quinta-feira, 30 de outubro de 2025

A ETERNIDADE DE DEUS


'O que é o tempo de Deus?' Aqueles que isto perguntam ainda não te compreendem, ó sabedoria de Deus (Ef 3,10), ó luz das mentes - ainda não compreendem como são feitas as coisas que por meio de ti e em ti são feitas, e esforçam-se por saborear as realidades eternas, mas o seu coração esvoaça ainda nos movimentos passados e futuros das coisas, continuando vazio (Sl 5,10). 

Quem poderá deter o tempo e fixá-lo, a fim de que ele pare e por um momento capte o esplendor da eternidade sempre fixa, e a compare com os tempos nunca fixos, e veja que a eternidade é incomparável, e veja que um longo tempo não é longo senão a partir de muitos momentos que passam e não podem alongar-se simultaneamente; veja, pelo contrário, que, no que é eterno, nada é passado, mas tudo é presente, enquanto nenhum tempo é todo ele presente: e veja que todo o passado é obrigado a recuar a partir do futuro, e que todo o futuro se segue a partir de um passado, e que todo o passado e futuro são criados e derivam daquilo que é sempre presente? Quem poderá deter o coração do homem, a ponto de ele parar e ver como a eternidade, que é fixa, nem futura nem passada, determina os tempos futuros e passados? Será que, porventura, a minha mão consegue (Gn 31,29) isto, ou que a minha boca, que se manifesta falando, realiza tão grande intento?

E tu não precedes os tempos com o tempo: se assim fosse, não precederias todos os tempos. Mas precedes todos os passados com a grandeza da tua eternidade sempre presente, e superas todos os futuros porque eles são futuros, e quando eles chegarem, serão passado; tu, porém, és o mesmo e os teus anos não têm fim (Sl 101,28; Hb 1,12). Os teus anos não vão nem vêm: os nossos vão e vêm, para que todos venham. Os teus anos existem todos ao mesmo tempo, porque não passam, e os que vão não são excluídos pelos que vêm, porque não passam: enquanto os nossos só existirão todos, quando todos não existirem. 

Os teus anos são um só dia (Sl 89,4; 2Pe 3,8) e o teu dia não é todos os dias, mas um ‘hoje’, porque o teu dia de hoje não antecede o de amanhã; pois não sucede ao de ontem. O teu hoje é a eternidade: por isso, geraste co-eterno contigo aquele a quem disseste: 'Eu hoje te gerei' (Sl 2,7; At 13,33; Hb 1,5; 5,5). Tu fizeste todos os tempos e tu és antes de todos os tempos, e não houve tempo algum em que não havia tempo.

(Do Livro das Confissões, de Santo Agostinho)

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

SOBRE A ORAÇÃO DO ROSÁRIO


'Não vislumbro meio mais poderoso para atrair sobre nós o Reino de Deus, a Sabedoria Eterna, do que unir a oração vocal à oração mental, rezando o Santo Rosário e meditando sobre seus Mistérios'
(São Luís Maria Grignion de Montfort)

'Assim como o pão é necessário para o corpo, o Santo Rosário o é para a saúde da alma' 
(São João Bosco) 

'Ame a Virgem e faça com que ela seja amada. Reze sempre o Rosário!' 

(São Pio de Pietrelcina)

'O Santo Rosário possui todo o mérito da oração vocal e toda a virtude da oração mental' 

(Santa Rosa de Lima)

'Depois da missa, a devoção do Rosário faz cair sobre as almas mais graças que qualquer outra; e, pelas Ave-Marias, opera-se muitos mais milagres que qualquer outra oração'
(São Vicente de Paulo)

'Se quiserdes que a paz reine em vossas famílias e em vossa Pátria, rezai todos os dias, em família, o Santo Rosário'
(São Pio X)

'Felizes as pessoas que rezam bem o Santo Rosário, porque Maria Santíssima lhes obterá graças na vida, graças na hora da morte e glória no Céu'

(Santo Antônio Maria Claret)

terça-feira, 28 de outubro de 2025

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XLIII/Final)

 

149. A vaidade consiste em um apetite desmedido por elogios e no desejo de que nossos méritos brilhem com glória, e essa glória pode ser considerada vaidosa e perversa de três maneiras diferentes.

Primeiro, quando buscamos ser elogiados por uma virtude ou qualquer outro dom do corpo ou da alma que não possuímos, ou então por alguma posse frágil e transitória que não é digna de elogios, como saúde, beleza e outros dons do corpo, riquezas, pompa e outros bens que são chamados de dons da fortuna. Segundo, quando, ao buscar elogios, valorizamos a estima e a aprovação de alguém cujo julgamento não é confiável. Em terceiro lugar, quando não usamos esse elogio para a honra de Deus ou para o bem do próximo, e isso é sempre pecar contra os ditames da Sagrada Escritura: 'Não nos tornemos desejosos de vaidade' [Fl 2,3] e pode ser um pecado mortal quando buscamos ser elogiados por algum mal que fizemos ou temos a intenção de fazer, ou por algum outro mal que nunca fizemos e não pensamos em fazer, ou ainda aceitar elogios por um bem que não fizemos e que queremos que os outros acreditem que fizemos; também pode ser um pecado mortal se fizermos o bem apenas por respeito humano, com a intenção de sermos vistos e elogiados.

Em resumo, este é sempre um pecado muito perigoso, não tanto por sua gravidade, mas por suas graves consequências e porque impede a alma de receber a ajuda da graça e a dispõe a vários pecados mortais: 'Diz-se que a vaidade é um pecado perigoso, não tanto por causa de sua gravidade, mas porque é uma disposição para pecados graves, na medida em que gradualmente dispõe o homem à perda de todo o bem interior' [D.Th. 2a 2æ,qu. cxxxii, art. 3].

Aquele que sofre de vaidade corre o risco de perder também a sua fé, de acordo com as palavras de Cristo: 'Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?' [Jo 5,44]. Santo Agostinho, refletindo sobre isto e sobre o quão pouco se conhece este grande mal, afirma que ninguém é mais sábio do que aquele que sabe que este amor pelo louvor é um vício: 'Vê melhor aquele que vê que o amor pelo louvor é um vício' [Lib. 5, De Civ. Dei., cap. xiii ]; ver também São Tomás [2a 2æ, qu. xxi, art. 4; et qu cccv, art. 1; et qu. cxxxi, per tot.; et qu. clxxviii, art. 2].

150. A vaidade é um vício pelo qual o homem, desejando ser supremamente honrado acima de todos os outros, começa a elogiar e exaltar a si mesmo, exagerando e ampliando as coisas de modo a fazer com que seu próprio mérito pareça maior do que é. Também é chamada de ostentação, autoelogio ou atrevimento; e Santo Agostinho a chama de 'a pior de todas as pragas' [Lib. 1 De Ord. cap. xi] e Santo Ambrósio a chama de rede lançada pelo diabo para capturar os mais fortes e espirituais: 'O diabo lança armadilhas que prendem os mais fortes' [Lib. in Luc.]. Este é um vício que não tem medida porque, ao nos vangloriarmos do que não temos, mentimos à nossa própria consciência e a Deus; e como Deus disse de Moab pelo profeta: 'Conheço-lhe a presunção – oráculo do Senhor – a jactância e a vaidade' [Jr 48,30].

Pode ser um pecado mortal quando nos gabamos de algum pecado que cometemos; quando nos elogiamos, desprezando os outros; ou ainda quando nos elogiamos e exaltamos por meio de um excesso de orgulho que nos inunda o coração. O Doutor Angélico observa que este é um caso comum e não raro, e que o hábito é facilmente formado [2a 2æ, qu. lxii, art. 1. Ver também 2a 2æ, qu. cx, art. 2; qu. cxii, art. 1; et qu. cxxxii, art. 5 ad 1; et qu. clxii, art. 4 ad 2].

151. A hipocrisia é um vício pelo qual fingimos demonstrar externamente uma virtude e uma santidade que não possuímos; e é realmente hipócrita aquele que, estando cheio de maldade por dentro, finge ser bom na sua aparência exterior.

Não há vício contra o qual Jesus Cristo tenha protestado tanto em seu Evangelho quanto contra este [Mt 6, Mt 7, Mt 15, Mt 21], condenando-o com oito gritos de 'Ai de vós', que são oito maldições. E São Gregório observa que os hipócritas, cegos pelo orgulho e endurecidos em seus pecados, geralmente morrem impenitentes, sem nunca terem sido iluminados, por uma razão que talvez tenha sido tirada de São Pedro Crisólogo, porque, embora possamos ver que os remédios para a correção de outros vícios fazem bem, a doença da hipocrisia é tão pestilenta que afeta os próprios remédios, de modo que eles só servem para fomentar e aumentar o mal. 'Irmãos' - diz o santo - 'essa pestilência deve ser evitada, pois transforma remédios em doenças, medicamentos em enfermidades, santidade em vício, piedade em pecado'.

A hipocrisia é sempre um pecado mortal quando fingimos ser espirituais e santos e tentamos parecer assim, quando não o somos no coração, preocupando-nos mais com a opinião dos homens do que com a opinião de Deus; e é ainda pior quando afetamos santidade para promover nosso próprio avanço e adquirir crédito para alcançar e praticar o mal; ou então para obter alguma honra ou outro bem temporal.

Dessa forma, também pecamos gravemente por hipocrisia quando nos mostramos muito escrupulosos com obras ou com certas observâncias minuciosas, sem temer, ao mesmo tempo, transgredir os deveres essenciais da religião e do nosso próprio estado de vida, 'tendo abandonado as coisas mais importantes da lei', como aqueles escribas e fariseus que Cristo repreendeu, dizendo que 'filtram um mosquito e engolem um camelo' [Mt 23, 24]. Também quando, em todas as funções relacionadas com o serviço de Deus, fingimos ter uma intenção pura quando não a temos: 'E procuramos agradar não a Deus, mas aos homens; não a conversão, mas o favor do povo' [D. Th. 2a 2æ, qu. lxi, art. 2].

Os Padres da Igreja geralmente chamam a hipocrisia de perversidade, iniquidade, impiedade; e é fácil não apenas cair nesse pecado, mas também acostumar-se tanto a ele que nos leva ao ateísmo. Muitas vezes começamos servindo a Deus com um certo grau de fervor sagrado, mas quando este diminui, deixamos de servir a Deus e apenas fingimos servi-lo para manter as aparências: 'Ai de vós, hipócritas!' [São Tomás, 2a 2æ, qu. xi, per tot.].

152. A desobediência é um pecado pelo qual violamos a ordem de nossos superiores, tratando-os com desprezo, e pode ser um pecado mortal mesmo em pequenas coisas; porque, como diz São Bernardo, não devemos considerar a natureza da coisa ordenada nem a simples transgressão do preceito, mas o orgulho da vontade que não se submete quando deveria: 'Não é a simples transgressão do desejo, mas a contenda orgulhosa da vontade que cria a desobediência criminosa' [Lib. de Præcept et Dispens., cap xi] e a gravidade do pecado pode ser julgada sob três aspectos diferentes.

Primeiro, a posição do superior, porque quanto mais elevada for a posição de quem ordena, mais grave é a desobediência. É um pecado maior desobedecer a Deus do que desobedecer ao homem, um pecado maior desobedecer ao papa do que a um bispo, ou a um pai e a uma mãe do que a outros parentes; e é também um pecado maior desobedecer com desprezo pela pessoa que ordena do que apenas com desprezo pelo mandamento.

Em segundo lugar, em relação à natureza das coisas ordenadas, porque quando estas são de maior importância, especialmente nas leis de Deus, a desobediência é maior; portanto, é um pecado mais grave desobedecer aos preceitos que impõem o amor a Deus do que aqueles que nos ordenam amar o próximo.

Em terceiro lugar, no que diz respeito à forma da ordem, pela qual o superior expressa sua intenção de que deseja ser obedecido em tal ou tal assunto, mas é principalmente o orgulho que agrava a desobediência, pois a vontade se recusa a se submeter como deveria à lei divina [São Tomás, 2a 2æ, qu. lxix, art. 1; et qu. cv per tot.].

153. A discórdia é uma discrepância da vontade que a impede de se conformar à vontade de Deus em assuntos em que deveria se conformar para a glória de Deus e o bem do próximo; e é um pecado grave, porque São Paulo os inclui entre os pecados que excluem aqueles que os cometem do reino dos Céus [Gl 5,20]. E Deus declara seu ódio e repulsa por todos aqueles que disseminam discórdia entre seus pares [Pv 6,9]. As dissensões geralmente surgem do orgulho, que nos leva a nos superestimar e a colocar nosso próprio bem-estar e opiniões contra os dos outros, e disso surgem as brigas, litígios, obstinação, calúnias, facções, ódio, contendas e muitos outros males sem número e sem fim [São Tomás 22, qu. xxxvii, art. 1 et 2; et qu. xxxviii, art. 2; et qu. cxxxii, art. 5].

Recolha-se, pois, interiormente, examine-se e, tendo constatado que, sob um ou outro destes títulos, o orgulho realmente o domina, julgue quão necessário é lutar contra ele com humildade, porque, se o orgulho for vencido, uma série de outros pecados também serão vencidos. E, para se dar coragem, lembre-se disto: perante o tribunal de Deus, os orgulhosos serão condenados, e somente os humildes podem esperar encontrar misericórdia. Dizer que somos humildes é o mesmo que dizer que estamos entre os eleitos e seremos salvos; e dizer que somos orgulhosos é o mesmo que dizer que somos réprobos e perdidos, como afirma São Gregório: 'O orgulho é um sinal certo dos réprobos, assim como a humildade é o sinal dos eleitos' [Hom. 7 in Evang.; et lib. 3, Mor. cap xviii].

E, assim, concluímos esse trabalho. Louvado seja Jesus Cristo!

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

OS 10 PILARES DA DOUTRINA CATÓLICA


🕊️ 1. Amor a Deus e ao próximo

'Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo'
— Mateus 22,37-39

👉 Orientação: A base de toda vida católica é o amor a Deus e ao próximo. Tudo deve derivar desse duplo mandamento.

🙏 2. A importância da oração

'Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o que está escondido, te recompensará'.
— Mateus 6,6

'Pai nosso que estais nos céus…'
— Mateus 6,9-13

👉 Orientação: O cristão é chamado a ter uma vida de oração pessoal e confiante, em intimidade com o Pai.

💞 3. A misericórdia e o perdão

'Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso'.
— Lucas 6,36

'Perdoai, e sereis perdoados'.
— Lucas 6,37

'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete'.
— Mateus 18,22

👉 Orientação: O católico é chamado a perdoar sem limites e a viver a compaixão como reflexo do amor divino.

💧 4. A humildade e o serviço

'Quem quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo'.
— Mateus 20,26

'Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração'.
— Mateus 11,29

👉 Orientação: A verdadeira grandeza está no serviço e na humildade - valores centrais da vida cristã.

🕊️ 5. As Bem-aventuranças (caminho da santidade)

'Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus'.
— Mateus 5,3-12

👉 Orientação: As Bem-aventuranças são o 'retrato' do discípulo de Cristo, que indicam o caminho da felicidade e da santidade.

🕯️ 6. A fé e a confiança em Deus

'Não andeis preocupados com a vossa vida... Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo'.
— Mateus 6,25-33

👉 Orientação: O católico é chamado a confiar na providência de Deus, sem se deixar dominar pela ansiedade.

🍞 7. A Eucaristia e a comunhão com Cristo

'Eu sou o pão vivo que desceu do céu; quem comer deste pão viverá eternamente'.
— João 6,51

👉 Orientação: Jesus institui a Eucaristia como fonte de vida espiritual e centro da vida sacramental católica.

✝️ 8. Tomar a cruz e seguir Jesus

'Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me'.
— Mateus 16,24

👉 Orientação: A vida cristã inclui sacrifício e fidelidade; seguir Cristo implica carregar a cruz com amor.

🌍 9. Ser luz e sal do mundo

'Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo'.
— Mateus 5,13-14

👉 Orientação: O católico é chamado a testemunhar a fé com a própria vida, sendo exemplo e esperança no mundo.

💗 10. Ter Nossa Senhora como Mãe

'Eis aí tua mãe'
— João 19,27

👉 Orientação: Amar Nossa Senhora como nossa mãe, e como ela amou e sob a sua intercessão, amar Jesus de todo o coração, com amor sacrificial e despojado de interesses.

domingo, 26 de outubro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'O pobre clama a Deus e Ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos(Sl 33)

Primeira Leitura (Eclo 35,15b-17.20-22a) - Segunda Leitura (2Tm 4,6-8.16-18) -  Evangelho (Lc 18,9-14)

  26/10/2025 - TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O VALOR DA ORAÇÃO HUMILDE


Jesus falou muitas vezes sobre o valor da oração. Do valor da oração humilde e confiante, pautada no arrependimento sincero e na dor pelos pecados cometidos. Falou sobre a necessidade de orar sempre, com contrição e perseverança nas súplicas dirigidas à Divina Misericórdia. Mas, todas as vezes que Jesus falou sobre a oração, destacou sempre a premissa essencial do seu valor e ponderação: a humildade. A oração humilde é tangida pela Verdade porque emana da gratuidade da vida em comunhão com Deus.

No Evangelho deste domingo, outros dois personagens são trazidos à realidade das digressões humanas: um fariseu e um cobrador de impostos. Investidos de suas atribuições cotidianas, são apenas homens cumprindo metas e obrigações. Diante de Deus, duas almas, fruto de escolhas singulares da Infinita Sabedoria. Na vida de ambos, certamente o fariseu parecia ter escolhido a melhor parte, pelo menos até o dia em que ambos, vivendo vidas tão opostas, 'subiram ao Templo para rezar' (Lc 18, 10).

E ali, diante de Deus, as realidades humanas se consumiram no nada. O fariseu, eivado de orgulho e auto-suficiência, proferiu a oração despropositada e inútil: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’ (Lc 18, 11-12). No ato desonesto de louvar a si mesmo com desmedida jactância e julgar o próximo pela ótica dos valores humanos, arruinou a própria súplica. O cobrador de impostos, ao contrário, sabedor de suas fraquezas e misérias, prostrou-se em humilde recato e contrição, na sua súplica por clemência e perdão: 'Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' (Lc 18,13).

O primeiro homem se viu em luz, e se banhou com desmedido orgulho nesta própria luz, mortiça e inútil, forjada tão somente por ações humanas. E saiu do templo com a concessão irrisória das alegrias humanas. O segundo homem, porém, apagou primeiro em si toda vaidade e interesses profanos e mergulhou, com inteira confiança e despojamento, na luz de Cristo. E, iluminado pela graça de Deus, alcançou misericórdia e experimentou a consoladora e definitiva paz daqueles que são plenamente justificados em Cristo: 'Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado' (Lc 18, 14).

sábado, 25 de outubro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (IX)

(Ícone de São Nicolau  - bispo grego do século IV)

No ícone de figuras bíblicas ou religiosas, consta sempre o nome impresso da pessoa retratada, não apenas para a sua identificação, mas também como um selo de santidade e bênção. Os santos são identificados por suas vestimentas, objetos em suas mãos e idade. Os Evangelistas usam túnicas e exibem seus livros. Bispos estão vestidos com paramentos litúrgicos, segurando um livro ou pergaminho, enquanto monges são retratados com seus hábitos religiosos em poses rígidas. Soldados podem estar em uma posição que expressa ação, portando armas ou vestidos com uniforme militar. Profetas, santos, bispos e monges são retratados sempre em idade bem avançada, enquanto soldados e mulheres são jovens. As mulheres, em geral, tendem a não ser identificadas de imediato, a não ser pelo nome escrito no ícone. 

Por outro lado, a cor, como expressão das nuances da luz, é muito simbólica na iconografia: 

➤ dourado: cor do sol do meio-dia, é a expressão da luz divina que permeia todo o mundo transfigurado, sendo a cor do próprio Cristo. É mais comumente usado como fundo de um ícone, representando um espaço que define o portador como estando além dos domínios deste mundo.

➤ branco: representa a luz, a pureza, a eternidade, Deus Pai e todos aqueles incensados pelas graças divinas.

➤ azul: é a cor que representa a fé, a humildade, a transcendência e os mistérios da vida divina. O azul e o branco são as cores da Virgem Maria, que está desapegada deste mundo e centrada no divino. 

➤ vermelho: é a cor com a maior variedade de significados e interpretações; é a cor do Espírito Santo, do sacrifício e do martírio, do amor e da beleza; pode também expressar o inferno, o ódio, as guerras e todo tipo de conflito e tribulação.

➤ verde: cor associada às manifestações espirituais e proféticas, sendo frequentemente usada para caracterizar João Batista e os profetas.

➤ amarelo: cor representativa da verdade (amarelo vivo) e também de eventos associados a atos de orgulho ou traição (comumente em tons mais claros).

➤ roxo: símbolo da natureza real e do sacerdócio.

➤ marrom: cor associada à terra, à pobreza e ao despojamento, ao recolhimento e hábitos dos monges.

➤ preto: negação da luz e das graças divinas; cor associada à morte, aos réprobros e aos demônios.