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domingo, 2 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

'O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta coisa alguma' (Sl 23)

Primeira Leitura (Jó 19,1.23-27) - Segunda Leitura (1Cor 15,20-24.25-28) - Evangelho (Lc 12,35-40)

  02/11/2025 - COMEMORAÇÃO DOS FIEIS DEFUNTOS

COM RINS CINGIDOS E AS LÂMPADAS ACESAS


No evangelho da missa deste domingo, a Igreja nos recorda que celebramos neste dia a vida e não a morte: 'Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais' (Jo 11,25 - 26). Embora peregrinos do Céu mergulhados nas penumbras da fé e nas vertigens das realidades humanas, vivemos na certeza de que, como Filhos de Deus e co-herdeiros de Cristo, somos peregrinos rumo ao Céu, na confiança absoluta de que seremos possuidores eternos da Plena Visão: 'Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros (Jó 19,25 - 27).

As leituras do Evangelho de hoje podem variar bastante, contemplando textos de diferentes evangelistas. Tomando São Lucas como referência, o Evangelho nos recorda a necessidade da estrita vigilância diante a chegada do Senhor: 'Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar' (Lc 12,37) e ainda 'Ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes' (Lc 12,40). E, felizes de nós que tivermos os 'rins cingidos e as lâmpadas acesas' (Lc 12,35) porque seremos então, por inteiro, a Santa Igreja de Deus, o Corpo Místico de Cristo: nem mais peregrinos e nem mais sujeitos à Santa Justiça, mas tornados eleitos do Pai e herdeiros da Glória de Deus.

Nas leituras de São Mateus, por outro lado, o Evangelho nos conforta na certeza absoluta do que nos espera nesta Glória Celeste, vivendo a felicidade perfeita, e indescritível sob o ponto de vista das palavras e pensamentos humanos. Jesus nos fala dessa realidade transcendente na comunhão dos santos e na unidade da família de Deus: 'Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus' (Mt 5,12). Em contraponto à fidelidade e à fé dos que almejaram ser santos, Deus os recompensará com limites insondáveis de graça, pelas chamadas bem-aventuranças de Deus (Mt 5,3 -12).

Bem-aventurados os pobres de espírito, os simples de coração. Bem-aventurados os aflitos que anseiam por consolação. Bem-aventurados os mansos que se espelham no Coração de Jesus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Bem-aventurados os misericordiosos, filhos prediletos da caridade. Bem-aventurados os puros de coração, transformados em novas manjedouras do Sagrado Coração de Jesus. Bem-aventurados os que promovem a paz e os que são perseguidos por causa da justiça. E bem-aventurados os que foram injuriados e perseguidos em nome da Cruz, do Calvário, dos Evangelhos e de Jesus Cristo porque serão os santos dos santos de Deus!

domingo, 26 de outubro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'O pobre clama a Deus e Ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos(Sl 33)

Primeira Leitura (Eclo 35,15b-17.20-22a) - Segunda Leitura (2Tm 4,6-8.16-18) -  Evangelho (Lc 18,9-14)

  26/10/2025 - TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O VALOR DA ORAÇÃO HUMILDE


Jesus falou muitas vezes sobre o valor da oração. Do valor da oração humilde e confiante, pautada no arrependimento sincero e na dor pelos pecados cometidos. Falou sobre a necessidade de orar sempre, com contrição e perseverança nas súplicas dirigidas à Divina Misericórdia. Mas, todas as vezes que Jesus falou sobre a oração, destacou sempre a premissa essencial do seu valor e ponderação: a humildade. A oração humilde é tangida pela Verdade porque emana da gratuidade da vida em comunhão com Deus.

No Evangelho deste domingo, outros dois personagens são trazidos à realidade das digressões humanas: um fariseu e um cobrador de impostos. Investidos de suas atribuições cotidianas, são apenas homens cumprindo metas e obrigações. Diante de Deus, duas almas, fruto de escolhas singulares da Infinita Sabedoria. Na vida de ambos, certamente o fariseu parecia ter escolhido a melhor parte, pelo menos até o dia em que ambos, vivendo vidas tão opostas, 'subiram ao Templo para rezar' (Lc 18, 10).

E ali, diante de Deus, as realidades humanas se consumiram no nada. O fariseu, eivado de orgulho e auto-suficiência, proferiu a oração despropositada e inútil: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’ (Lc 18, 11-12). No ato desonesto de louvar a si mesmo com desmedida jactância e julgar o próximo pela ótica dos valores humanos, arruinou a própria súplica. O cobrador de impostos, ao contrário, sabedor de suas fraquezas e misérias, prostrou-se em humilde recato e contrição, na sua súplica por clemência e perdão: 'Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' (Lc 18,13).

O primeiro homem se viu em luz, e se banhou com desmedido orgulho nesta própria luz, mortiça e inútil, forjada tão somente por ações humanas. E saiu do templo com a concessão irrisória das alegrias humanas. O segundo homem, porém, apagou primeiro em si toda vaidade e interesses profanos e mergulhou, com inteira confiança e despojamento, na luz de Cristo. E, iluminado pela graça de Deus, alcançou misericórdia e experimentou a consoladora e definitiva paz daqueles que são plenamente justificados em Cristo: 'Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado' (Lc 18, 14).

domingo, 19 de outubro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Do Senhor é que me vem o meu socorro,
do Senhor que fez o céu e fez a terra' (Sl 120)

Primeira Leitura (Ex 17,8-13) - Segunda Leitura (2Tm 3,14-4,2) -  Evangelho (Lc 18,1-8)

  19/10/2025 - VIGÉSIMO NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O JUIZ INÍQUO E A VIÚVA IMPERTINENTE


No evangelho deste domingo, Jesus nos exorta, uma vez mais, à oração frequente, confiante, perseverante e colocada no coração de infinito amor do Deus de Misericórdia. À oração despojada de contrapartidas favoráveis aos apelos intrinsecamente humanos, mas entregue aos desígnios do Pai para o bem maior de nossa alma e do nosso semelhante. E vai enfatizar, de forma cristalina, que a obscuridade e as trevas da perda de fé são engendradas na forja da falta de oração. Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, já nos alertava: 'Quem reza, se salva; quem não reza, se condena'.

Na parábola do mau juiz e da viúva impertinente, deparam-se duas realidades humanas antagônicas: de um lado, o homem privilegiado pelas leis humanas e detentor do poder de decisão sobre as ações e contendas dos outros homens; de outro lado, a mulher exposta e fragilizada pela perda do marido, sob o peso de novas e doloridas realidades e indefesa pelas dramáticas circunstâncias do momento. Cabe a ela, portanto, pedir, pedir uma vez mais e muitas vezes enfim e mesmo implorar a intervenção do juiz em sua causa e defesa. Ao juiz, homem iníquo, ao qual a soberba do cargo tinha imposto sempre decisões rápidas e inquestionáveis, a insistência da viúva é ocasião de incômodo, transtorno, desvario. Eis o cenário que Jesus montou para falar do valor incomensurável da oração.

Diante de apelos tão inoportunos e persistentes, até o juiz iníquo se rendeu: 'Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!' (Lc 18, 4-5). Se até um homem iníquo e injusto é complacente com os rogos repetidos da viúva inconsolável a qual desdenha, o que Deus de infinita misericórdia não iria fazer por nós em oração confiante e perseverante nas suas graças? E Jesus é taxativo ao dizer: 'Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa' (Lc 18,8).

E, no mesmo versículo, Jesus encerra a parábola com uma frase extremamente preocupante: 'Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?' (Lc 18, 8). Jesus não precisaria se expressar assim se não profetizasse uma terrível apostasia dos homens dos tempos da Segunda Vinda do Senhor, fomentada pela perda dos valores espirituais, submissão aos valores mundanos e, principalmente pela perda da oração confiante e perseverante aos desígnios de Deus. E, de repente, ao se ter em conta as realidades de agora, não parece que Jesus está falando para nós?

sábado, 18 de outubro de 2025

ORAÇÃO A MARIA, MÃE DO ROSÁRIO

 

Com o terço entre as mãos,
Eu cantarei os teus louvores, ó Maria;
Em cada conta rezada do Rosário,
com todo meu amor humano eu pediria...

Ó Maria, Mãe do Rosário,
bendita Virgem Maria, medianeira das graças divinas,
legai-nos a paz e o triunfo do vosso Imaculado Coração!

Ó Maria, Mãe do Rosário,
tomai-me por inteiro junto ao vosso Coração Imaculado,
como filho(a) e propriedade do vosso amor. 

Ó Maria, Mãe do Rosário,
concedei-me a graça de ser discípulo fiel do vosso Filho,
agora e sempre, todos os dias da minha vida.

Ó Maria, Mãe do Rosário,
consolai-me nas aflições e provações da minha jornada
nos caminhos e nos atalhos deste mundo.

Ó Maria, Mãe do Rosário,
velai pela minha família, pela vinha herdada do vosso Filho,
que ela produza sempre frutos de vida eterna.

Ó Maria, Mãe do Rosário,
confortai os que sofrem, erguei os desvalidos,
e rogai a Deus pela conversão e salvação dos pecadores.

Ó Maria, Mãe do Rosário,
infundi na alma dos sacerdotes sua proteção maternal
e sede o farol que ilumina a Santa Igreja.

Ó Maria, Mãe do Rosário,
fortalecei em mim os dons do Espírito Santo,
para que eu seja luz para a salvação dos homens.

Ó Maria, Mãe do Rosário,
cumulai-me do vosso poderoso amparo e consolação
no dia e na hora da minha morte.

Ó Maria, Mãe do Rosário,
dai-me a graça de vos amar e adorar o vosso Filho,
por toda a eternidade no Céu. Amém.

domingo, 12 de outubro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: que o Rei se encante com vossa beleza!' (Sl 44)

Primeira Leitura (Est 5,1b-2;7,2b-3) - Segunda Leitura (Ap 12,1.5.13a.15-16a) -  Evangelho (Jo 2,1-11)

  12/10/2025 - SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA APARECIDA

'FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER'


Neste dia da solenidade de Nossa Senhora Aparecida, nós a encontramos junto com Jesus, como convidados de certas bodas em Caná. Não sabemos detalhes do evento, os nomes dos noivos ou do mestre de cerimônia, o tempo da celebração. Mas a presença de Jesus e de Maria naquela ocasião em Caná da Galileia são o testemunho vivo da santidade e das graças associadas àquela união matrimonial. Muitos teólogos manifestam inclusive que foi, neste enlace de santa vocação e harmonia, que Jesus elevou o casamento à condição de sacramento, imagem de suas núpcias eternas com a Santa Igreja.

E o vinho veio a faltar. Nossa Senhora tem a clara percepção da situação constrangedora e aflitiva dos noivos e de suas famílias, porque faltou o vinho. É a Mãe que roga, que intercede, que suplica ao Filho Amado: 'Eles não têm mais vinho' (Jo 2, 3). Medianeira e intercessora de nossas aflições e angústias, de Caná até os confins da terra, Nossa Senhora leva a Jesus as súplicas de todos os seus filhos e filhas de todos os tempos. É ela que nos abre as portas da manifestação da glória de Jesus para a definitiva aliança dos céus com a humanidade pecadora, mediante a sua súplica de Mãe face à angústia humana: 'Fazei tudo o que Ele vos disser' (Jo, 2,5).

E eis que havia ali seis talhas de pedra, que foram 'enchidas até a boca' (Jo, 2,7). E a água se fez vinho, nas mãos do Salvador. Da angústia, faz-se a alegria; da aflição, tem-se o júbilo; da ansiedade, nasce o alívio e a serenidade. Alegria, júbilo, alívio e serenidade que são os doces frutos da plena santificação. Este vinho nos traz a libertação do pecado e nos coloca nas sendas do céu, pois nos deleita com as graças da virtude, do santo juízo, da sabedoria de Deus. Mas nos cabe encher nossas talhas de água até a boca, prover os nossos corações do mais pleno amor humano, para que a santificação de nossas almas seja completa no coração de Deus.

'Este foi o o início dos sinais de Jesus' (Jo, 2,11). Em Caná da Galileia e por Maria, mais que o primeiro milagre, a glória de Jesus foi manifesta à humanidade pecadora. O firme propósito pessoal em busca da virtude e da superação das nossas vicissitudes humanas é a água que será transformada no vinho pela graça e pela misericórdia de Deus em nossos corações aflitos e inquietos, enquanto não repousados na glória eterna. Enchei, portanto, as vossas talhas de água e fazei tudo o que Ele vos disser, com a intercessão de Maria. Eis aí a pequena e a grande via em direção ao Coração de Deus, que nos foi legada um dia em Caná da Galileia.

sábado, 11 de outubro de 2025

FRASES DE SENDARIUM (LXII)

'Se queres sofrer com paciência as adversidades e misérias desta vida, seja um homem de oração' 

(São Boaventura)

Rezai assim: 'Senhor, não vos peço não ter tentações ou sofrimentos e nem que se cumpra as minhas humanas vontades, mas que o vosso propósito para mim se realize em plenitude em cada dia da minha vida. Queria vos pedir, Senhor, possuir sempre esta serenidade, esta paz interior que vem de Vós, esta perseverança de fé até o último segundo do meu existir, esta alma atribulada e incansável em busca da santificação. Senhor, concedei-me a graça de colocar em prática este imenso amor que tenho pelas vossas coisas e ser um instrumento vivo do vosso infinito amor pelos homens'.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

A CIÊNCIA DE DEUS (VI)


A Bíblia não é um livro de ciências da natureza e os escritores sagrados não pretendiam ensinar, nos textos bíblicos, a natureza primordial das coisas do universo visível. Elementos simbólicos e figurados constituem abordagens inerentes à literatura bíblica e é, neste contexto, que devem ser analisados e interpretados os três primeiros capítulos de Gênesis, que sintetizam verdades fundamentais sobre Deus, a criação e a humanidade.

Santo Agostinho, por exemplo, não interpretou os 'Seis Dias' da criação como uma sequência real de tempo. Em vez disso, ele sustentou que o universo foi criado em um instante, com base em um processo gradual e natural de desenvolvimento por meio do desdobramento de potencialidades que Deus originalmente implantou na sua criação, e que existiam, em estado latente, na própria textura dos elementos originais do universo físico.

O significado teológico dos 'Seis Dias' do primeiro relato da criação em Gênesis expressa essencialmente que a sabedoria de Deus deu ao mundo criado ordem e propósito. Deus é a fonte do existir de todas as coisas; que ele criou livremente e com sabedoria divina. Nos três primeiros 'dias', as várias partes do mundo foram estabelecidas; nos três 'dias' seguintes, os vários seres vivos foram criados em sequência, culminando na humanidade; e finalmente chegou-se ao sétimo 'dia', tempo de descanso e adoração. Essa sequência simboliza que o universo físico foi feito para a vida, com ênfase especial de domínio no ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus com naturezas corpórea e espiritual, pelo que fomos criados para a comunhão e glória de Deus, em quem encontraremos consolo, descanso e a paz eterna.

domingo, 5 de outubro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!' (Sl 94)

Primeira Leitura (Hab 1,2-3.2,2-4) - Segunda Leitura (2Tm 1,6-8.13-14) -  Evangelho (Lc 17,5-10)

  05/10/2025 - VIGÉSIMO SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

'AUMENTA A NOSSA FÉ!'


'Aumenta a nossa fé!' (Lc 15,5). Eis o pedido dos apóstolos ao Senhor, naquele dia. Eis a nossa súplica ao Senhor através dos tempos: eu creio firmemente, Senhor, mas aumenta a minha fé! O crescimento da fé implica a fé professada, vivida no cotidiano de nossas vidas, alimentada por atos de piedade e devoção cristãs. O incremento da fé implica a fé testemunhada pela conduta de cristãos no mundo, na doação às necessidades do próximo, na prática de uma caridade submersa por completo na gratuidade do amor de Deus.

E a resposta de Jesus é incisiva: 'Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda...' (Lc 15,6), tornar-se-ia possível arrancar uma planta de raízes profundas e vigorosas e arremessá-la ao mar, seria possível mover as montanhas de lugar e fazer portentos ainda maiores. Pois a fé mobiliza forças inauditas e incompreensíveis aos valores humanos, mas possíveis para a Santa Vontade de Deus, que não conhece abismos ou limites.

E Jesus, com a parábola do senhor e do seu empregado, resume o que deve ser a prática do exercício cristão da fé, como dever e obrigação, não como apropriação de mérito ou regalia de gratidão. A fé plena nos exige a caridade despojada, a entrega cotidiana às graças de Deus nas nossas pequenas ações de cada dia. Sejamos 'servos inúteis' (Lc 15,10) na consumação completa do nosso eu em nossas ações para e tão somente à glória de Deus.

A fé é 'o precioso depósito que, com a ajuda do Espírito Santo, habita em nós' (2Tm 1,14). Na confiança irrestrita à vontade do Pai e na completa dependência aos seus desígnios, achemos consolação apenas em viver para servir e servir sem reservas, como oferta ao Senhor da vida e submissos à Santa Vontade de Deus, pois o homem justo não morrerá jamais e 'viverá por sua fé' (Hab 1,4).

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

SOFRER COM CRISTO OU SOFRER SEM CRISTO


'Você pode sofrer com Cristo ou sofrer sem Ele'

Essa é a nossa verdadeira e decisiva escolha. Porque viver é uma luta constante e impossível sem tribulações de toda espécie. O Céu não é aqui. Aqui é o caminho para o Céu, moldado e construído por aflições, quedas, tropeços, sofrimento... Sim, há que se desejar e buscar ardentemente a suavidade da graça, a paz interior, a felicidade de uma vida simples e com saúde. Mas tudo - tudo mesmo - nesta vida, é transitório e fugaz. O que se apreende hoje com força nas duas mãos, amanhã é apenas fumaça que se esvai entre os dedos. O que hoje nos impulsiona como artífices de toda obra e toda intenção, amanhã nos abandona à prostração completa de corpo e de alma.

Eis, portanto, a única via de viver neste mundo: um caminho de pedras, um longo caminho de muitas pedras... cuja medida é a cruz que se leva nesta longa via. O sofrimento não é uma atribuição exclusiva dos santos, a dor não é intrínseca aos arautos da graça divina. O que separa os filhos dos homens dos filhos de Deus é a maneira com que cada um leva a sua cruz, se a renega e se revolta contra ela, ou se a acolhe e a abraça como instrumento de graça e salvação.

Viver é carregar a cruz de cada dia com Cristo ou sem Cristo. Para uns, sofrimento perdido e caminho sem rumo. Como filhos de Deus, a nossa escolha é simples: sofrer com Cristo e compartilhar a nossa cruz com a Cruz do Calvário: 'Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve (Mt 11,28-30).

domingo, 28 de setembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Bendize, minha alma, louva ao Senhor!' (Sl 145)

Primeira Leitura (Am 6,1a.4-7) - Segunda Leitura (1Tm 6,11-16) -  Evangelho (Lc 16,19-31)

  28/09/2025 - VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O HOMEM RICO E O POBRE LÁZARO


Na parábola de Jesus no evangelho deste domingo, confrontam-se os valores da riqueza e da pobreza, presentes no corpo e nos sentidos dos liames humanos, fontes diversas que forjam o abismo incomensurável dos destinos eternos da alma. De um lado, o homem rico, avarento e enfastiado pela opulência dos bens materiais; de outro, o mendigo, na pobreza de sua indigência completa, que almejava apenas 'matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico' (Lc 16,21). Duas pessoas tão próximas, tão juntas, como as bordas adjacentes de um abismo profundo moldado pelo paroxismo da indiferença humana.

E este abismo tende a se tornar definitivamente intransponível para ambos ao final de suas vidas mortais. Se há um momento em que todos os homens se tornam absolutamente iguais é a hora da morte. Se há um momento em que os homens se tornam absolutamente desiguais é no momento após a morte. Eis a grande lição do evangelho deste domingo: o céu e o inferno são realidades dogmáticas da fé cristã e o pecado mortal impõe ao condenado a definitiva separação de Deus e sua danação eterna no abismo dos abismos: 'há um grande abismo entre nós; por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’ (Lc 16,25).

Ricos e pobres, todos nós seremos julgados não pela medida do muito ou pouco que fizemos nesta vida, mas pela medida com que fizemos bem aquilo que era da santa vontade de Deus. Ao morrer impenitente, o rico passa a viver a miséria da sua perdição; o pobre, que era apenas um nome neste mundo, torna-se o Lázaro na côrte eterna de Abraão. E, em contraposição à mendicância e às súplicas nunca ouvidas às suas portas, o rico irá suplicar três vezes pela clemência de Lázaro em seu favor e ao de seus irmãos: 'manda Lázaro molhar a ponta dos dedos... manda Lázaro à casa do meu pai ... se um dos mortos for até eles...' (Lc 16,24.27.30).

A resposta de Abraão não estabelece concessão alguma: 'Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos' (Lc 16,31). É uma sentença definitiva sob o primado da verdade eterna. Com efeito, Jesus ressuscitou, mas quantos o escutam? Escutar Moisés e os Profetas é ouvir a Palavra de Deus, seguir Jesus pelas passagens do Evangelho, combater o bom combate da fé, carregar a cruz de todos os dias com Cristo, por Cristo e em Cristo para que um dia, transposta a morte que nos torna homens todos iguais, sejamos os Lázaros da vida eterna.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

FRASES DE SENDARIUM (LXI)

 

'A virtude da pobreza não consiste em ser pobre,
mas em amar a pobreza'

(São Bernardo)

Pratique, com insistência generosa, atos de caridade, particularmente com teus irmãos que não esperam mais gestos de fraternidade de ninguém; quanto mais pobres de atenção e mais abandonados forem aqueles que recebam de ti uma palavra de conforto ou um gesto de carinho, menos humano e mais divino torna-se o teu coração, transformado em uma nova manjedoura, bela e simples, para o renascimento de Cristo entre os homens! 

domingo, 21 de setembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Louvai o Senhor que eleva os pobres!' (Sl 112)
 
Primeira Leitura (Am 8,4-7) - Segunda Leitura (1Tm 2,1-8) -  Evangelho (Lc 16,1-13)

  21/09/2025 - VIGÉSIMO QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O ADMINISTRADOR FIEL 


Eis a parábola que fala da necessidade imperiosa dos Filhos de Deus viverem a sábia prudência que nasce e se alimenta da verdadeira fidelidade. A prudência dissociada da fidelidade é vanglória humana; a santidade pressupõe a adoção conjunta e harmônica destas duas virtudes, na convivência diária e nas relações humanas, no exercício das atividades do mundo, na utilização criteriosa dos recursos materiais à nossa disposição - inclusive o dinheiro, com foco único e centrado na salvação eterna de nossas almas.

Qual o uso que se dá ao que nos foi dado por Deus? O fruto de nossa herança eterna é a forma com que lidamos com os bens materiais e espirituais que a Divina Providência semeou no campo fértil da sua vinha: saúde, bens, poderes, riquezas, talentos, habilidades - tudo nos é dado como dotes mutáveis e transitórios para serem compartilhados com o próximo e produzir frutos perenes de vida eterna em terras alheias. Por que, tal como no caso do administrador infiel da parábola do Evangelho deste domingo, todos seremos igualmente cobrados pelo Senhor da Vinha: 'Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens’ (Lc 16, 2).

No Julgamento Particular de cada um de nós, já não haverá mais tempo para se administrar o bem que não se fez, a partilha não realizada, a herança não distribuída. Assim, Jesus nos alerta sobre a nossa condição de administradores temporários de bens e graças nesta vida, dos quais teremos de prestar conta de tudo. E cita o exemplo da esperteza do administrador infiel, que usou da sagacidade e de uma falsa e interesseira prudência para obter vantagens e benesses para a sua subsistência futura, porque, 'os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz' (Lc 16, 8).

Com sábia prudência, os filhos da luz deveriam agir como administradores fieis dos bens e riquezas do mundo, coisas boas em si, desde que adquiridas com trabalho honesto e tratadas como meios para glória de Deus e não como fins para ganância e soberba dos homens: 'Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro' (Lc 16, 13). Eis aí a nossa herança como administradores bons e fieis: a eterna recompensa nas moradas eternas do Senhor da Vida.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

FRASES DE SENDARIUM (LX)

 

'Eu desejo morrer logo para viver a eternidade com Maria' 

(São Leonardo do Porto Maurício)

Eu sei que Deus vai me pedir contas um dia

e eu sei como será tremenda essa hora:

quero levar comigo só a caridade

o mais que tiver eu vou deixar lá fora...

Mas, mais que tudo, ao reabrir meus olhos,

quero abri-los com Nossa Senhora...

domingo, 14 de setembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Das obras do Senhor, ó meu povo, não te esqueças!' (Sl 77)
 
Primeira Leitura (Nm 21,4b-9) - Segunda Leitura (Fl 2,6-11) -  Evangelho (Jo 3,13-17)

  14/09/2025 - FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

CRUZ BENDITA, CRUZ SANTA, CRUZ DE REDENÇÃO ETERNA


'Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna' (Jo 3, 13 - 15). Cristo, levantado do mundo, para manifestar aos homens a glória de Deus, pelo seu sacrifício cruento de Cruz. Cruz santa, cruz de redenção eterna. Eis o madeiro santo, patíbulo de adoração, pelo qual Deus remiu o mundo pelo derramamento do Sangue Preciosíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo.

O caminho da santidade perpassa pela experiência do Calvário. Quem não subir pelo Gólgota e levar a sua cruz não é digno do Reino dos Céus. O caminho da 'Terra Prometida' começa na Cruz de Cristo e termina na Porta do Céu. Por isso, Jesus desceu à terra para fazer novas todas as coisas e 'subiu ao Céu', para fazer da eternidade o tempo final dos eleitos da graça. Antes de Jesus, os justos tiveram que esperar, na paz dos que se sabiam salvos, o anseio da felicidade eterna junto de Deus.

Acabou-se o tempo de louvação a imagens nascidas do imaginário humano; o maná descido do Céu tomou a forma do próprio Deus feito homem. É Cristo que passa, é Cristo que ensina nas sinagogas, nas praças, nos montes, nas barcas da vida: tudo, entretanto, tudo em Cristo leva a um mesmo lugar e a um mesmo momento: a agonia da cruz, cruz bendita, cruz santa, cruz de salvação: 'Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele' (Jo 3, 16-17).

A cruz de Cristo é o símbolo da glória de Deus, da redenção da humanidade pecadora, do triunfo da fé cristã. E essa expressão máxima de fé e do gáudio celeste foi manifestada a Nicodemos, um fariseu e membro do Sinédrio, que foi capaz de abandonar o imaginário dos homens para se iluminar da glória de Deus. No Evangelho deste domingo, proclamamos que Nicodemos foi o primeiro a ser irradiado pela revelação da cruz; neste dia da Exaltação da Santa Cruz, referendamos essa dádiva e nos unimos a ele para compartilhar de tão grandes privilégios: 'Per crucem ad lucem — É pela cruz que se chega à luz'.

domingo, 7 de setembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós' (Sl 89)

Primeira Leitura (Sb 9,13-18) - Segunda Leitura (Fm 9b-10.12-17) -  Evangelho (Lc 14,25-33)

  07/09/2025 - VIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

'QUEM NÃO CARREGA SUA CRUZ...'


Na essência do amor a Deus vivido em plenitude, está o abandono aos valores do mundo e às glórias humanas. No desapego aos valores materiais, no desprendimento aos moldes terrenos de vidas tangidas meramente pelas relações humanas, ainda que louváveis e boas em si, a alma se liberta do lastro e das amarras das felicidades transitórias dessa vida para a impulsão definitiva para a felicidade eterna do Céu.

As palavras de Jesus no Evangelho de hoje são duras: 'Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo' (Lc 14, 26). Pois é preciso servir primeiro a Deus e depois aos homens; e porque é preciso estar sem lastros humanos para servir a Deus sobre todas as coisas, é preciso superar relações humanas ainda que fraternas; porque sendo o amor divino o itinerário da eternidade, é preciso vivê-lo em patamares além das dimensões seguras e sensíveis dos amores humanos mais belos, que ligam pai e filho, mãe e filha, irmãos e irmãs, pais e esposos. Eis a essência desse amor sem medidas: por tudo de lado, até a própria vida, para seguir Jesus Cristo e o Evangelho.

Esta dimensão de renúncia e despojamento completo não é fácil, não é simples, não é desprovida de sacrifício: 'Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo' (Lc 14, 27). Sim, é preciso carregar a cruz: cruz que se torna pesada quando tolhida à terra pelos afazeres e lastros dos apegos humanos; cruz que se torna um jugo suave quando levada pela alma do discípulo incensado do mais puro amor de Deus. Per crucem ad lucem: é pela cruz que se chega à luz.

Jesus vai revelar em seguida, por meio de duas curtas parábolas, que, uma vez conhecidas as dificuldades de superação dos nossos apegos aos valores humanos, o propósito de renúncia ao mundo exige planejamento, prudência e perseverança: 'Com efeito: qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar?' (Lc 14, 28). 'Ou ainda: qual o rei que ao sair para guerrear com outro, não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil?' (Lc 14, 31). Não se constrói uma torre ou se participa de uma guerra, sem armas, ferramentas ou projetos solidamente firmados. O que dizer, portanto, em relação à nossa caminhada de vida interior e espiritual que tem como medida a própria eternidade?

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

FRASES DE SENDARIUM (LIX)

 

'O orgulho é a matriz de todas as fraquezas
porque é a fonte de todos os vícios'

(Santo Agostinho)

Pai, afasta de mim este orgulho que me afasta de Vós e que eu aprenda, mais do que ser ou ter, a me doar e compartilhar com todos os dons que possuo e que não são meus. E que eu tenha a humildade de buscar nos vossos filhos os dons que, sendo meus, eu ainda não possua...

domingo, 31 de agosto de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Com carinho preparastes uma mesa para o pobre' (Sl 67)

Primeira Leitura (Eclo 3,19-21.30-31) - Segunda Leitura (Hb 12,18-19.22-24a) -  Evangelho (Lc 14,1.7-14)

  31/08/2025 - VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

'QUEM SE HUMILHA SERÁ ELEVADO'


Humildade e mansidão são os frutos da fé para deleite de abundantes graças de Deus para aquele que vive a generosidade despojada dos que seguem a Jesus: 'Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração' (Mt 11, 29). Na parábola do Evangelho deste domingo, estas virtudes essenciais da graça são manifestas na transposição dos primeiros e dos últimos lugares de um grande banquete.

Diante do Filho de Deus vivo, os escribas e fariseus se preocuparam primeiro em ocupar lugares de honra à mesa. Eles observavam Jesus, eles tinham curiosidade, interesse e empenho em questionar Jesus por qualquer uma de suas palavras ou ações, mas não percebiam a própria insensatez e vaidade de suas ações primeiras: a busca desenfreada por ocupar os primeiros lugares, a vanglória de usufruir com pompas uma posição destacada na mesa de jantar, a jactância de se apropriar sem rodeios das melhores posições para exercerem, com maior júbilo e sem reservas, o desmedido orgulho de suas escolhas humanas.

Eis que Jesus os conclama a viver a humildade da vida em Deus, sem buscar os privilégios e os prestígios efêmeros do mundo: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar... Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar' (Lc 14, 8, 10). Como convivas do banquete, seremos provedores de honra ou da vergonha, dependendo da medida de nossa humildade ou da desdita de nosso orgulho: 'Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado' (Lc 14, 11).

E a humildade não pode prescindir do despojamento, da generosidade desinteressada, da mansidão. A mão que estende a dádiva não se curva à retribuição; a ação de oferta não se compraz da gratidão; a semente que gerou fruto não impõe recompensa alguma. Oferece o 'banquete' de seus dons e talentos aos pobres, e aleijados, e coxos, e cegos...'porque eles não te podem retribuir' (Lc 14, 14). Assim, sem a gratidão e os louvores humanos, o homem sábio ajunta tesouros e a recompensa eterna na ressurreição dos justos.

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

A CIÊNCIA DE DEUS (V)


No comentário sobre o Livro do Gênesis, escrito em 414 d.C, Santo Agostinho baseou-se em observações astronômicas consolidadas para chegar à conclusão de que o Primeiro Relato da Criação do Gênesis deve contemplar uma cosmogonia simbólica e não uma descrição científica pronta e acabada. No relato bíblico, cada 'dia' termina com as palavras 'veio a tarde e seguiu-se a manhã'. Santo Agostinho percebeu que os seis 'dias' não poderiam ter o significado usual de dias de 24 horas, pois era bem sabido que os horários da noite e do dia são diferentes em diferentes partes do mundo:

'Mas se eu disser que [os dias são períodos de vinte e quatro horas], receio que serei ridicularizado por aqueles que sabem isso com certeza... que durante o tempo em que é noite para nós, a presença da luz está iluminando outras partes do mundo, além das quais o sol estará retornando do seu pôr do sol para o seu renascer... Então, vamos realmente colocar Deus em alguma parte [do mundo] onde pode ser noite para ele, enquanto a luz se retira dessa parte para outra?' [St. Augustine, De Genesi ad Litteram].

E Santo Agostinho, inspirado por sua reverência pela sabedoria perfeita de Deus, considerou também desprovida a ideia de atos criativos, separados da parte de Deus, para explicar as origens dos seres vivos ou dos seres humanos. Se Deus é perfeito, seu ato criativo também deve ser perfeito, sem falta de nada, sem necessidade de atos divinos adicionais para completá-lo. Portanto, Santo Agostinho especulou que Deus criou o universo com tudo o que ele precisava para produzir vida. Por exemplo, ele ensinou que todos os seres vivos, incluindo os seres humanos, existiam naturalmente no universo desde o seu primeiro momento, não como organismos reais, mas como rationes seminales - isto é, com 'razões seminais' ou 'princípios similares a sementes' - ocultos na própria natureza ou, por assim dizer, na própria textura dos elementos... [requerendo apenas] a ocasião adequada e propícia para realmente emergir' [St. Augustine, De Trinitate 3.9.16. Cf. De Genesi].

Embora não tivesse noção de descendência comum a partir de um ancestral original, nem de seleção natural e variação genética, a integridade da natureza como fonte da vida, que Darwin defenderia, já era celebrada por este Padre e Doutor da Igreja um milênio e meio antes dele.

(Fonte: Society of Catholic Scientists, artigo de Christopher Baglow)

domingo, 24 de agosto de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Proclamai o Evangelho a toda criatura!' (Sl 116)

Primeira Leitura (IS 66,18-21) - Segunda Leitura (Hb 12, 5-7.11-13) -  Evangelho (Lc 13,22-30)

  24/08/2025 - VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

A PORTA ESTREITA


No Evangelho deste domingo, Jesus é indagado, mais uma vez, por alguém da multidão: 'Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam? (Lc 13, 23). A pergunta já traduz uma questão que perpassava a mente do questionador, dos homens daquela época, da mente dos homens de todos os tempos: 'existe um conceito estabelecido de que é uma minoria dos homens que estão destinados à felicidade eterna com Deus'. Essa questão, se verdadeira ou não, dominou o interesse e o estudo aprofundado de muitos teólogos e Padres da Igreja.

Da posição rigorosa de um São Leonardo do Porto Maurício sobre ‘o pequeno número dos que se salvam’ até manifestações totalmente opostas de que certamente a maior parte dos homens está destinada à Glória Eterna, predominam outras tantas proposições, todas não definidas ou consolidadas nem pela Igreja nem pela Tradição Cristã. Na Suma Teológica, São Tomás de Aquino alinha umas tantas suposições, sem se ater a nenhuma delas: 'a respeito de qual seja o número dos homens predestinados, dizem uns que se salvarão tantos quantos foram os anjos que caíram; outros, que tantos como os anjos que perseveraram; outros, enfim, que se salvarão tantos homens quantos anjos caíram e, ademais, tantos quantos sejam os anjos criados' (Suma Teológica I, q.23).

Ouçamos a resposta de Jesus: 'Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão' (Lc 13, 24). A porta é estreita e muitos não conseguirão entrar. Porta estreita, mas aberta aos que perseverarem na sua fé, em meio às provações e inquietações do mundo. Se muitos não poderão entrar, não significa que muitos não o poderão fazer: 'Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus' (Lc 13, 29). Mas é preciso viver a verdadeira vida em Deus, e fazer 'todo esforço possível' (Lc 13, 24) para seguir os caminhos do bem e viver na graça do Pai.

Jesus é a Porta do Céu. E a porta é estreita porque todos os caminhos da salvação passam por Ele e, passar por Jesus, significa estar livre do pecado mortal e guardar o nosso coração do apelo às paixões desordenadas do mundo. Mas a porta é estreita e fechada aos que escolheram o mundo e aos que, se dizendo de Cristo, cumpriram meros preceitos formais, praticaram a injustiça e o pecado livremente, traíram ou refizeram as palavras e os ensinamentos de Cristo às suas próprias interesses e comodidades: 'Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’ (Lc 13, 25). E estes ficarão de fora do banquete do Senhor. O número dos que se salvam ou que se perdem não é função de se chegar primeiro ou depois, pois 'há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos' (Lc 13, 29), mas das escolhas que fazemos em nossas vidas no caminho para a Jerusalém Celeste.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

FRASES DE SENDARIUM (LVIII)

 

'Ó Maria, no Sangue de Jesus e em tua intercessão, 
está toda a minha esperança!' 

(Santo Afonso de Ligório)

Louvar Nossa Senhora é cantar a obra prima de Deus: que nós  possamos amar Jesus com o amor do coração de Maria!