quarta-feira, 30 de junho de 2021

A VIDA OCULTA EM DEUS: GRAÇAS MÍSTICAS E ATIVIDADE EXTERIOR


Antes mesmo de conceber as graças mais elevadas da oração, Deus começa absorvendo todas as atividades exteriores da alma. Ocorre um processo inverso. Deus nos faz distrair das criaturas e das nossas ocupações assim como, infelizmente, nossas ocupações e as criaturas habitualmente nos distraem de Deus. Quando o nosso modo de vida não permite esse estado de absorção, Deus busca alguma compensação e age, assim, pelo menos durante a oração. Exemplo é o caso de Santa Catarina de Ricci: nem a santa e nem as suas superioras perceberam o que estava passando com ela, pois tratava-se de uma união completa.

Em seguida, a alma padece de um estado de desconforto. A ação de Deus interfere na ação da alma sem a suprimir inteiramente. E, finalmente, Deus, o senhor absoluto da alma, devolve a ela a posse completa e perfeita das suas faculdades, sem fazê-la excluída da união divina. Produzem-se então obras extraordinárias e desproporcionais às forças humanas, como as fundações criadas por  Santa Teresa ou pela Venerável Maria da Encarnação.

A alma totalmente entregue a Deus e ao serviço dos outros vive, ao mesmo tempo e sem esforço, em dois mundos diferentes. Quando nos casos de união total ocorre o êxtase, não se tem mais o uso dos sentidos. Mas que não se confunda levitação ou a rigidez dos membros com êxtase, uma vez que esses fenômenos não são necessários. Pode ocorrer um alheamento quase completo dos sentidos sem que os outros percebam. Pode-se acreditar até mesmo num certo entorpecimento, porque a vida física está diluída e os sentidos encontram-se fragilizados e contidos, de modo que até os mais próximos podem não aperceber de nada.

Este estado pode durar pouco tempo ou, com a recuperação alternada das faculdades, pode durar muito tempo. Mas o ato de união não pode durar indefinidamente na terra; a união é atual e constitui um estado que supõe um ato infundido do amor de Deus. Podemos compará-lo a um riacho subterrâneo ou ao calor de brasas muito vivas sob cinzas. De vez em quando, feixes de chamas emanam desta fornalha mas, se as chamas fossem mantidas continuamente, a própria vida não poderia resistir a elas. São João da Cruz assim o diz expressamente. Porém, a fornalha é fogo vivo e sua irradiação pode ser imensa.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte II -  A Ação de Deus; tradução do autor do blog)

terça-feira, 29 de junho de 2021

29 DE JUNHO - FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo' (Mt 16,16)

'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (II Tm 4,7)

Excertos da Homilia do Papa João Paulo II, na Solenidade de São Pedro e São Paulo, em 29/06/2000

1.'E vós, quem dizeis que Eu sou?' (Mt 16, 15). Jesus dirige aos discípulos esta pergunta acerca da sua identidade, enquanto se encontra com eles na Alta Galileia. Muitas vezes acontecera que foram eles a interrogar Jesus; agora é Ele quem os interpela. A sua pergunta é específica e espera uma resposta. Simão Pedro toma a palavra em nome de todos: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo' (Mt 16, 16). A resposta é extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos refletimos também nós. De modo particular, reflete-se nas palavras de Pedro, o Bispo de Roma, por vontade divina o seu indigno sucessor.

2. 'Tu és o Cristo!'. À confissão de Pedro, Jesus replica: 'És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue quem to revelou, mas o Meu Pai que está nos céus' (Mt 16, 17).

És feliz, Pedro! Feliz, porque esta verdade, que é central na fé da Igreja, não podia emergir na tua consciência de homem, senão por obra de Deus. 'Ninguém', disse Jesus, 'conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar' (Mt 11, 27). Reflitamos sobre esta página evangélica particularmente densa: o Verbo encarnado revelara o Pai aos seus discípulos; agora é o momento em que o próprio Pai lhes revela o seu Filho unigênito. Pedro acolhe a iluminação interior e proclama com coragem: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!'

Estas palavras nos lábios de Pedro provêm do profundo do mistério de Deus. Revelam a verdade íntima, a própria vida de Deus. E Pedro, sob a ação do Espírito divino, torna-se testemunha e confessor desta soberana verdadeA sua profissão de fé constitui assim a sólida base da fé da Igreja: 'Sobre ti edificarei a minha Igreja' (Mt 16, 18). Sobre a fé e a fidelidade de Pedro está edificada a Igreja de Cristo.

3. 'O Senhor assistiu-me e deu-me forças a fim de que a palavra fosse anunciada por mim e os gentios a ouvissem' (2 Tm 4, 17). São palavras de Paulo ao fiel discípulo Timóteo: escutamo-las na Segunda Leitura. Elas dão testemunho da obra nele realizada pelo Senhor, que o tinha escolhido como ministro do Evangelho, 'alcançando-o' na via de Damasco (Fl 3, 12). Envolvido numa luz fulgurante, o Senhor se lhe havia apresentado, dizendo:  'Saulo, Saulo, por que Me persegues?' (At 9,4), enquanto uma força misteriosa o lançava por terra.

'Quem és Tu, Senhor?', perguntara Saulo. 'Eu sou Jesus, a quem tu persegues!'. Foi esta a resposta de Cristo. Saulo perseguia os seguidores de Jesus e Jesus fez-lhe tomar consciência de que era Ele mesmo a ser perseguido neles. Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado, que os cristãos afirmavam ter ressuscitado. De Damasco, Paulo iniciará o seu itinerário apostólico, que o levará a defender o Evangelho em tantas partes do mundo então conhecido. O seu impulso missionário contribuirá assim para a realização do mandato de Cristo aos Apóstolo: 'Ide, pois, ensinai todas as nações...' (Mt 28, 19).

4. Caríssimos Irmãos no Episcopado vindos para receber o Pálio, a vossa presença põe em eloquente ressalto a dimensão universal da Igreja, que derivou do mandato do Senhor: 'Ide... ensinai a todas as nações' (Mt 28, 19). Todas as vezes que vestirdes estes pálios, recordai, irmãos caríssimos que, como pastores, somos chamados a salvaguardar a pureza do Evangelho e a unidade da Igreja de Cristo, fundada sobre a 'rocha' da fé de Pedro. A isto nos chama o Senhor; esta é a nossa irrenunciável missão de guias previdentes do rebanho que o Senhor nos confiou.

5. A plena unidade da Igreja! Sinto ressoar em mim a recomendação de Cristo. Deus nos conceda chegarmos quanto antes à plena unidade de todos os crentes em Cristo. Obtenhamos este dom dos Apóstolos Pedro e Paulo, que a Igreja de Roma recorda neste dia, no qual se faz memória do seu martírio e, por isso, do seu nascimento para a vida em Deus. Por causa do Evangelho, eles aceitaram sofrer e morrer e se tornaram partícipes da ressurreição do Senhor. A sua fé, confirmada pelo martírio, é a mesma fé de Maria, a Mãe dos crentes, dos Apóstolos,  dos Santos  e Santas de  todos  os séculos.

Hoje a Igreja proclama de novo a sua fé. É a nossa fé, a imutável fé da Igreja em Jesus, único Salvador do mundo; em Cristo, o Filho de Deus vivo, morto e ressuscitado por nós e para a humanidade inteira.

São Pedro e São Paulo, rogai por nós!

segunda-feira, 28 de junho de 2021

O DOGMA DO PURGATÓRIO (X)

 

Capítulo X

Dores do Purgatório - Santa Catarina de Gênova - Santa Teresa - Padre Nieremberg -  A Dor da Perda 

Depois de termos ouvido os teólogos e os doutores da Igreja, ouçamos outros doutores: são santos que falam dos sofrimentos da outra vida e relatam o que Deus lhes deu a conhecer por comunicação sobrenatural. Santa Catarina de Gênova, em sua obra 'Tratado sobre o Purgatório' (cap. II, 8) diz: 'As almas suportam um tormento tão extremo que nenhuma língua pode descrevê-lo, nem o entendimento poderia conceber a menor noção disso, se Deus não o fizesse conhecido por uma graça particular'. 'Nenhuma língua' - acrescenta - 'pode expressar e nenhuma mente pode conceber qualquer ideia do que é o Purgatório. Quanto ao sofrimento, este é igual ao do Inferno'.

Santa Teresa, na obra 'Castelo da Alma', falando da dor da perda, assim se expressa: 'A dor da perda ou a privação da visão de Deus supera todos os sofrimentos mais lancinantes que podemos imaginar, porque as almas, impelidas em direção a Deus como para o centro de sua aspiração, são continuamente repelidas pela sua Justiça. Imagine-se um marinheiro naufragado que, depois de uma longa batalha contra as ondas, chega finalmente ao alcance da costa, apenas para se ver constantemente empurrado para trás por uma mão invisível. Que agonia torturante! No entanto, para as almas do Purgatório são mil vezes maiores!' (parte 6, cap. 11).

Padre Nieremberg, sacerdote da Companhia de Jesus e falecido em odor de santidade em Madri em 1658, relata um fato corrido em Treves e que foi reconhecido pelo Vigário Geral da diocese (de acordo com o padre Rossignolli em Merveilles, 69), como possuindo todas as características da verdade. Na Festa de Todos os Santos, uma jovem de rara piedade viu aparecer diante dela uma senhora conhecida que havia morrido algum tempo antes. A aparição estava vestida de branco, com um véu da mesma cor na cabeça, e segurando na mão um longo rosário, um símbolo da terna devoção que ela sempre professou em favor da Rainha dos Céus. Ela implorou a caridade de sua piedosa amiga, dizendo que tinha feito voto de que três missas fossem celebradas no altar da Virgem Maria e que, não tendo podido cumprir o seu voto, essa dívida aumentava seus sofrimentos. Ela então implorou que ela pagasse essa dívida em seu lugar. 

A jovem concedeu de bom grado a súplica que lhe fôra pedida e, depois de celebradas as três missas, a falecida apareceu de novo, exprimindo a sua alegria e gratidão. Ela sempre continuou a aparecer todos os meses de novembro, e quase sempre na igreja. Sua amiga a viu ali em adoração diante do Santíssimo Sacramento, dominada por um temor que nada pode dar ideia; ainda não podendo ver Deus face a face, ela parecia querer indenizar-se contemplando-o pelo menos sob as espécies eucarísticas. Durante o Santo Sacrifício da Missa, no momento da elevação, o seu rosto tornou-se tão radiante que parecia um serafim descido do céu. A jovem, cheia de admiração, declarou que nunca tinha visto algo tão bonito. 

Enquanto isso, o tempo passava e, não obstante as missas e orações oferecidas por ela, aquela alma sagrada permaneceu em seu exílio, longe dos Tabernáculos Eternos. No dia 3 de dezembro, festa de São Francisco Xavier, quando a sua protetora foi receber a comunhão na Igreja dos Jesuítas, a aparição a acompanhou até a Mesa Sagrada e ficou ao seu lado durante todo o tempo de ação de graças, como se para participar da a felicidade da Sagrada Comunhão e desfrutar da presença de Jesus Cristo. No dia 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição, ela retornou novamente, mas tão brilhante que a amiga não conseguia mais olhar para ela. Ela visivelmente se aproximava do prazo final de sua expiação. Finalmente, no dia 10 de dezembro, durante a Santa Missa, ela apareceu em um estado ainda mais maravilhoso. Depois de fazer uma profunda genuflexão diante do altar, ela agradeceu à piedosa menina por suas orações e subiu ao céu na companhia de seu anjo da guarda.

Algum tempo antes, esta alma sagrada havia feito saber que ela não havia sofrido nada mais do que a dor da perda ou da privação de Deus; mas ela acrescentou que essa privação lhe causou uma tortura intolerável. Esta revelação justifica as palavras de São Crisóstomo na sua 47ª Homilia: 'Imagina todos os tormentos do mundo e não encontrarás igual à privação da visão beatífica de Deus'.

Na verdade, a tortura da dor da perda, de que agora tratamos é, segundo todos os santos e todos os doutores da Igreja, muito mais aguda do que a dor dos sentidos. É verdade que, na vida presente, não podemos compreender isso, porque temos muito pouco conhecimento do Bem Soberano para o qual fomos criados; mas, na outra vida, aquele Bem inefável parece para as almas o que o pão é para o homem faminto ou a água cristalina para o que morre de sede, como a saúde é para o doente torturado pela longanimidade da doença; que faz excitar os seus desejos mais ardentes e que o atormentam sem nunca poder satisfazê-los.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

domingo, 27 de junho de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes e preservastes minha vida da morte!' (Sl 29)

 27/06/2021 - Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum

31. A FÉ QUE MOVE MONTANHAS


O Evangelho desse domingo nos revela o encontro de duas mulheres com Jesus: uma jovem - a filha de Jairo - que morre para então ser tocada pelo Senhor da Vida; a outra -  mulher adulta que padece de um fluxo de sangue - que, morta pela dor e pelo sofrimento de uma enfermidade prolongada, será resgatada igualmente pelo Senhor da Vida. A primeira será levantada dos umbrais da morte: 'Menina, levanta-te!' (Mc 5,41), enquanto a segunda há de ser curada de sua enfermidade de muitos anos: 'Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença' (Mc 5, 34).

A primeira é uma menina de apenas 12 anos, vida perdida para quem apenas começava a florescer para a geração da vida; a outra, mulher feita, era outra vida perdida pela doença terrível que, por 12 anos, lhe roubava a fecundidade e o dom da maternidade. Por caminhos diferentes e por ações distintas do Senhor, a vida será restituída por completo às duas mulheres: 'levanta-te!' vai dizer imperativamente à primeira; 'sê curada!' vai expressar sem quaisquer rodeios ou condicionantes a cura completa e definitiva da mulher enferma.

'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida' (Jo 14, 6) - assim Jesus se referiu diante dos homens. O Reino de Deus é um triunfo da vida da graça, movida pelos ditames da fé. Um chefe de sinagoga cai de joelhos e suplica a Jesus para curar a sua filha: 'Minha filhinha está nas últimas. Vem e põe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva! (Mc 5, 22). A fé que move montanhas reconhece que basta ao Senhor tocar a menina... Uma mulher consumida por hemorragias vai mais longe ainda. A fé que move montanhas não precisa dizer nada e, por conceber-se impura, contenta-se tão somente em tocar as vestes de Jesus: 'Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada' (Mc 5,28).

A fé que move montanhas é aquela que se basta: tocar Jesus, ser tocado por Jesus. A fé que se basta é aquela que nasce como fruto da confiança absoluta, do despojamento da vontade, da compreensão plena da pequenez humana. Em meio ao burburinho da multidão que o cerca ou envolvido pelo alvoroço da casa e da família transtornados pela presença da morte, o Senhor da Vida se manifesta por inteiro em favor daquelas duas mulheres, frágeis sim pelas limitações humanas, mas que, convertidas em exemplos da fé autêntica, tornaram-se modelos para a manifestação extremada da misericórdia de Deus. A fé que move montanhas torna possível testemunhar as grandes maravilhas que Deus pode fazer por nós.

sábado, 26 de junho de 2021

26 DE JUNHO - SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ

 


São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em 09 de janeiro de 1902 em Barbastro, Espanha. Em 02 de outubro de 1928, durante um retiro espiritual em Madrid, concebeu e fundou o OPUS DEI, atualmente prelazia pessoal da Igreja Católica. A missão específica do Opus Dei é promover, entre homens e mulheres de todo o âmbito da sociedade, um compromisso pessoal de seguir a Cristo, de amor a Deus e ao próximo e de procura da santidade na vida cotidiana. Faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Foi beatificado em 17 de maio de 1992 e canonizado, pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em 06 de outubro de 2002. Sua obra mais conhecida é Caminho, escrita como orientações espirituais em diferentes parágrafos. Outras obras do autor são ForjaSulco e É Cristo que Passa.

A CRUZ NÃO É UM CONSOLO FÁCIL

'A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações. Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de toda a vida humana. Não vos posso esconder - e com alegria pois sempre preguei e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz, está Cristo, o Amor - que a dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações iníquas.

Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis, diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, convertem-se em reparação, em desagravo e em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça, Primogênito e Redentor'.
(É Cristo que Passa)

sexta-feira, 25 de junho de 2021

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE BOLSENA

(Bolsena / Itália - 1263)

No retorno de uma peregrinação a Roma, um sacerdote oriundo de Praga (de nome Pedro, segundo a tradição) parou na localidade de Bolsena, tradicional ponto de parada ao longo da Via Cassia (uma das mais antigas estradas romanas). Ali, celebrou uma Santa Missa na Igreja de Santa Cristina, que guarda os restos mortais da mártir e padroeira da cidade. Durante as palavras da consagração, o sangue começou a fluir de repente da hóstia consagrada, a escorrer pelas mãos do sacerdote e a respingar sobre as pedras de mármore do altar.

(Igreja de Santa Cristina, em Bolsena)

(altar do milagre na Igreja de Santa Cristina, em Bolsena)

Deslocando-se até Orvieto, cidade situada a menos de 20km de Bolsena, comunicou o milagre ao papa Papa Urbano IV, que estava ali em residência temporária. E fez uma confissão e um pedido de perdão: ele, mesmo sendo sacerdote, muitas vezes havia duvidado da real presença de Cristo nas hóstias consagradas. O papa, sabendo tratar-se de um sacerdote justo e piedoso, embora incrédulo, o absolveu, procedeu a uma investigação particular dos fatos junto à diocese local e, posteriormente, fez conduzir a hóstia e o corporal utilizado na Missa - pequeno pano quadrangular de linho sobre o qual se coloca o cálice para o ato de consagração - manchado de sangue, para imposição no altar da catedral de Orvieto.

(Catedral de Orvieto)

(Corporal do milagre de Bolsena - altar da Catedral de Orvieto)

(Manchas de sangue no corporal do milagre de Bolsena)

Motivado por este milagre eucarístico, o papa Urbano IV encarregou São Tomás de Aquino a compor o Próprio para uma Missa e um Ofício honrando a Sagrada Eucaristia e o Corpo e o Sangue de Cristo. Em agosto de 1264, pouco mais de um ano após o milagre, o Papa Urbano IV instituiu na Igreja a festa de Corpus Christi (bula papal Transiturus de Hoc Mundo). Em agosto de 1964, no 700º aniversário da instituição da festa de Corpus Christi, o Papa Paulo VI celebrou a Santa Missa diretamente do altar da Catedral de Orvieto, que guarda as relíquias do milagre eucarístico de Bolsena.

PARA VIVER A DIVINA MISERICÓRDIA UM DIA POR SEMANA⁷

 

Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós,
eu confio em Vós!

'Fala ao mundo da Minha Misericórdia, que toda a humanidade conheça a Minha insondável misericórdia. Este é o sinal para os últimos tempos; depois dele virá o dia da justiça. Enquanto é tempo, recorram à fonte da Minha Misericórdia'

Intenção do Dia - Sétima Semana

ver no próximo o rosto humano de Deus

Dai-me a graça, Senhor, de ver o Vosso olhar / no olhar do meu próximo junto a mim / e aprender que, assim, ao meu lado, / posso ver o rosto humano de Deus 

quinta-feira, 24 de junho de 2021

NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA

 

Além de Jesus e de Maria, apenas o nascimento de João Batista (24 de junho) é comemorado pela Santa Igreja Católica, glória ímpar para aquele que foi aclamado, pelo próprio Cristo, como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11)

'Houve um homem mandado por Deus. Seu nome era João… Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz' (Jo 1,6-8)

'Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente. Ele preparará o teu caminho diante de ti' (Mt 11,7).

'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo' (Lc 1,41)

'Eu sou a voz que clama no deserto: aplainai o caminho do Senhor' (Is 40,3)

'Eu vos batizo com água, mas vem Aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Lc 3, 16). 

terça-feira, 22 de junho de 2021

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

    'Quando um homem se humilha por causa dos seus defeitos, acalma os outros facilmente e satisfaz sem custo os que consigo se iravam. Deus protege e liberta o humilde, ama-o e consola-o... Mantém-te em paz; e só então poderás pacificar os outros. O homem pacífico é mais útil do que o muito instruído. O apaixonado, porém, converte o bem em mal e acredita facilmente neste. O homem bom e pacífico converte todas as coisas em bem. Aquele que está verdadeiramente em paz não suspeita mal de ninguém. Mas o que é descontente e inquieto é agitado por várias suspeitas. Nem descansa, nem deixa descansar os outros. Diz muitas vezes o que não devia dizer e omite fazer o que devia. Preocupa-se com o que os outros têm de fazer, mas desleixa o que lhe compete. Tem, antes de tudo, cuidado contigo, e poderás então zelar pelo teu próximo'.
(Da Imitação de Cristo)

segunda-feira, 21 de junho de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (79/81)

 

79. SANTA PAULA

Natural de Roma, nasceu em meados do século IV. Era da mais alta nobreza, pois em suas veias corria sangue dos Cipiões e dos mais antigos reis. Após as perseguições, que foram terríveis, os cristãos relaxaram-se um pouco. Paula, embora cristã e honesta, viva com excessivo luxo e tibieza. A Providência divina enviou-lhes amargos sofrimentos para desenganá-la do mundo. Perdeu o esposo, a quem amava-lhe entranhadamente, e ela mesma contraiu uma grave e prolongada enfermidade. Quando recobrou a sua saúde, despojou-se de suas galas e consagrou-se por completo à oração, às obras de caridade e à educação dos filhos.

Por motivo da celebração de um concílio, convocado pelo Papa São Dâmaso, veio a Roma São Jerônimo, grande amigo do pontífice e incomparável conhecedor da Sagrada Escritura. Paula tomou-o por diretor espiritual e, seguindo seus conselhos, estudou os Livros Sagrados, especialmente os Evangelhos, e concebeu o desejo de visitar e venerar a gruta de Belém.

Após a morte de São Dâmaso, seu amigo São Jerônimo abandonou Roma, para dedicar-se de novo aos seus estudos bíblicos. Queria ultimar a sua gigantesca tarefa de traduzir toda a Bíblia para o latim. Paula não tardou a segui-lo. Confiou a uma filha casada a educação da menorzinha, e junto com Eustóquia, outra de suas filhas, embarcou rumo à Terra Santa.

Com São Jerônimo e Eustóquia, percorreu a Palestina. Ao chegar a Belém, exclamou chorando: 'Eu te saúdo, ó Belém, cujo nome quer dizer Casa do Pão Celeste; eu te saúdo, antiga Efrata, cujo nome significa 'a Fértil', que tiveste por fruto e colheita o próprio Criador! É possível que eu, pecadora, beije o berço onde repousou o Menino Deus, ore na gruta, onde deu Jesus seus primeiros vagidos, onde a Virgem deu à luz o Salvador?'

Junto à gruta de Belém, ergueu um mosteiro para a comunidade de religiosas por ela fundada e dirigida; e nos arredores, outro para São Jerônimo e os seus monges. Construiu, além disso, um ótimo albergue para os peregrinos, e costumava dizer: 'Se Maria e José tivessem que retornar a Belém, para o recenseamento, já não lhes faltaria lugar numa estalagem'.

Passou o resto da sua vida meditando a Sagrada Escritura, orando e mortificando-se com severas penitências, animada pelo suave pensamento de que ali mesmo dera o Redentor admirável lição de todas as virtudes. Morreu aos 56 anos e foi sepultada numa gruta ao lado do Nascimento. Sobre a porta dessa gruta, mandou São Jerônimo gravar em versos estas palavras: 'Vês este humilde sepulcro nesta rocha cavado? Dentro está de Paula o corpo, e dos bens celestes gozando está a alma. Deixou pais e pátria e irmão e filhos e aqui repousa, junto à gruta de Belém, onde os reis Magos a Cristo adoraram como a Deus e homem'. Sua festa é celebrada em 28 de janeiro.

80. SANTA MARGARIDA DE CORTONA

Nasceu no povoado de Laviano, na Itália, em 1247. Seus pais eram lavradores e viviam pobremente. Aos sete anos teve Margarida a desgraça de perder a mãe. O pai casou-se de novo e a madrasta odiava a pobre orfãzinha. Um rico e poderoso senhor dos arredores seduziu-a e levou-a para o seu castelo, rodeado de bosques, com muito luxo e criadagem. Nove anos durou a triste vida de Margarida naquele castelo. A miúdo sentia remorsos e como que um desejo de fazer penitência, mas não sabia como livrar-se daquela mísera situação.

Certo dia, o lebrel favorito de seu senhor aproximou-se dela, ladrando choroso, e com os dentes puxava-lhe o vestido como se quisesse convidá-la a segui-lo. Penetraram pelo bosque adentro. Debaixo de um carvalho, junto a um monte de ramos, parou o cão e redobrou os seus latidos. Margarida afastou os ramos e encontrou, banhado em sangue, o cadáver do seu senhor. Haviam-no apunhalado. Surpreendera-o a justiça de Deus.

Aquele horrível espetáculo iluminou a alma de Margarida. Converteu-se. Resolveu começar vida nova e dirigir-se, em primeiro lugar, ao casebre de seu pai, para desagravá-lo e implorar-lhe perdão. Não o alcançou, porque sua madrasta se opôs. Deus, porém, foi mais generoso. A pecadora, compreendendo que precisava confessar-se para recuperar a graça divina, dirigiu-se ao convento franciscano da vizinha cidade de Cortona e, ali, aos pés do ministro de Cristo, reconciliou-se com Deus, a quem tanto ofendera.

Todas as penitências lhe pareciam leves. Cortou a sua longa e negra cabeleira. Disciplinava-se sem misericórdia. Jejuava a pão e água. Num domingo, entrou na igreja de sua vila natal, vestida de farrapos e levando, como os condenados, uma grossa corda ao pescoço, e pediu publicamente que lhe perdoassem os escândalos que dera. Temia não estar bem perdoada. Cria que sim, mas parecia-lhe impossível, tendo pecado tão gravemente. Até que um dia, em que estava chorando diante do Crucifixo, a imagem de Cristo abriu os lábios para dizer-lhe: 'Teus pecados foram perdoados'.

Margarida foi devotíssima da Paixão do Salvador. Numa sexta-feira Santa, quis Jesus Cristo que ela presenciasse tudo o que acontecera durante a Paixão. Passaram diante de seus olhos: o beijo de Judas, a negação de Pedro, a covardia de Pilatos, o ódio dos judeus, os insultos na rua da Amargura e ouviu as palavras de Cristo na Cruz; e às três da tarde, hora em que expirou nosso Salvador, inclinou também ela a cabeça e pereceu que expirava. As pessoas presentes não cessavam de soluçar.

O demônio a tentou de mil modos; mas, rezando, como costumava diante do Crucifixo, Jesus a consolou com as seguintes palavras: 'Minha filha, tem coragem e obedece ao teu confessor; desconfia de ti mesma, mas confia na minha graça'. Faleceu a 22 de fevereiro de 1297, contando cinquenta anos de idade. Durante os vinte últimos dias de sua vida, não provou nenhum alimento ou, melhor, o seu único alimento era a sagrada comunhão. Sua festa é celebrada em 22 de fevereiro.

81. VISÕES DE SANTA PERPÉTUA

Pouco se sabe da infância e juventude desta santa. Conservam-se, porém, as atas do seu martírio, escritas em parte por ela mesma e, em parte, por uma testemunha presencial. No ano de 202, o imperador Sétimo Severo publicou um edito, proibindo toda propaganda cristã que condenava à pena capital tanto os convertidos como os promotores ou cúmplices de sua conversão. O intento era extinguir o cristianismo.

Numa cidade vizinha de Cartago, foi detida a nobre matrona Perpétua e mais outros catecúmenos, entre os quais a escrava Felicidade. Colocaram-nos no cárcere, onde Perpétua teve várias visões. Numa delas manifestou-lhe Deus que o martírio a levaria ao céu, sem passar pelo purgatório. Viu uma altíssima escada de bronze, que terminava no céu. Era tão estreita que por ela só podia subir uma pessoa. Da escada pendiam diversos instrumentos de suplício. Um formidável dragão procurava impedir que se subisse por ela. 

Perpétua, invocando o nome de Jesus Cristo, pisou sobre a cabeça do monstro e começou a subir, de suplício em suplício. Ao chegar em cima, surgiu ante os seus olhos um imenso jardim, no meio do qual estava um Pastor rodeado de uma grande multidão vestida de túnicas brancas. O Pastor, Jesus Cristo, fixou em Perpétua seus amáveis olhos e saudou-a com estas palavras: 'Sê benvinda, minha filha'. E toda a multidão exclamou: 'Assim seja'.

Em outra visão, Deus manifestou-lhe que podia satisfazer por seu irmãozinho Dinócrates, cuja alma se achava no purgatório. Viu Dinócrates saindo de um lugar tenebroso, onde havia muita gente. Estava pálido, como se a sede o abrasasse. Próximo dali encontrava-se um tanque cheio de água cristalina, cujas bordas eram demasiado altas para que o menino pudesse beber. E o pobrezinho sofria, pondo-se nas pontas dos pezinhos, sem poder alcançar a água. Perpétua ofereceu por Dinócrates suas orações e as penas que suportava no cárcere.

Um dia puseram-na várias horas no cepo, presos os pés com argolas de ferro. Ofereceu também esse sacrifício pela alma de seu irmãozinho, e teve outra visão. Dinócrates  estava limpo, bem vestido, cheio de paz e alegria. As bordas da piscina eram mais baixas e o menino bebeu daquela água misteriosa num copo de ouro. 'Então' - diz a Santa - 'despertei e compreendi que meu irmãozinho deixara o lugar da pena'. Perpétua e Felicidade, as duas mártires, têm a sua festa litúrgica celebrada no dia 6 de março.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

domingo, 20 de junho de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Dai graças ao Senhor, porque ele é bom, porque eterna é a sua misericórdia!' (Sl 106)

 20/06/2021 - Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum

30. EM MAR REVOLTO 


O cenário do Evangelho deste Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum é a imensidão do Lago de Tiberíades, tão vasto que era comumente referido como 'Mar' de Genesaré ou da Galileia. Jesus e os apóstolos tomaram a barca para a travessia do lago, até à cidade de Gerasa na outra margem, após um longo e exaustivo dia de pregações e exortações em Cafarnaum. Jesus estava profundamente cansado e buscou repouso naquelas poucas horas de duração da travessia do Mar da Galileia.

O mar estava em plena calmaria e Jesus, cansado pela lida e fatigas do dia, acomodou-se na parte de trás da embarcação, utilizando-se de algum apoio macio para reclinar a sua cabeça, à guisa de travesseiro. E, sob o fluxo sincronizado dos remos e das ondas, sob o silêncio respeitoso dos seus discípulos, Jesus adormeceu. A pequena embarcação seguia suavemente o seu curso levando consigo o Senhor de todos os caminhos e jornadas em sono profundo! Em poucos minutos, será Jesus quem irá tirar os seus discípulos do sono profundo da tibieza, da inquietação inútil, da incoerência da fé.

O tempo da bonança tornou-se, então, prenúncio de tempestade: 'Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher' (Mc 4, 37). Aqueles homens do mar tentaram em vão dominar a barca frente à fúria dos elementos e, temerosos pela própria vida, esqueceram a condescendência pelo repouso do Mestre e o acordaram com grande preocupação: 'Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?' (Mc 4, 38). Pondo-se de pé, Jesus estancou de pronto os ventos e o mar revolto: 'Silêncio! Cala-te!' (Mc 4, 39) e ainda acordou os seus companheiros de jornada das vicissitudes de uma fé morna: 'Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?' (Mc 4, 40).

E, estupefatos pelo milagre extraordinário, os discípulos ainda se indagariam: 'Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?' (Mc 4 ,41). Em Jesus, todas as tormentas se acalmam, todas as tempestades são tolhidas, toda inquietude é dissipada. Como a travessia da barca, nossas vidas e a vida da Igreja são permeadas por dias de calmaria e noites de tormenta; mas temos a divina promessa de ter sempre Jesus ao nosso lado, aguardando que a petição sincera e amorosa do nosso livre arbítrio possa recolher, do seu 'sono' divino, as graças e as fartas consolações que refresquem e silenciem a secura e os gemidos dos nossos tempos de tribulação.

sábado, 19 de junho de 2021

ORAÇÃO: ATO DE ABANDONO (PIO XII)


'Ó meu Deus, creio na vossa infinita bondade; não somente nesta bondade que cobre o mundo, mas nesta bondade particular e muito pessoal que objetiva essa miserável criatura que sou eu, e que tudo dispõe para o seu maior bem.

Por isso, Senhor, mesmo quando não vejo, quando não entendo, quando não sinto, creio que o estado no qual me encontro e tudo o que me ocorre é obra do Vosso amor, e com todas as forças de minha alma, o prefiro a qualquer outro estado que me seria mais agradável, mas que me aproximaria menos de Vós.

Ponho-me entre vossas mãos, faça de mim o que quiseres, deixando-me como único consolo o de Vos obedecer sempre'.

(100 dias de indulgência por vez; indulgência plenária uma vez por mês)

PROFECIA DE SÃO MAXIMILIANO KOLBE


'Um dia, a bandeira da Imaculada Virgem Maria vai voar sobre o Kremlin [centro do poder comunista], mas primeiro, a bandeira vermelha vai flutuar sobre o Vaticano' [ou seja, a Rússia há que se converter, mas não antes que o comunismo, com seus erros e heresias, alcance e subverta o próprio Vaticano e o papado].

sexta-feira, 18 de junho de 2021

PARA VIVER A DIVINA MISERICÓRDIA UM DIA POR SEMANA⁶

 

Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós,
eu confio em Vós!

'Fala ao mundo da Minha Misericórdia, que toda a humanidade conheça a Minha insondável misericórdia. Este é o sinal para os últimos tempos; depois dele virá o dia da justiça. Enquanto é tempo, recorram à fonte da Minha Misericórdia'

Intenção do Dia - Sexta Semana

oferecer as imperfeições cotidianas no pedido diário do perdão 

Aceitai, Senhor, as minhas imperfeições e fragilidades / que me levam a buscar o Vosso perdão / elas passam e se esvaem pela complacência / do Vosso Coração de misericórdia infinita 

quinta-feira, 17 de junho de 2021

SOBRE A COMUNHÃO ESPIRITUAL

A comunhão pode ser feita sacramentalmente, apenas espiritualmente ou preferencialmente de ambas as formas e, neste caso, particularmente durante a Santa Missa. A comunhão espiritual implica uma união da alma com Jesus Eucarístico não diretamente por meio da recepção do sacramento, mas por meio apenas do desejo sincero e fervoroso dessa recepção. No primeiro caso, o sacramento é a própria causa da graça e o comungante apenas uma condição (ex opere operato), ao passo que, na comunhão espiritual, o comungante torna-se a causa direta da graça, que depende das disposições pessoais colocadas em relação ao ato (ex opere operantis).  

Estas disposições pessoais são basicamente duas: primeiro, manifestar uma fé verdadeira e autêntica na presença de Cristo na Eucaristia, não apenas como presença real, mas também em termos da eficácia dessa presença como causa da graça. A segunda disposição implica buscar compensar com um desejo ardente o próprio ato do sacramento.

A distinção entre as formas de comunhão é significativa, e pode ser ponderada pelas próprias palavras de Nosso Senhor dirigidas a Soror Paula Maresca, fundadora do convento de Santa Catarina de Sena em Nápoles: 'Eu mantenho as suas comunhões sacramentais em um vaso de ouro e, em um vaso de prata, as suas comunhões espirituais'. Essa distinção será tanto maior em função de nossas imperfeições e fragilidades e, neste sentido, a comunhão espiritual será significativamente menos eficaz que a comunhão sacramental, ainda que atuando sobre os mesmos efeitos de graça santificante, alimento espiritual e remissão dos pecados veniais. 

Essa distinção, entretanto, depende essencialmente das nossas disposições interiores e, assim, é lícito pensar que, numa oferenda ardente e sincera de comunhão com Nosso senhor Jesus Cristo em espírito e com o coração pode resultar em maiores graças e frutos do que uma comunhão sacramental realizada com pouco zelo espiritual. A eficácia e o valor extremo da comunhão espiritual são expressos de formas diversas pelo testemunho de diferentes santos e santas da Igreja e muitos deles relataram a percepção de graças recebidas pelas comunhões espirituais como equivalentes às recebidas ou que teriam recebido nas comunhões com as espécies sacramentais.  

Tudo depende das nossas reais disposições interiores na comunhão espiritual, amparadas por uma fé viva e a condição do estado de graça, alcançado por um ato de contrição perfeito. Sem a contrição perfeita, a comunhão espiritual não seria válida (e não constitui um pecado), ainda que o desejo fosse bom. A grande vantagem da comunhão espiritual é que pode ser praticada várias vezes e em quaisquer  lugares, mas pressupõe um ambiente e as condições adequadas para a sua efetiva validação e obtenção de graças, pelo que é preferencialmente indicada durante a prática da Santa Missa.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

A VIDA OCULTA EM DEUS: ÊXTASE E ORAÇÃO

 

Enquanto não concederes essa graça à alma, não importa o quão íntima ela possa estar, ela vai perceber que não está plenamente integrada contigo. Parece existir assim um certo mal estar espiritual, uma espécie de insegurança. Ela não gostaria de ser perturbada em sua doce ocupação. Mas isso poderia acontecer e ela teme isso. E o seu medo é bem fundamentado. Todos os laços que a prendem longe de ti ainda não foram quebrados. Ela ainda mantém uma certa comunicação com o mundo sensível que nada lhe pode dar e que, pelo contrário, poderia chamá-la para si, arruinando tudo. Sem dúvida esse medo é débil, surdo e quase imperceptível, mas existe e faz sofrer a alma, é um estorvo. Na verdade, a alma não pode elevar-se livremente para te alcançar, ainda que se sinta movida por um desejo muito forte de fazê-lo.

Mas no momento em que te dignas desligar-se por completo, ainda que apenas por um instante, que alegria não teria a alma de se encontrar a sós contigo, quase face a face, e poder contar-te sem palavras tudo o que vivencia no íntimo do coração há tanto tempo! E agir como se não soubesses nada; falar de tudo e se abrir totalmente contigo. Pai, vê como tudo é Vosso, como tudo é feito para Vós! Não existem mais criaturas que possam obstruir o Vosso olhar ou ferir o Vosso coração. Não há mais nenhum obstáculo entre nós. Eu Vos falo e Vós me ouvis. Eu Vos olho e Vós me contemplais com ternura. Ninguém nos ouve, ninguém nos vê; ninguém sabe que estou aqui em Vossa presença. Os anjos podem ver e os santos podem ver, mas até eles não poderão saber dessa nossa intimidade mais do que quereis lhes revelar. Além disso, o olhar deles não é indiscreto; pelo contrário, estão felizes vendo o que veem. E, se necessário, eles vão enlevar a minha alma ainda mais para Vos louvar, abençoar e amar.

Ó meu Deus, uma vez que a oração nada mais é do que a explicação de um desejo, não é possível explicar bem a Vós o nosso desejo de Vos amar, e só é possível orar com perfeição em êxtase. Sim, meu Deus, que nossos corações sejam incensados pelo Vosso amor! Que, para Vos amar livremente e sem obstáculos, permiti que a nossa alma possa deixar o nosso corpo e se refugiar em Vós como fonte de amor. Que o meu eu morra então totalmente aí para que eu não possa mais viver a não ser em Vós e para Vós! Por tão grande amor, as palavras são pequenas demais para Vos delimitar e assim Vós as reprimis, são débeis demais para Vos conceber e é por isso que Vós as aniquilais! Mas, ainda assim, refletem a Vossa glória, uma vez que proclamam, na sua impotência, a Vossa grandeza e o Vosso poder.

Ó amor de Deus, vinde e completeis em mim a Vossa obra: abrasai-me, envolvei-me, consumi-me, arrebatai-me! Eu Vos ofereço todo o meu ser, o mais íntimo de mim, para todo o sempre, e com um infinito amém!

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte II -  A Ação de Deus; tradução do autor do blog)

segunda-feira, 14 de junho de 2021

ENCHIRIDION E OS DOGMAS DA IGREJA CATÓLICA

Enchiridion (Manual) é uma compilação de todos os textos básicos sobre os dogmas e ordenamentos doutrinários da Santa Igreja desde a Era Apostólica, tendo sido implementado em 1854 pelo papa Pio IX e, desde então, regularmente atualizado. Foi originalmente publicado como Enchiridion Symbolorum et Definitionum (referido, às vezes, como Denzinger, em homenagem ao seu primeiro editor, Heinrich Denziger) e atualmente publicado como Enchiridion symbolorum, definitionum et statementum de rebus fidei et morum (Manual de credos, definições e declarações sobre questões de fé e moral). Os parágrafos correspondentes ao texto das primeiras edições são comumente expressos pela abreviação Dz - referência direta a Denzinger).

As postagens anexas apresentam uma relação de 250 dogmas da Igreja Católica compiladas a partir do Enchiridion e já publicadas pelo blog (as dez primeiras são reproduzidas abaixo nesta postagem, indicando as principais fontes de sua prescrição pelo Denzinger).


PARTE I - A UNIDADE E A TRINDADE DE DEUS

1. Deus, nosso Criador e Senhor, pode ser conhecido, com absoluta certeza, pela luz natural da razão das coisas criadas.

Constituição dogmática Dei Filius (1870), pós-Concílio Vaticano I, que assim definiu: Si quis dixerit, Deum unum et verum, creatorem et Dominum nostrum, per ea quae facta sunt naturali rationis humanoe lumine certo cognosci non posse (Dz 1806; cf. 1391, 1785).

2. A existência de Deus não é meramente um objeto de conhecimento racional, mas também um objeto da fé sobrenatural.

Constituição dogmática Dei Filius (1870), pós-Concílio Vaticano I, que assim definiu: Si quis dixerit, in revelatione divina nulla vera et proprie dicta mysteria contineri, sed universa fidei dogmata posse per rationem rite excultam e naturalibus principiis intelligi et demonstrari; anathema sit (indicando que  que a razão não basta para conhecer quem é Deus, pois a fé vai além da razão). Por outro lado, O Credo começa por dizer Credo in unum Deum.

3. A Natureza de Deus é incompreensível para os homens.

O IV Concílio de Latrão (1215) e o Concílio Vaticano I chamam Deus de 'incompreensível' (incompreensibilis); o Concílio de Latrão define Deus como 'inefável' (inefabilis).

4. Os bem-aventurados no Céu possuem um conhecimento intuitivo imediato da Essência Divina.

Constituição dogmática Benedictus Deus (Bento XII, 1336): Vident (sc, animae sanctorum), divinam essentiam visione intuitiva et etiam faciali, nulla por criatura em ratione objeti visi se habente, sed divina essentia imediata se nude, clare et aprte eis ostendente - as almas dos bem aventurados veem a essência divina em visão intuitiva e face a face, sem nenhuma criatura intervir como meio de visão, mas mostrando-lhes a essência divina de imediato e com absoluta transparência e clareza (Dz 530); o Concílio de Florença (1438/45), assim especificou qual era o objeto do conhecimento de Deus que os bem-aventurados possuem: Intueri (sc. Animas sanctorum) clare ipsum Deum trinum et unum, sicuti est"- as almas dos bem aventurados intuem claramente o Deus trino e único como Ele o é (Dz 693).

5. A visão imediata de Deus transcende a força natural da percepção da alma humana e é, portanto, sobrenatural.

O Concílio de Viena, pela constituição Ad Nostrum Qui (1312), condenou expressamente os erros dos begardos e beguinas [comunidades semirreligiosas que praticavam uma vida espiritual alheia aos ensinamentos da Igreja]:  Quod anima non indiget lumine gloriae ipsam elevante ad Deum videndum et eo beate fruendum (Dz 475): é heresia considerar que a alma, destituída da luz da glória, seja capaz de  ver e se deleitar de Deus em êxtase.

6. A alma requer a luz da glória para a visão imediata de Deus.

(Enchiridion, Dz 475)

7. A Essência de Deus é igualmente incompreensível para o bem-aventurado no Céu.

(Enchiridion, Dz 428, 1782) 

8. Os atributos divinos são realmente idênticos entre si e com a Divina Essência.

O sínodo de Reims (1148) desaprovou a doutrina de Gilbert de Poitiers: Credimus et confitemur simplicem naturam divinitatis esse Deum, nec aliquo sensu católico posse negari, quin divinitas sit Deus et Deus divinitas… credimus, nonnisi e a sapientia, quae est ipse e a sapientia, quae est ipse, sapientem esse, nonnisi e a magnitude, quae est ipse Deus, magnum esse ' (Dz 389). O Concílio de Florença declarou no Decretum pro Iacobitis (1441): 'Em Deus tudo é um, desde que não haja oposição relativa' (Dz 703).

9. Deus é absolutamente perfeito.

O Concílio Vaticano I ensina que Deus é infinito em toda perfeição (omni perfectione infinitus), conforme Dz 1782.

10. Deus é verdadeiramente infinito em toda a perfeição.

O Concílio Vaticano diz que Deus é infinito em compreensão e vontade em toda perfeição (intellectu ac volunt omnique perfectione infinitus - Dz 1782).

250 DOGMAS DE FÉ DA IGREJA CATÓLICA