CONVERSÃO
Ai de mim que ando distraído
sem saber onde minha alma está
Ando comprando rumores e vertigens
a preço vil na mundana e louca lida
e desconheço as coisas que os anjos falam
no silêncio das noites que não me acalentam mais.
Tem um ai em mim que dói a cada passo
que causa espanto ao andarilho que me assombra
que tenta me convencer dois passos atrás
quando eu só enxergo o que vejo longe...
Que mortalha é essa que me pesa os ombros
e estas correntes que me prendem as mãos?
Ai de mim que não encontro salmos
nem as orações que minha mãe fazia
tem um perfume que ainda me acompanha
daquelas rosas aos pés da Senhora dela
que eram só delas porque de tão esquecidas
na verdade nunca foram minhas.
Esse ai me dói nos joelhos e dentro do peito
como uma cicatriz que transpõe meus membros
aquele verniz de felicidade sem fartura
é minha máscara que se mostra mais querida
comungo as sandices destes homens
que creem que são deuses de si mesmos...
Ai de mim que insisto em não ter tempo
para assombrar as masmorras do meu peito
e me deleito em usufruir das sombras
que esmagam o que pensei nunca ter sido
Ó luz difusa, erma, e docemente amarga,
onde eu posso beber o cálice da água viva?
Esse ai sacode e inquieta meu coração selvagem
e sopra em meus ouvidos o cântico dos cânticos
e já não sou eu que vivo agora em mim.
Ó luz bendita, bendita luz que me ilumina,
imola a minha dor aos pés da Cruz bendita
e toma minha alma como posse Senhora minha!
(Arcos de Pilares)




