sábado, 18 de junho de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXXIV)

 

Capítulo XXXIV

Razões da Expiação no Purgatório - Negligência na Sagrada Comunhão - Relato do Venerável Luís de Blois - Santa Madalena de Pazzi e os Tormentos da Alma em Adoração

À tibieza está associada a negligência na preparação para o Banquete Eucarístico. Se a Igreja chama incessantemente os seus filhos à Santa Mesa, se deseja que comunguem com frequência, quer sempre que o façam com aquele fervor e piedade que tão grande mistério exige. Toda negligência voluntária em uma ação tão santa é uma ofensa à Santidade de Jesus Cristo, uma ofensa que deve ser reparada por uma justa expiação. O Venerável Luís de Blois, em sua obra Miroir Spirituel, fala de uma grande serva de Deus que aprendera de maneira sobrenatural quão severamente essas faltas são punidas na outra vida. Ela recebeu a visita de uma alma do Purgatório implorando a sua ajuda em nome da amizade pela qual nutriram outrora. Ela havia suportado - revelou a alma - tormentos horríveis devido à negligência com que se preparava para a Sagrada Comunhão, durante os dias de sua peregrinação terrena. Ela não poderia ser libertada senão por uma fervorosa comunhão que compensaria a sua antiga tibieza. A amiga apressou-se a satisfazer o seu desejo, recebendo a Sagrada Comunhão com grande pureza de consciência e com toda a fé e devoção possível; e então ela pôde ver a santa alma aparecer, brilhante e com um esplendor incomparável, e então subir para o céu.

No ano de 1589, no mosteiro de Santa Maria dos Anjos, em Florença, morreu uma religiosa muito estimada por suas irmãs na religião, mas que logo apareceu a Santa Madalena de Pazzi para implorar a sua assistência no rigoroso Purgatório ao qual estava condenada. A santa estava em oração diante do Santíssimo Sacramento quando percebeu a alma da falecida ajoelhada no meio da igreja e em atitude de profunda adoração. Ela tinha ao seu redor um manto de chamas que parecia consumi-la, mas uma túnica branca que recobria o seu corpo a protegia parcialmente da ação do fogo. Muito espantada, Madalena quis saber o que isso significava, e teve como resposta que esta alma sofria assim por ter tido pouca devoção ao Augusto Sacramento do Altar. Não obstante as regras e costumes sagrados de sua Ordem, ela comungava poucas vezes e quase sempre com indiferença. Por isso, a Justiça Divina a havia condenado a vir todos os dias adorar o Santíssimo Sacramento e submeter-se ao suplício de fogo, aos pés de Jesus Cristo. No entanto, em recompensa por sua pureza virginal, representada pelo manto branco, o seu Esposo Divino havia mitigado muito os seus sofrimentos.

Tal foi a revelação que Deus fez à sua serva. Ela ficou profundamente sensibilizada e fez todos os esforços possíveis para ajudar a pobre alma por meio dos sufrágios ao seu alcance. Muitas vezes relatou esta aparição e dela fez referência constante para exortar as suas filhas espirituais ao zelo pela Sagrada Comunhão.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)