Mostrando postagens com marcador carismas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador carismas. Mostrar todas as postagens

sábado, 4 de junho de 2022

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (VI)

VERÔNICA GIULIANI

Verônica Giuliani nasceu no povoado de Mercatello, na Itália, em 27 de dezembro de 1660, com o nome de batismo de Úrsula Giuliani e tornou-se uma das mais extraordinárias místicas da Igreja Católica, num patamar de supremacia digno de uma Santa Teresa de Ávila. Viveu experiências sobrenaturais desde a mais tenra idade, conviveu cotidianamente com visões e aparições de Jesus e de Nossa Senhora, foi privilegiada com incursões ao Purgatório e ao Inferno, recebeu os estigmas de Cristo e muitas outras manifestações dos mistérios da graça divina que incluíram sinais permanentes no seu corpo e o extraordinário fenômeno da transverberação do próprio coração.

Tendo perdido a mãe com a idade de 7 anos e impondo-se à época contra a vontade paterna, ingressou na vida religiosa aos 17 anos, no convento das monjas Capuchinhas de Città di Castello, na Úmbria, adotando o nome de Verônica de Jesus e de Maria. Ali iria viver toda a sua vida, até morrer em 9 de julho de 1727. Por determinação direta de Jesus e de sua Santíssima Mãe, registrou em mais de 22 mil páginas do seu diário espiritual, a história de sua vida e o seu legado portentoso de expiação: Jesus viveu a sua Paixão e Morte de Cruz pela nossa salvação e o mistério da redenção implica a coparticipação dos seus filhos por meio dos nossos próprios sofrimentos.

Nestes registros, encontra-se a raiz de sua santificação ao entrar para vida religiosa: 'Pedi a Jesus a graça de amá-lo e ele pareceu comunicar-me então o seu amor... e pedi a Ele mais três favores: viver de acordo com o estado de vida que havia assumido, nunca me separar da sua santa vontade e estar sempre ligada a Ele na sua Paixão e Cruz'. Jesus a tomou para si de tal modo que é quase impossível descrever toda a dimensão mística desse encontro e da projeção de uma alma num abismo de graças.

Na Sexta-feira Santa de 1681, foi contemplada com uma coroa de espinhos: 'pareceu-me que senti os espinhos entrarem na minha boca, meus ouvidos, minha cabeça, meus olhos, minhas têmporas e meu cérebro. Foi um tal sofrimento que caí no chão como se estivesse morta'. Ela padeceria destas dores de forma recorrente pelo resto da vida. Em 05 de abril de 1697, Sexta-feira Santa, recebeu aos 36 anos os estigmas de Cristo: 'vi cinco raios brilhantes saindo de suas feridas e vindo em minha direção. Eu vi como eles se transformaram em pequenas chamas. Quatro deles continham os cravos e o quinto continha a lança, dourada e toda em chamas, que perfurou o meu coração. Os cravos perfuraram minhas mãos e os meus pés'. Um pouco antes, neste mesmo ano, recebeu a ferida no coração, conhecida como transverberação, a exemplo de Santa Teresa de Ávila. A santa registrou em seu diário que os instrumentos da paixão de Cristo estavam fisicamente impressos em seu coração.


Em 6 de junho de 1727, ela sofreu um derrame e padeceu misticamente no Purgatório por 33 dias, sob grandes sofrimentos e tentações. Após receber a permissão para morrer do seu confessor, faleceu em 9 de julho de 1727, aos 66 anos de idade. Suas últimas palavras refletem a síntese de sua vida espiritual: 'Encontrei o Amor; o Amor deixou-se contemplar!' Na autópsia, o seu coração foi isolado e seccionado, revelando incríveis e misteriosas incisões na forma dos contornos de instrumentos da Paixão, das sete espadas representativas das dores de Nossa Senhora e de várias letras, indicativas de virtudes e dos votos que tinham sido feitos por ela. Seu corpo incorrupto encontra-se no Santuário do Mosteiro de Santa Verônica Giuliani, em Città di Castello, Itália. Foi beatificada em 1804 pelo Papa Pio VII e canonizada em 1839 pelo Papa Gregório XVI.

sábado, 12 de junho de 2021

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (V)

ELENA AIELLO

Elena Emília Aiello nasceu em Montalto Uffugo, província de Cosenza e região da Calábria, na Itália, no dia 10 de abril de 1895, e faleceu em Roma no dia 19 de junho de 1961. Privilegiada por inúmeros dons sobrenaturais, foi declarada venerável no dia 22 de janeiro de 1991 e beatificada em 14 de setembro de 2011. 

Após a morte da mãe, ocorrida em 1905, Elena passou a ajudar o pai na alfaiataria da família. Em agosto de 1920, ingressou no instituto das Irmãs da Caridade do Preciosíssimo Sangue em Salerno, mas graves problemas de saúde fizeram com que fosse excluída da congregação. A partir de uma revelação de Jesus de que seria curada destes males e que passaria a sofrer os estigmas da Paixão de Cristo nas Sextas-Feiras Santas de cada ano, passou a experimentar diferentes fenômenos místicos, que incluíram visões de Cristo e de Nossa Senhora, que lhe pediam para participar do mistério da Paixão para o bem da humanidade como alma vítima escolhida pela Providência para a conversão dos pecadores e para aplacar a Justiça divina.

Em 1928, ela e uma amiga, Luigia Mazza, fundaram o Instituto das Irmãs Mínimas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, adotando como modelo de vida religiosa a própria Paixão de Jesus e o primado da caridade testemunhada por São Francisco de Paula, escolhido como padroeiro da congregação. A sua obra conta atualmente com mais de 100 religiosas e está presente na Itália, com numerosas casas na Suíça, Canadá, Colômbia e Brasil.


Desde a sua morte em Roma em 1961, inúmeros milagres e conversões têm sido atribuídos à Irmã Elena Aiello. Os seus restos mortais repousam na capela da Casa Mãe do seu instituto em Cosenza. Sua festa é comemorada no dia 19 de junho. As revelações e aparições à Beata Elena Aiello foram aprovadas pela Igreja e encontram-se relatadas no livro 'Suor Elena Aiello - La monaca santa', de Mons. Francisco Spadafora, que foi o seu diretor espiritual, que as definiu como sendo uma atualização do segredo de Fátima. Eis algumas destas revelações:


'Os homens ofendem demasiado a Deus. O mundo está totalmente devastado, porque se tornou pior do que nos tempos de dilúvio universal... todas as nações serão punidas porque são muitos os pecados que, como uma maré de lodo, a tudo cobrem. Muito sangue será derramado e a Igreja sofrerá muito. A Itália será humilhada, purificada no sangue e deverá sofrer muito porque são muitos os pecados desta nação. Não podeis imaginar o que sucederá! As ruas estarão encharcadas de sangue. O Papa sofrerá muito. Mas não tardará o castigo dos ímpios. Aquele dia será terrível'.

'Minha filha, o castigo está próximo. Fala-se muito de paz, mas o mundo inteiro caminha para a guerra, e as ruas ficarão cobertas de sangue! Não se vê um raio de luz no mundo, porque os homens vivem nas trevas do pecado, e o enorme peso desses pecados clama pela Justiça de Deus. Todas as nações serão castigadas, porque o pecado espalhou-se por todo o mundo! Os castigos serão tremendos, porque o homem tornou-se numa afronta insuportável contra o seu Deus e Pai, e já exasperou a Sua Infinita Bondade!... O Meu Coração de Mãe e Mediadora dos homens, próxima da Misericórdia de Deus, convida, com muitas manifestações e muitos sinais, os homens à penitência e ao perdão. Mas eles respondem com uma tormenta de ódio, blasfêmias e profanações sacrílegas, cegos pela ira infernal. Peço oração e penitência, para que possa obter de novo a misericórdia e a salvação para muitas almas; pois de outro modo irão se perder'.

'O pecado manchará até mesmo as almas das crianças... falsos profetas circundam a Cristo na terra e o demônio desencadeou a mais terrível batalha contra Deus e a Igreja... o pecado de impureza, convertido em arte sedutora e diabólica, atingiu o cume: a maioria dos homens vive na lama... Não há esperança para uma era de paz: o mundo inteiro estará em guerra'... Olhai: os anjos, tendo em suas mãos recipientes cheios de fogo, estão prestes a despejá-los sobre o mundo. Este terrível flagelo virá nas primeiras horas da manhã. O céu se tingirá de vermelho, a tempestade será de fogo, várias nações deverão desaparecer'.

(vídeo contendo algumas revelações à Beata Elena Aiello)

quarta-feira, 15 de maio de 2019

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (III)

ANGELA DE FOLIGNO

Poucas almas experimentaram, de forma tão extremada, os ditames da conversão como Angela de Foligno (nascida em Foligno, pronuncia-se 'folinho', pequena cidade situada próxima a Assis, na região da Úmbria na Itália, em 1248). Mulher de beleza incomum, contraiu núpcias ainda muito nova e foi mãe de prole numerosa (7 filhos); entre limites pouco sensíveis ao ambiente familiar, trajes pouco modestos e apelos de uma vida ávida de festas e divertimentos, dedicou-se por inteiro a uma vida mundana, frívola e, muitas vezes, profundamente pecaminosa. 


Mas Deus tinha outros planos para ela. Aos 37 anos de idade, aquela vida imersa em caos e desordem começou a trilhar os duros caminhos da penitência e da conversão. E Angela sentiu medo; um medo terrível de perder a sua alma, quando experimentou vivamente, em sua consciência, o conhecimento dos seus pecados e de sua vida pecaminosa. Chorou profusamente de arrependimento, mas não se entregou a uma conversão imediata por uma santa confissão, por vergonha de revelar a um sacerdote os seus pecados. Sua fonte de inspiração, que seria modelo então de toda a sua vida, foi São Francisco de Assis, que lhe apareceu em sonho e lhe aconselhou a buscar um bom confessor de imediato. Este mediador da graça de Deus foi o Pe. Arnold, sacerdote franciscano, primo e capelão do bispo local que, por meio dessa primeira e tantas outras confissões e diálogos, tornar-se-ia mais tarde o diretor espiritual e o divulgador das experiências sobrenaturais da mística de Foligno. 

Nesta jornada mística, a fase inicial foi caracterizada por um preço amargo e doloroso - uma estação de purificação através do sofrimento: quem havia perdido Cristo e encontrado o mundo, agora, para viver em Cristo, perdia o mundo inteiro. Com efeito, numa sucessão de tragédias sem fim, Angela perdeu a mãe, o marido e todos os seus sete filhos (provavelmente devido a um surto continuado de alguma grave epidemia). O passo seguinte foi distribuir todos os seus bens aos necessitados e, então, tornar-se uma religiosa franciscana reclusa (provavelmente em 1291). Privada de toda e qualquer referência de natureza humana, ela vai experimentar agora uma jornada mística que a levará a cumes inimagináveis.

Nesta jornada, a transição da conversão para a experiência mística inexprimível ocorreu pela Paixão de Cristo, na busca cada vez maior de uma perfeita 'semelhança' com o Crucificado. Neste propósito, Angela entregou-se de corpo e alma, nunca se poupando da penitência e do sofrimento, no sentido de morrer completamente para as coisas do mundo e se transformar no Homem-Deus Crucificado. Todo o seu progresso espiritual está descrito na obra Memoriale (escrito em latim pelo Pe. Arnold a partir da exposição oral da própria mística em dialeto da região da Úmbria) e nos 36 textos que constituem o conjunto ordenado de suas chamadas instruções aos religiosos e religiosas franciscanas (compilados no Livro de Visões e Instruções de Ângela  de Foligno).


A diretriz desse caminho é marcada e delineada pela oração constante, como ela própria afirma: 'Quanto mais rezais, tanto mais sereis iluminado; quanto mais fordes iluminados, tanto mais profundamente e intensamente vereis o Sumo Bem, o Ser sumamente bom; quanto mais profundamente e intensamente o verdes, tanto mais o amareis; quanto mais o amardes, tanto mais vos deliciareis; e quanto mais vos deliciardes, tanto mais o compreendereis e tornareis capazes de compreendê-lo. Sucessivamente, chegareis à plenitude da luz, porque compreendereis não poder compreender'.

Embora já presente nos seus fundamentos na obra Memoriale, a teologia mística e algo complexa de Angela de Foligno, que a fez conhecida como 'Mestra dos Teólogos', é mais estruturada e detalhada nas Instruções, mediante um processo de tripla transformação da alma: a primeira acontece quando o homem busca viver o caminho da vida e da paixão de Cristo (união pela semelhança com Cristo); a segunda ocorre quando a alma é transformada em Deus (a união com Deus pode ser expressa por pensamentos e palavras) e a terceira é formada por uma imersão completa da alma em Deus e de Deus na alma (união tão perfeita que não é passível de expressão por pensamentos ou palavras).

Estas transformações da alma não constituem estados permanentes e a alma, depois de experimentá-las, deve retornar à sua condição natural, para seu grande desgosto e sofrimento. Neste processo de transformação, Angela vivenciou a incorporação dos estigmas e experimentou uma grande gama de êxtases e aniquilamentos interiores. Os êxtases e visões da Paixão de Cristo foram de tal magnitude que ela padecia terrivelmente do flagelo combinado destes eventos, sentindo os efeitos do sofrimento extremo em todos os ossos e juntas do corpo. Após ter recebido, certa vez, a comunhão dada por um anjo, passou vários anos de sua vida recebendo apenas a Santa Comunhão como único alimento.


No Natal de 1308, revelou às suas companheiras que a sua morte ocorreria em breve, o que aconteceu durante o sono na madrugada de 04 de janeiro de 1309. Seus restos mortais, após processo de conservação, repousam atualmente na Igreja de São Francisco em Foligno. Foi beatificada em 1701 pelo Papa Clemente XI e, recentemente, em outubro de 2013, foi canonizada pelo Papa Francisco por meio do processo de 'canonização equivalente', relativamente raro na Igreja, em que, por meio de uma decisão papal, pode-se declarar o culto litúrgico a uma bem aventurada pela Igreja universal, em detrimento da elaboração e do desenvolvimento de um longo processo de canonização formal.


(relicário de Angela de Foligno, Igreja de São Francisco)

terça-feira, 6 de março de 2018

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (II)

HILDEGARDE VON BINGEN

Hildegarde Von Bingen, mística medieval famosa pelas suas profecias, nasceu em 1098 em Bermersheim, na Renânia (atual Alemanha) e morreu em 1179, aos 81 anos de idade, apesar de uma permanente fragilidade da saúde. A etimologia do seu nome significa 'aquela que é audaz na batalha', uma primeira profecia que se realizaria plenamente. Foi religiosa beneditina, fundadora de mosteiros femininos, pintora, compositora musical, teóloga, poetisa, dramaturga, naturalista e filósofa e esta impressionante versatilidade de atuação levou-a a ser nomeada Doutora da Igreja.


Hildegard pertencia a uma família nobre e numerosa e, desde muito cedo, recebeu uma devotada formação cristã, particularmente sob os cuidados da religiosa Jutta von Spanheim, que vivia em clausura no mosteiro beneditino de São Disibodo, de acordo com a Regra de São Bento. Nesta época, já experimentava visões místicas extraordinárias, que relatava ao seu conselheiro espiritual, o monge Volmar, e também a uma irmã da comunidade à qual nutria uma grande estima, chamada Richardis von Strade.

(ruínas do mosteiro de São Disibodo)

Em 1136, com a morte da Madre Jutta, tornou-se a sua sucessora como Superiora da comunidade. Com o crescente número de novas aspirantes, Hildegard fundou uma outra comunidade em Bingen, dedicada a São Ruperto, onde permaneceu pelo resto de sua vida. O seu espírito profético inspirou-lhe uma grande fé, um grande amor por Cristo e pela sua Igreja, que ela queria pura e irrepreensível. E, neste contexto, escreveu inúmeras obras e desenvolveu uma ativa e constante correspondência com homens e mulheres de poder do seu tempo, incluindo reis, imperadores, papas e outros membros da Igreja, uma condição raríssima e excepcional para a condição feminina na Idade Média.

Mais tarde, buscou conselho de suas visões místicas a São Bernardo de Claraval e, mais tarde, ao papa Eugênio III, que lhes confiaram a autenticidade das visões e lhe deram orientações para que as revelassem por escrito, que foram então incluídas (escritas em latim) nas suas três principais obras: Scivias, abreviação de Scito Vias Domini - Conhecei os Caminhos do Senhor, Liber Vitae Meritorum ou Livro dos Méritos da Vida e Liber Divinorum Operum ou Livro das Obras Divinas. Estas revelações receberam grande divulgação e causaram enorme impacto nos seus contemporâneos, que lhe atribuíam os títulos de 'profetisa teutônica' e de 'Sibila do Reno'. Eis um exemplo de suas visões proféticas:

'No ano de 1170 depois do nascimento de Cristo, estive durante longo tempo doente na cama. Então, física e mentalmente acordada, vi uma mulher de uma beleza tal que a mente humana não é capaz de compreender. A sua figura erguia-se da terra até ao céu. O seu rosto brilhava com um esplendor sublime. O seu olhar estava voltado para o céu. Trajava um vestido luminoso e fulgurante de seda branca e uma manto guarnecido de pedras preciosas. Nos pés, calçava sapatos de ônix. Mas o seu rosto estava salpicado de pó, o seu vestido estava rasgado do lado direito. Também o manto perdera a sua beleza singular e os seus sapatos estavam sujos por cima. Com voz alta e pesarosa, a mulher gritou para o céu: 

‘Escuta, ó céu: o meu rosto está manchado! Aflige-te, ó terra: o meu vestido está rasgado! Treme, ó abismo: os meus sapatos estão sujos! Estava escondida no coração do Pai, até que o Filho do Homem, concebido e dado à luz na virgindade, derramou o seu sangue. Com este sangue por seu dote, tomou-me como sua esposa. Os estigmas do meu esposo mantêm-se em chaga fresca e aberta, enquanto se abrirem as feridas dos pecados dos homens. 

'Este fato de permanecerem abertas as feridas de Cristo é precisamente por culpa dos sacerdotes. Estes rasgam o meu vestido, porque são transgressores da Lei, do Evangelho e do seu dever sacerdotal. Tiram o esplendor ao meu manto, porque descuidam totalmente os preceitos que lhes são impostos. Sujam os meus sapatos, porque não caminham por estradas direitas, isto é, pelas estradas duras e severas da justiça, nem dão bom exemplo aos seus súditos. Em alguns deles, porém, encontro o esplendor da verdade'.

'E ouvi uma voz do céu que dizia: 'Esta imagem representa a Igreja. Por isso, ó ser humano que vês tudo isto e ouves as palavras de lamentação, anuncia-o aos sacerdotes que estão destinados à guia e à instrução do povo de Deus, tendo-lhes sido dito, como aos apóstolos: ‘Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura’ (Mc 16, 15).

Mas Hildergarde se aventurou em muitas outras atividades científicas, que não tiveram nenhum cunho profético. Ela escreveu, por exemplo, um texto sobre as ciências naturais chamado Physica, um extenso trabalho de nove volumes que trata principalmente do uso medicinal de plantas e também um tratado médico chamado Causae et Curae em cinco volumes, no qual descreve remédios naturais para diversas enfermidades ou para melhoria da saúde das pessoas. Nestes estudos, demonstra a sua visão do homem inserido no mundo e integrado com a natureza na busca de Deus,.


A monja alemã também é a padroeira dos estudiosos de esperanto, por ter sido a autora de uma das primeiras linguagens artificiais, a chamada 'língua ignota', um idioma secreto que ela utilizava para fins místicos e era composta por 23 letras. Foi ainda compositora de várias orações e hinos religiosos, incluindo 77 sinfonias em estilo similar ao gregoriano e com melodias muito elaboradas e que recebem crescente interesse de reprodução nos dias atuais.

(disponível em https://www.youtube.com/watch?time_continue=24&v=BS28jyW1bLY)

Logo após a sua morte, foram abertos os processos para elevá-la à honra dos altares e, apesar dos vários milagres que lhe foram atribuídos em vida e depois da sua morte, as tentativas de sua possível canonização foram sempre interrompidas, embora muitas dioceses alemãs tenham aprovado o seu culto desde o século XIII. Somente em 2012, Hildegarde Von Bingen foi finalmente canonizada pela Igreja, pelo papa Bento XVI, recebendo, neste mesmo ano, o título de Doutora da Igreja.

sábado, 17 de junho de 2017

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (I)

TERESA NEUMANN

Thérèse Neumann (pronuncia-se 'nóiman' em alemão) nasceu em Konnersereuth, na Baviera, em 9 de abril de 1898, numa sexta-feira da Paixão, de uma família pobre e muito católica. Desde nova, fizera a opção por se tornar uma religiosa franciscana e atuar fora da Alemanha, mas um acidente aos 20 anos mudou radicalmente a sua vida. 

Em 1918, no intuito de ajudar a apagar as chamas de um violento incêndio ocorrido em uma propriedade vizinha, carregando baldes de água, sofreu uma gravíssima lesão na medula espinal, que lhe provocou a paralisia das pernas e a cegueira total. Prostrada numa cama por vários anos, cega e sem poder se locomover, encheu-se de feridas por todo o corpo. Conformada e submissa à vontade de Deus, ofereceu os seus sofrimentos pela conversão dos pecadores. 


Em 1923, a mística de Konnersereuth teve a visão de uma grande luz e a locução de Santa Teresa de Lisieux, que lhe revelou que ela seria curada mas que iria assumir sofrimentos muito maiores, desde que ela assim o aceitasse; respondeu placidamente que aceitava e que se cumprisse nela apenas a Santa Vontade de Deus. A sua cura ocorreu em dois momentos distintos: a recuperação milagrosa da visão deu-se em 29 de abril de 1923, data da beatificação de Santa Teresa de Lisieux e a cura definitiva da paralisia e das feridas do corpo ocorreu em 17 de maio de 1925, data da canonização da santa. Em novembro de 1925, Teresa passou a sentir dores fortíssimas e foi diagnosticada com apendicite e, novamente, após outra visão e a ratificação de sua vontade à vontade de Deus, foi milagrosamente curada mais uma vez.

A partir de 1926, tiveram início os impressionantes carismas que a acompanharam até a sua morte em 1962, que incluíram, visões, êxtases (quando a hóstia desaparecia instantaneamente assim que era colocada sobre a sua língua, sem necessidade de nenhum movimento de deglutição), bilocações, conhecimento interior das almas e, particularmente, os estigmas, chagas permanentes que lhe apareceram nos pés, nas mãos e nas costas, resistentes a todas as curas possíveis e que não se infeccionavam nunca. 


Em 5 de março de 1926, primeira Sexta-Feira da Quaresma, uma chaga surgiu acima de seu coração e Teresa teve uma visão de Nosso Senhor Jesus Cristo no Monte das Oliveiras, acompanhado de três dos seus Apóstolos. Na sexta-feira seguinte, dia 12 de março, uma outra visão: desta vez viu Nosso Senhor no Monte das Oliveiras, coroado de espinhos e a ferida acima do coração tornou a aparecer, fato que se repetiu na sexta-feira seguinte. Em 26 de março, além da chaga no peito, uma segunda chaga surgiu em sua mão esquerda e, neste dia, Teresa viu Nosso Senhor carregando a Cruz. A presença de sangue já era intensa na sua roupa e, desta forma, os fenômenos místicos deixaram de ser um segredo dela. No Domingo de Páscoa, ela teve a visão da Ressurreição de Cristo. Em 05 de novembro de 1926, apareceram feridas adicionais na cabeça, nas costas e nos ombros.



Estas chagas e os fluxos de sangue iriam acompanhá-la então por toda a vida. E o mais extraordinário de tudo, Teresa iria viver em plenitude o fenômeno eucarístico: durante 36 anos não se alimentou mais de quaisquer alimentos sólidos ou líquidos, que ficaram restritos a um pequeno gole de água para facilitar a sua comunhão diária e, mesmo revivendo nos seus estigmas a Paixão de Cristo a cada semana (desde quinta-feira até a manhã do domingo) e mesmo vertendo litros de sangue nestas ocasiões, recuperava rapidamente o seu peso corporal de 55 kg sem padecer de nenhuma fraqueza ou debilidade física como consequência.

Isto não a livraria, porém, de inúmeros sofrimentos que padecia durante a cena rediviva do Calvário a cada semana, e oferecia estes sofrimentos a Deus pela conversão dos pecadores. Esta foi a sua missão extraordinária, cumprir no limite a Santa Vontade de Deus e se fartar única e exclusivamente do pão do Céu. O Padre Josef Naber, que acompanhou a vida da estigmatizada e lhe dava a comunhão diária, disse que em Teresa se manifestaram em plenitude as palavras de Cristo: 'a minha carne é verdadeiro alimento e o meu sangue é verdadeira bebida'. Teresa Neumann morreu em 18 de setembro de 1962, de um ataque cardíaco.