instruindo o povo, pediram-lhe que orasse por eles, para que eles se convertessem. O apóstolo disse-lhes, então, que em breve eles acreditariam e seriam batizados diante do seu sepulcro. Em seguida, outros chegaram e, tirando-o da cidade, o levaram para o lugar das execuções, onde, depois de ter orado, entregou o pescoço à espada. 

11. JUDAS 

Irmão de Tiago, era comumente chamado Tadeu; foi crucificado em Edessa no ano de 72 d.C. 

12. BARTOLOMEU 

Pregou o Evangelho em vários países, tendo traduzido o Evangelho de Mateus para os povos da Índia. Foi cruelmente açoitado e crucificado por idólatras. 

13. TOMÉ 

Chamado Dídimo, pregou o Evangelho em Partia e na Índia, onde por ter provocado a fúria dos sacerdotes pagãos, foi martirizado, sendo atravessado por uma lança. 

14. LUCAS 

O evangelista foi o autor do Evangelho que leva o seu nome. Viajou com Paulo por vários países, e se supõe que foi pendurado a uma oliveira pelos idólatras sacerdotes da Grécia. 

15. SIMÃO 

Apelidado de zelote, pregou o Evangelho na Mauritânia e também na Grã Bretanha, país no qual foi crucificado em 74 d.C. 

16. JOÃO 

O 'discípulo amado' era irmão de Tiago Maior. As igrejas de Esmirna, Sardes, Pérgamo, Filadélfia, Laodicéia e Tiatira foram fundadas por ele. Foi enviado de Éfeso a Roma, onde se afirma que foi lançado num caldeiro de óleo fervendo. Escapou milagrosamente, sem dano algum. Domiciano o desterrou posteriormente na ilha de Patmos, onde escreveu o livro do Apocalipse. Nerva, o sucessor de Domiciano, o libertou. Foi o único apóstolo que escapou de uma morte violenta. 

17. BARNABÉ 

Era de Chipre, porém de ascendência judia; supõe-se que a sua morte teve lugar por volta do 73 d.C. 

(Excertos da obra 'O Livro dos Mártires'. de John Fox, com adaptações)

sábado, 29 de agosto de 2015

29 DE AGOSTO - MARTÍRIO DE SÃO JOÃO BATISTA


Ilustre precursor da graça e mensageiro da verdade, João Batista, tocha de Cristo, torna-se evangelista da Luz Eterna.

O testemunho profético que não cessou de dar com a sua mensagem, com toda a sua vida e a sua atividade, assinala-o hoje com o seu sangue e o seu martírio.


Sempre tinha precedido o Mestre: ao nascer, anunciara a sua vinda a este mundo.

Ao batizar os penitentes do Jordão, tinha prefigurado Aquele que vinha instituir o seu batismo.


E a morte de Cristo redentor, seu Salvador, que deu a vida ao mundo, também João Batista a viveu antecipadamente, derramando o seu sangue por Ele, por amor.


Bem pode um tirano cruel metê-lo na prisão e a ferros; em Cristo, as correntes não conseguem prender aquele que um coração livre abre para o Reino.

Como poderiam a escuridão e as torturas de um cárcere sombrio dominar aquele que vê a glória de Cristo, e que recebe Dele os dons do Espírito?
 

Voluntariamente oferece a cabeça ao gládio do carrasco; como pode perder a cabeça aquele que tem a Cristo por seu chefe?

Hoje sente-se feliz por completar o seu papel de Precursor com a sua partida deste mundo.


Aquele de quem dera testemunho em vida, Cristo que vem e que já aqui está, hoje proclama a sua morte.

Poderia a mansão dos mortos reter esta mensagem que lhe foge?


Alegram-se os justos, os profetas e os mártires, que com ele vão ao encontro do Salvador.

Todos eles rodeiam João com amor e louvores. E com ele suplicam a Cristo que venha finalmente ter com os seus.

Ó grande Precursor do Redentor, Ele não tarda, Aquele que te libertará para sempre da morte.

Conduzido pelo teu Senhor, entra na glória com os santos!

('Hino ao Martírio de São João Batista', de São Beda, o Venerável, Doutor da Igreja, 673 - 735)

sábado, 14 de março de 2015

SANTOS E MÁRTIRES (VI)


OS QUARENTA MÁRTIRES DE SEBASTE

No ano de 313, com a promulgação do Edito de Milão pelo imperador Constantino, o império romano passou a garantir a livre expressão de culto pelos cristãos. Na prática, porém, as perseguições ainda se mantiveram por longo tempo, particularmente no Império do Oriente, sob o governo de Licínio, que declarou insurreição ao imperador. 

Em 320, na guarnição da cidade armênia de Sebaste, na Ásia Menor, um grupo de 40 soldados da chamada Legião Fulminata do exército romano recusou-se a abandonar a fé cristã em favor do culto aos ídolos pagãos de Licínio e, desta forma, foram destituídos de suas funções e lançados na prisão, por longo tempo. Presos, escreveram uma espécie de testamento coletivo, que foi assinado por todos*, resguardando-se, assim, seus nomes para conhecimento da posteridade (com algumas variações de grafia).

Impassíveis diante dos interrogatórios e ameaças, foram condenados à morte por congelamento. No inverno rigoroso de então, foram submersos seminus nas águas congeladas de um lago local, nas proximidades das termas da cidade. Assim, para a tortura dos sentidos, os soldados experimentavam o martírio do frio glacial nas vizinhanças imediatas dos banhos públicos de vapor. Cedendo à tentação do calor, um dos soldados acessou as câmaras térmicas, pelo que morreu instantaneamente. Os demais resistiram impassíveis ao suplício da provação.

Sensibilizado pelo heroísmo daqueles homens, um dos soldados da própria custódia, de nome Aglaios, converteu-se, abandonou de pronto as suas insígnias romanas e juntou-se ao grupo imerso na água congelada. Na tortura e no sofrimento contínuos, amparando-se mutuamente na fidelidade ao Senhor, todos pereceram finalmente sob o flagelo do frio cortante e das temperaturas extremas, em 09 de março do ano 320. O martírio dos quarenta soldados de Sebaste foi exemplo e objeto de grande veneração por parte dos primeiros cristãos, principalmente no Oriente.

* Acácio, Aécio, Alexandre, Angias, Atanásio, Caio, Cândido, Chúdio, Cláudio, Cirilo, Domiciano, Domno, Edélcion, Euvico, Eutichio (ou Aglaios), Flávio, Gorgônio, Heliano, Helias, Heráclio, Hesichio, João, Viviano, Leôncio, Lisimacho, Militão, Nicolau, Filoctimão, Prisco, Quirião, Sacerdão, Severiano, Sisínio, Smaragdo, Teódulo, Teófilo, Valente, Valério, Vibiano e Xanteas.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

23 DE FEVEREIRO - SÃO POLICARPO DE ESMIRNA



São Policarpo nasceu no ano de 69 em Esmirna, cidade grega situada no litoral da Ásia Menor (hoje Izmir, na Turquia). Teve contato direto com alguns dos primeiros apóstolos de Jesus e foi discípulo de São João Evangelista, que o nomeou pessoalmente como bispo de Esmirna, função na qual se destacou como um defensor incansável da unidade da Igreja Primitiva, contra inúmeras heresias da época, as quais combateu duramente, envolvendo-se em várias questões teológicas polêmicas. 

Por ocasião da quarta grande perseguição romana, nos tempos do imperador Marco Aurélio, o Cristianismo foi duramente atacado na Ásia Menor e São Policarpo foi perseguido, preso e conduzido ao martírio pelo fogo. Milagrosamente, porém, o fogo não lhe consumiu as carnes, fazendo um arco em torno do corpo do santo que foi, então, morto a espada. O martírio de São Policarpo foi descrito um ano depois de sua morte, em uma carta datada de 23 de fevereiro de 156, enviada pela igreja de Esmirna, e este documento constitui o registro mais antigo do martirológio cristão existente. Os fatos da sua morte e os eventos milagrosos que se sucederam foram posteriormente ratificados pelos escritos de Santo Irineu de Lyon, o maior dos discípulos deste grande santo da Igreja Primitiva.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

SANTOS E MÁRTIRES (V)


SANTO ESTÊVÃO

Estamos nos primórdios da Igreja de Cristo. A redenção da humanidade acabara de ser firmada há pouco no cimo do Calvário. A rigor, a Igreja não é ainda uma entidade independente e autônoma, com organização própria e separada do judaísmo. Era uma comunidade em formação incipiente, que se distinguia pela crença fervorosa nos ensinamentos de Jesus, pela caridade fraterna que unia os seus membros, pelas refeições em comum e pelo culto eucarístico. Os apóstolos pregavam a nova doutrina e convertiam muitos judeus, impondo-se, então, grandes e novos desafios em termos de assistência social e espiritual das comunidades recém-convertidas. Neste propósito, os apóstolos escolheram, dentre estas, sete homens notáveis pelo saber e pela caridade, que constituíram, então, o chamado 'Colégio dos Sete', entre os quais figurava Estêvão, um profundo conhecedor das revelações dos antigos profetas e da lei mosaica.

A Igreja nascente, entretanto, não estabelecera ainda uma separação categórica entre a fé cristã e a lei mosaica (judaísmo). Foi justamente Estêvão quem fez tal distinção pela primeira vez, e publicamente em uma sinagoga, demonstrando de forma clara e decisiva, com base nas citações e referências aos textos dos profetas, a concepção equivocada da lei hebraica e o caráter provisório do Templo diante a nova doutrina messiânica da Salvação firmada no Calvário. A sua pregação mobilizou protestos e a ira descontrolada dos judeus, que o condenaram por blasfêmia contra Moisés e contra Deus. Mas, num discurso iluminado,  Estêvão provou não apenas não ter caído em blasfêmia como, longe de se intimidar, refutou as acusações e outorgou a eles a enorme pretensão de, como reféns da lei mosaica, atuarem de forma deliberada para deter a ação da graça divina entre os homens: 'Vós vos tornastes traidores e assassinastes o Justo' (At 7, 52 - 53). 

Entorpecidos pela fúria e pela revolta, os judeus passaram num relance a um ritual de justiça sumária e arrastaram Estêvão para fora da sinagoga e da cidade e lá o submeteram ao martírio por lapidação. Entre a turba enfurecida, estava Paulo, aquele que seria um dia o grande apóstolo dos gentios. Sob uma chuva de pedras, Estêvão ofereceu-se em holocausto, pedindo a Deus perdão pelos seus executores, tornando-se, assim, o primeiro mártir da Igreja. A morte de Estêvão foi o alto preço que a Igreja primitiva teve que pagar para sancionar o seu caráter universal e para conquistar o perseguidor de então que se tornaria, mais tarde, o grande arauto desta missão universal da Igreja. Como assinalado mais tarde por Santo Agostinho: Si martyr Stephanus non sit orasset, ecclesia Paulum non haberet - 'Se Estêvão não tivesse orado assim, a Igreja não teria tido Paulo' (Sermão 382). A festa do santo é celebrada em 26 de dezembro, logo em seguida ao Natal de Jesus, para se fazer sua memória como protomártir da Igreja.

('pregação de Santo Estêvão e discurso na sinagoga' de Fra Angélico, 1447 - 49, Capela Nicollina, Vaticano)

('Santo Estêvão arrastado e lapidado pelos judeus' de Fra Angélico,  1447 - 49, Capela Nicollina, Vaticano)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

SANTOS E MÁRTIRES (IV)

(Mártires nas Catacumbas, Jules Lenepveu, 1855)

Durante o reinado de Marco Aurélio, um grande número dos que professavam a fé em Cristo sofreu crudelíssimos tormentos e castigos. Entre eles estava Policarpo, o digno bispo de Esmirna. Sobre o seu fim e martírio julguei que seria útil legar para a história aquilo que Eusébio declara ter sido extraído de uma certa carta escrita pelos membros da sua própria igreja (de Policarpo) para todos os irmãos espalhados pelo mundo. 

"Três dias antes de ser preso, enquanto estava orando à noite, ele adormeceu e viu num sonho o seu travesseiro incendiar-se e logo consumir-se no fogo. Acordando em seguida, imediatamente relatou a visão aos circunstantes e profetizou que ele seria queimado vivo por amor de Cristo. Quando as pessoas que andavam à sua procura fecharam-lhe o cerco, ele foi induzido, por amor dos irmãos, a retirar-se para outra aldeia. Para lá, porém, logo foram os perseguidores em seu encalço. E tendo apanhado dois rapazes que moravam na vizinhança, açoitaram um deles até que este os conduziu ao retiro de Policarpo. 

Os perseguidores, tendo chegado tarde da noite, descobriram que ele já fora para a cama no alto da casa. Dali, se quisesse, ele poderia ter fugido para o interior de outra casa. Mas recusou-se, dizendo: 'Seja feita a vontade do Senhor'. Ao saber que os perseguidores haviam chegado, desceu e dirigiu- lhes a palavra com semblante alegre e agradável, de modo que eles, que nunca o haviam visto, ficaram maravilhados contemplando a sua venerável idade e gravidade e perguntavam-se por que deveriam se preocupar tanto com a captura de um homem tão velho. 

Ele imediatamente ordenou que uma mesa fosse posta, exortou-os a comer com apetite e pediu que lhe concedessem uma hora para orar sem ser molestado. Tão repleto estava ele da graça de Deus que os circunstantes ficaram assombrados ao ouvir-lhe as orações e muitos lamentaram que um homem tão venerável e piedoso devesse ser levado à morte. Depois de terminar as orações, nas quais fez menção de todas as pessoas com quem entrara em contato na vida, pequenas e grandes, nobres e comuns, e de toda a Igreja Católica disseminada pelo mundo. Chegada a hora de partir, eles o puseram sobre um jumento e o trouxeramn para a cidade. 

Lá Policarpo encontrou-se com o irenarca Herodes e seu pai Nicetes, que, fazendo-o subir para a Sua carruagem, puseram-se a exortá-lo dizendo: 'Que mal há em dizer: Senhor César e em oferecer sacrifícios e assim salvar a própria vida?' De início ele ficou em silêncio. Porém, ao ser forçado a falar, disse: 'Não agirei de acordo com os seus conselhos'. Quando perceberam que ele não se deixava convencer, dirigiram-lhe palavras grosseiras e logo o empurraram para fora da carruagem de modo que, ao descer, ele machucou a perna. Todavia, imperturbável como se nada estivesse sofrendo, foi em frente exultante, escoltado pelos guardas, até o estádio. 

Lá, em meio a um ruído tão forte que poucos conseguiam ouvir alguma coisa, uma voz veio do céu dizendo: 'Sê forte, Policarpo, e comporta-te como um homem'. Ninguém viu quem falou, mas muitos ouviram a voz. Quando ele foi trazido ao tribunal, houve um grande tumulto no instante em que a multidão percebeu que Policarpo estava preso. O procônsul perguntou-lhe se ele era Policarpo. Ao ouvir a confirmação, ele o aconselhou a negar a Cristo, dizendo-lhe: 'Olhe para si mesmo e tenha pena de sua idade avançada'. E acrescentou muitas outras frases que eles costumam dizer, tais como 'Jure pela fortuna de César', 'Arrependa-se' e 'Diga: Abaixo os ateus'.

Então Policarpo, com aspecto grave, contemplando toda a multidão no estádio e acenando-lhe com a mão, emitiu um profundo suspiro e, erguendo os olhos para o céu, disse: 'Removam-se os ateus'. Então, o procônsul insistiu com ele dizendo: 'Jure, e eu o colocarei em liberdade; renegue a Cristo'. Respondeu Policarpo: 'Há oitenta e seis anos eu O sirvo, e Ele nunca me faltou. Como então blasfemarei meu Rei, que me salvou?' O procônsul novamente insistiu: 'Jure pela fortuna de César'. Respondeu Policarpo: 'Uma vez que sempre em vão o senhor se esforça para me fazer jurar pela fortuna de César, como o senhor diz, fingindo ignorar o meu verdadeiro caráter, ouça-me declarar com franqueza o que sou. Eu sou um cristão, e se deseja aprender a doutrina cristã, marque um dia, e então poderá me ouvir'. 

Ouvindo isso, disse o procônsul: 'Tenho feras selvagens. Se não se arrepender, eu  entregarei a elas'. 'Mande trazê-las — replicou Policarpo — pois para nós o arrependimento é uma atitude ruim quando significa mudar do melhor para o pior, mas é uma atitude boa quando significa uma mudança do mal para o bem. 'Se não se arrepender, domarei você com fogo' — disse o procônsul — urna vez que despreza as feras selvagens. Então disse Policarpo: 'O senhor me ameaça com um fogo que queima durante uma hora e logo se apaga. Mas o fogo do julgamento futuro e do castigo eterno reservado para os ímpios, esse o senhor ignora. Mas por que está se delongando? Faça tudo o que lhe agradar. O procônsul mandou o arauto proclamar três vezes no meio do estádio: 'Policarpo confessou que é cristão'. Mal essas palavras foram proferidas, toda a multidão, tanto gentios quanto judeus que moravam em Esmirna, com fúria violenta se pôs a gritar: 'Este é o doutor da Ásia, o pai dos cristãos e o destruidor dos nossos deuses, que ensinou muitos a não oferecer sacrifícios e a não adorar'. 

A esta altura pediam ao asiarca Filipe para que soltasse um leão contra Policarpo. Mas ele recusou-se, alegando que havia encerrado o seu espetáculo. Então puseram-se a gritar em uníssono que ele deveria ser queimado vivo. Pois sua visão precisava se cumprir — a visão que ele tivera quando estava orando e viu o seu travesseiro incendiar-se. O povo imediatamente apanhou lenha e outros materiais secos nas oficinas e nos banhos. Nesse serviço os judeus, com a sua costumeira maldade, sentiram-se particularmente dispostos a ajudar. 

Quando quiseram amarrá-lo na fogueira, disse Policarpo: 'Deixem-me como estou. Não é preciso prender-me com pregos, pois aquele que me dá forças para suportar o fogo também me fará permanecer na fogueira sem eu querer fugir'. Assim, ele foi amarrado mas não pregado. Disse ele então: 'Ó Pai, eu te bendigo por me teres considerado digno de receber o meu prêmio entre os mártires'. Assim que ele proferiu a palavra 'Amém', os oficiais acenderam o fogo. 

A chama, formando uma espécie de arco semelhante à vela enfunada de um barco, envolveu feito um muro o corpo do mártir que estava no meio do fogo, não como carne queimando mas sim como ouro e prata sendo purificados na fornalha. Recebemos em nossas narinas um aroma semelhante ao que se evola do incenso ou de alguns outros perfumes preciosos. Finalmente, o povo maldoso, ao perceber que o seu corpo não poderia ser consumido pelo fogo, mandou que o carrasco se aproximasse e nele enterrasse a espada. Imediatamente, urna quantidade tão grande de sangue jorrou que o fogo se extinguiu. 

Mas o invejoso, maligno e despeitado inimigo do justo procurou um jeito de nos impedir de recolher o pobre corpo. De fato, algumas pessoas sugeriram a Nicetes para procurar o procônsul e pedir-lhe que não entregasse o corpo aos cristãos: 'Para evitar' — disseram eles — 'que, abandonando o crucificado, eles passem a adorar a esse'. Isso disseram depois de ouvir as sugestões e argumentos dos judeus, que também nos vigiaram quando queríamos retirar o corpo da fogueira. O centurião, percebendo a malevolência dos judeus, fez colocar o corpo no meio do fogo e queimá-lo. Recolhemos em seguida os seus ossos — mais preciosos que ouro e jóias — e os depositamos num lugar adequado". 

(Excertos da obra 'O Livro dos Mártires', de John Foxe, tradução de Almiro Pisetta)

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

SANTOS E MÁRTIRES (III)


SÃO COSME E SÃO DAMIÃO

Irmãos e especializados em Medicina, Cosme e Damião serviram por muitos anos os pobres da região da Síria, no início do Século IV, para a honra e glória de Deus. Com grande zelo apostólico, pregavam o Evangelho, convertendo muitas almas, sem pagamentos ou quaisquer honrarias, pelo que foram privilegiados pela Providência com muitas graças e curas milagrosas. Durante a perseguição do imperador Dioclesiano e enquanto desenvolviam suas atividades na Cilícia (ano 303), os irmãos foram trazidos à presença do governador Lísias, que exigiu deles uma pronta renúncia às pregações e à fé cristã. Ante a recusa destemida de ambos, o governador ordenou que fossem torturados e posteriormente decapitados. 

Os corpos foram transportados e enterrados em Cira, na Síria, numa igreja que lhes recebeu o nome. Favorecido, mais tarde, pela cura de uma doença pela intercessão de Cosme e Damião, o imperador Justiniano construiu uma igreja em honra deles em Constantinopla, passando a promover publicamente o culto de ambos, que tornou-se, em pouco tempo, generalizado, inclusive no Ocidente, com a construção de muitas igrejas dedicadas aos mártires; partes de suas relíquias foram levadas no século VI para a Baviera, onde repousam no altar mor da igreja de São Miguel, em Munique. A partir de então, os nomes de São Cosme e São Damião foram incluídos nos cânones da Santa Missa, em destaque entre os grandes mártires da Igreja. A festa litúrgica dos dois mártires é celebrada no dia 26 de setembro, que são comumente representados com instrumentos médicos e com semblantes iguais, pois supostamente teriam sido gêmeos.



(martírio de São Cosme e São Damião)

(altar da Igreja de São Miguel com parte das relíquias dos santos)

São Cosme e São Damião, rogai por nós!

sábado, 9 de agosto de 2014

SANTOS E MÁRTIRES (II)

Santa Teresa Benedita da Cruz

Santa Teresa Benedita da Cruz (12/10/1891 - 09/08/1942)

Edith Stein tinha a firme determinação de estudar Filosofia, na deliberada decisão que se impusera de buscar o caminho da Verdade. Nascida em 12/10/1891 em Breslau, na Alemanha, era a caçula de uma numerosa família de judeus. Cursar a universidade e declarar-se ateia eram, na sua juventude, os pressupostos no caminho da verdade. Durante a Primeira Guerra Mundial, tornou-se enfermeira voluntária e recebeu a medalha de honra da Cruz Vermelha. Voltando aos estudos em Friburgo, doutorou-se em Filosofia.


(Edith Stein: enfermeira e doutora em filosofia)

A Providência Divina tinha, entretanto, outros planos para esta jovem judia. E a conversão veio por meio de diferentes acontecimentos triviais, mas associados, que culminaram com a leitura da obra 'A Vida de Santa Teresa de Ávila', como ela mesmo relataria mais tarde: "Comecei a ler e fiquei tão arrebatada que não consegui parar até terminá-lo. Quando o fechei, disse comigo mesma: ‘Esta é a Verdade!'". Foi batizada no dia 1º de janeiro de 1922 e, em abril de 1934, recebeu o hábito carmelitano, com o nome de Irmã Teresa Benedita da Cruz. Morria a filósofa, a doutora, a poliglota em seis idiomas, a professora renomada dos institutos de Spira e de Münster. Junto com a sua irmã Rosa, Teresa encontrara a Verdade e passará agora a trilhar o caminho da santidade.

Aos 43 anos, tem início o seu noviciado tardio, que vai se transformar num caminho de absoluta entrega aos planos de Deus, de profunda pobreza, obediência e humildade à vida do Carmelo, vida de anonimato completo e de completo abandono aos seus títulos e ao domínio das ciências humanas. Não tem mais resquício algum de suas referências acadêmicas, é a serva de todos. Mas o preço a pagar seria alto.

Irmã Teresa Benedita da Cruz

No final da década de 30, explodiu a doutrina do nacional-socialismo de Hitler e tem início a perseguição aos judeus. Diante a situação, Teresa e sua irmã foram transferidas de Colônia para o convento de Echt, na Holanda. Quando, em julho de 1942, os bispos holandeses se manifestaram formalmente contra os nazistas, a reação alemã foi contundente e a perseguição aos judeus tornou-se extremada. Em 2 de agosto, a polícia nazista invadiu o convento e prendeu as duas irmãs que foram, então, deportadas para o campo de concentração de Westerbork, no norte da Holanda, juntamente com outros 242 judeus católicos. Em 7 de agosto, com centenas de outros judeus, foram levadas de trem ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau. Logo ao chegar, em 9 de agosto de 1942, foram executadas na câmara de gás; seus corpos foram cremados em seguida e suas cinzas espalhadas pelos campos próximos.

No mês de maio de 1987, foi beatificada por João Paulo II em Colônia e, em outubro de 1998, foi canonizada pelo mesmo papa. No ano seguinte, foi proclamada co-padroeira da Europa, junto com Santa Brígida e Santa Catarina de Sena. Ela é venerada sob o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz ou apenas Teresa da Cruz.  

(brasão originalmente publicado em www.arautos.org)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

SANTOS E MÁRTIRES (I)

São Maximiliano Maria Kolbe

 

São Maximiliano Maria Kolbe (08/01/1894 - 14/08/1941)

Quando tinha apenas 10 anos, Raimundo Kolbe recebeu uma dura repreensão de sua mãe: 'Se aos dez anos você é tão mau menino, briguento e malcriado, como será mais tarde?' Estas palavras doeram fundo na alma da criança e, muito perturbado por tal admoestação, prostrou-se aflito diante da imagem de Nossa Senhora: 'Que vai acontecer comigo?' A Mãe de Deus apresentou-se, então, diante dele, trazendo nas mãos duas coroas, uma branca e outra vermelha e lhe perguntou, sorrindo, qual delas ele escolhia para a sua vida. O pequeno escolheu as duas. A coroa branca lhe assegurou a castidade; a coroa vermelha lhe outorgou a glória do martírio. Assim nascem os santos, assim se forjam os mártires.

Assumindo a sua vocação religiosa, decidiu ser capuchinho franciscano com o nome de Maximiliano e fez os solenes votos do sacerdócio em 01 de novembro de 1914, acrescentando o nome de Maria aos seu nome religioso. Quase 40 anos após a visão da Santa Virgem, ele receberia a coroa do martírio. Em fevereiro de 1941, o padre Kolbe foi levado à prisão de Pawiak, em Varsóvia para interrogatório, tornando-se em seguida o prisioneiro de número 16670 do campo de concentração de Auschwitz durante a II Grande Guerra Mundial. Mais do que nunca, exerceu ali o seu apostolado de oração e pela conversão daqueles condenados. No final de julho de 1941, foi transferido para o Bloco 14 do campo, cujos prisioneiros faziam trabalhos agrícolas. Numa dada oportunidade, ocorreu a fuga de um deles e, como castigo, dez outros foram sorteados para morrer de fome e de sede num abrigo subterrâneo. 

O sargento Franciszek Gajowniczek do exército polonês foi um dos dez escolhidos e suplicou pela sua vida, por ser pai de uma família ainda de pequenos. Padre Kolbe se ofereceu para substitui-lo no 'bunker da morte' e assim foi feito. Desnudos, os dez homens padeceram o suplício da fome e da sede no subterrâneo confinado. Pe. Kolbe lhes deu toda a assistência espiritual possível neste período de martírio. Ao final de três semanas, 4 ainda estavam vivos e receberam, então, injeções letais de ácido muriático. Era o dia 14 de agosto de 1941, véspera da Festa da Assunção de Nossa Senhora. Pe. Kolbe foi o último a morrer. Sua festa religiosa é celebrada em 14 de agosto. Foi canonizado pelo papa João Paulo II em 10 de outubro de 1982.



'Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada; jamais poderemos igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade'.


(o 'bunker da morte')

Mas o que aconteceu com Gajowniczek - o homem que Padre Kolbe salvou? Depois da guerra, retornou à sua cidade natal, reencontrando a sua esposa. Seus dois filhos tinham sido mortos durante a guerra. Todos os anos, no dia 14 de agosto, ele retornou à Auschwitz e divulgou durante toda a vida o ato heroico do Pe. Kolbe. Morreu aos 95 anos, em 13 de março de 1995, em Brzeg, na Polônia, quase 54 anos depois de ter sido salvo da morte por São Maximiliano Kolbe. 


(Franciszek Gajowniczek)