O moteto (termo derivação do termo francês mot = palavra) constitui um gênero musical polifônico literário (textos diferentes para cada voz) de origem medieval (século XIII), compreendendo textos distintos (sagrados ou profanos, inclusive em diferentes línguas) que são cantados simultaneamente, numa mistura integrada de estilos e palavras.
Anton Bruckner (1824 - 1896), compositor e organista austríaco, era um homem muito religioso e compôs inúmeras obras sacras. Ele escreveu um Te Deum, cinco conjunto de salmos, uma cantata festiva, um Magnificat, pelos menos sete Missas e cerca de quarenta motetosdurante a sua vida, desde uma composição de Pange Linguapor volta de 1835 até o hino Vexilla Regisem 1892 e, entre eles, oito conjuntos de Tantum Ergo e três composições para Christus Factus Est e Ave Maria. Como exemplo, tem-se aqui uma das suas composições para Christus Factus Est.
Christus factus est pro nobis obediens usque ad mortem, mortem autem crucis. Propter quod et Deus exaltavit illum et dedit illi nomen, quod est super omne nomen.
Cristo tornou-se obediente por nós até a morte e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome.
Ave Regina Caelorum (Salve, Rainha dos Céus) é um hino de louvor a Nossa Senhora, exaltando a sua realeza sobre o céu e os anjos, sua beleza e graça incomparáveis e sua condição de medianeira entre os homens e Nosso Senhor Jesus Cristo. De autor desconhecido, o hino constitui uma das quatro antífonas da Liturgia das Horas que se cantam em cada estação do ano litúrgico.
Ora, Pedro estava assentado fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: 'Tu também estavas com Jesus, o galileu'. Mas ele negou diante de todos, dizendo: 'Não sei o que dizes'. E, saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: 'Este também estava com Jesus, o Nazareno'. E ele negou outra vez com juramento: 'Não conheço tal homem'. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: 'Também tu és um deles, pois a tua fala te denuncia'. Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: 'Não conheço esse homem'. E imediatamente o galo cantou. E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe dissera: 'Antes que o galo cante, três vezes me negarás'. E, saindo dali, chorou amargamente (Mt 26, 69-75).
Erbarme dich, mein Gott, um meiner Zähren Willen! - 'Tem piedade de mim, meu Deus, veja minhas lágrimas!' é uma ária para contralto da segunda parte da 'Paixão Segundo São Mateus', a obra prima de Johann Sebastian Bach (1685-1750). Na ária, a solista pede perdão pela tríplice negação de Pedro e a música sustenta a comoção do seu amargo pranto. O lamento sublime fez com que a própria ária assumisse um patamar independente da 'Paixão', como um dos grandes triunfos da música sacra universal.
Miserere é um dos salmos atribuídos a Davi, rei de Israel [Salmo 50]. E é um clamor de piedade por um crime terrível: Davi desejou Bate-Seba (ou Betsabé), esposa de seu soldado mais fiel, Urias - o hitita - e deitou-se com ela e a engravidou. O rei então tramou para que Urias fosse morto em batalha. O bebê nasceu e morreu em seguida. Davi então pediu perdão e casou-se com Bate-Seba, que lhe deu outro filho: Salomão.
Miserere mei é a versão musicada do salmo 50 feita pelo compositor italiano Gregorio Allegri (1582 - 1652), reproduzida na gravação abaixo. A tradução apresentada na sequência é bastante convencional do Salmo 50 em português. Música sacra para se ouvir, deleitar-se e se recolher na presença de Deus!
SALMO 50
Miserere mei, Deus: secundum magnam misericordiam tuam.
Et secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquitatem meam.
Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me.
Quoniam iniquitatem meam ego cognosco: et peccatum meum contra me est semper.
Tibi soli peccavi, et malum coram te feci: ut justificeris in sermonibus tuis, et vincas cum judicaris. Ecce enim in iniquitatibus conceptus sum: et in peccatis concepit me mater mea.
Ecce enim veritatem dilexisti: incerta et occulta sapientiae tuae manifestasti mihi.
Asperges me hysopo, et mundabor: lavabis me, et super nivem dealbabor.
Auditui meo dabis gaudium et laetitiam: et exsultabunt ossa humiliata.
Averte faciem tuam a peccatis meis: et omnes iniquitates meas dele.
Cor mundum crea in me, Deus: et spiritum rectum innova in visceribus meis.
Ne proiicias me a facie tua: et spiritum sanctum tuum ne auferas a me.
Redde mihi laetitiam salutaris tui: et spiritu principali confirma me.
Docebo iniquos vias tuas: et impii ad te convertentur.
Libera me de sanguinibus, Deus, Deus salutis meae: et exsultabit lingua mea justitiam tuam.
Domine, labia mea aperies: et os meum annuntiabit laudem tuam.
Quoniam si voluisses sacrificium, dedissem utique: holocaustis non delectaberis.
Sacrificium Deo spiritus contribulatus: cor contritum, et humiliatum, Deus, non despicies.
Benigne fac, Domine, in bona voluntate tua Sion: ut aedificentur muri Ierusalem.
Tunc acceptabis sacrificium justitiae, oblationes, et holocausta: tunc imponent super altare tuum vitulos.
Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade.
E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade.
Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado.
Eu reconheço a minha iniquidade, diante de mim está sempre o meu pecado.
Só contra vós pequei, o que é mau fiz diante de vós. Vossa sentença assim se manifesta justa, e reto o vosso julgamento.
Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado.
Não obstante, amais a sinceridade de coração. Infundi-me, pois, a sabedoria no mais íntimo de mim.
Aspergi-me com um ramo de hissope e ficarei puro. Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve.
Fazei-me ouvir uma palavra de gozo e de alegria, para que exultem os ossos que triturastes.
Dos meus pecados desviai os olhos, e minhas culpas todas apagai.
Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza.
De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso santo Espírito.
Restituí-me a alegria da salvação, e sustentai-me com uma vontade generosa.
Então, aos maus ensinarei vossos caminhos, e voltarão a vós os pecadores.
Deus, ó Deus, meu salvador, livrai-me da pena desse sangue derramado, e a vossa misericórdia a minha língua exaltará.
Senhor, abri meus lábios, a fim de que minha boca anuncie vossos louvores.
Vós não vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis.
Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar.
Senhor, pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, reconstruí os muros de Jerusalém.
Então, aceitareis os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; e sobre vosso altar vítimas vos serão oferecidas (Sl 50, 3,21).
MEDIA VITA IN MORTE SUMUS é um canto gregoriano tradicionalmente atribuído a Notker, o Gago (840-912), monge beneditino da Abadia de Saint Gall (Suiça). Este hino era entoado tanto em cerimônias litúrgicas como em ritos de preparação para guerras religiosas, particularmente considerando a condição efêmera da existência humana que busca, no auxílio divino, a paz de espírito diante a inevitabilidade da morte.
O hino O Gloriosa Domina constitui a sequência final do hino devocional Quem Terra, Pontus, Aethera - cuja autoria é atribuída a Venantius Fortunatus (530-609), bispo de Poitiers, comumente utilizado nas leituras da Liturgia das Horas. Este pequeno hino constitui um verdadeiro breviário de mariologia, pois exalta o papel de Nossa Senhora como co-redentora da humanidade na sua terceira estrofe (assinalada em negrito em vermelho). Muito conhecido no passado, era rezado por muitos santos, sendo a obra preferida de Santo Antônio de Pádua, que o aprendeu por sua mãe e que o cantava desde tenra idade e, inclusive, na hora da morte, tendo sido a recitação do hino as suas últimas palavras nesta vida. Ainda hoje, como homenagem, os devotos rezam e cantam este hino diante do túmulo do santo.
'Com Minha Mãe Estarei...' é um hino religioso bastante antigo e de autoria desconhecida. A versão original mais completa constava aparentemente de treze estrofes, sempre seguidas pelo refrão - 'No céu, no céu, com minha Mãe estarei!' - repetido duas vezes. Em versões mais recentes, o hino foi restruturado com a inserção de outras e novas estrofes, pela facilidade da composição ditada pelo padrão rítmico bastante simples das estrofes originais.
01. Com minha mãe estarei / na santa glória um dia / junto a Virgem Maria / no céu triunfarei!
No céu, no céu, com minha Mãe estarei! (2x)
02. Com minha Mãe estarei / mas já que hei ofendido / a seu Jesus querido / as culpas chorarei.
03. Com minha Mãe estarei / é a fé viva ardente / com que firme, valente / o mal evitarei.
04. Com minha mãe estarei / longe falsas carícias / prazer, torpes delícias / sempre vos fugirei.
05. Com minha Mãe estarei / firme nesta certeza / à falsa e vã riqueza / nunca me apegarei.
06. Com minha Mãe estarei / desta vida a mor pena / em minha alma serena / constante sofrerei.
07. Com minha Mãe estarei / é segura esperança / com que larga tardança / forte suportarei.
08. Com minha Mãe estarei / palavras deliciosas / que em horas trabalhosas / fiel recordarei.
09. Com minha Mãe estarei / enquanto neste exílio / do seu piedoso auxílio / com fé me valerei.
10. Com minha Mãe estarei / e sempre nesta vida / de mestra tão querida / as lições ouvirei.
11. Com minha Mãe estarei / mãe de toda pureza / nesta vida inteireza / fiel lhe guardarei.
12. Com minha Mãe estarei / pois sei que assim vivendo / fiel permanecendo / em graça morrerei.
13. Com minha Mãe estarei / ó viver deleitoso / ó sempiterno gozo / em que me embeberei.
Algumas das inserções complementares envolvem alterações de termos originais ou mesmo a inclusão de novas estrofes como as seguintes:
14. Com minha Mãe estarei / aos anjos me ajuntando / e hinos entoando / louvores lhe darei.
15. Com minha mãe estarei / aos anjos me ajuntando / do Onipotente ao mando / hosanas lhe darei.
16. Com minha Mãe estarei / então coroa digna / de sua mão benigna / feliz receberei.
17. Com minha mãe estarei / e que bela coroa / de mãe tão terna e boa / feliz receberei.
18. Com minha mãe estarei / em seu coração terno / em seu colo materno / sem fim descansarei.
E, como intervenções adicionais possíveis, aqui estão mais duas outras, propostas pelo autor do blog:
19. Com minha mãe estarei / Maria cheia de graça / da vida que não passa / eternamente viverei.
20. Com minha mãe estarei / entre doces encantos / e santo entre santos / me santificarei.
No vídeo a seguir, o hino é cantado com algumas poucas estrofes, incluindo estrofes do texto original e outras de proposições mais recentes.
Victimae Paschali é a Sequência correspondente ao Domingo de Páscoa (e que pode ser cantada de maneira facultativa durante a Oitava Pascal, até o Segundo Domingo da Páscoa). Sequência designa um canto da Missa que antecede à aclamação do Aleluia e do Evangelho (antigamente, era cantado após a aclamação do Aleluia). Na reforma atual, foram mantidas apenas quatro Sequências: Victimæ PaschaliLaudes para o dia de Páscoa; Veni Sancte Spiritus para o Pentecostes, Lauda Sion Salvatorem para Corpus Christi e Stabat Mater Dolorosa para Nossa Senhora das Dores. Somente são obrigatórias as sequências da Páscoa e Pentecostes. Uma quinta Sequência previamente mantida - Dies Irae - foi posteriormente suprimida das Missas dos Fiéis Defuntos e prescrita, subdividida em partes, como hinos para as diversas horas do Ofício Divino.
A origem do hino Victimae Paschali remonta provavelmente ao século XI, sendo atribuída ao presbítero Wippo de Borgonha, capelão do imperador Conrado III do Sacro Império Romano. Porém, não há consenso quanto à sua autoria: outros atribuem-na ao abade Notker Balbulus (autor de várias sequências no século X) ou mesmo a Adão de São Victor (grande poeta do século XII). A tradução abaixo é mais literal ao hino latino (a tradução oficial constante do rito litúrgico no Brasil tem caráter muito livre, perdendo, com isso, muito da métrica e do contexto do hino original).