sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

TESTAMENTO ESPIRITUAL DE SÃO JOÃO BOSCO


Antes de partir para a minha eternidade, devo cumprir alguns deveres para convosco e assim satisfazer o grande desejo do meu coração. Antes de mais nada agradeço-vos com o mais vivo afeto do coração a obediência que me prestastes e todo trabalho que tivestes para sustentar e propagar a nossa Congregação.

Eu vos deixo aqui na terra, mas apenas por pouco tempo. Espero da infinita misericórdia de Deus que um dia nos possamos encontrar todos na feliz eternidade. Lá vos espero. Recomendo-vos que não choreis a minha morte. É uma dívida que todos havemos de pagar, mas depois será copiosamente recompensado todo trabalho sofrido pelo amor de nosso Mestre, o nosso Bom Jesus.

Em vez de chorar, fazei firmes e eficazes resoluções de permanecerdes fiéis à vocação até a morte. Ficai atentos e cuidai a fim de que o amor do mundo, a afeição dos parentes, tampouco o desejo de uma vida mais cômoda não vos levem ao grande despropósito de profanar os santos votos e assim transredir a profissão religiosa, com que nos consagramos ao Senhor. Nenhum de nós tome de novo o que já demos a Deus.

Se me amastes no passado, continuais a amar-me no futuro com a exata observância das nossas Constituições. Morreu o vosso primeiro Reitor. Mas o nosso verdadeiro Superior, Jesus Cristo, não morrerá. Será ele sempre o nosso Mestre, nosso Guia, nosso Modelo. Não vos esqueçais, porém, de que a seu tempo será o nosso Juiz e Remunerador da fidelidade em seu serviço.

O vosso Reitor já não vive, mas será eleito outro que cuidará de vós e da vossa eterna salvação. Ouvi-o, amai-o, obedecei-lhe, rezai por ele, como fizestes para comigo. Adeus, queridos filhos, adeus. No céu vos espero. Lá falaremos de Deus, de Maria, Mãe e sustentadora da nossa Congregação; lá bendiremos por todo o sempre esta nossa Congregação, cujas regras por nós observadas contribuíram poderosa e eficazmente para a nossa salvação. Bendito seja o nome do Senhor de agora até o século futuro (Sl 113, 2). Em ti, Senhor, esperei, e não serei confundido na eternidade (Sl 71,1).

(São João Bosco)

São João Bosco, rogai por nós!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (IV)

P.7 - E no caso de uma pessoa completamente ignorante da fé [a chamada ignorância invencível] em Jesus Cristo e da sua Igreja, isso [a consciência e a razão] não a poderia salvar?

Esta também é uma proposição muito atraente e temo que, por não ser devidamente considerada, ela seja ocasião de um erro perigoso para muitos; portanto, vamos tentar examiná-la de forma completa. E aqui devemos observar que duas questões diferentes são comumente misturadas quando as pessoas falam sobre a chamada ignorância invencível: (I) uma pessoa que é invencivelmente ignorante da verdadeira fé ou Igreja de Cristo será condenada precisamente por essa ignorância? Ou seja, essa ignorância será imputada a ela como um crime? Ou essa ignorância invencível a desculpará da culpa de não crer? A isso respondo que, como nenhum homem pode ser culpado por um pecado ao não fazer o que está absolutamente fora de seu poder, portanto, uma pessoa que é invencivelmente ignorante da verdadeira fé e Igreja de Cristo não será condenada por essa ignorância; tal ignorância não será imputada a ela como um crime, mas sem dúvida a desculpará da culpa da descrença: nisso todos os teólogos concordam sem dúvida ou hesitação. 

Um pagão, por exemplo, que nunca ouviu falar de Jesus Cristo, não será condenado como criminoso precisamente pela falta de fé nEle; um herege que nunca teve nenhum conhecimento da verdadeira Igreja de Cristo não será condenado como culpado por não estar em comunhão com essa Igreja. Até aqui, a primeira questão não admite disputa. 

A segunda questão é: (II) pode uma pessoa invencivelmente ignorante da verdadeira fé ou Igreja de Jesus, vivendo e morrendo nesse estado, ser salva? Esta é uma questão muito importante, mas bem diferente da anterior, embora frequentemente confundida com ela. Agora, para responder a essa questão de forma clara e distinta, devemos considerar dois casos diferentes: primeiro, o dos muçulmanos, judeus e pagãos que, nunca tendo ouvido falar de Jesus Cristo ou da sua religião, são invencivelmente ignorantes dela; e, em segundo lugar, o dos diferentes grupos de cristãos que estão separados da verdadeira Igreja de Cristo por heresia.

P.8 -  O que se deve então dizer de todos aqueles muçulmanos, judeus e pagãos que, nunca tendo ouvido falar de Jesus Cristo ou da sua religião são, portanto, invencivelmente ignorantes em relação a ambos? Podem ser salvos, se viverem e morrerem nesse estado?

A resposta direta a isso é que eles não podem ser salvos; que nenhum deles 'pode entrar no reino de Deus'. É verdade, como vimos acima, que não serão condenados precisamente por não terem a fé em Cristo, da qual são invencivelmente ignorantes. Mas a fé em Cristo, embora seja uma condição essencial para a salvação, é apenas uma condição; outras também são necessárias. E, embora a ignorância invencível certamente livre um homem do pecado, por não saber aquilo do que é invencivelmente ignorante, é impossível supor que essa ignorância invencível sobre um ponto substitua a falta de todas as outras condições exigidas. Agora, todos aqueles de quem falamos aqui estão no estado do pecado original - 'estranhos a Deus e filhos da ira' -  por não serem batizados; e é um artigo da fé cristã que, a menos que o pecado original seja apagado pela graça do batismo, não há salvação; pois o próprio Cristo declara expressamente: 'Em verdade, em verdade, vos digo, se alguém não nascer da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus' (Jo 3,5).

E, de fato, se até mesmo os filhos de pais cristãos, que morrem sem o batismo, não podem ir para o céu, quanto menos aqueles que, além de não serem batizados, vivem e morrem na ignorância do verdadeiro Deus, de Jesus Cristo e de sua fé, e, por essa razão, podem ser considerados como tendo cometido muitos pecados atuais. Além disso, imaginar que pagãos, muçulmanos ou judeus que vivem e morrem nesse estado podem ser salvos é supor que a ignorância salvará adoradores de ídolos, de Maomé e blasfemadores de Jesus Cristo, tanto no pecado atual quanto no original; o que seria colocá-los em uma posição melhor do que os próprios cristãos e dos seus filhos. O destino de todos esses é decidido pelas Escrituras da seguinte forma: 'O Senhor Jesus será revelado do céu, com o anjo do seu poder, em uma chama de fogo, infligindo vingança àqueles que não conhecem a Deus e que não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais sofrerão punição eterna na destruição, longe da face do Senhor e da glória do seu poder' (2Ts 1,7-8). Isso é, de fato, uma resposta clara e decisiva à questão apresentada.

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

PROTOCOLOS DO INFERNO CONTRA DEUS

Assim que Lúcifer foi autorizado a prosseguir com essas questões e se erguer da consternação em que ficou por algum tempo, ele começou a propor aos seus companheiros demônios novos planos de sua arrogância. Para isso, convocou todos e, colocando-se em uma posição elevada, falou-lhes: 'A vós, que por tantas eras seguis e ainda seguis meus estandartes em vingança das minhas injúrias, é conhecido o dano que sofri agora nas mãos deste Homem-Deus, e como, por trinta e três anos, Ele me guiou em engano, escondendo sua Divindade e ocultando as operações de sua alma, e como agora Ele triunfou sobre nós pela própria Morte que nós lhe trouxemos. Antes de assumir a carne, Eu o odiava e me recusava a reconhecê-lo como mais digno do que eu de ser adorado por toda a criação. Embora, por causa dessa resistência, tenha sido expulso do céu com vocês e degradado a esta condição abominável, tão indigna da minha grandeza e beleza anteriores, sou ainda mais atormentado ao me ver assim vencido e oprimido por este Homem e por sua Mãe. Desde o dia em que o primeiro homem foi criado, procurei sem descanso encontrá-los e destruí-los; ou, se não pudesse destruí-los, ao menos queria trazer destruição sobre todas as suas criaturas e induzi-las a não reconhecê-lo como seu Deus, e que nenhum delas jamais tirasse qualquer benefício de suas obras.

Este foi o meu intento, para isso toda a minha solicitude e esforços foram dirigidos. Mas em vão, pois Ele me venceu pela sua humildade e pobreza, me esmagou pela sua paciência, e, por fim, me despojou da soberania do mundo pela sua Paixão e morte terrível. Isso me causa uma dor tão excruciante que, mesmo que eu conseguisse lançar-lhe fora da destra do seu Pai, onde Ele se assenta triunfante, e se eu conseguisse arrastar todas as almas redimidas para este inferno, minha ira não seria saciada nem minha fúria apaziguada.

É possível que a natureza humana, tão inferior à minha, seja exaltada acima de todas as criaturas! Que seja tão amada e favorecida, a ponto de se unir ao Criador na pessoa do Verbo eterno! Que Ele devesse primeiro fazer guerra contra mim antes de executar essa obra, e depois me sobrecarregar com tal confusão! Desde o princípio, vi essa humanidade como meu maior inimigo; sempre me preencheu com uma aversão intolerável. Ó homens, tão favorecidos e dotados pelo vosso Deus, que eu abomino, e tão ardentemente amados por Ele! Como hei de impedir vossa boa sorte? Como hei de trazer sobre vós a minha infelicidade, já que não posso destruir a existência que recebestes? O que devemos agora começar, ó meus seguidores? Como restauraremos o nosso reinado? Como recuperaremos o nosso poder sobre os homens? Como os venceremos? Pois se os homens, a partir de agora, não forem os mais insensatos e ingratos, se não estiverem mais dispostos do que nós mesmos contra este Deus-homem, que os redimiu com tanto amor, é claro que todos eles o seguirão com zelo; nenhum notará os nossos enganos; eles abominarão as honras que insidiosamente lhes oferecemos e amarão o desprezo; buscarão a mortificação da carne e descobrirão o perigo do prazer e do descanso carnais; desprezarão as riquezas e os tesouros, e amarão a pobreza tão honrada por seu Mestre; e tudo o que pudermos oferecer aos seus apetites será abominado, imitando seu verdadeiro Redentor. Assim será destruído o nosso reinado, pois ninguém se somará ao nosso número neste lugar de confusão e tormentos; todos alcançarão a felicidade que perdemos, todos se humilharão até o pó e sofrerão com paciência; e minha ira e altivez não me servirão de nada.

Ah, ai de mim, que tormento causa esse erro em mim! Quando o tentei no deserto, o único resultado foi dar-lhe uma oportunidade de deixar o exemplo dessa vitória, por meio do qual os homens podem vencer com muito mais facilidade. As minhas perseguições apenas evidenciaram mais claramente a sua doutrina de humildade e paciência. Ao persuadir Judas a traí-lo, e aos judeus a sujeitá-lo à morte cruel da Cruz, apressei apenas a minha ruína e a salvação dos homens, enquanto a doutrina que eu procurava apagar foi apenas mais firmemente implantada. Como poderia Aquele que é Deus humilhar-se a tal ponto? Como poderia Ele suportar tanto dos homens, que são maus? Como poderia eu mesmo ter sido levado a ajudar tanto para tornar essa salvação tão copiosa e maravilhosa? Ó quão divina é a força daquele Homem, que poderia me atormentar e enfraquecer-me assim! E pode essa Mulher, sua Mãe e minha Inimiga, ser tão poderosa e invencível em sua oposição a mim? Tal poder é novo em uma mera criatura, e sem dúvida Ela o derivou do Verbo divino, a quem Ela revestiu com a carne humana. Através desta Mulher, o Todo-Poderoso tem guerreado incessantemente contra mim, embora Eu a tenha odiado em meu orgulho desde o momento em que a reconheci em sua imagem ou sinal celestial.

Mas se a minha indignação orgulhosa não deve ser acalmada, nada me aproveita a minha guerra perpétua contra esse Redentor, contra a sua Mãe e contra os homens. Agora então, demônios que me seguis, agora é o momento de ceder à nossa ira contra Deus. Venham todos para tomar conselho sobre o que devemos fazer; pois desejo ouvir as vossas opiniões'.

Alguns dos principais demônios deram suas respostas a essa proposta terrível, incentivando Lúcifer a sugerir diversos esquemas para impedir os frutos da Redenção entre os homens. Todos concordaram que não seria possível prejudicar a pessoa de Cristo, diminuir o valor imenso dos seus méritos, destruir a eficácia dos Sacramentos ou falsificar ou abolir a doutrina que Cristo havia pregado; ainda assim, resolveram que, de acordo com a nova ordem de assistência e favor estabelecida por Deus para a salvação dos homens, agora deveriam buscar novas maneiras de dificultar e impedir a obra de Deus por enganos e tentações muito maiores.

Referente a esses planos, alguns dos demônios astutos e maliciosos disseram: 'É verdade que agora os homens têm à sua disposição uma nova e poderosa doutrina e lei, novos e eficazes Sacramentos, um novo Modelo e Instrutor de virtudes, um poderoso Intercessor e Advogada nesta Mulher; ainda assim, as inclinações e paixões naturais da carne permanecem as mesmas, e as criaturas sensíveis e deleitosas não mudaram sua natureza. Vamos então, aproveitando-nos dessa situação com astúcia aumentada, frustrar tanto quanto pudermos os efeitos do que esse Deus-homem fez pelos homens. Comecemos uma guerra enérgica contra a humanidade, sugerindo novas atrações, excitando-os a seguir suas paixões, esquecendo tudo o mais. Assim, os homens, envolvidos com essas coisas perigosas, não poderão atentar para o contrário'.

Agindo segundo esse conselho, redistribuíram as esferas de trabalho entre si, de forma que cada esquadrão de demônios pudesse, com astúcia especializada, tentar os homens a diferentes vícios. Resolveram continuar propagando a idolatria no mundo, para que os homens não chegassem ao conhecimento do verdadeiro Deus e da Redenção. Onde a idolatria falhasse, concluíram, estabeleceriam seitas e heresias, para as quais escolheriam os mais perversos e depravados da raça humana como líderes e mestres do erro.

Foi então que, entre esses espíritos malignos, foi tramada a seita de Maomé, as heresias de Ário, Pelágio, Nestório, e quaisquer outras heresias que surgiram no mundo desde os primeiros tempos da Igreja até agora, junto com aquelas que têm em prontidão, mas que não é necessário nem apropriado mencionar aqui. Lúcifer se mostrou satisfeito com esses conselhos infernais, por se oporem à verdade divina e destruírem os próprios alicerces da salvação do homem, a saber, a fé divina. Ele lavrou elogios lisonjeiros e cargos elevados àqueles demônios que se mostraram dispostos e que se encarregaram de encontrar os ímpios originadores desses erros.

Alguns dos demônios se encarregaram de perverter as inclinações das crianças desde sua concepção e nascimento; outros de induzir os pais a negligenciarem a educação e instrução de seus filhos, seja por amor desordenado ou aversão, e a causar o ódio entre pais e filhos. Outros ofereceram-se para criar ódio entre maridos e esposas, para colocá-los no caminho do adultério, ou para fazer pouco da fidelidade prometida aos seus parceiros conjugais. Todos concordaram em semear entre os homens as sementes de discórdia, ódio e vingança, pensamentos orgulhosos e sensuais, desejo de riquezas ou honrarias, e sugerir razões sofísticas contra todas as virtudes que Cristo ensinou; acima de tudo, pretendiam enfraquecer a lembrança da sua Paixão e Morte, dos meios de salvação e das penas eternas do inferno. Por esses meios, os demônios esperavam sobrecarregar todos os poderes e faculdades dos homens com solicitude por assuntos terrenos e prazeres sensuais, deixando-lhes pouco tempo para pensamentos espirituais e para a própria salvação.

(Excertos da obra ‘A Cidade Mística de Deus’, da Venerável Maria de Ágreda)

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (II)

João Batista é o Precursor de Cristo e, por isso, na iconografia cristã, é comumente representado com asas, simbolizando a condição ímpar de João Batista como um arauto divino. Tal representação é absolutamente ímpar porque João é o grande Precursor do Redentor e, com a sua prisão e morte, tem fim a Era dos Profetas. 'Profeta do Altíssimo', João supera todos os profetas, dos quais é o últimoE sobre ele, foram manifestadas as palavras de glória eterna pelo próprio Cristo: 'entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João' (Mt 11,11).

Nas inscrições dos ícones, João é descrito como sendo o 'Anjo do Deserto', por duas razões: primeiro, pela condição de mensageiro da chegada iminente de Jesus Cristo, nosso Salvador; segundo, pela vida austera de castidade, abstinência e oração no deserto, no encontro com Deus e no afastamento completo e desapego às coisas mundanas (João Batista é o padroeiro dos monges, eremitas e ascetas). Por ambas as razões, o seu ícone incorpora as duplas asas de uma pomba. Os cabelos longos, a barba espessa mal cuidada e as vestes rudes remetem à vida de austeridade no deserto. No ícone, João prenuncia Cristo, indicando o seu nascimento com a mão direita e segurando um pergaminho na mão esquerda, que contém o texto bíblico referente a essa anunciação.

João Batista é mártir pela fé e pelo sangue. No primeiro caso, como testemunha e guerreiro da fé (ícones desta natureza são representados por uma vestimenta de cor verde, sendo identificados como 'mártires verdes') e, no segundo caso, pelo derramamento de sangue (João Batista foi decapitado por ordem de Herodes). Símbolos deste martírio estão também comumente presentes em ícones do santo como a túnica verde, a cruz e a bandeja contendo a cabeça de João Batista (Mt 14,11).

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O QUE LEVO DE HOJE PARA A ETERNIDADE?

Na balança das graças recebidas e compartilhadas, o que se leva desta vida é a vida que se leva: para você se lembrar agora, neste momento, do que realmente pesaria de bom no dia de hoje para a sua eternidade com Deus. Uma oração? A fé convertida em obras? Um sacramento ou uma penitência? Uma leitura espiritual? Um momento de recolhimento com Deus? A aceitação de bom grado de uma angústia ou sofrimento? Um silêncio contemplativo ou um murmúrio de agradecimento à Bondade Divina? Uma súplica de perdão ou uma vitória contra as tentações? Uma prática da caridade? 

Ó Misericórdia Infinita de Deus, naquele dia tremendo em que deverei prestar contas a Vós dos frutos, dons e graças que recebi durante uma vida inteira, o que poderei vos oferecer deste dia de hoje? Quais virtudes, frutos ou graças perpassaram, no dia de hoje, pelas minhas mãos, pela minha mente, pelo meu coração? Quaisquer ou quantos possam ter sido, não são nossos: a única coisa que é nossa é a determinação da nossa vontade de oferecê-los ao Senhor de todos eles e agradecer por termos sido instrumentos da graça do Pai neste dia que passa (e que você pode, mais do que nunca, colher frutos de vida eterna). Não importa o tamanho da listagem ou o que se memorizou, importa a oferta de coração! E, para ganhar tudo, ofereça tudo! Que tudo nesse dia - tudo mesmo! - seja o nosso nada convertido em oração! 

em geral, os tipos e as cores identificam a natureza dos diferentes dons ou virtudes cristãs; p.ex, FORTALEZA é uma virtude cardeal (em roxo) e também um dos sete dons do Espírito Santo (em vermelho)

domingo, 26 de janeiro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!' (Sl 18B)

Primeira Leitura (Ne 8,2-6.8-10) - Segunda Leitura (1Cor 12,12-30) -  Evangelho (Lc 1,1-4;4;14-21)

  26/01/2025 - TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM 

O UNGIDO DO PAI


O Evangelho de São Lucas traduz, em larga escala, a personalidade ímpar do autor, de alguém que, embora possa não ter sido testemunha ocular dos acontecimentos narrados: 'como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra' (Lc 1, 2), elaborou uma obra regida particularmente pelo rigor da informação e por uma ordenação lógica dos eventos associados à vida pública de Jesus: 'após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado' (Lc 1, 3), o que a torna fruto do trabalho de um eminente escritor e historiador: 'Deste modo, poderás verificar a solidez dos ensinamentos que recebeste' (Lc 1, 4).

Desta forma, a par a semelhança e a mesma contextualização geral com os demais evangelhos sinóticos (São Mateus e São Marcos), o evangelho de São Lucas é pautado por uma visão própria, objetiva e cronológica da doutrina e dos ensinamentos públicos de Jesus (tempo presente da narrativa), inserida num contexto histórico do passado (Antigo Testamento) e do futuro (tempo da Igreja), incorporando, assim, um caráter muitíssimo pessoal e, portanto, original, à transcrição das mensagens evangélicas.

Após um preâmbulo típico do rigor objetivo do historiador, São Lucas desvela o instrumento de evangelização adotado por Jesus - a pregação pública e sua estrita observância, neste sentido, aos preceitos da Lei - a leitura, aos sábados, da palavra sagrada nas sinagogas. No seu primeiro retorno à Nazaré, foi convidado a ler e a comentar uma passagem do Livro de Isaías: 'Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor' (Lc 1, 17 - 19).

Ao recolher o rolo de pergaminho e se sentar, ao final da leitura 'todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele' (Lc 1, 20), porque, de certa forma, compreendiam a grandiosidade deste momento, que se materializou, então, com a manifestação direta e sucinta de Jesus: 'Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir' (Lc 1, 21), anunciando aos homens ser Ele o Ungido pelo Espírito Santo para fazer novas todas as coisas, para abrir os tempos do Messias esperado por todo Israel e para testemunhar aos homens a presença viva do Reino de Deus sobre a terra.

sábado, 25 de janeiro de 2025

FRASES DE SENDARIUM (XLV)


'A caridade é a alma da fé' 

(Santo Antônio de Pádua)

A caridade é a mãe de todas as virtudes, assim como a soberba é a raiz de todos os pecados. Sê humilde e pratica a caridade em tudo e com todos os teus irmãos, em todas as situações. Espelha-te no bom samaritano em todos os caminhos de tua vida!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

VERSUS: RISOS X LÁGRIMAS


'Contra todas as maquinações e ardis do inimigo, a minha melhor defesa continua a ser o espírito da alegria. O diabo nunca fica tão contente como quando consegue arrebatar a alegria à alma de um servo de Deus. Ele tem sempre uma reserva de poeira que sopra na consciência através de qualquer orifício, para tornar opaco o que é límpido; mas em vão tenta introduzir o seu veneno mortal num coração repleto de alegria. Os demônios não podem nada contra um servo de Cristo que encontram repleto de santa alegria; enquanto uma alma desgostosa, melancólica e deprimida se deixa facilmente submergir pela tristeza ou absorver por prazeres enganosos'.

(São Francisco de Assis)



'Nem todas as lágrimas são um sinal de falta de fé ou de fraqueza. Uma coisa é a dor natural, outra a tristeza que resulta da descrença. A dor não é a única a manifestar-se com lágrimas; também a alegria tem as suas lágrimas, também o afeto suscita lágrimas, a palavra rega o solo com lágrimas, e a oração, segundo as palavras do profeta, banha de lágrimas o nosso leito (Sl 6,7). Quando os patriarcas eram sepultados, o seu povo também chorava muito. As lágrimas são, pois, um sinal de afeto e não incitações à dor. Chorei, confesso-o, mas também o Senhor chorou (Jo 11,35); Ele chorou por uma pessoa que não era da sua família, enquanto eu choro um irmão. Ele, num só homem, chorou todos os homens; e eu chorar-te-ei, meu irmão, em todos os homens'.

(Santo Ambrósio, em memória da morte do seu irmão)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS (399/401)


CONTOS DE FANTASIA (LENDAS)

399. O ORGULHOSO NÃO SE AJOELHA

Diz uma lenda que na cidade de Colônia vivia um padre santo. Não era sábio; não era eloquente; mas era um grande confessor. Dizem que todos os que se levantavam de seu confessionário levavam na fronte o ósculo da paz.

Foi na véspera de uma grande solenidade. Uma grande multidão de penitentes esperava ao redor do confessionário daquele santo sacerdote. Entre eles achava-se um homem, o único que se conservava de pé. Tinha um rosto triste. escuro, quase negro.... atitude que revelava imensa tristeza e desconcertante inquietação. Chegou a sua vez. Acercou-se do confessionário, mas não se ajoelhou.
➖ Irmão - disse brandamente o confessor - ajoelhe-se.
➖ Nunca! Eu nunca me ajoelho.
➖ Quem é o senhor?
➖ Isso não lhe importa.
➖ De onde vem?
➖ Também isso não lhe importa.
➖ O senhor tem razão - respondeu humildemente o confessor - nada disso me importa. Mas, então, o que deseja?
➖ Confessar-me, porque trago dentro do meu coração um inferno que me abrasa e busco a paz.
➖ Irmão - replicou o confessor com toda humildade de sua alma - se procura a paz, aqui a encontrará, mas deve ajoelhar-se.

O penitente, com um gesto de soberba, respondeu:
➖ Nunca! Já lhe disse que nunca me ajoelho.
➖ Irmão - disse então o confessor com grande mansidão - compadeço-me do senhor; faça de pé a sua confissão, pois quando tiver diante dos olhos a gravidade de seus pecados, certamente se ajoelhará.
➖ Nunca! - atalhou o penitente- Ajoelhar-me? Nunca! Mil vezes lhe direi que não me ajoelho nunca!
➖ Irmão, comece então!
E começou o penitente a contar os seus pecados. 

E eram tantos e tão horríveis, que o confessor, que até então conservara os olhos baixos, levantou-os, fixou o penitente e disse-lhe com extrema bondade:
➖ Irmão, o senhor está me enganando.
➖ Não o engano.
➖ Esses pecados o senhor não pôde cometê-los.
➖ Mas eu os cometi.
➖ Para ter cometido tantos pecados seria necessário que o senhor fosse muito mais velho do moço que ainda é.
➖ Moço? Já tenho muitos séculos!
➖ Muitos séculos?
➖ Sim... muitos séculos!
➖ Quem é o senhor, afinal?
➖ Não lhe importa.
➖ De onde vem?
➖ De uma região onde não há sol.
➖ Então já adivinho quem és. Irmão, ainda há perdão e misericórdia para o senhor, mas ajoelhe-se.
➖ Nunca! Nunca me ajoelharei!
➖ Então o senhor é...
➖ Sou Satanás! E desapareceu.
Sim; há perdão para todos os pecadores. Nosso Senhor exige apenas que o pecador, reconhecendo e detestando os seus pecados, humilde e sinceramente os acuse no tribunal da penitência.

400. A MORTE NIVELA TUDO

Morreu em 1916 Francisco José, imperador da Áustria, que por muitos anos soubera conservar, sob o poderio paternal de seu cetro, muitos povos que antes viviam em contínuas guerras. O féretro foi levado à cripta da igreja dos Padres Capuchinhos de Viena, onde jazem outros reis e imperadores.

O mestre de cerimônias bateu à porta.
➖ Quem é? - perguntou do lado de dentro, segundo o cerimonial, um padre capuchinho.
Os cortesãos responderam:
➖ Francisco José, imperador e rei.
De lá de dentro a mesma voz austera do frade respondeu:
➖ Não o conheço.

Fez-se um momento de silêncio dentro da cripta. Do lado de fora, à porta, deliberavam os senhores e políticos. Bateram outra vez. E outra vez insiste de dentro o guardião daquelas tumbas:
➖ Quem é?
➖ Francisco José de Habsburgo - responderam de fora os que sustentavam em seus ombros o régio féretro.
E de novo ouviu-se a voz do frade:
➖ Não o conheço.

Fez-se mais um momento de silêncio e mais um instante de deliberação. Urgia, porém, entregar à terra aqueles restos mortais que foram ontem de homem tão grande e que hoje ninguém os queria em parte alguma. Por isso, após um instante de imponente silêncio, outra vez a voz do Capuchinho interroga:
➖ Quem é?
E aquele que respondia em nome da política e da grandeza do império austríaco, respondeu agora:
➖ Um pobre morto.
A voz serena e imutável do guardião daqueles túmulos respondeu imediatamente:
➖ Entre!

E abriram-se as portas, dando entrada ao cadáver e ali, como um pobre morto, foi enterrado o célebre imperador: Francisco José, rei e imperador da Áustria. É certo que a morte nivela tudo. De toda a grandeza, como de toda a miséria, após a morte resta apenas um cadáver que dentro em pouco não será mais do que pó e cinza.

401. O REI MIDAS

Narra a mitologia que o rei Midas, o qual era muito avarento, por ter tratado bem a Sileno, seu prisioneiro, recebeu dos deuses a grande recompensa de converter em ouro tudo quanto a sua mão tocasse. Uma bela fortuna, não é verdade? Uma fortuna?!

Fora de si de contente, aquele rei tocou seu bastão, e o bastão se converteu em ouro cintilante; tocou a parede e a parede tornou-se toda de ouro; meteu a mão na algibeira, e toda a sua veste converteu-se num bloco de ouro preciosíssimo.. .
No palácio real, tudo agora era ouro. O rei assentou-se à mesa. A sopa, apenas lhe tocou os lábios, tornou-se ouro; o pão, a carne, tudo tornava-se ouro, de modo que o rei Midas não pôde tomar alimento algum e depois de alguns dias ia morrendo de fome rodeado de ouro. Assim diz a fábula.
Mas eu vos digo, em outro sentido, que também nós possuímos um meio de converter em ouro, isto é, em mérito preciosíssimo, todas as nossas obras. Esse meio consiste em conformar sempre e em tudo a nossa vontade com a santa vontade de Deus.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

SOBRE A CONVERSÃO DOS PECADORES

Os pregadores da verdade e os ministros da graça divina, todos os que, desde o princípio até os nossos dias, cada um a seu tempo, expuseram a vontade salvífica de Deus, dizem que nada lhe é tão agradável e conforme a seu amor como a conversão dos homens a Ele com sincero arrependimento. E para dar a maior prova da bondade divina, o Verbo de Deus Pai (ou melhor, o primeiro e único sinal de sua bondade infinita), num ato de humilhação que nenhuma palavra pode explicar, num ato de condescendência para com a humanidade, dignou-se habitar no meio de nós, fazendo-se homem. E realizou, padeceu e ensinou tudo o que era necessário para que nós, seus inimigos e adversários, fôssemos reconciliados com Deus Pai e chamados de novo à felicidade eterna que havíamos perdido.

O Verbo de Deus não curou apenas as nossas enfermidades com o poder dos milagres. Tomou sobre si as nossas fraquezas, pagou a nossa dívida mediante o suplício da cruz, libertando-nos dos nossos muitos e gravíssimos pecados, como se ele fosse o culpado, quando na verdade era inocente de qualquer culpa. Além disso, com muitas palavras e exemplos, exortou-nos a imitá-lo na bondade, na compreensão e na perfeita caridade fraterna.

Por isso dizia o Senhor: 'Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão' (Lc 5,32). E também: 'Aqueles que têm saúde não precisam de médicos, mas sim os doentes' (Mt 9,12). Disse ainda que havia vindo buscar a ovelha desgarrada e que fora enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel. Do mesmo modo, pela parábola da dracma perdida, deu a entender mais veladamente que viera restaurar no homem a imagem divina que estava corrompida pelos mais repugnantes pecados. E afirmou: 'Em verdade eu vos digo, haverá mais alegria no céu por um só pecador que se converte' (cf Lc 15,7).

Por esse motivo, contou a parábola do bom samaritano: àquele homem que caíra nas mãos dos ladrões, e fora despojado de todas as vestes, maltratado e deixado semimorto, untou-lhe as feridas, tratou-as com vinho e óleo e, tendo colocado em seu jumento, deixou-o numa hospedaria para que cuidassem dele; pagou o necessário para o seu tratamento e ainda prometeu, dar na volta, o que porventura se gastasse a mais.

Mostrou-nos ainda a condescendência e bondade do pai que recebeu afetuosamente o filho pródigo que voltava, como o abraçou porque retornara arrependido, revestiu-o de novo com as insígnias de sua nobreza familiar e esqueceu todo o mal que fizera. Pela mesma razão, reconduziu ao redil a ovelhinha que se afastara das outras cem ovelhas de Deus e fora encontrada vagueando por montes e colinas. Não lhe bateu nem a ameaçou nem a extenuou de cansaço; pelo contrário, colocando-a em seus próprios ombros, cheio de compaixão, trouxe-a sã e salva para o rebanho.

E deste modo exclamou: 'Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo' (Mt 11,28-29). Ele chamava de jugo os mandamentos ou a vida segundo os preceitos evangélicos; e quanto ao peso, que pela penitência parecia ser grande e mais penoso, acrescentou: 'O meu jugo é suave e o meu fardo é leve' (Mt 11,30).

Outra vez, querendo nos ensinar a justiça e a bondade de Deus, exortava-nos com estas palavras: 'Sede santos, sede perfeitos, sede misericordiosos, como também vosso Pai celeste é misericordioso' (cf Mt 5,48; Lc 6,36). E ainda: 'Perdoai, e sereis perdoados' (Lc 6,37) e 'Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles' (Mt 7,12).

(Das Cartas de São Máximo, o Confessor)

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (III)

P.5 - Mas se um homem agir de acordo com os ditames de sua consciência e seguir exatamente a luz da razão que Deus implantou nele como guia, isso não seria suficiente para conduzi-lo à salvação?

Esta é, de fato, uma proposição aparentemente atraente; mas há uma falácia subjacente. Quando o homem foi criado, sua razão era então uma razão iluminada, esclarecida pela graça da justiça original, com a qual sua alma estava adornada. A razão e a consciência eram guias seguros para conduzi-lo ao caminho da salvação. Mas, pelo pecado, essa luz foi miseravelmente obscurecida e sua razão nublada pela ignorância e erro. Não foi, de fato, completamente extinta; ainda ensina claramente muitas grandes verdades, mas atualmente está tão influenciada pelo orgulho, paixão, preconceito e outros motivos corruptos que, em muitos casos, serve apenas para confirmar o erro, dando aparência de razão às sugestões do amor-próprio e da paixão. Isso é muito comum, mesmo nas coisas naturais; mas no sobrenatural, nas coisas que dizem respeito a Deus e à eternidade, nossa razão, se deixada por si mesma, é miseravelmente cega. Para remediar isso, Deus nos deu a luz da fé como um guia seguro para nos conduzir à salvação, designando a sua santa Igreja como guardiã e depositária dessa luz celestial; consequentemente, embora um homem possa pretender agir de acordo com a razão e a consciência, e até se iludir pensando que o faz, ainda assim, a razão e a consciência, se não estiverem iluminadas e guiadas pela verdadeira fé, jamais poderão conduzi-lo à salvação.

P.6 -  As Sagradas Escrituras fornecem alguma luz sobre este assunto?

Nada pode ser mais claro do que as palavras das Sagradas Escrituras: 'Há um caminho' - diz o sábio - 'que ao homem parece direito, mas cujo fim conduz à morte' (Pv 14,12) e isso é repetido em (Pv 16,25). O que pode ser mais claro do que isso, para mostrar que um homem pode agir de acordo com o que pensa ser a luz da razão e da consciência, persuadido de que está fazendo o que é certo, e ainda assim, na realidade, está apenas seguindo pelo caminho da perdição? E não pensam todos aqueles que são seduzidos por falsos profetas e falsos mestres que estão no caminho certo? Não é sob o pretexto de agir de acordo com a consciência que são seduzidos? E ainda assim, a própria boca da verdade declarou: 'Se o cego guiar o cego, ambos cairão na mesma cova' (Mt 15,14).

Para nos mostrar até onde pode chegar a maldade humana sob o pretexto de seguir a consciência, a mesma Verdade Eterna diz aos Seus apóstolos: 'A hora vem em que todo aquele que vos matar pensará que presta serviço a Deus' (Jo 16,2), mas observe o que Ele acrescenta: 'E farão isso porque não conhecem o Pai nem a Mim' (Jo 16,3), o que mostra que, se alguém não tem o verdadeiro conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, o qual só pode ser obtido pela verdadeira fé, não há qualquer atrocidade da qual ele não seja capaz, pensando que está agindo de acordo com a razão e a consciência. Se tivéssemos apenas a luz da razão para nos orientar, estaríamos justificados em segui-la; mas como Deus nos deu um guia externo em sua santa Igreja, para auxiliar e corrigir nossa razão cega pela luz da fé, nossa razão sozinha, sem a assistência desse guia, nunca poderá ser suficiente para a salvação.

Nada esclarecerá isso melhor do que alguns exemplos. A consciência de um pagão lhe diz que não é apenas lícito, mas um dever adorar e oferecer sacrifício a ídolos, obra das mãos dos homens. Isso o salvará, fazendo-o de acordo com sua consciência? Ou esses atos de idolatria serão inocentes ou agradáveis aos olhos de Deus, porque realizados de acordo com a consciência? Acrescente a isso Veja acima, sec. 3, nº 9, a resposta que a Palavra de Deus dá a essa questão; a isso acrescente a de um sábio, 'O ídolo feito por mãos humanas é amaldiçoado, assim como quem o fez... pois o que é feito, juntamente com quem o fez, sofrerá tormentos' (Sb 14,8.10); 'Quem sacrificar a deuses que não ao Senhor será condenado à morte' (Ex 22,19). Da mesma forma, a consciência de um judeu lhe diz que pode blasfemar contra Jesus Cristo e aprovar a conduta de seus antepassados ao matá-lo na cruz. Tal blasfêmia o salvará, porque está de acordo com os ditames de sua consciência? 

O Espírito Santo, pela boca de São Paulo, diz: 'Se alguém não ama nosso Senhor Jesus Cristo, seja anátema' ou seja, 'amaldiçoado' (1Cor 16,22). Um muçulmano é ensinado por sua consciência que seria um crime crer em Jesus Cristo e não crer em Maomé; essa consciência ímpia o salvará? As Escrituras nos asseguram que 'não há outro nome dado aos homens debaixo do céu, pelo qual possamos ser salvos', senão o nome de Jesus apenas, e 'quem não crer no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele'. Todas as várias seitas que se separaram da verdadeira Igreja, em todas as épocas, sempre caluniaram e difamaram a Igreja, falando mal da verdade por ela professada, crendo em suas consciências que isso não só era lícito, mas altamente meritório. 

As calúnias e difamações contra a Igreja de Jesus Cristo as salvarão, porque suas consciências as aprovaram? A Palavra de Deus declara: 'A nação e o reino que não a servirem perecerão' (Is 60,12) e 'assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores, que introduzirão disfar­çadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina' (2Pd 2,1). Em todos esses casos, e em casos semelhantes, a consciência é o maior crime, e mostra até que ponto a consciência e a razão podem nos levar, quando sob a influência do orgulho, paixão, preconceito e amor-próprio. Portanto, a consciência e a razão nunca podem ser guias seguros para a salvação, a menos que sejam dirigidas pela luz sagrada da verdade revelada.

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

FRASES DE SENDARIUM (XLIV)


'Apesar de conhecer toda a profundeza da misericórdia divina, admirei-me que Deus permita que a humanidade exista’

(Santa Faustina Kowalska, ao ser dada a conhecer por Jesus dos pecados cometidos pelos homens durante os dias de carnaval)

'Ó Sangue e Água, que jorrastes do Coração de Jesus, como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós!'

20 DE JANEIRO - SÃO SEBASTIÃO

São Sebastião foi um oficial romano, do alto escalão da Guarda Pretoriana do imperador Diocleciano (imperador de Roma entre 284 e 305 de nossa era e responsável pela décima e última grande perseguição do Império Romano contra o Cristianismo), que pagou com a vida sua devoção à fé cristã. Denunciado ao imperador por ser cristão e acusado de traição, foi condenado a morrer de forma especial: seu corpo foi amarrado a um tronco servindo de alvo a flechas disparadas por diferentes arqueiros africanos.

Primeiro Martírio: São Sebastião flechado

Abandonado pelos algozes que o julgavam morto, foi socorrido e curado e, de forma incisiva, reafirmou a sua convicção cristã numa reaparição ao próprio imperador. Sob o assombro de vê-lo ainda vivo, São Sebastião foi condenado uma vez mais sendo, nesta sua segunda flagelação, brutalmente açoitado e espancado até a morte. O seu corpo foi atirado num canal de esgotos, de onde foi depois retirado e levado até as catacumbas romanas. Suas relíquias estão preservadas na Basílica de São Sebastião, na Via Apia, em Roma. É venerado por toda a cristandade como modelo de vida cristã, mártir da Igreja e defensor da fé e padroeiro de diversas cidades brasileiras, incluindo-se o Rio de Janeiro. Sua festa é comemorada a 20 de janeiro, data de sua morte no ano 304.

Segundo Martírio: São Sebastião espancado até a morte

domingo, 19 de janeiro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Cantai ao Senhor Deus um canto novo, manifestai os seus prodígios entre os povos!' (Sl 95)

Primeira Leitura (Is 62,1-5) - Segunda Leitura (1Cor 12,4-11) -  Evangelho (Jo 2,1-11)

  19/01/2025 - SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM 

FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER 


Neste segundo domingo do tempo comum, estamos com Jesus e Maria nas bodas de Caná. Não sabemos detalhes do evento, os nomes dos noivos ou do mestre de cerimônia, o tempo da celebração. Mas a presença de Jesus e de Maria naquela ocasião em Caná da Galileia são o testemunho vivo da santidade e das graças associadas àquela união matrimonial. Muitos teólogos manifestam inclusive que foi, neste enlace de santa vocação e harmonia, que Jesus elevou o casamento à condição de sacramento, imagem de suas núpcias eternas com a Santa Igreja.

E o vinho veio a faltar. Nossa Senhora tem a clara percepção da situação constrangedora e aflitiva dos noivos e de suas famílias, porque faltou o vinho. É a Mãe que roga, que intercede, que suplica ao Filho Amado: 'Eles não têm mais vinho' (Jo 2, 3). Medianeira e intercessora de nossas aflições e angústias, de Caná até os confins da terra, Nossa Senhora leva a Jesus as súplicas de todos os seus filhos e filhas de todos os tempos. É ela que nos abre as portas da manifestação da glória de Jesus para a definitiva aliança dos céus com a humanidade pecadora, mediante a sua súplica de Mãe face à angústia humana: 'Fazei tudo o que Ele vos disser' (Jo 2,5).

E eis que havia ali seis talhas de pedra, que foram 'enchidas até a boca' (Jo 2,7). E a água se fez vinho, nas mãos do Salvador. Da angústia, faz-se a alegria; da aflição, tem-se o júbilo; da ansiedade, nasce o alívio e a serenidade. Alegria, júbilo, alívio e serenidade que são os doces frutos da plena santificação. Este vinho nos traz a libertação do pecado e nos coloca nas sendas do céu, pois nos deleita com as graças da virtude, do santo juízo, da sabedoria de Deus. Mas nos cabe encher nossas talhas de água até a boca, prover os nossos corações do mais pleno amor humano, para que a santificação de nossas almas seja completa no coração de Deus.

'Este foi o o início dos sinais de Jesus' (Jo 2,11). Em Caná da Galileia e por Maria, mais que o primeiro milagre, a glória de Jesus foi manifesta à humanidade pecadora. O firme propósito pessoal em busca da virtude e da superação das nossas vicissitudes humanas é a água que será transformada no vinho pela graça e pela misericórdia de Deus em nossos corações aflitos e inquietos, enquanto não repousados na glória eterna. Enchei, portanto, as vossas talhas de água e fazei tudo o que Ele vos disser, com a intercessão de Maria. Eis aí a pequena e a grande via em direção ao Coração de Deus, que nos foi legada um dia em Caná da Galileia.

sábado, 18 de janeiro de 2025

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XVI)


69. A verdadeira razão pela qual Deus concede tantas graças aos humildes é que os humildes são fiéis a essas graças e fazem bom uso delas. Eles as recebem de Deus e as utilizam de maneira agradável a Ele, dando toda a glória a Deus sem reter nada para si mesmos. Isso é como o mordomo fiel que não se apropria de nada que pertença ao seu mestre; e assim merece o louvor e a recompensa dados ao servo fiel mencionado no Evangelho: 'Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito' [Mt 25,21].

Ó minha alma, como te colocas em relação a esta fidelidade para com Deus? Não és como aqueles servos a quem o mestre diariamente confia dinheiro para comprar uma coisa, agora outra, e que cada vez retêm uma pequena moeda para si mesmos, até que, pouco a pouco, tornam-se servos infiéis e grandes ladrões? De igual forma, o nosso orgulho nos torna servos infiéis quando atribuímos a nós mesmos o louvor que é devido apenas a um dom que nos foi confiado por Deus e que deve ser atribuído incondicionalmente a Ele.

Ó Senhor, embora vedes todos os meus furtos, fico maravilhado de que ainda confieis em mim! Considerando minha infidelidade, não sou digno da menor graça, mas fazei-me humilde e eu também serei fiel. É certamente verdade que quem é humilde também é fiel a Deus; porque o homem humilde também é justo em dar a todos o que lhes é devido, e acima de tudo, em render a Deus as coisas que são de Deus, ou seja, em dar-lhe a glória por todo o bem que ele é, todo o bem que tem e por todo o bem que faz; como diz o Venerável Beda: 'Todo o bem que vemos em nós devemos atribuí-lo a Deus e não a nós mesmos' [apud D. Th. in Cat. to 5]. 

70. Agradecer a Deus por todas as bênçãos que recebemos e continuamos a receber é um excelente meio de exercitar a humildade porque, pelo agradecimento, aprendemos a reconhecer o Supremo Doador de todo bem: e por isso é necessário que estejamos sempre humildes diante de Deus. São Paulo nos exorta a render graças por todas as coisas e em todos os tempos: 'Em tudo dai graças' [1 Ts 5,18] e 'dando graças sempre por tudo' [Ef 5, 20]. Mas para que nosso agradecimento seja um ato de humildade, não deve apenas vir dos lábios, mas do coração, com uma firme convicção de que todo o bem nos chega pela infinita misericórdia de Deus. 

Olha para um mendigo que recebeu um considerável presente de um homem rico, com que calor ele deve expressar a sua gratidão! Ele está espantado de que o homem rico tenha se dignado a lhe conceder um presente, protestando que não é digno disso, e que o recebe, não por seu mérito, mas pela nobre bondade do doador, a quem sempre será eternamente grato. Ele fala com o coração porque conhece sua própria miserável condição de pobreza e a benigna condescendência do homem rico. E não deve nosso agradecimento a Deus ser menos do que o agradecimento que se dá de homem para homem? Quando um homem pode assim agradecer outro, não devemos nos envergonhar de que haja homens que sintam mais humildade de coração em relação aos seus semelhantes do que nós em relação a Deus?

Ó meu Deus, agradeço-vos de todo o meu coração por estas bênçãos que recebi somente por vossa bondade, que não mereci e pelas quais nunca vos dei graças até agora! Foi por orgulho que deixei de vos dar as graças que vos são devidas, e é por orgulho que desfrutei de todos os vossos dons como se não os tivesse recebido de vossas mãos. Detesto o meu orgulho, e com a vossa ajuda, lembrarei de vos dar graças sempre e por tudo: 'Bendirei ao Senhor em todo o tempo' [Sl 33,1]; louvar, bendizer e agradecer-vos por todas as vossas misericórdias para todo o sempre: 'As misericórdias do Senhor cantarei para sempre' [Sl 88,1].

71. O ponto importante é que o nosso coração seja humilde, porque é isso que Cristo busca em nós acima de todas as coisas. É inútil consertar a armação e os ponteiros de um relógio, a menos que também ajustemos as engrenagens e os mecanismos, e da mesma forma é inútil, para qualquer um ser modesto na vestimenta e na postura, se não houver verdadeira humildade no coração. Devemos aplicar os ensinamentos de nosso Salvador a nós mesmos: 'Tu, fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que o exterior também se torne limpo' [Mt 23,26] e aprender com o ensino de São Tomás que 'da nossa disposição interior de humildade procedem sinais em palavras, atos e maneira, pelos quais se manifesta externamente o que está no nosso interior' [2a 2æ, qu. clxi, art. 6].

Admiro a verdade do que tantas vezes se repete nas Sagradas Escrituras, que a humildade é um dom especial de Deus, e que ninguém pode possuí-la por si mesmo, 'a menos que Deus a conceda' [Sb 8,21] mas no tribunal de Deus não haverá desculpas para nós por não termos possuído a humildade, pois nos foi ensinado que poderíamos obtê-la por meio de oração perseverante e, se não usarmos esse meio para obtê-la, será nossa culpa por não termos pedido a Deus por ela, e portanto nossa culpa por não a termos obtido. Nosso Salvador em seu Evangelho diz: 'Pedi e recebereis' [Jo 16,24]. Se desejais algo de Mim, pedi e sereis ouvidos. E pode essa virtude nos custar menos do que o simples esforço de pedi-la a Deus com grande insistência? Portanto, não devemos cessar de pedi-la e, pelo próprio método de obtê-la, nossos corações, nossos olhares, nossas palavras, nossos movimentos, nossa postura e até mesmo nossos pensamentos serão humildes: 'Porque é do coração que saem os pensamentos' [Mt 15,19].

72. Muitas vezes lamentamos não conseguir orar devido às muitas distrações que dificultam nosso recolhimento e secam a fonte de devoção em nossos corações, mas nisso erramos e não sabemos o que estamos dizendo. A melhor oração não é aquela em que estamos mais recolhidos e fervorosos, mas aquela em que somos mais humildes, porque está escrito: 'A oração daquele que se humilha penetrará as nuvens' [Eclo 35,21]. E que distrações de mente e coração podem impedir o exercício da humildade? É precisamente nesses momentos em que nos sentimos irritados e mornos que devemos mostrar nossa humildade. E como? Dizendo: 'Ó Senhor, não sou digno de permanecer aqui falando contigo tão confidencialmente, não mereço a graça da oração, pois é um dom especial que Vós concedestes àqueles que são caros a Vós. Basta-me ser vosso servo, afastando minhas distrações como se afastam as moscas. Pois as moscas não voam em torno da água fervente, mas apenas em torno da água morna, e todas essas distrações surgem da minha grande tibieza. 

Que oração excelente seria essa! Assim orou Josué, e o Senhor ouviu sua oração: 'Tu te humilhaste diante de Deus; e eu também te ouvi, diz o Senhor' [2Cr 34,27]. Assim orou o Rei Davi também na angústia de sua alma e foi livrado: 'Eu me humilhei e Ele me livrou' [Sl 114,6]. Quanto mais a alma se exalta e se deleita em sua própria meditação, mais Deus se exalta acima dessa alma e se mantém distante dela. 'O homem virá de todo coração e haveis de me encontrar' [Jr 29,13]. Desejamos que Deus, em sua misericórdia, se aproxime de nós? Humilhemos-nos. 'Queres que Deus se aproxime de ti?' - diz Santo Agostinho - 'humilha-te, pois quanto mais te elevas, mais Ele estará acima de ti' [Enarr. in Ps. cxli].

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (I)


Ícone de Maria, a Theotokos ('Mãe de Deus' ou literalmente 'Portadora de Deus'). Maria é mostrada em trajes típicos das mulheres judias à época, em cor vermelha, a cor da divindade, segurando o Menino Jesus. A palavra em grego sobre seu ombro direito a identifica como 'guia'. Seu olhar é dirigido a nós, pobres pecadores, mas sua mão direita nos guia em direção ao seu Filho Jesus Cristo (identificado pelas letras IC XC), fonte de todas as graças, que nos abençoa com a mão direita e que, com a mão esquerda, segura um pergaminho, símbolo da sabedoria divina.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

GUARDAI EM VÓS O SANTO TEMOR DE DEUS!

'Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.

Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação.

Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.

Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais; vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa.

Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos será fonte de alegria. Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz.

Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido. Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada? Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia da aflição. Ele é o protetor de todos os que verdadeiramente o procuram. 

Ai do coração fingido, dos lábios perversos, das mãos malfazejas, do pecador que leva na terra uma vida de duplicidade; ai dos corações tímidos que não confiam em Deus, e que Deus, por essa razão, não protege; ai daqueles que perderam a paciência, que saíram do caminho reto, e se transviaram nos maus caminhos.

Que farão eles quando o Senhor começar o exame? Aqueles que temem o Senhor não são incrédulos à sua palavra, e os que o amam permanecem em sua vereda. Aqueles que temem o Senhor procuram agradar-lhe, aqueles que o amam satisfazem-se na sua Lei. Aqueles que temem o Senhor preparam o coração, santificam suas almas na presença dele.

Aqueles que temem o Senhor guardam os seus mandamentos, têm paciência até que ele lance os olhos sobre eles, dizendo: Se não fizermos penitência, cairemos nas mãos do Senhor, e não nas mãos dos homens, pois a misericórdia dele está na medida de sua grandeza'.

(Eclesástico, 2)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Quem não reconhecerá que justamente nós afirmamos que Maria, assídua companheira de Jesus, desde a casa de Nazaré até ao Calvário, iniciada mais do que qualquer outro nos segredos do seu Coração, dispensadora, por direito de Mãe, de todos os tesouros dos seus méritos, é por tudo isso ajuda ainda mais segura e eficaz para chegar ao conhecimento e amor de Cristo? Prova evidente disso, nos dão infelizmente, com sua conduta deplorável, aqueles homens que, seduzidos pelos artifícios do demônio ou enganados por falsas doutrinas,creem poder dispensar o socorro da Virgem. Miseráveis e infelizes, transcuram Maria com a desculpa de renderem honra somente a Cristo! Ignoram que não se pode encontrar o Menino senão por Maria, sua Mãe'.  

(São Pio X)