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sábado, 25 de outubro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (IX)

(Ícone de São Nicolau  - bispo grego do século IV)

No ícone de figuras bíblicas ou religiosas, consta sempre o nome impresso da pessoa retratada, não apenas para a sua identificação, mas também como um selo de santidade e bênção. Os santos são identificados por suas vestimentas, objetos em suas mãos e idade. Os Evangelistas usam túnicas e exibem seus livros. Bispos estão vestidos com paramentos litúrgicos, segurando um livro ou pergaminho, enquanto monges são retratados com seus hábitos religiosos em poses rígidas. Soldados podem estar em uma posição que expressa ação, portando armas ou vestidos com uniforme militar. Profetas, santos, bispos e monges são retratados sempre em idade bem avançada, enquanto soldados e mulheres são jovens. As mulheres, em geral, tendem a não ser identificadas de imediato, a não ser pelo nome escrito no ícone. 

Por outro lado, a cor, como expressão das nuances da luz, é muito simbólica na iconografia: 

➤ dourado: cor do sol do meio-dia, é a expressão da luz divina que permeia todo o mundo transfigurado, sendo a cor do próprio Cristo. É mais comumente usado como fundo de um ícone, representando um espaço que define o portador como estando além dos domínios deste mundo.

➤ branco: representa a luz, a pureza, a eternidade, Deus Pai e todos aqueles incensados pelas graças divinas.

➤ azul: é a cor que representa a fé, a humildade, a transcendência e os mistérios da vida divina. O azul e o branco são as cores da Virgem Maria, que está desapegada deste mundo e centrada no divino. 

➤ vermelho: é a cor com a maior variedade de significados e interpretações; é a cor do Espírito Santo, do sacrifício e do martírio, do amor e da beleza; pode também expressar o inferno, o ódio, as guerras e todo tipo de conflito e tribulação.

➤ verde: cor associada às manifestações espirituais e proféticas, sendo frequentemente usada para caracterizar João Batista e os profetas.

➤ amarelo: cor representativa da verdade (amarelo vivo) e também de eventos associados a atos de orgulho ou traição (comumente em tons mais claros).

➤ roxo: símbolo da natureza real e do sacerdócio.

➤ marrom: cor associada à terra, à pobreza e ao despojamento, ao recolhimento e hábitos dos monges.

➤ preto: negação da luz e das graças divinas; cor associada à morte, aos réprobros e aos demônios.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

GALERIA DE ARTE SACRA (XLIII)

Na época medieval, era um procedimento bastante comum decorar as paredes internas das catedrais com tapeçarias preciosas, reproduzindo comumente eventos da vida de Jesus Cristo, Nossa Senhora ou de algum santo. A tapeçaria presente na Catedral de Reims, muito famosa pela quantidade de peças e qualidade da composição, exibe passagens diversas da vida de Nossa Senhora. As tapeçarias da vida de Nossa Senhora foram doadas à Catedral de Reims pelo Arcebispo Robert de Lenoncourt em 1530, contemplando um conjunto total de 17 painéis independentes.

I. Árvore de Jessé [árvore genealógica de Jesus Cristo]
II. Joaquim e Ana expulsos do Templo [por não ter filhos]
III. Encontro de Joaquim e Ana diante do Portão Dourado [a pedido do anjo que profetiza o nascimento da Virgem]
IV. Nascimento de Maria
V. Apresentação de Maria no Templo
VI. Perfeições de Maria [Imaculada Conceição. Modelo e Pefeição da Graça]
VII. José e os Pretendentes de Maria [escolha divina por José]
VIII. Casamento de Maria e José
IX. A Anunciação a Maria
X. A visitação de Maria a Santa Isabel
XI. A Natividade [nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo]
XII. A Adoração dos Reis Magos
XIII. A Apresentação de Jesus no Templo
XIV. A Fuga para o Egito
XV. Parentesco de Maria - As Três Marias [Maria, Maria de Jacobé, Maria de Salomé]
XVI. Dormição da Virgem
XVII. Assunção de Maria

Como exemplo ilustrativo, a figura abaixo apresenta a Tapeçaria VI - As Perfeições de Maria, um tributo à sua Imaculada Conceição, cuja devoção especial ganhou popularidade durante os séculos XV e XVI. 


A tapeçaria é dominada por Deus Pai, declarando Maria como critura toda pura e sem mancha de imperfeição - Tota pulchra es amica mea et macula non est in te (Ct 4,7). No centro da imagem, vemos Maria tecendo, ladeada por dois anjos que trazem pão e vinho. Ela está sentada num jardim, cujos umbrais são encimados por bandeiras que exibem o brasão das catedrais de Reims. Os dois unicórnios, à direita e à esquerda das colunas, simbolizam a virgindade de Maria. Entre Deus Pai e o Jardim, podemos ver os sete anjos da criação e, nos cantos inferiores direito e esquerdo, encontramos figuras de profetas anônimos proclamando a grandeza de Maria.

A riqueza dos detalhes e a magnitude do trabalho, cuja origem exata é desconhecida, são retratadas na figura abaixo, que apresenta uma peça da Tapeçaria XI do conjunto - A Natividade.  

sábado, 9 de agosto de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (VIII)


Stella Maris (A Estrela do Mar) é o mais antigo dos títulos de Nossa Senhora. Em língua aramaica da época, a expressão equivalente a Nossa Senhora seria algo como guia ou farol - e, assim, Nossa Senhora foi, portanto, desde os primórdios da Igreja,  identificada como a luz que guia todos os povos da terra aos seu filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Para os peregrinos no deserto ou os navegantes em mar aberto, Nossa Senhora seria a estrela que guiava todos à segurança e ao porto seguro do coração do seu Filho.

O ícone tradicional da Estrela do Mar evoca a noite escura e as ondas tempestuosas do mar aberto, símbolo das dificuldades e tribulações desta vida. No centro do ícone, Nossa Senhora é a fonte de luz que ilumina as trevas de nossas almas e nos apresenta Jesus como caminho e destino de nossas vidas. O triângulo de luz dispersa a escuridão do mundo e vai até às estrelas do céu (representada pela estrela Sirius, a maior e mais brilhante do céu).

O barco representa a Igreja de Cristo, navegando em meio às mazelas e nas águas tempestuosas do mundo, levando a mensagem dos Evangelhos (representados pelos quatro grandes peixes) a todos os povos da terra, até o final dos tempos, centrada nos ensinamentos do Salvador. Nossa Senhora tem os pés assentes sobre a Lua, numa evocação direta ao texto do Apocalipse: 'E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do Sol, com a Lua debaixo dos seus pés e, sobre a sua cabeça, uma coroa de doze estrelas' (Ap 12, 1).

sábado, 19 de julho de 2025

GALERIA DE ARTE SACRA (XLII)


O afresco Fractio Panis - Partição do Pão - constitui a representação mais antiga conhecida da celebração da Eucaristia, localizada na chamada 'Capela Grega', na Catacumba de Priscila, Via Salaria Nova, em Roma. Inteiramente recuperada e posteriormente descrita nos trabalhos do Padre Joseph Wilpert [Die Malereien der Katakomben Roms (1903)], a obra encimava o arco superior do altar da capela, datada da primeira metade do século II. Na mesma câmara, ao lado do afresco, está representado o sacrifício de Abraão e, no lado oposto, há também uma representação de Daniel na cova dos leões.

O registro histórico dos primórdios do cristianismo é contundente em demonstrar como as representações artísticas da celebração da Eucaristia variaram ao longo do tempo, dependendo do estado do conhecimento e da teologia da época. Nesta abordagem primitiva, a referência explícita está concentrada no ato eucarístico da partição do pão por um personagem imponente postado na extremidade de uma grande mesa: 'Unidos de coração, frequentavam todos os dias o templo; partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração' (At 2,46) ou 'No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão...' (At 20,7). Da extremidade da mesa, este personagem, estendendo as mãos para a frente, formaliza a partição do pão diante dos demais convivas reunidos em torno da mesa e representados por 5 homens e uma mulher.. 

O significado eucarístico da imagem é corroborado por outros acessórios presentes na imagem, Com efeito, mais adiante na mesa, há dois pratos grandes, um contendo dois peixes e o outro, cinco pães. Em cada extremidade da mesa, estão presentes cestos cheios de pães - quatro cestos em uma extremidade e três na outra. Os pães e os peixes sobre a mesa apontam diretamente para a multiplicação milagrosa realizada duas vezes por Cristo. A associação deste milagre com a Santíssima Eucaristia é conhecida não apenas em outros monumentos arqueológicos, mas também na própria literatura cristã primitiva.

sábado, 12 de julho de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (VII)

 

A imagem de Nossa Senhora em Czestochowa*, Polônia, conhecida como Nossa Senhora de Jasna Gora [Colina Brilhante], nome do mosteiro onde foi mantida por seis séculos, está incluída no pequeno grupo de Madonas Negras reconhecidas em todo o mundo.

De origem desconhecida, a lenda atribui a sua criação ao evangelista São Lucas, que teria pintado um retrato da 'Virgem diante a mesa de cedro onde fazia as suas refeições'. Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, tendo contato com a imagem durante a sua visita à Terra Santa, a teria levado para Constantinopla no século IV, onde permaneceu por vários séculos, até chegar, muito mais tarde, à Polônia e à posse de São Ladislau no século XV.

São Ladislau, com o propósito de proteger a imagem das repetidas invasões dos tártaros, conduziu-a, então, até Czestochowa. Ainda assim, a imagem foi vandalizada em várias ocasiões por flechas e golpes de espada, e aparentemente foi então pintada praticamente de novo, num formato clássico de um ícone bizantino dos séculos XIII-XIV e preservando a imagem original, incluindo as próprias marcas e danos causados pelos vandalismos ocorridos.

Os milagres atribuídos a Nossa Senhora de Czestochowa são numerosos e espetaculares e registrados nos arquivos de Jasna Gora. A repercussão internacional da imagem foi consideravelmente ampliada pela devoção pessoal do papa João Paulo II, que rezou diante desta imagem da Virgem Maria durante as suas visitas à Polônia. A cor negra da imagem é polêmica e tem sido atribuída desde à pigmentação típica da arte bizantina à época ou até mesmo devido a danos causados pela fuligem e fumaça de incêndio ocorrido num dos templos onde esteve localizada. Outras variantes da imagem apresentam a imagem com tez mais clara ou ainda bem mais escura que a imagem de Czestochowa.

O ícone propriamente dito, com dimensões aproximadas de 122cm x 82 cm, apresenta Nossa Senhora e o Menino Jesus, com tez negra, numa composição clássica bizantina conhecida como odegetria [aquela que mostra o caminho]: Nossa Senhora, revestida com uma vestimenta azul coberta de flores-de-liz, aponta para Jesus com a mão direita como nossa fonte de salvação. O Menino Jesus, por sua vez, estende a mão direita para a frente em uma atitude de bênção, enquanto segura um Livro dos Evangelhos com a mão esquerda. A imagem preserva as marcas e os sinais de vandalismos passados, particularmente na face de Nossa Senhora. O Ícone de Nossa Senhora de Czestochowa, reconhecida como 'peregrina da esperança', está sendo levada na peregrinação 'Do oceano ao Oceano' pelo mundo inteiro em defesa da vida, percorrendo atualmente inúmeras cidades e comunidades católicas de todo o Brasil.

* pronuncia-se tchɛ́z-to-kô-va

sexta-feira, 30 de maio de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (VI)

Theophanis Strelitzas ou Theophanes Bathas ou ainda Teófanes, o Cretense (1490? - 1559) foi um artista grego bizantino e um dos maiores pintores de ícones da chamada Escola Cretense de Pintura.

Os quinze ícones abaixo, pintados no Monastério de Stavronikita (localizado no Monte Athos, na Grécia e dedicado a São Nicolau), é um dos trabalhos finais de Teófanes e representa um ápice na história da iconografia eclesiástica. Os personagens são retratados como figuras altas e magras, com vestimentas simples e semblantes severos, distribuídos de forma harmônica e equilibrada nos ícones, que representam a sequência cronológica de eventos da vida pública de Jesus Cristo.





sábado, 3 de maio de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (V)

O Papa Francisco foi sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, perto de uma imagem de Nossa Senhora, Saúde do Povo Romano - Salus Populi Romani - considerada padroeira de Roma. Esta imagem foi mostrada de forma recorrente em muitas transmissões do funeral do pontífice. A tradição manifesta que este ícone foi pintado por São Lucas e levado a Roma no século VI.

A contextualização da imagem sugere que não se trata de uma abordagem medieval, mas de um conceito muito mais próximo do cristianismo primitivo que data da antiguidade, por não inserir composições típicas da interação entre Mãe e Filho de ícones medievais. A rigor, entretanto, há uma transição óbvia destes diferentes estilos de pintura entre a imagem atual (fruto de restaurações diversas) e a peça original, que passaram a inserir elementos da iconologia medieval como, por exemplo, o formato dos rostos, alterações do contorno da vestimenta azul que envolve o corpo da Virgem e os halos matizados em torno das cabeças dos personagens representados.  

A composição apresenta a Virgem,  com um manto azul escuro em detalhes dourados sobre uma túnica vermelha, olhando diretamente para a frente, com uma pose ereta e imponente de uma rainha. As letras em grego no topo da imagem (ΜHΤHΡ ΘΕΟΥ em maiúsculas) identificam Maria como 'Mãe de Deus'. A posição imperial da Virgem é simbolizada também pela sua mão esquerda segurando um lenço cerimonial bordado (conhecido como mappula), símbolo de poder e realeza. 

A Virgem envolve em seus braços o Menino Jesus, que mantém a mão direita levantada como um sinal de bênção, enquanto a mão esquerda segura um livro (representação da sua doutrina, manifestada nos Evangelhos das Sagradas Escrituras). Maria olha diretamente para os seus filhos e Jesus abençoa aqueles que detêm em si o olhar de Maria. No abraço afetuoso da Mãe, Maria nos ensina a abraçar plenamente o seu Filho, como nosso único Caminho, Verdade e Vida.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

GALERIA DE ARTE SACRA (XLI)

Apeles de Cós foi um renomado pintor da Grécia antiga, considerado geralmente como o maior pintor da antiguidade. Uma de suas pinturas mais famosas foi 'A Calúnia' que, como as suas demais obras, se perderam por completo, mas cujo tema e detalhes da composição original foram descritos e conservados. Vários pintores renascentistas italianos, ciosos destas descrições, buscaram repetir os seus temas, como esta obra 'A Calúnia' de Sandro Botticelli (1445 - 1510), datada de 1494/95.

A pintura é composta por dez figuras emblemáticas: um rei detentor do poder de juiz, um jovem réu impotente ao veredito e personificações diversas das virtudes e dos vícios que envolvem o julgamento dos homens. A Calúnia - a jovem de azul e branco portando uma tocha acesa - arrasta o jovem inocente pelos cabelos e a nudez dele (que, com as mãos unidas, clama aos Céus por justiça) é uma constatação da sua inocência do crime de calúnia que lhe é imputado (exposto pelo simbolismo do corpo arrastado pelo chão e puxado pelos cabelos). Duas jovens - a Fraude ou Malícia (posicionada atrás da Calúnia) e a Perfídia (trajada em vermelho e amarelo) amparam e sustentam a figura da Calúnia, conformando um núcleo central comum do objeto da difamação. Um passo à frente, como sinal da origem da iniquidade, encontra-se a Inveja, dissimulada no homem encapuçado e acusador.


O juiz iníquo e desonesto é retratado pela aceitação passiva da ousadia da Inveja que empunha o seu braço acusador até a fronte do próprio rei, turvando-lhe a visão. A sentença justa é ainda mais abortada pela ação conjunta da Suspeição (em primeiro plano) e da Estupidez (ou Ignorância) ao fundo, que se precipitam sobre o juiz em seu momento de veredito (mão estendida para a frente, mas subjacente à do acusador). O rei teria, então, grandes orelhas de burro, símbolos de sua tolice e submissão.


Ao fundo da cena, como símbolos ausentes do enquadramento final do processo, a Verdade (nua e crua) e o Arrependimento (simbolizado por uma velha encurvada em vestes negras e desgastadas) agora estão juntos, mas igualmente vencidos. Na abordagem de reconstituição de uma pintura grega antiga, várias estátuas e frisos do período foram introduzidos para compor o cenário de fundo da obra retratada.

Uma reinterpretação do mesmo tema é apresentada na figura abaixo, que consiste na reconstituição da 'Calúnia de Apeles" pelas mãos do pintor holandês Cornelis Cort (1533 - 1578).

terça-feira, 1 de abril de 2025

OS GRANDES TESOUROS DA MÚSICA SACRA (III)

O moteto (termo derivação do termo francês mot = palavra) constitui um gênero musical polifônico literário (textos diferentes para cada voz) de origem medieval (século XIII), compreendendo textos distintos (sagrados ou profanos, inclusive em diferentes línguas) que são cantados simultaneamente, numa mistura integrada de estilos e palavras. 

Anton Bruckner (1824 - 1896), compositor e organista austríaco, era um homem muito religioso e compôs inúmeras obras sacras. Ele escreveu um Te Deum, cinco conjunto de salmos, uma cantata festiva, um Magnificat, pelos menos sete Missas e cerca de quarenta motetos durante a sua vida, desde uma composição de Pange Lingua por volta de  1835 até o hino Vexilla Regis em 1892 e, entre eles, oito conjuntos de Tantum Ergo e três composições para Christus Factus Est e Ave Maria. Como exemplo, tem-se aqui uma das suas composições para Christus Factus Est.


Christus factus est pro nobis obediens usque ad mortem, mortem autem crucis. Propter quod et Deus exaltavit illum et dedit illi nomen, quod est super omne nomen.

Cristo tornou-se obediente por nós até a morte e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome.

quinta-feira, 13 de março de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (IV)

 

CRISTO DA HUMILDADE PERFEITA

Quando exposto ao jugo do orgulho e da vanglória, responda com a nudez da imolação e da pobreza. Diante às perseguições injustas, recline a cabeça. Face às zombarias, infâmias e falsas acusações, cruze os braços sobre o coração e receba com humilde acolhimento o que é oferecido com despeito. E quando confrontado com a pergunta: 'Até onde devo tolerar tamanha vergonha e tanta injustiça?', lembre-se de que a resposta é 'até o túmulo'. O ícone nos direciona e nos incentiva buscar pela humildade a perfeita Imitação de Cristo.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (III)

A imagem da Sagrada Família, composta pela presença da Virgem Maria, São José e o menino Jesus é bastante conhecida e venerada pelos cristãos.

Embora esta imagem tenha sido pintada por grandes mestres tanto do Ocidente quanto na iconografia ortodoxa e bizantina, este ícone é ainda motivo de polêmica e questionamento. Tal polêmica busca confrontar a representatividade desta imagem familiar, no sentido de que a iconologia ortodoxa não entende São José como o chefe de uma 'Sagrada Família' (o que, nessa interpretação equivocada,  implicaria diretamente em uma percepção enfraquecida da virgindade de Maria), mas apenas como o guardião providencial da Mãe de Deus e do seu Divino Filho. Neste contexto, o apequenamento de São José seria essencial para se compreender a dimensão maior da hierarquia divina da Sagrada Família. Tal visão distorcida confronta-se com a própria natureza e significado da iconografia cristã.


Com efeito, os ícones repreesentam imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora e Mãe de Deus, dos Santos Anjos e dos Homens Santos e Veneráveis. Por meio desta representação por imagens, somos incitados a contemplá-los, a lembrarmo-nos deles como modelos, como objetos de nosso amor e louvor e veneração, e não a verdadeira adoração que, segundo a nossa fé, convém apenas à natureza divina, porque a honra dada à imagem vai direta ao seu modelo e aquele que venera um ícone venera a pessoa que se encontra nele representada. Nestes termos, tem-se como óbvio que tal polêmica, mais do que infantil e distorcida, é absurdamente ímpia no sentido de se buscar impor, como premissa, o apequenamento de São José (a ponto de não se aceitar a sua inserção na representação na família de Nazaré) para a elevação (mais do que conhecida) do papel da Mãe de Deus e do seu Divino Filho no plano da salvação e redenção da humanidade.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

OS GRANDES TESOUROS DA MÚSICA SACRA (II)


Ora, Pedro estava assentado fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: 'Tu também estavas com Jesus, o galileu'. Mas ele negou diante de todos, dizendo: 'Não sei o que dizes'. E, saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: 'Este também estava com Jesus, o Nazareno'. E ele negou outra vez com juramento: 'Não conheço tal homem'. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: 'Também tu és um deles, pois a tua fala te denuncia'. Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: 'Não conheço esse homem'. E imediatamente o galo cantou. E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe dissera: 'Antes que o galo cante, três vezes me negarás'. E, saindo dali, chorou amargamente (Mt 26, 69-75).


Erbarme dich, mein Gott, um meiner Zähren Willen! - 'Tem piedade de mim, meu Deus, veja minhas lágrimas!' é uma ária para contralto da segunda parte da 'Paixão Segundo São Mateus', a obra prima de Johann Sebastian Bach (1685-1750). Na ária, a solista pede perdão pela tríplice negação de Pedro e a música sustenta a comoção do seu amargo pranto. O lamento sublime fez com que a própria ária assumisse um patamar independente da 'Paixão', como um dos grandes triunfos da música sacra universal.

Erbarme dich, mein Gott,
um meiner Zähren willen!
Schaue hier, Herz und Auge
weint vor dir bitterlich.
Erbarme dich, mein Gott.

Tem piedade de mim, meu Deus,
e veja as minhas lágrimas!
Olha aqui, o coração e os olhos
choram amargamente diante de Ti.
Tem piedade de mim, meu Deus.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (II)

João Batista é o Precursor de Cristo e, por isso, na iconografia cristã, é comumente representado com asas, simbolizando a condição ímpar de João Batista como um arauto divino. Tal representação é absolutamente ímpar porque João é o grande Precursor do Redentor e, com a sua prisão e morte, tem fim a Era dos Profetas. 'Profeta do Altíssimo', João supera todos os profetas, dos quais é o últimoE sobre ele, foram manifestadas as palavras de glória eterna pelo próprio Cristo: 'entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João' (Mt 11,11).

Nas inscrições dos ícones, João é descrito como sendo o 'Anjo do Deserto', por duas razões: primeiro, pela condição de mensageiro da chegada iminente de Jesus Cristo, nosso Salvador; segundo, pela vida austera de castidade, abstinência e oração no deserto, no encontro com Deus e no afastamento completo e desapego às coisas mundanas (João Batista é o padroeiro dos monges, eremitas e ascetas). Por ambas as razões, o seu ícone incorpora as duplas asas de uma pomba. Os cabelos longos, a barba espessa mal cuidada e as vestes rudes remetem à vida de austeridade no deserto. No ícone, João prenuncia Cristo, indicando o seu nascimento com a mão direita e segurando um pergaminho na mão esquerda, que contém o texto bíblico referente a essa anunciação.

João Batista é mártir pela fé e pelo sangue. No primeiro caso, como testemunha e guerreiro da fé (ícones desta natureza são representados por uma vestimenta de cor verde, sendo identificados como 'mártires verdes') e, no segundo caso, pelo derramamento de sangue (João Batista foi decapitado por ordem de Herodes). Símbolos deste martírio estão também comumente presentes em ícones do santo como a túnica verde, a cruz e a bandeja contendo a cabeça de João Batista (Mt 14,11).

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (I)


Ícone de Maria, a Theotokos ('Mãe de Deus' ou literalmente 'Portadora de Deus'). Maria é mostrada em trajes típicos das mulheres judias à época, em cor vermelha, a cor da divindade, segurando o Menino Jesus. A palavra em grego sobre seu ombro direito a identifica como 'guia'. Seu olhar é dirigido a nós, pobres pecadores, mas sua mão direita nos guia em direção ao seu Filho Jesus Cristo (identificado pelas letras IC XC), fonte de todas as graças, que nos abençoa com a mão direita e que, com a mão esquerda, segura um pergaminho, símbolo da sabedoria divina.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

OS GRANDES TESOUROS DA MÚSICA SACRA (I)

Miserere é um dos salmos atribuídos a Davi, rei de Israel [Salmo 50]. E é um clamor de piedade por um crime terrível: Davi desejou Bate-Seba (ou Betsabé), esposa de seu soldado mais fiel, Urias - o hitita - e deitou-se com ela e a engravidou. O rei então tramou para que Urias fosse morto em batalha. O bebê nasceu e morreu em seguida. Davi então pediu perdão e casou-se com Bate-Seba, que lhe deu outro filho: Salomão. 

Miserere mei é a versão musicada do salmo 50 feita pelo compositor italiano Gregorio Allegri (1582 - 1652), reproduzida na gravação abaixo. A tradução apresentada na sequência é bastante convencional do Salmo 50 em português. Música sacra para se ouvir, deleitar-se e se recolher na presença de Deus!



SALMO 50

Miserere mei, Deus: secundum magnam misericordiam tuam. 
Et secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquitatem meam. 
Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me. 
Quoniam iniquitatem meam ego cognosco: et peccatum meum contra me est semper. 
Tibi soli peccavi, et malum coram te feci: ut justificeris in sermonibus tuis, et vincas cum judicaris. Ecce enim in iniquitatibus conceptus sum: et in peccatis concepit me mater mea. 
Ecce enim veritatem dilexisti: incerta et occulta sapientiae tuae manifestasti mihi. 
Asperges me hysopo, et mundabor: lavabis me, et super nivem dealbabor. 
Auditui meo dabis gaudium et laetitiam: et exsultabunt ossa humiliata. 
Averte faciem tuam a peccatis meis: et omnes iniquitates meas dele. 
Cor mundum crea in me, Deus: et spiritum rectum innova in visceribus meis. 
Ne proiicias me a facie tua: et spiritum sanctum tuum ne auferas a me. 
Redde mihi laetitiam salutaris tui: et spiritu principali confirma me. 
Docebo iniquos vias tuas: et impii ad te convertentur. 
Libera me de sanguinibus, Deus, Deus salutis meae: et exsultabit lingua mea justitiam tuam. 
Domine, labia mea aperies: et os meum annuntiabit laudem tuam. 
Quoniam si voluisses sacrificium, dedissem utique: holocaustis non delectaberis. 
Sacrificium Deo spiritus contribulatus: cor contritum, et humiliatum, Deus, non despicies. 
Benigne fac, Domine, in bona voluntate tua Sion: ut aedificentur muri Ierusalem. 
Tunc acceptabis sacrificium justitiae, oblationes, et holocausta: tunc imponent super altare tuum vitulos.


Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. 
E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade.
Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado.
Eu reconheço a minha iniquidade, diante de mim está sempre o meu pecado.
Só contra vós pequei, o que é mau fiz diante de vós. Vossa sentença assim se manifesta justa, e reto o vosso julgamento.
Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado.
Não obstante, amais a sinceridade de coração. Infundi-me, pois, a sabedoria no mais íntimo de mim.
Aspergi-me com um ramo de hissope e ficarei puro. Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve.
Fazei-me ouvir uma palavra de gozo e de alegria, para que exultem os ossos que triturastes.
Dos meus pecados desviai os olhos, e minhas culpas todas apagai.
Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza.
De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso santo Espírito.
Restituí-me a alegria da salvação, e sustentai-me com uma vontade generosa.
Então, aos maus ensinarei vossos caminhos, e voltarão a vós os pecadores.
Deus, ó Deus, meu salvador, livrai-me da pena desse sangue derramado, e a vossa misericórdia a minha língua exaltará.
Senhor, abri meus lábios, a fim de que minha boca anuncie vossos louvores.
Vós não vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis.
Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar.
Senhor, pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, reconstruí os muros de Jerusalém.
Então, aceitareis os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; e sobre vosso altar vítimas vos serão oferecidas (Sl 50, 3,21).

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XL)


'A ALEGORIA DO HOMEM' é uma obra religiosa inglesa, provavelmente do final do século XVI, cuja origem e autor são desconhecidos. Mas, por outro lado, possui um simbolismo óbvio que reflete a luta contínua do homem na busca da sua santificação e do Céu, enfrentando os perigos e as tentações do mundo. Diante dele - e ao seu redor - a morte e os sete pecados capitais o desafiam a cada instante e, como escudo e carapaça, as sete virtudes o protegem e o conservam no caminho para Deus.

A donzela à esquerda, bela e nobre, empunha um arco retesado e pronto a disparar três flechas contra o homem escolhido como alvo. As flechas estão assinaladas com os pecados capitais que representam: Gula, Preguiça e Luxúria (todas as inscrições em inglês arcaico). Logo abaixo dela, um nobre empunha uma besta [uma arma contendo um arco de flechas, adaptado a uma das extremidades, para disparar dardos ou flechas] mirada em direção ao homem, com o significado de Avareza


No canto inferior direito da pintura, tem-se a figura de um demônio com chifres, asas de morcego e uma serpente no dorso que, por sua vez, tem também três fechas direcionadas contra o homem, gravadas como Orgulho, Inveja e Ira. Acima dele, um esqueleto com escudo e espada afronta o homem como o aguilhão da morte. A frase no escudo estampa o simbolismo da morte como um furtivo ladrão: 'atrás de ti... roubar como um ladrão.. a vida devorar'.

A figura central do homem encontra-se envolvido por um escudo de Virtudes Cristãs (cujos nomes estão inscritos no pergaminho branco [eventualmente com outros termos à época], que forma uma espiral em torno de sua figura), sustentado por um anjo e terminada com a seguinte inscrição: 'Sede sóbrios, portanto, e vigiai, pois não sabeis nem o dia e nem a hora'. O homem utiliza um traje militar da época (muitos adereços da pintura têm igualmente uma natureza similar), indicando que a pintura possa ter sido provavelmente destinada a uma pessoa de formação militar. 


Entre nuvens espessas, acima do homem, pequenos anjos alados centram os seus olhares na figura do Cristo Ressuscitado, que está segurando uma grande cruz de madeira. As feições do homem são muito parecidas com as do próprio Cristo, como a indicar que a santificação é alcançada na medida em que o homem progride na observância estrita ao exemplo de Jesus Cristo. A inscrição ao lado de Cristo está em latim: Gratia me svficit tibie (2Cor 12,9) - Basta-te a minha graça.

A moldura inferior possui a seguinte inscrição (de tradução livre pelo autor do blog): 'Ó homem, qual miserável criatura ansiosa por riquezas, poder ou quaisquer outras coisas mundanas, guarda lembrança dos teus inimigos que, continuamente, buscam te destruir e reduzir a nada, sem dignidade e sem os bens eternos. Assim, jejua, vigia e reza continuamente com especial fervor ao vosso Senhor ['capitão', numa tradução mais literal], que é o único capaz de te defender dos seus terríveis ataques'.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXIX)

'O Retorno do Calvário' é uma obra do pintor inglês Herbert Gustave Schmalz (1856 - 1935). A pintura retrata um crepúsculo já dominado pelas sombras da noite. Eis o tempo dos homens: a Paixão de Cristo está consumada e seu corpo está confinado por uma pedra no sepulcro novo. Três cruzes solitárias (no alto à direita da pintura) modelam agora o cenário do Calvário. A 'volta para casa' ainda é parte integrante da Paixão, porque o triunfo da ressurreição é ainda uma perspectiva.

Todo o cenário contribui para um jogo contínuo de confrontos: luzes e sombras, a escadaria e a parte baixa da cidade, o distanciamento do Calvário diante a perspectiva ainda indefinida do triunfo da ressurreição. Cinco personagens - 1 homem e 4 mulheres - vivenciando uma elevação de graças e dores muito acima das mazelas do mundo lá embaixo, percorrem lentamente os degraus de uma escadaria.

Eis o homem: João, o discípulo amado que ampara e sustenta a Maria, Mãe do Crucificado. O seu olhar está fixado na visão do Calvário e é quase possível transcrever seu pensamento de agora, demarcado a ferro e a fogo pelas palavras finais de Jesus: 'Eis aí tua mãe'. Maria avança em desolação completa, cada passo agora é abandono e resignação completa: 'Vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede: há dor como a minha dor? (Lm 1,12).

Há outras Marias neste grupo que amparam e acompanham a Virgem Maria. A mulher ruiva que a consola diretamente com João é Maria Madalena ou Maria de Magdala, que vai se tornar a primeira testemunha da ressurreição. Maria, mulher de Cleófas ou mãe de Tiago (Menor) é provavelmente a mulher que, mais atrás, tem o olhar dirigido às solitárias cruzes que encimam o Calvário. E a mulher atrás dela, com o rosto envolto pelas mãos, é provavelmente Salomé, 'a mãe de Tiago e João, filhos de Zebedeu'. As duas mulheres que, mais tarde, iriam juntas para comprar aromas para ungir o Corpo de Jesus. Ou, sob outro ponto de vista, podemos inverter a identificação de ambas na pintura.

Mas alguém vislumbrou uma outra interpretação criativa para esta pintura que me agrada muitíssimo mais. Aquelas duas figuras mais atrás - uma que obscurece a própria visão e outra que volve seu olhar ao drama da Paixão, ambas aturdidas, ambas profundamente abaladas - somos nós, eu e você, quaisquer um de nós. Reflexos de nós mesmos, personagens reais ou projetados de quem, no tempo dos homens e na eternidade de Deus, seremos igualmente um dia - todos - testemunhas da Paixão. 

sábado, 10 de agosto de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXVIII)


'A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória' (Gl 6,14)

Os instrumentos da Paixão do Senhor (a cruz, a coroa de espinhos, a coluna da flagelação, os pregos, a lança, etc), são conhecidos como Arma Christi (as armas de Cristo) e constituem uma série de símbolos representando a Agonia, a Traição, a Prisão, o Julgamento, a Condenação, a Crucificação, a Descida da Cruz e o Sepultamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os principais instrumentos da Paixão, mais recorrentes na arte sacra, são:

- a cruz (o santo madeiro);
- a coluna da flagelação com um ou mais flagelos;
- a coroa de Espinhos;
- o 'véu da Verônica';
- os cravos ou pregos da crucificação;
- a vara com a esponja com a qual se ofereceu vinagre a Jesus;
- a lança com a qual o soldado perfurou o coração de Cristo.


Outros instrumentos complementares da Arma Christi são:

- o cálice da última Ceia, que representa também o cálice da agonia;
- as trinta moedas de prata recebidas por Judas;
- as correntes, cordas e tochas usadas pelos soldados que prenderam Jesus;
- a espada usada por Pedro para cortar a orelha do servo do sumo sacerdote;
- o galo que cantou após as negações de Pedro;
- a mão do soldado que esbofeteou Jesus;
- uma corneta, que um soldado soa de modo desafinado para zombar de Jesus;
- o caniço entregue a Jesus como 'cetro' pelos soldados;
- o jarro e a bacia com água com os quais Pilatos lavou as mãos;
- o Titulus Crucis, ou seja, a placa com a inscrição 'Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus';
- as vestes de Jesus e os dados usados pelos soldados para o sorteio;
- o martelo utilizado para pregar Jesus na cruz e o alicate usado para removê-los;
- a escada utilizada para a deposição do corpo de Jesus da cruz.
- o Santo Sudário (lençol do sepultamento) e o vaso com mirra para ungir o corpo.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXVII)

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814) foi o maior artista brasileiro de arte barroca de todos os tempos. Sua arte, presente em obras sacras distribuídas por várias cidades históricas de Minas Gerais, retrata e expressa um barroco europeu renovado e adaptado singularmente pelo gênio do artista. São criações muitíssimo pessoais, que podem ser identificadas por traços e características marcantes, como as que são destacadas abaixo, na sua peça da cabeça de Cristo, figura em cedro e parte integrante do cenário dos chamados Passos da Paixão, obra localizada em Congonhas do Campo/MG.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXVI)

ÍCONE DA ÁRVORE DE JESSÉ 

'A Raiz de Jessé' ou a 'A Árvore de Jessé' é um ícone que representa a genealogia de Jesus Cristo sob a forma de uma grande árvore ou videira de múltiplos ramos. A herança terrena de Cristo remonta a Jessé, o pai do Rei Davi, que é representado comumente deitado sob o tronco da grande árvore, que parece emanar do seu próprio corpo. A simbologia remonta pela árvore o grande legado da prole de Jessé e seu estado de dormição é similar ao estado primitivo de Adão, antes de ser trazido à vida por Deus.

'Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes'
 (Is 11,1)

No centro da árvore e em destaque, encontra-se a Mãe de Deus, como a 'Vara de Jessé', representada imediatamente abaixo de Jesus ou trazendo Cristo sentado no colo, o rebento do Filho de Deus Vivo. São José raramente é representado nessa iconografia, embora, ao contrário de Maria, ele seja um elo direto das genealogias descritas nos Evangelhos. A maioria dos ícones da Árvore de Jessé data dos séculos XII a XVI, mas as imagens nas quais os ícones se baseiam podem ser bem mais antigas, incorporadas comumente como figuras de bíblias, saltérios e vitrais.

'A raiz é o lar dos judeus, a vara é Maria, a Flor de Maria é Cristo. Ela é justamente chamado uma haste, pois ela é da linhagem real, da casa e família de Davi. Sua flor é Cristo, que destruiu o mau cheiro da poluição mundana e derramou nele o perfume da vida eterna'
(Santo Ambrósio de Milão)

O arranjo dos ramos da árvore que envolvem Jesus e sua mãe pode ser mais ou menos complexo, mais ou menos abrangente, compreendendo representações tanto dos antepassados ​​de Cristo (quase sempre com destaque para o Rei Davi e seu filho Salomão), bem como dos grandes profetas que preanunciaram a sua vinda (como por exemplo, Jacó comumente representado com uma escada, símbolo da sua visão profética - Gn 28, 12).