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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

A ETERNIDADE DE DEUS


'O que é o tempo de Deus?' Aqueles que isto perguntam ainda não te compreendem, ó sabedoria de Deus (Ef 3,10), ó luz das mentes - ainda não compreendem como são feitas as coisas que por meio de ti e em ti são feitas, e esforçam-se por saborear as realidades eternas, mas o seu coração esvoaça ainda nos movimentos passados e futuros das coisas, continuando vazio (Sl 5,10). 

Quem poderá deter o tempo e fixá-lo, a fim de que ele pare e por um momento capte o esplendor da eternidade sempre fixa, e a compare com os tempos nunca fixos, e veja que a eternidade é incomparável, e veja que um longo tempo não é longo senão a partir de muitos momentos que passam e não podem alongar-se simultaneamente; veja, pelo contrário, que, no que é eterno, nada é passado, mas tudo é presente, enquanto nenhum tempo é todo ele presente: e veja que todo o passado é obrigado a recuar a partir do futuro, e que todo o futuro se segue a partir de um passado, e que todo o passado e futuro são criados e derivam daquilo que é sempre presente? Quem poderá deter o coração do homem, a ponto de ele parar e ver como a eternidade, que é fixa, nem futura nem passada, determina os tempos futuros e passados? Será que, porventura, a minha mão consegue (Gn 31,29) isto, ou que a minha boca, que se manifesta falando, realiza tão grande intento?

E tu não precedes os tempos com o tempo: se assim fosse, não precederias todos os tempos. Mas precedes todos os passados com a grandeza da tua eternidade sempre presente, e superas todos os futuros porque eles são futuros, e quando eles chegarem, serão passado; tu, porém, és o mesmo e os teus anos não têm fim (Sl 101,28; Hb 1,12). Os teus anos não vão nem vêm: os nossos vão e vêm, para que todos venham. Os teus anos existem todos ao mesmo tempo, porque não passam, e os que vão não são excluídos pelos que vêm, porque não passam: enquanto os nossos só existirão todos, quando todos não existirem. 

Os teus anos são um só dia (Sl 89,4; 2Pe 3,8) e o teu dia não é todos os dias, mas um ‘hoje’, porque o teu dia de hoje não antecede o de amanhã; pois não sucede ao de ontem. O teu hoje é a eternidade: por isso, geraste co-eterno contigo aquele a quem disseste: 'Eu hoje te gerei' (Sl 2,7; At 13,33; Hb 1,5; 5,5). Tu fizeste todos os tempos e tu és antes de todos os tempos, e não houve tempo algum em que não havia tempo.

(Do Livro das Confissões, de Santo Agostinho)

sábado, 25 de outubro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (IX)

(Ícone de São Nicolau  - bispo grego do século IV)

No ícone de figuras bíblicas ou religiosas, consta sempre o nome impresso da pessoa retratada, não apenas para a sua identificação, mas também como um selo de santidade e bênção. Os santos são identificados por suas vestimentas, objetos em suas mãos e idade. Os Evangelistas usam túnicas e exibem seus livros. Bispos estão vestidos com paramentos litúrgicos, segurando um livro ou pergaminho, enquanto monges são retratados com seus hábitos religiosos em poses rígidas. Soldados podem estar em uma posição que expressa ação, portando armas ou vestidos com uniforme militar. Profetas, santos, bispos e monges são retratados sempre em idade bem avançada, enquanto soldados e mulheres são jovens. As mulheres, em geral, tendem a não ser identificadas de imediato, a não ser pelo nome escrito no ícone. 

Por outro lado, a cor, como expressão das nuances da luz, é muito simbólica na iconografia: 

➤ dourado: cor do sol do meio-dia, é a expressão da luz divina que permeia todo o mundo transfigurado, sendo a cor do próprio Cristo. É mais comumente usado como fundo de um ícone, representando um espaço que define o portador como estando além dos domínios deste mundo.

➤ branco: representa a luz, a pureza, a eternidade, Deus Pai e todos aqueles incensados pelas graças divinas.

➤ azul: é a cor que representa a fé, a humildade, a transcendência e os mistérios da vida divina. O azul e o branco são as cores da Virgem Maria, que está desapegada deste mundo e centrada no divino. 

➤ vermelho: é a cor com a maior variedade de significados e interpretações; é a cor do Espírito Santo, do sacrifício e do martírio, do amor e da beleza; pode também expressar o inferno, o ódio, as guerras e todo tipo de conflito e tribulação.

➤ verde: cor associada às manifestações espirituais e proféticas, sendo frequentemente usada para caracterizar João Batista e os profetas.

➤ amarelo: cor representativa da verdade (amarelo vivo) e também de eventos associados a atos de orgulho ou traição (comumente em tons mais claros).

➤ roxo: símbolo da natureza real e do sacerdócio.

➤ marrom: cor associada à terra, à pobreza e ao despojamento, ao recolhimento e hábitos dos monges.

➤ preto: negação da luz e das graças divinas; cor associada à morte, aos réprobros e aos demônios.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

SOBRE O AMOR CRISTÃO


No ano de 1219, durante a Quinta Cruzada, São Francisco de Assis reuniu-se, em meio ao conflito, com o Sultão do Egito Al-Malik Al-Kamel na cidade de Damieta, quando este apresentou ao santo a seguinte questão:

'Se Vosso Senhor ensina no Evangelho que vós não podeis retribuir o mal com o mal, e que não podeis recusar o manto a quem vos quiser tirar a túnica, como, vós cristãos, podeis invadir as nossas terras?

Respondeu-lhe então São Francisco:

'Parece-me que não haveis lido todo o Evangelho. De fato, em outro texto, se diz: Se o teu olho é para ti ocasião de escândalo, arranca-o e lança-o para longe. E com isto, o Senhor quer nos ensinar que, mesmo que um homem seja amigo ou parente, ou até tão caro quanto a pupila dos olhos, devemos estar dispostos a separá-lo, a removê-lo, a arrancá-lo de nós, se ele nos tentar afastar da fé e do amor de Nosso Senhor. E precisamente por este motivo, os cristãos agem conforme a justiça quando invadem as vossas terras e vos combatem, porque vós blasfemais o nome de Cristo e trabalhais para afastar o maior número possível de homens da sua Religião. Mas se em vez disso, vós quisésseis conhecer, confessar e adorar o Criador e Redentor do mundo, então eles vos amariam como a si mesmos'.

terça-feira, 21 de outubro de 2025

ORAÇÃO DE PETIÇÃO DE GRAÇAS


Senhor, alivia o pesado fardo dos meus pecados, com os quais gravemente te ofendi; purifica meu coração e minha mente. Guia-me pelo caminho reto, tu que és uma lâmpada brilhante. Coloca as tuas palavras nos meus lábios; dá-me uma fala clara e fácil, através da língua ardente do teu Espírito, para que a tua presença esteja sempre comigo. Alimenta-me, Senhor com a vossa Verdade para que o meu coração não se desvie nem para a direita nem para a esquerda, mas que o teu Santo Espírito me guie pelo caminho reto e para que as minhas obras sejam realizadas segundo a tua vontade todos os dias da minha vida.

(São João Damasceno)

A BÍBLIA EXPLICADA (XXX) - PARA BEM INTERPRETAR AS SAGRADAS ESCRITURAS

A ignorância da natureza das coisas dificulta a interpretação das expressões figuradas, quando estas se referem aos animais, pedras, plantas ou outros seres citados frequentemente nas Escrituras e servindo como objeto de comparações. Assim, é fato notório que a serpente, para preservar a cabeça, expõe seu corpo todo aos que a espancam. O quanto esse gesto nos esclarece sobre o sentido das palavras do Senhor ao nos mandar ser prudentes como a serpente! (Mt 10,16). Isto é, devemos saber apresentar nosso corpo aos que nos perseguem, de preferência a expor nossa cabeça que é Cristo. Assim, não deixar morrer em nós a fé cristã, renegando a Deus, ao poupar o nosso corpo. 

Sabe-se ainda, a propósito da serpente que, por instinto, penetra em passagens estreitas da caverna para aí despojar-se da antiga pele e receber forças novas. Quanto essa transformação nos incita a imitar sua astúcia, a nos despojar do homem velho e nos revestir do novo, conforme a palavra do Apóstolo! (Ef 4,22.24; Cl 3,9.10). Despojar-nos assim através da via estreita, conforme a palavra do Senhor: 'Entrai pela porta estreita' (Mt 7,13). Do mesmo modo, como o conhecimento das propriedades da serpente nos esclarece muitas comparações que a Escritura costuma apresentar sobre esse animal, assim também a ignorância das características de outros animais, sobre os quais ela igualmente faz menção, muito embaraça a quem procura entender.

Semelhante embaraço é produzido pela ignorância das pedras, das plantas e de tudo o que se mantém pelas raízes. Por essa razão, até o conhecimento das pedrinhas (carbunculi) que brilham nas trevas esclarece, por sua vez, várias obscuridades dos Livros santos, onde quer que estejam empregadas como figuras. O desconhecimento do berilo ou do diamante igualmente fecha, por vezes, as portas à compreensão. Ser-nos-á fácil compreender por que o ramo de oliveira, trazido pela pomba em seu regresso à arca (Gn 8,11) simboliza a paz perpétua, ao estudarmos que o contato untuoso do óleo não pode facilmente ser alterado por líquido estranho e que a própria árvore da oliveira está sempre coberta de folhas. Muitos, por não conhecerem o hissopo, nem a virtude que ele possui de purificar os pulmões pelo fato de se enraizar nas rochas e ser erva miúda e rasteira, são incapazes de compreender por que está dito: 'Tu me borrifarás com o hissopo, e serei purificado' (Sl 51,9).

A ignorância dos números também impede compreender quantidade de expressões empregadas nas Escrituras sob forma figurada e simbólica. Certamente, um espírito bem nascido sente-se levado a se perguntar o significado do fato de Moisés, Elias e o Senhor terem jejuado por quarenta dias (Ex 24,18; 1Rs 19,8; Mt 4,2). Ora, esse acontecimento propõe um problema simbólico que só é resolvido por exame atento desse número. Compreende o número 40 quatro vezes 10 e, por aí, como que envolve o conhecimento de todas as coisas incluídas no tempo. Pois é num ritmo quaternário que prossegue o curso do dia e do ano. Divide-se o dia em espaços horários da manhã, do meio-dia, da tarde e da noite. O ano estende-se nos meses da primavera, do verão, do outono e do inverno. Ora, enquanto vivemos no tempo, devemos nos privar por abstinência e jejum dos prazeres que o tempo nos proporciona. 

É certo, aliás, que o próprio curso do tempo ensina-nos a menosprezar o tempo e a desejar a eternidade. Por outro lado, o número 10 simboliza o conhecimento do Criador e da criatura, pois 3 designa a Trindade do Criador e 7, a criatura, considerada em sua alma e em seu corpo. Com efeito, na alma, há três movimentos que levam a amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o espírito (Mt 22,37). E no corpo, estão bem manifestos os quatro elementos que os constituem. Consequentemente, este número denário move-nos à cadência do tempo. Isto é, voltando quatro vezes, adverte-nos para vivermos na castidade e na continência, desapegados dos deleites temporais, e prescreve-nos jejuar quarenta dias. Eis o que nos explica a Lei personificada em Moisés; eis o que mostra a profecia, representada por Elias; eis o que nos ensina o próprio Senhor. Apoiando-nos no testemunho da Lei e dos Profetas, ele apareceu em plena luz, entre essas duas personagens, sob os olhos dos três discípulos tomados de espanto (Mt 17,2.3).

Em seguida, pode-se perguntar, do mesmo modo, como do número quarenta vem o número cinquenta, eminentemente sagrado em nossa religião devido a Pentecostes (At 2). E ainda, como esse número cinquenta multiplicado por três por causa das três épocas: aquela antes da lei, a época sob a lei e a sob a graça; e somando de modo ainda mais eminente a mesma Trindade, refere-se ao mistério da Igreja já purificada, representada nos cento e cinquenta e três peixes que, depois da Ressurreição do Senhor, são recolhidos nas redes arremessadas à direita (Jo 21,11). É assim que, por vários outros agrupamentos numéricos, encontram-se escondidas nos Livros santos certas figuras que, devido à ignorância de muitos, ficam impenetráveis aos leitores. 

A ignorância de certas noções musicais é, em numerosas passagens das Escrituras, barreira e véu. De fato, estudando a diferença entre o saltério e a cítara, um autor explicou engenhosamente certos símbolos. E entre os doutos, não é disputa fora de propósito indagar se há alguma lei musical que obrigue o saltério constar de dez cordas, esse tão grande número de cordas! Ora, na ausência dessa lei, é preciso reconhecer nesse número dez significado mais misterioso, relacionado, seja com os dez preceitos que se referem ao Criador e à criatura, seja com as considerações que expusemos acima, sobre o número denário. Quanto ao número relatado pelo Evangelho que mede a duração do templo, isto é, o número quarenta e seis (Jo 2,20), há nele não sei que tonalidade musical. Aplicado, porém, em referência à formação do corpo do Senhor, a propósito do qual foi feita a menção ao templo reconstruído, esse número obrigou certos hereges a reconhecerem que o Filho de Deus revestiu não um corpo fictício, mas um corpo real e humano. Deparamos, assim, a música e os números colocados em lugar de honra em muitas passagens da santa Escritura.

(Excertos da obra 'A Doutrina Cristã', de Santo Agostinho)

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

'QUE EU NÃO VÁ DIANTE DE VÓS COM AS MÃOS VAZIAS...'


Custe o que custar, Senhor, não queiras que eu vá diante de Vós com as mãos vazias, pois a recompensa deve ser dada segundo as minhas obras. Eis a minha vida, eis a minha honra e a minha vontade; tudo vos dou, sou vosso, dispõe de mim segundo a vossa vontade. Vede bem, meu Senhor, quão pouco posso fazer, ainda que tendo chegado diante de Vós, abrigado nesta torre de vigia onde se veem as verdades: sem desviares de mim, poderei fazer todas as coisas mas, se afastares, por pouco que seja, voltarei para onde estava, que era o inferno.

Oh como é uma alma quando se encontra aqui, tendo que voltar a lidar com todos a olhar e ver esta falsa vida mal organizada, a perder tempo cumprindo seus deveres para com o corpo, dormindo e comendo! Tudo a cansa, ela não sabe como escapar e se vê acorrentada e aprisionada. Então ela sente mais verdadeiramente o cativeiro que trazemos com nossos corpos e a miséria desta vida. Ela percebe então porque São Paulo implorou a Deus que o libertasse de tudo isso. Ela clama como ele. Ela pede a Deus liberdade, como eu disse antes; mas aqui é frequentemente com tão grande ímpeto que parece que a alma quer deixar o corpo em busca dessa liberdade, já que ela não é dada. Ela vagueia como se vendida em uma terra estrangeira, e o que mais a cansa é não encontrar muitos que se queixem como ela e peçam por isso, pois o mais comum é simplesmente desejar viver.

Ah se não estivéssemos apegados a nada e não tivéssemos alegria em nada da terra, como a dor de viver para sempre sem Ele temperaria o medo da morte com o desejo de desfrutar a vida verdadeira!

(Excertos da obra 'Livro da Vida', de Santa Teresa de Ávila)

SANTA TERESA DE ÁVILA, ROGAI POR NÓS!

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

O MUNDO, INSENSATO MUNDO...

Assim que a tua devoção se for tornando conhecida no mundo, maledicências e adulações te causarão sérias dificuldades de praticá-la. Os libertinos tomarão a tua mudança por um artifício de hipocrisia e dirão que alguma desilusão sofrida no mundo te levou por oposição a recorrer a Deus. Os teus amigos, por sua vez, se apressarão a te dar avisos que supõem ser caridosos e prudentes sobre a melancolia da devoção, sobre a perda do teu bom nome no mundo, sobre o estado de tua saúde, sobre a necessidade de viver no mundo conformando-se aos outros e, sobretudo, sobre os meios que temos para salvar-nos sem tantos mistérios.

Filoteia, tudo isso são loucas e vãs palavras do mundo e, na verdade, essas pessoas não têm um cuidado verdadeiro de teus negócios e de tua saúde: Se vós fôsseis do mundo, diz Nosso Senhor, amaria o mundo o que era seu; mas, como não sois do mundo, por isso ele vos aborrece.

Veem-se homens e mulheres passarem noites inteiras no jogo; e haverá uma ocupação mais triste e insípida do que esta? Entretanto, seus amigos se calam; mas, se destinamos uma hora à meditação ou se nos levantamos mais cedo, para nos prepararmos para a santa comunhão, mandam logo chamar o médico, para que nos cure desta melancolia e tristeza. Podem-se passar trinta noites a dançar, que ninguém se queixa; mas por levantar-se na noite de Natal para a Missa do Galo, começa-se logo a tossir e a queixar de dor de cabeça no dia seguinte. Quem não vê que o mundo é um juiz iníquo, favorável aos seus filhos, mas intransigente e severo para os filhos de Deus?

Só nos pervertendo com o mundo, poderíamos viver em paz com ele, e impossível é contentar os seus caprichos. Veio João Batista, diz o divino Salvador, o qual não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: ele está possesso do demônio. Veio o Filho do Homem, come e bebe, e dizeis que é um samaritano. É verdade, Filoteia, se condescenderes com o mundo e jogares e dançares, ele se escandalizará de ti; e, se não o fizeres, serás acusada de hipocrisia e melancolia. Se te vestires bem, ele te levará isso a mal, e, se te negligenciares, ele chamará isso baixeza de coração. A tua alegria terá ele por dissolução e a tua mortificação por ânimo carrancudo; e, olhando-te sempre com maus olhos, jamais lhe poderás agradar. Às nossas imperfeições ele considera pecados, os nosso pecados veniais ele julga mortais, e malícias, as nossas enfermidades; de sorte que, assim como a caridade, na expressão de São Paulo, é benigna, o mundo é maligno.

A caridade nunca pensa mal de ninguém e o mundo o pensa sempre de toda sorte de pessoas; e, não podendo acusar as nossas ações, condena ao menos nossas intenções. Enfim, tenham os carneiros chifres ou não, sejam pretos ou brancos, o lobo sempre os há de tragar, se puder. Procedamos como quisermos, o mundo sempre nos fará guerra. Se nos demorarmos um pouco mais no confessionário, perguntará o que temos tanto que dizer; e, se saímos depressa, comentará que não contamos tudo. Espreitará todas as nossas ações e, por uma palavra um pouco menos branda, dirá que somos insuportáveis. Chamará avareza o cuidado por nossos negócios, e idiotismo a nossa mansidão. Mas, quanto aos filhos do século, sua cólera é generosidade; sua avareza, sábia economia; e suas maneiras livres, honesto passatempo. É bem verdade que as aranhas sempre estragam o trabalho das abelhas!

Abandonemos este mundo cego, Filoteia; grite ele quanto quiser, como uma coruja para inquietar os passarinhos do dia. Sejamos firmes em nossos propósitos, invariáveis em nossas resoluções e a constância mostrará que a nossa devoção é séria e sincera. Os cometas e os planetas parecem ter o mesmo brilho; mas os cometas, que são corpos passageiros, desaparecem em breve, ao passo que os planetas brilham continuamente. Do mesmo modo muito se parece a hipocrisia com a virtude sólida e só se distingue porque aquela não tem constância e se dissipa como a fumaça, ao passo que esta é firme e constante.

Demais, para assegurar os começos de nossa devoção, é muito bom sofrer desprezos e censuras injustas por sua causa; deste modo nós nos prevenimos contra a vaidade e o orgulho, que são como as parteiras do Egito, às quais o infernal faraó mandou matar os filhos varões dos judeus no mesmo dia de seu nascimento. Enfim, nós estamos crucificados para o mundo e o mundo deve ser crucificado para nós. Ele nos toma por loucos; consideremo-lo como um insensato.

(São Francisco de Sales, excertos da obra 'Filoteia ou Introdução à Vida Devota')

terça-feira, 7 de outubro de 2025

OS CINCO CAMINHOS DA CONVERSÃO

 

Querem que eu lhes indique os caminhos da conversão? São numerosos, variados e diferentes, mas todos conduzem ao céu. 

O primeiro caminho da conversão é abominar os nossos pecados: 'Comece a confessar os seus pecados para ser justo' (Is 43,26). Isso porque diz o profeta: 'Eu disse a mim mesmo: confessarei ao Senhor as minhas culpas. E tu perdoarás a minha falta e o meu pecado' (Sl 31,5). Condene você mesmo as faltas que cometeu e isso será suficiente para que o Mestre o ouça. Quem condena os seus pecados terá mais cuidado para não recair neles...

Há um segundo caminho que não é inferior ao primeiro: não guardar rancor de nossos inimigos, dominar nossa ira para perdoar as ofensas que nos infligem, porque assim obteremos o perdão das ofensas contra o Mestre. É a segunda maneira de obter a purificação de nossas faltas. 'Se perdoardes aos vossos devedores' - diz o Senhor - 'o meu Pai que está nos céus também perdoará as vossas faltas' (Mt 6,14).

Queres conhecer o terceiro caminho da conversão? É a oração fervorosa e atenta do fundo do coração. E o quarto caminho é a esmola, que tem um poder considerável e indescritível... 

O quinto caminho é o da modéstia e da humildade, que não são meios menores para destruir o pecado pela raiz. Temos como testemunho disso o publicano que não podia proclamar suas boas ações, mas em vez disso ofereceu sua humildade e depositou diante do Senhor o pesado fardo de suas faltas (Lc 18,9-).

Acabamos de indicar cinco caminhos para a conversão... Não fique inativo, mas avance todos os dias por esses caminhos! Eles são fáceis e, apesar de suas misérias, você é capaz de segui-los fielmente. 

(São João Crisóstomo)

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

SOBRE ANJOS E ARCANJOS


Que há anjos, muitas páginas da Sagrada Escritura o atestam. Mas é preciso saber que a palavra 'anjo' designa a sua função: 'ser mensageiro'. E chamamos 'arcanjos' aos que anunciam os grandes acontecimentos. Foi assim que o arcanjo Gabriel foi enviado à Virgem Maria; para este ministério, para anunciar o maior de todos os acontecimentos, impunha-se enviar um anjo da mais alta estirpe.

Do mesmo modo, quando se tratou de manifestar um poder extraordinário, foi Miguel que foi enviado. Na verdade, a sua ação, tal como o seu nome que quer dizer 'Quem como Deus?', faz compreender aos homens que ninguém pode realizar o que compete apenas a Deus. O antigo inimigo, que desejou por orgulho fazer-se semelhante a Deus, dizia: 'Eu subirei aos céus; erigirei o meu trono acima das estrelas; serei semelhante ao Altíssimo' (Is 14,13).

Mas o Apocalipse diz-nos que, no fim dos tempos, quando for abandonado à sua própria força, antes de ser eliminado pelo suplício final, ele terá de combater contra o arcanjo Miguel: 'Houve um combate nos céus: Miguel e os seus anjos combateram contra o Dragão. E também o Dragão combatia com os seus anjos; mas não venceu e foi precipitado no abismo' (Ap 12,7).

À Virgem Maria, foi então Gabriel, cujo nome significa 'Força de Deus', que foi enviado; não é verdade que ele vinha anunciar aquele que quis manifestar-se numa condição humilde, para triunfar do orgulho do demônio? Foi, pois, pela 'Força de Deus' que foi anunciado aquele que vinha como 'o Senhor dos exércitos, poderoso nos combates' (Sl 23,8).

Quanto ao arcanjo Rafael, o seu nome significa 'Deus cura'. Na verdade, foi ele que livrou das trevas os olhos de Tobias, tocando-os como toca um médico vindo do céu (Tb 11,17). Aquele que foi enviado para cuidar o justo na sua enfermidade merece bem ser chamado 'Deus cura'.

(São Gregório Magno)

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

LADAINHA DE SANTA TERESINHA DE JESUS


Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de vossa serva Teresa do Menino Jesus durante os 24 anos que passou na Terra. Pelos méritos de tão querida santa, concedei-me a graça que ardentemente vos peço [fazer o pedido por intercessão se Santa Teresinha], se este estiver conforme a Vossa Santíssima vontade e para salvação de minha alma.

Ajudai minha fé e minha esperança, ó Santa Teresinha, cumprindo, mais uma vez, sua promessa de que ninguém vos invocaria em vão, derramando sobre nós uma chuva de rosas.

 Santa Teresinha do Menino Jesus, 
Rogai por nós. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém. [repetir após cada uma das 24 invocações abaixo]
 Pequena Rosa de Jesus, ...
 Filha favorita de Maria, ...
 Esposa fiel de Jesus, ...
 Mãe de inúmeras almas, ...
 Exemplo de santidade, ...
 Milagre das virtudes, ...
 Prodígio de milagres, ...
 Virgem Prudente, ...
 Heroína da fé, ...
 Anjo de caridade, ...
 Violeta da humildade, ...
 Mistica passionária, ...
 Lírio Puríssimo do Carmelo, ...
 Flor seleta da Igreja, ...
 Rosa incensada de amor, ...
 Mártir de amor, ...
 Mensageira da Paz, ...
 Encanto do Céu e da Terra, ...
 Padroeira das Missões, ...
 Semeadora de rosas, ...
 Mestra da infância espiritual, ...
 Advogada dos sacerdotes, ...
 Aquela que prometeu passar o seu Céu fazendo o bem na Terra, ...

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

VERSUS: AS DORES FINAIS DA PAIXÃO DE JESUS


Tudo está consumado!
Maria, o discípulo amado, Maria Madalena e as santas mulheres recolheram, em seus braços, o corpo de Jesus descido da cruz. 
Nicodemos e José de Arimateia envolvem o corpo de Cristo em um longo tecido de linho branco e o untam com um perfume precioso, composto de mirra e aloés.
O corpo de Jesus é levado até um um sepulcro novo, talhado na rocha, que ainda não tinha sido utilizado.
A entrada do túmulo é fechada por uma pedra, ficando sob a guarda de soldados romanos.

Quando o corpo de nosso senhor chega até nós na sagrada comunhão, devemos também envolvê-lo com o perfume das santas intenções, com o perfume das boas obras, com a apresentação de um coração puro da inocência, figurada naquele linho sem mancha; com uma rígida determinação de fazer o bem tal qual a pedra do sepulcro; uma consciência inteiramente renovada pela penitência; e, depois da comunhão, devemos cerrar as portas do nosso coração com a pedra e o selo do nosso recolhimento, frente a modéstia, mesuras e atenção com nós mesmos, como guardas vigilantes para impedir que nos arrebatem o tesouro precioso que acabamos de receber.

(Santo Afonso de Ligório)



O discípulo amado leva pela mão a Mãe do Senhor, sua mãe desde a Cruz. 
A Virgem, submersa na sua dor sem fim, carrega nas mãos a coroa de espinhos. 
Nicodemos e José de Arimatéia saem consternados do jardim do sepulcro.
E duas outras Marias choram prostradas à entrada do túmulo. 
As trevas da Sexta-feira Santa se retiram, para dar luz a um princípio de céu claro de primavera.

Ó Maria, ó Mãe, a mais aflita entre todas as mães, compadeço-me de vosso coração, especialmente quando vistes vosso Jesus inclinar a cabeça, abrir a boca e expirar. Por amor deste vosso Filho, morto por minha salvação, recomendai-lhe a minha alma. E vós, meu Jesus, pelos merecimentos das dores de Maria, tende piedade de mim e concedei-me a graça de morrer por vós, como morrestes por mim. Com São Francisco de Assis, vos direi: 'Morra eu, Senhor, por amor de vós que, por amor de meu amor, vos dignastes morrer'.

(Santo Afonso de Ligório)

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

ORAÇÃO DE AÇÃO DE GRAÇAS APÓS A COMUNHÃO


Dou-vos graças, Senhor santo, Pai onipotente, Deus eterno, a vós que, sem merecimento algum da minha parte, mas como fruto da vossa misericórdia, vos dignastes saciar-me, sendo eu pecador e vosso indigno servo, com o sagrado corpo e com o precioso sangue do vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Eu vos peço que esta comunhão não seja para mim mais uma falta digna de castigo, mas uma súplica eficaz para alcançar o meu perdão; que seja a armadura da minha fé e o escudo da minha boa vontade; que me livre dos meus vícios e apague os meus maus desejos; mortifique a minha concupiscência; aumente em mim a caridade e a paciência, a humildade, a obediência e todas as virtudes. Que seja a minha firme defesa contra as ciladas de todos os meus inimigos, tanto visíveis como invisíveis; serene e regule perfeitamente todos os meus impulsos, da carne e do meu espírito; una-me firmemente a vós, que sois o único e verdadeiro Deus e que seja enfim a feliz consumação do meu destino.

Dignai-vos, Senhor, eu vos suplico, conduzir-me, a mim pecador, ao inefável banquete onde Vós, com o vosso Filho e o Espírito Santo, sois para os vossos santos luz verdadeira, plenitude de graças e alegria eterna, cúmulo de delícias e bem aventuranças e felicidade perpétua. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

(São Tomás de Aquino)

sábado, 30 de agosto de 2025

A GLÓRIA DAS GLÓRIAS É A CRUZ!

Toda ação de Cristo é glória da Igreja católica. Contudo, a glória das glórias é a cruz. Paulo, muito bem instruído, disse: 'Longe de mim gloriar-me a não ser na cruz de Cristo'.

Foi uma coisa digna de admiração que ele tenha recuperado a vista àquele cego de nascença em Siloé. Mas o que é isto em vista dos cegos do mundo inteiro? Foi estupendo e acima das forças da natureza ressuscitar Lázaro após quatro dias de morto. Mas a um só foi dada essa graça; e os outros todos, em toda a terra, mortos pelo pecado? Foi maravilhoso alimentar com cinco pães, qual fonte, a cinco mil homens. Mas e aqueles que em toda a parte sofrem a fome da ignorância? Foi magnífico libertar a mulher ligada há dezoito anos por Satanás; mas que é isto se considerarmos a todos nós, presos pelas cadeias de nossos pecados?

Pois bem; a glória da cruz encheu de luz os que estavam cegos pela ignorância, libertou os cativos do pecado, remiu o universo inteiro. Não nos envergonhemos da cruz do Salvador. Muito pelo contrário, dela tiremos glória. Pois a palavra da cruz é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, para nós, no entanto, é salvação. Para aqueles que se perdem é loucura; para nós, que fomos salvos, é força de Deus. Não era um simples homem quem por nós morria; era o Filho de Deus feito homem.

Outrora o cordeiro, morto segundo a instituição mosaica, afastava para longe o devastador. Porém, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, não poderá muito mais libertar dos pecados? O sangue de um cordeiro irracional manifestava a salvação. Sendo assim, não trará muito maior salvação o sangue do Unigênito?

O Cordeiro não entregou a vida coagido, nem foi imolado à força, mas por sua plena vontade. Ouve o que ele disse: 'Tenho o poder de entregar minha vida; e tenho o poder de retomá-la'. Chegou, portanto, com toda a liberdade à paixão, alegre com a excelente obra, jubiloso pela coroa, felicitando-se com a salvação do homem. Não se envergonhou da cruz pois trazia a salvação para o mundo. Não era um homem qualquer aquele que padecia, era o Deus encarnado a combater pelo prêmio da obediência.

Por conseguinte, não te seja a cruz um gozo apenas em tempo de paz. Também em tempo de perseguição guarda a mesma fidelidade, não aconteça seres tu amigo de Jesus durante a paz e inimigo durante a guerra. Agora recebes a remissão dos pecados e és enriquecido com os generosos dons espirituais de teu rei. Rebentando a guerra, luta por ele valorosamente.

Jesus foi crucificado em teu favor, ele não tinha pecado. Tu, por tua vez, não te deixarás crucificar por aquele que em teu benefício foi pregado na cruz? Não estarás fazendo nenhum favor porque primeiro recebeste. Entretanto, mostras tua gratidão pagando a dívida a quem por ti foi crucificado no Gólgota.

(Das Catequeses de São Cirilo)

terça-feira, 26 de agosto de 2025

'SOU DEVORADO PELO AMOR DE DEUS!'


O 'santo' é aquele que ama. O que transforma um homem em 'santo' é o amor. Mas não o amor humano. Não o amor terreno. Não o amor carnal. Não o amor natural. Não, nenhum desses amores jamais pode transformar um homem em um 'santo'.

Se pensarmos em São Pedro e São Paulo, os Apóstolos, por exemplo, se pensarmos em Santa Maria Madalena e São João Evangelista, se pensarmos em São Francisco de Assis e Santa Clara, imediatamente entendemos que eles foram transformados em 'santos' somente pelo amor divino:

Foi somente o amor divino, de fato, que fez de São Pedro e São Paulo dois 'mártires' intrépidos , que fez de Santa Maria Madalena e São João Evangelista dois santos 'amados' por Jesus, que fez de São Francisco e Santa Clara de Assis dois santos 'seráficos'.

Os santos, todos os santos, são as obras-primas do amor divino, isto é, do amor a Deus e ao próximo, levado às alturas ardentes do amor heróico que procura sacrificar-se e consumir-se total e plenamente, sem medida, à imitação de Jesus crucificado que se sacrificou inteiramente, deixando-se esgotar por amor ao Pai e por amor a todo o homem.

A expressão do Padre Pio – 'sou devorado pelo amor de Deus e pelo amor ao próximo' – revela, precisamente, a dinâmica do amor divino que 'devora' e consome o homem, transformando-o num 'santo', isto é, numa 'sarça ardente' de amor que arde cada vez mais intensamente sem nunca se consumir (cf Ex 3,2).

Se refletirmos sobre a vida do Padre Pio, podemos ver que é exatamente assim que as coisas são. Desde criança, aos cinco anos de idade, ele foi inspirado a amar Jesus, já tentando imitá-lo, batendo-se com correntes, dormindo no chão, desejando compartilhar o seu sofrimento pelos pecadores. E, em sua vida religiosa como capuchinho e em seu apostolado sacerdotal, durante cinquenta anos sangrando estigmas, ele se ofereceu verdadeira e heroicamente à imolação diária em seu ministério como confessor para regenerar as almas dos homens para que fossem salvas e conduzidas ao Céu.

Este é o amor divino do 'santo'. Não um amor divino comedido ou medíocre, mas um amor 'devorador', sem medida. Não um amor divino de água e açúcar - como o nosso! - mas um amor divino inteiramente de 'sangue'.

(Excertos da obra 'O Pensamento do Padre Pio', do Pe. Stefano Manelli)

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

ORAÇÃO PARA PEDIR A SALVAÇÃO


Socorrei-me, Senhor e vida minha, afim de que não venha a morrer na minha maldade. Se não me criásseis, não existiria; criastes-me, passei a existir; se não me dirigirdes, cessarei de existir.

Não foram encantos ou méritos meus que vos compeliram a dar-me o ser, senão a vossa infinita munificência.

Suplico-vos, pois, que aquele mesmo amor que vos compeliu à minha criação possa igualmente compelir-vos a reger-me; porquanto que aproveita haver-vos o vosso amor compelido a criar-me, se eu morrer na minha miséria, privado da direção de vossa destra?

Obrigai-vos, Senhor, a salvar-me com a mesma clemência que vos levou a tirar do nada o que jazia no nada; movei-vos em libertar-me com a mesma caridade que vos moveu em criar-me, pois não é hoje menor este vosso atributo do que era então.

A caridade sois vós mesmos, que sempre sois e não mudais. Não se vos encurtou a mão, que não possais salvar-me; nem se vos endureceu o ouvido, que não mais vos seja dado ouvir-me.

(Santo Agostinho)

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

O ECUMENISMO SEGUNDO OS SANTOS

1. 'Em nome do Se­nhor Jesus – reunidos vós e o meu espírito, com o poder de nosso Senhor Jesus – seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus' (ICor 5,4-5).

2. 'O castigo os atingirá por duplo motivo: porque eles desconheceram a Deus, afeiçoando-se aos ídolos, e porque são culpados, por desprezo à santidade da religião, de ter feito juramentos enganadores' (Sb 14,30).

3. 'Pensai no que há originado todas as heresias: não encontrareis outra fonte que não a soberba' (Santo Agostinho).

4. 'Não te admires dos hereges que citam as Escrituras, pois o diabo também se serve delas, não para ensinar, mas para enganar' (Santo Ambrósio).

5. 'Lançai fora a ímpia e funesta opinião de que, em qualquer religião, é possível chegar ao caminho da salvação eterna' (Pio XI).

6. 'Aqueles que corrompem famílias não herdarão o Reino de Deus. Se, pois, aqueles que fazem isso com respeito à carne sofreram a morte, quanto mais será o caso daquele que corrompe a fé em Deus, pela qual Jesus Cristo foi crucificado, com doutrinas perversas!' (Santo Inácio de Antioquia).

7. 'Não há pecados mortais mais graves do que os dos hereges que negam Cristo depois de o terem conhecido' (São Beda).

8. 'O verdadeiro ecumenismo, a verdadeira caridade com os que estão no erro, é mostrar-lhes a verdade plena, e rezar por eles – e não com eles – para que se convertam à verdadeira fé' (São Pio X).

9. 'Tenham coragem diante de sua fé e suas convicções. São os maus que devem temer diante dos bons, e não os bons diante dos maus' (São João Bosco).

10. 'Se, para salvar uma vida terrena, é louvável usar a força para impedir um homem de cometer suicídio, não nos seria permitido usar a mesma força — a santa coerção — para salvar a Vida (com maiúscula) de muitos que estão estupidamente empenhados em matar as suas almas?' (São José Maria Escrivá).

terça-feira, 19 de agosto de 2025

SOBRE A CONFIANÇA EM DEUS

Desperte, eu lhe digo, levante-se e fique acordado, você que foi vencido pelo sono do pecado; volte à vida finalmente, você que caiu diante da espada mortal de seus inimigos. O apóstolo Paulo está aqui. Ouça-o enquanto ele exige vigorosamente ser ouvido, batendo à sua porta e lhe chamando com palavras claras: 'Acorda do teu sono e levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará!' (Ef 5,14).

Se você ouve Cristo, que restaura a vida, por que se sente inseguro quanto à sua restauração? Ouça as suas próprias palavras: 'Se alguém crer em mim, ainda que morra, viverá' (Jo 11,25) Se a própria Vida, que dá vida, procura ressuscitar você, por que você continua tolerando ficar morto?

Seu coração deve bater com confiança no amor de Deus e não endurecer e se tornar impenitente diante do seu grande crime. Não são os pecadores, mas os ímpios que devem se desesperar; não é a magnitude do crime de alguém, mas o desprezo por Deus que destrói as esperanças de alguém. Se, de fato, o diabo é tão poderoso que é capaz de lançá-lo nas profundezas desse vício, quão mais eficaz é a força de Cristo para restaurá-lo à posição elevada da qual você caiu? 'Aquele que caiu nunca mais se levantará?' (Sl 40,9). 'Se o jumento do teu inimigo cair sob o peso da sua carga' (cf Ex 23,5) é o aguilhão da penitência que o impele e a mão do espírito que o liberta com coragem.

Se a sua carne impura o enganou... se roubou os sete dons do Espírito Santo, se extinguiu não apenas a luz do seu rosto, mas também a do seu espírito, não fique deprimido e não se desespere completamente. Mais uma vez, reúna suas forças, anime-se como um homem, ouse realizar grandes feitos e, ao agir assim, você terá a força, pela misericórdia de Deus, para triunfar sobre seus inimigos.

(São Pedro Damião)

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

SOBRE A NECESSIDADE DA ORAÇÃO CONSTANTE

Eu, enquanto tiver alento, não cessarei de pregar a necessidade primordial de ser alma de oração – sempre! – em qualquer ocasião e nas circunstâncias mais díspares, porque Deus nunca nos abandona. Não é cristão pensar na amizade divina exclusivamente como um recurso extremo. Pode parecer-nos normal ignorar ou desprezar as pessoas que amamos? Evidentemente que não. Para os que amamos dirigimos constantemente as palavras, os desejos, os pensamentos: há como que uma presença contínua. Pois, o mesmo com Deus.

Com esta busca do Senhor, toda a nossa jornada se converte numa única conversa, íntima e confiada. Afirmei-o e escrevi-o tantas vezes, mas não me importo de o repetir, porque Nosso Senhor faz-nos ver – com o seu exemplo – que este é o comportamento certo: oração constante, de manhã à noite e da noite até de manhã. Quando tudo sai com facilidade: obrigado, meu Deus! Quando chega um momento difícil: Senhor, não me abandones! E esse Deus, manso e humilde de coração, não esquecerá os nossos rogos nem permanecerá indiferente, porque Ele afirmou: pedi e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. 

(Excertos da obra 'Amigos de Deus', de São Josemaria Escrivá)

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

JESUS É A PONTE PARA O CÉU

Por não estar em mim, o pecado não merece amor. Quem o faz, ofende toda criação e me odeia. O homem tem obrigações de me querer bem. Sou imensamente bom, dei-lhe o ser, numa chama de caridade. Todavia, os maus fogem de mim. Mas, por justiça ou misericórdia, ninguém escapa das minhas mãos.

Eis o meu plano: criar o homem à minha imagem e semelhança para que alcançasse a vida eterna, participasse do meu Ser, experimentasse a minha suma, eterna e doce bondade. O pecado veio impedir-lhe de atingir essa meta. O homem deixava de realizar o meu plano, pois a culpa lhe fechara o Céu e a porta da minha misericórdia. O pecado fez germinar na humanidade espinhos e sofrimentos, tribulações numerosas, rebelião interna.

Ao revoltar-se contra mim, o homem criou a rebelião dentro de si. Em conseqüência da perda do estado de inocência, a carne se revoltou contra o espírito. Imediatamente brotou um rio tempestuoso, cujas ondas continuam a açoitar a humanidade. São as misérias e males provenientes do próprio homem, do demônio e do mundo. Nele todos se afogavam; ninguém mais, graças a virtudes pessoais, atingia a vida eterna. Para remediar tantos males, construí a ponte no Meu Filho, que permitiria a travessia do rio sem perigo de afogar-se. O rio é o tempestuoso mar desta tenebrosa vida.

Quero que contemples a ponte que é o meu Filho, que vejas sua grandiosidade. Ela se estende do céu à terra, pois nela a terra da vossa natureza humana está unida à divindade sublime, graças à encarnação que realizei no homem. Todos vós deveis passar por esta ponte, louvando-me através do trabalho pela salvação dos homens e tolerando muitas dificuldades, a exemplo do meu doce e amoroso Verbo Encarnado. Não há outro modo de chegar até mim.

Dizia o Meu Filho: 'Eu sou a videira verdadeira e vós os ramos; Meu Pai é o agricultor' (Jo 15,5). Sim, Eu sou o agricultor, de mim se originam todos os seres. Tenho um poder incalculável, pelo qual governo o universo; nada me escapa. Fui eu o agricultor que plantou a verdadeira vinha, Cristo, no chão da humanidade, para que vós, unidos a Ele, possais frutificar. Quem não produzir ações santas e boas, será cortado da videira; e secará. Separado, perderá a vida da graça e irá para o fogo eterno.

Sabes que os mandamentos da Lei se reduzem a dois sem eles, nenhum outro é observado. São eles: amar-me sobre todas as coisas e amar o próximo como a ti mesmo. Eis o começo, o meio e o fim dos mandamentos da lei.  Todavia esses dois não se reúnem em mim sem os três, ou seja, sem a unificação das três faculdades da alma:  memória, inteligência e vontade. A memória há de recordar-se dos meus beneficios e da minha bondade; a inteligência pensará no amor inefável revelado em Cristo, pois Ele se oferece como objeto de reflexão, para manifestar a chama do meu amor; a vontade, unindo-se às faculdades anteriores, me amará e desejará como seu fim.

O coração humano, ao ser atraído pelo amor, leva consigo todas as faculdades da alma: Quando são harmonizadas e reunidas tais faculdades, todas as ações humanas - corporais ou espirituais - ficam-me agradáveis, pois unem-se a mim na caridade. Foi exatamente para isso que meu Filho se elevou na cruz, trilhando o caminho do amor cruciante. Ao dizer, 'Quando Eu for elevado, atrairei a mim todas as coisas', ele queria significar: quando o coração humano e as faculdades forem atraídas, todas as demais faculdades e suas ações também o serão.

Ninguém pode vir a mim, senão por meio de Cristo. Esta a razão pela qual fiz d'Ele uma ponte de três degraus. Esses três degraus representam os três estados espirituais do homem. O pavimento desta ponte é feito de pedras, a fim de que a chuva (da justiça divina) não retenha o caminhante. As pedras são as virtudes verdadeiras e reais. Antes da Paixão do meu Filho, elas ainda não tinham sido assentadas, motivo pelo qual os antigos não atingiam o céu, mesmo que vivessem piedosamente. O Paraíso ainda não fora aberto com a chave do Sangue e a chuva da justiça divina impedia a caminhada.

Quando aquelas pedras foram assentadas no Corpo do Meu Filho - por mim comparado a uma ponte - foram embebidas, amalgamadas e assentadas com sangue. Em outras palavras: o sangue (humano) foi misturado com a cal da divindade e fortemente queimado no calor da caridade. Tais pedras foram postas em Cristo por mim, mas é n'Ele que toda virtude é comprovada e vivificada. Fora de Jesus ninguém possui a vida da graça. Ocorre estar n'Ele, trilhar suas estradas, viver a sua mensagem. Somente Ele faz crescer as virtudes, somente Ele as constrói como pedras vivas, cimentando-as com o próprio Sangue. Nele, todos os fiéis caminham na liberdade, sem o medo da justiça divina, pois vão cobertos pela misericórdia, descida do céu no dia da encarnação. 

Foi a chave do Sangue de Cristo que abriu o céu. Portanto, esta ponte é ladrilhada; e seu telhado é a misericórdia. Possui também uma despensa, constituída pela hierarquia da Santa Igreja, que conserva e distribui o Pão da Vida e o Sangue. Assim, as minhas criaturas, viandantes e peregrinas, não fraquejam de cansaço na viagem. Para isto ordenei que vos fosse dado o Corpo e o Sangue do Meu Filho, Homem Deus.

Disse Jesus: 'Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; quem vai por mim não caminha nas trevas, mas na luz' (Jo, 8,12). Quem vai por tal caminho é filho da verdade, atravessa a ponte e chega até mim, verdade eterna, oceano de paz. Quem não trilha esse caminho, vai pela estrada inferior, no rio do pecado. É uma estrada sem pedras, feita somente de água, inconsistente; por sobre ela ninguém vai sem afundar. É o caminho dos prazeres e das altas posições, daqueles cujo amor não repousa em mim e nas virtudes, mas no apego desordenado ao que é humano e passageiro. Tais pessoas são como a água sempre a escorrer. À semelhança daquelas realidades, vão passando.

Com o retorno de Meu Filho ao céu, enviei o Mestre, o Espírito Santo. Ele veio no meu poder, na sabedoria do Filho, e na própria clemência. É uma só coisa comigo e o Filho. Por sua vinda, fortaleceu o caminho - mensagem deixado no mundo por Jesus. O Espírito Santo é qual mãe a nutrir no Divino Amor. Ele liberta o homem, torna-o dono de si, isento da escravidão e do egoísmo. A chama da minha caridade (o Espírito Santo) não sobrevive junto ao egoísmo. Assim, todos os homens, recebem luzes para conhecer a verdade. Basta que cada um o queira, que não destrua a luz da razão, pelo egoísmo desordenado.

A mensagem de Jesus é verdadeira e ficou no mundo qual pequena barca para retirar os pecadores do rio do pecado e conduzi-os ao porto da salvação. Primeiro, coloquei o meu Filho como ponte - pessoa, a conviver com os homens; após a sua morte, ficou a ponte - mensagem, possuindoo meu poder, a sabedoria do Filho e o amor do Espírito. O poder fortifica os caminhantes, a sabedoria ilumina e ajuda a reconhecer a Verdade, o Espírito Santo infunde o amor que aperfeiçoa, que destrói o egoísmo e conserva no homem o apego ao bem.

O Verbo encarnado, meu Filho único e ponte de glória, deu aos homens vida e grandeza. Eram escravos do demônio e Ele os libertou. Para que cumprisse tal missão, tornei-o servo; para cobrir a desobediência de Adão exigi que obedecesse; para confundir o orgulho, humilhou-se até a morte na cruz. Por sua morte, destruiu o pecado. No intuito de livrar a humanidade da morte eterna, fez do seu Corpo uma bigorna. No entanto os pecadores desprezam p seu Sangue, pisoteiam-no com um amor desordenado. Esta é a injustiça, este o julgamento falso a respeito do qual o mundo é e será repreendido até o dia do juízo final. Tal repreensão começou quando enviei o Espírito Santo sobre os apóstolos. São três estas repreensões: a voz da Igreja, o Juízo Particular e o Juízo Final.

(Excertos do Livro 'Revelações de Santa Catarina de Sena')

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

ORAÇÃO A MARIA, RAINHA DA MISERICÓRDIA

 ORAÇÃO A MARIA, RAINHA DA MISERICÓRDIA

(Santo Afonso Maria de Ligório)

Mãe de Deus e senhora minha, Maria.
Como se apresenta diante de uma grande rainha
um pobre maltrapilho e chagado,
assim me apresento diante de Vós, rainha do céu e da terra.
De vosso trono sublime, dignai-vos
volver vossos olhos para mim, pobre pecador.
Deus vos tornou tão rica
para que possais socorrer os pobres,
e vos fez rainha da misericórdia
para que possais aliviar os miseráveis.
Olhai e tende misericórdia de mim.
Olhai por mim e não me abandoneis,
tornai-me de pobre pecador em santo.
Vejo que eu nada mereço e, por minha ingratidão,
deveria ser privado de todas as graças
que, por vós, me teria dado meu Senhor.
Porém, vós, que sois rainha da misericórdia,
não procurais por méritos,
mas misérias e necessidades por socorrer.
E quem poderia ser mais pobre e necessitado do que eu?
Virgem excelsa, eu sei que vós,
que sois a rainha do universo,
sois também a minha rainha.
Por isso, de maneira muito especial,
quero dedicar-me ao vosso serviço,
para que disponhais de mim de bom agrado.
Como São Boaventura, queria vos dizer: Senhora,
estou ao vosso serviço,
para que possais me moldar e me dirigir.
Não me abandoneis a mim mesmo,
mas sede minha guia,
colocai-me sob vosso arbítrio
e corrigi-me, se não vos obedecer,
porque serão para mim mais salutares
as reprimendas que vierem por vossas mãos.
Estimo mais ser vosso servo
do que senhor da terra inteira.
"Sou todo vosso, salvai-me" (Sl 118, 94).
Tomai-me para vós e protegei-me.
Não quero ser de mim mesmo, a vós me entrego.
E se, no passado, vos servi mal,
perdendo belas ocasiões de vos honrar,
agora em diante quero tornar-me um dos vossos servos
mais amorosos e leais.
Não quero que ninguém venha a me superar
em vos honrar e amar, minha doce rainha.
Assim vos prometo,
com vossa ajuda, assim hei de cumprir. 
Amém.

01 DE AGOSTO - SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

ROGAI POR NÓS!

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS