sábado, 29 de novembro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (61/64)

 

61. FILHOS PREFERIDOS

Os pais não deveriam esquecer-se desta regra de ouro: tratar todos os filhos por igual, sem distinções que denotem predileção ou antipatia. O seguinte exemplo é da Sagrada Escritura.

Jacó tinha doze filhos. O pai amava aos filhos, os filhos ao pai, e os irmãos amavam-se mutuamente. Mas José foi crescendo, e Jacó 'amava mais a José que a todos os outros filhos, porque era o filho de sua velhice'. A essa altura muda-se a cena. A paz converteu-se em discórdia, o amor em ódio, a fraternidade em inveja, o sangue em vingança. Faltou a paz na família, porque faltou a igualdade no pai. A igualdade fomentava o amor; a desigualdade de trato motivou a discórdia.

Em que consistia aquela desigualdade e qual a diferença de tratamento? Que é que fez Jacó? Porventura deserdou aos outros para que José fosse o único herdeiro? Nada disso! Porventura tratava aos demais como escravos e só a José como filho? Nada disso! Pois, então, que foi que perturbou aquela paz bendita? Somente isto: Jacó fizera para José uma túnica de cores mais lindas do que para os outros filhos. Esse foi o principio da discórdia.

Notai bem: Não despiu aos outros para vestir a José. A todos provia, a todos vestia. Mas a túnica de José, por suas variegadas cores, era mais vistosa, e isso bastou. Surgiu a discórdia ou, melhor, a inveja, e um dia aquela túnica se viu manchada de sangue. José estaria morto pelas mãos de seus próprios irmãos, se a Providência divina não tivesse disposto de outro modo.

62. A VAIDADE FEMININA

Santa Rosália, em seus verdes anos, passava diariamente muito tempo, horas a fio, diante do espelho a enfeitar-se. Um dia, vendo refletir-se no espelho um Crucifixo que estava suspenso na parede oposta, pôs-se a pensar no contraste entre as suas vaidades e as humilhações do Salvador, entre o seu corpo amimado e o de Jesus dilacerado pelos açoites e espinhos... 

Movida pela graça, deixou Rosália as vaidades e vãos adornos e, daí em diante, levou urna vida de abnegação e sacrifício, chegando a uma grande santidade.

63. O CURA D’ARS E AS AVES

São João Batista Vianney, o santo cura de Ars, ouvindo uma ocasião o lindo gorjeio dos pássaros, ergueu os olhos aos céus e exclamou suspirando:
➖ Pobres avezinhas! Fostes criadas para cantar, e cantais! O homem, que foi criado para amar a Deus, não o ama! Quanta dor!

64. AJOELHAR-SE COM OS DOIS JOELHOS

Há muitos homens que, durante os atos religiosos, não se ajoelham ou ajoelham-se com um só joelho. Estão bastante errados. Dizia Santo Agostinho que ajoelhar-se diante de Deus com os dois joelhos é confessar com um a nossa fraqueza para que nos perdoe as nossas quedas; e, com o outro, a nossa necessidade para que nos estenda a mão e nos levante.

São Jerônimo diz que, com um joelho, dobramos nosso entendimento que o reconhece por Deus, e com o outro a nossa vontade que amorosamente o abraça. Santo Ambrósio dizia que, com um, reconhecemos o nosso ser miserável e, com o outro, adoramos seu ser eterno.

Dobrar um só joelho - dizia Durando - é zombar da Divindade, escarnecer do Redentor e imitar os algozes que assim o adoravam por escárnio. Significa - dizia Reynaude - que manca é a nossa piedade e manca é a nossa religião e, por isso, estamos em perigo de cair por terra. Dobremos ambos os joelhos, mormente na igreja, pois assim devemos adorar a um Senhor que, por sua grandeza e seu amor para conosco, merece a adoração de todo o nosso ser.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE AMSTERDÃ - II

Em 24 de maio de 1452, a então já bastante desenvolvida cidade de Amsterdã foi praticamente devastada por um incêndio de grandes proporções, facilitado em larga escala pelas suas construções tipicamente de madeira com telhados de palha. O fogo destruiu não apenas moradias, mas também prédios públicos, igrejas e edifícios de maneira geral, causando enormes prejuízos e uma quase completa ruína da cidade. 

Quando o incêndio atingiu a capela construída no local do milagre eucarístico de 1345 (Nieuwezijds Kapel ou 'Capela da Cidade Nova'), muitos moradores tentaram salvar a Hóstia Milagrosa da destruição pelo fogo, sem êxito, devido à rápida propagação das chamas. Toda a igreja desabou e foi reduzida a cinzas. Mas um segundo milagre iria envolver a Hóstia Milagrosa, mais de 100 anos depois. No dia seguinte, em meio aos destroços do incêndio, o baú-relicário que continha a Hóstia foi encontrado completamente intacto, contra todas as expectativas possíveis. A hóstia havia sido preservada do fogo uma segunda vez.

(gravura da Nieuwezijds Kapel, datada de 1663)

A renovação extraordinária do Milagre Eucarístico de Amsterdã elevou a cidade a centro de peregrinação religiosa de toda a Europa a partir de então e uma nova capela foi construída no local, substituindo a capela original. Durante o século XVI, porém, Amsterdã passou pela Reforma Protestante e, como consequência, muitas igrejas foram profanadas e muitos símbolos católicos foram roubados e destruídos, incluindo a própria Hóstia Milagrosa, furtada e nunca mais recuperada. Em 1578, a Nieuwezijds Kapel foi confiscada pelo governo protestante e o culto católico foi proibido. A capela foi readaptada para diferentes fins ao longo dos tempos, sendo completamente demolida em 1908.

(baú-relicário da Hóstia Milagrosa)

Os únicos objetos remanescentes do segundo milagre são o baú-relicário que continha a Sagrada Hóstia e documentos oficiais que atestam o milagre. Ainda hoje e todos os anos, a comunidade católica refaz a procissão solene em honra do milagre (a chamada Stille Omgang ou Procissão Silenciosa) que percorre em silêncio o mesmo trajeto original da procissão medieval, na véspera do Domingo de Ramos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE AMSTERDÃ - I


Amstelredam (Amsterdã) surgiu a partir de uma barragem construída no século XIII na foz do rio Amstel. O milagre eucarístico de Amsterdã ocorreu em 13 de março de 1345, quando a atual capital da Holanda não passava ainda de uma vila simplória conformada por um canal que contornava umas poucas ruas, casas e becos, alinhadas com cabanas de pescadores, uma igreja e um mosteiro. Numa casa simples às margens do canal, um pescador chamado Ysbrant Dommer, em seu leito de morte, fez chamar um sacerdote para receber os últimos sacramentos da Igreja. Após ouvir a confissão do homem, o padre o abençoou com os óleos da Extrema Unção e lhe deu a Comunhão.

Assim que o padre se foi, o pobre homem começou a tossir violentamente e, incapaz de qualquer contenção, acabou por vomitar a Hóstia recebida com todo o alimento do estômago. A Hóstia vomitada e ainda intacta foi lançada então em uma lareira acesa, desaparecendo em meio às chamas intensas, de acordo com o rito litúrgico medieval de se tratar a Eucaristia quando esta era expelida ou impossibilitada de ser consumida reverentemente.

No dia seguinte, porém, revolvendo-se as brasas e cinzas do fogo anterior, a Hóstia foi encontrada ainda perfeitamente intacta, sem quaisquer sinais de queima ou mudanças de forma ou de cor, mas tão somente branca, clara e brilhante como saída das mãos do sacerdote da comunhão. A Hóstia foi então recolhida cuidadosamente com um pano limpo e guardada em uma pequena arca, dando-se ciência então dos fatos ao sacerdote do dia anterior. Pedindo discrição a todos, o padre levou a Hóstia para a igreja paroquial de São Nicolau, colocando-a num píxide guardado no sacrário. Por espantoso que pareça, no dia seguinte, a Hóstia desapareceu do sacrário e foi reencontrada na pequena arca onde havia sido guardada originalmente. Levada novamente à Igreja, repetiu-se pela segunda vez o seu reaparecimento no local original onde fôra guardada.


A terceira vez que a Hóstia foi levada à igreja local ocorreu em meio a uma solene procissão e adoração eucarística, depois de ampla divulgação pública destes extraodinários eventos. As investigações oficiais, com amplo relato de testemunhas, foram conduzidas e atestadas pelo Bispo de Utrecht. Em carta pastoral, o bispo ratificou oficialmente como autêntico o milagre eucarístico ocorrido na pequena vila de Amsterdã, autorizando em seguida a exposição e a veneração pública da Hóstia. A casa do pescador - que recuperou a saúde - tornou-se local de peregrinação e, mais tarde, em 1347, foi transformada em capela (Heilige Stede ou 'Lugar Santo').

Com o grande afluxo de peregrinos, decidiu-se erguer um templo maior em local próximo, chamado Nieuwezijds Kapel (em tradução livre, Capela da Cidade Nova), construído entre 1347 e 1351, no então bairro do chamado 'lado novo' de Amsterdã, que passou a guardar a Hóstia Milagrosa em um baú-relicário, convertendo-se, assim, no santuário oficial do Milagre Eucarístico de Amsterdã. Deste modo, antes de Amsterdã ser conhecida internacionalmente como porto e cidade comercial, ela tornou-se um famoso local de peregrinação na Idade Média, graças a este milagre eucarístico.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

ANO LITÚRGICO 2025 - 2026

Ano Litúrgico 2025-2026, de acordo com o rito católico romano, vai desde o primeiro domingo do Advento (30/11/2025) até a solenidade de Cristo Rei do Universo (22/11/2026), durante o qual a Igreja celebra todo o mistério de Cristo, desde o nascimento até a sua segunda vinda. O Ano Litúrgico 2025-2026 é o Ano A, no qual os exemplos e os ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras principais, retiradas do Evangelho de São Mateus, com exceção de ocasiões especiais (as chamadas Festas e Solenidades do rito litúrgico), quando são utilizadas leituras específicas do Evangelho de São João.

O ano litúrgico compreende dois tempos distintos: os chamados tempos fortes que incluem AdventoNatalQuaresma e Páscoa, durante os quais certos mistérios particulares da obra redentora e salvífica de Cristo são celebrados e o chamado Tempo Comum, no qual celebramos o Mistério de Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor. 

O Tempo Comum é subdividido em duas partes. A primeira parte começa no dia seguinte à festa do Batismo de Jesus (11/01/2026) e vai até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas (18/02/2026), quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes (24/05/2026) e se estende até o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento (29/11/2026), quando tem início um novo Ano Litúrgico, compreendendo sempre um período de 33 ou 34 semanas.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

A CIÊNCIA DE DEUS (IX)

Blaise Pascal (1623-1662) foi um matemático, físico, filósofo e inventor católico, com contribuições relevantes na geometria, mecânica dos fluidos, acústica, teoria das probabilidades, filosofia, teologia e no desenvolvimento do método científico. Em honra a tantas e relevantes contribuições científicas, o nome Pascal foi dado à unidade de pressão no Sistema Internacional de Unidades, como lei física (princípio geral da hidrostática), ao triângulo de Pascal e à famosa Aposta de Pascal, argumento filosófico formulado na sua obra Pensées (Pensamentos) que, embora não tenta provar que Deus existe, mostra que crer em Deus seria a escolha mais racional, considerando risco e benefício (como uma tomada de decisão baseada no critério da incerteza).

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

PALAVRAS DA SALVAÇÃO

Há três virtudes que aperfeiçoam a pessoa devota no que diz respeito ao controle dos seus próprios sentidos. Estas são: a modéstia, a continência e a castidade. Em virtude da modéstia, a pessoa devota governa todos os seus atos exteriores. Com razão, São Paulo recomendou esta virtude a todos e declarou como é necessária e como se isso não bastasse, ele considera que esta virtude deveria ser óbvia para todos. Pela continência, a alma exercita a retenção de todos os sentidos: visão, tato, paladar, olfato e audição. Pela castidade, uma virtude que enobrece a nossa natureza e faz com que seja semelhante à dos Anjos, nós suprimimos a nossa sensualidade e a afastamos dos prazeres proibidos. Este é o retrato magnífico da perfeição cristã. Feliz aquele que possui todas estas belas virtudes, todas elas frutos do Espírito Santo que habita dentro dele. Essa alma não tem nada a temer e vai brilhar no mundo como o sol no céu.

(São Pio de Pietrelcina)

domingo, 23 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!(Sl 121)

Primeira Leitura (2Sm 5,1-3) - Segunda Leitura (Cl 1,12-20) -  Evangelho (Lc 23,35-43)

  23/11/2025 - SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

JESUS CRISTO - REI DO UNIVERSO


Jesus Cristo é o Rei do Universo. Como Filho Unigênito de Deus, Ele é o herdeiro universal de toda a criação, senhor supremo e absoluto de toda criatura e de toda a existência de qualquer criatura, no céu, na terra e abaixo da terra. A realeza de Cristo abrange, portanto, a totalidade do gênero humano, como expresso nas palavras do Papa Leão XIII: 'Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro' (Encíclica Annum Sacrum, 1899).

E, neste sentido, o domínio do seu reinado é universal e sua autoridade é suprema e absoluta. Cristo é, pois, a fonte única de salvação tanto para as nações como para todos os indivíduos. 'Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos' (At 4, 12). O livre-arbítrio permite ao ser humano optar pela rebeldia e soberba de elevar a criatura sobre o Criador, mas os frutos de tal loucura é a condenação eterna.

A realeza de Cristo é, entretanto, principalmente interna e de natureza espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura, e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus, e até os Apóstolos, erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba, que o cerca o quer proclamar rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras, e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino 'não é deste mundo'. Neste reino, tal como no-lo descreve o Evangelho, é pela penitência que devem os homens entrar. Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar com a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto 'Redentor', verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto 'Sacerdote', se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em conseqüência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual? (Encíclica Quas Primas de Pio XI, 1925).

Cristo Rei se manifesta por inteiro pela sua Santa Igreja e, por meio dela, e por sua paixão, morte e ressurreição, atrai para si a humanidade inteira, libertada do pecado e da morte, que será o último adversário a ser vencido. Como herdeiros de Cristo, elevemos ao Pai a súplica de salvação emanada pelas palavras do 'bom ladrão': 'Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado' (Lc 23, 42) e, neste propósito, supliquemos, tal como ele, nos tornarmos dignos também de compartilhar com Cristo Rei a glória da sua realeza eterna.