domingo, 31 de maio de 2015

GLÓRIA AO PAI, AO FILHO E AO ESPÍRITO SANTO

Páginas do Evangelho - Domingo da Festa Litúrgica da Santíssima Trindade


O mistério da Santíssima Trindade é um mistério de conhecimento e de amor. Pois, desde toda a eternidade, o Pai, conhecendo-se a Si mesmo com conhecimento infinito de sua essência divina, por amor gera o Filho, Segunda Pessoa da Trindade Santa. E esse elo de amor infinito que une Pai e Filho num mistério insondável à natureza humana se manifesta pela ação do Espírito Santo, que é o amor de Deus por si mesmo. Trindade Una, Três Pessoas em um só Deus.

Mistério dado ao homem pelas revelações do próprio Jesus, posto que não seria capaz de percepção e compreensão apenas pela razão natural, uma vez inacessível à inteligência humana: 'Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo' (Mt 28, 18 - 20). Mistério também revelado em sua extraordinária natureza, em outras palavras de Cristo nos Evangelhos: 'Em verdade, em verdade vos digo: O Filho não pode de si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vir fazer o Pai; porque tudo o que fizer o Pai, o faz igualmente o Filho. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que ele faz (Jo 5, 19-20) ou ainda 'Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai; nem alguém conhece o Pai senão o Filho (Mt 11, 27). 


Nosso Senhor Jesus Cristo é o Verbo de Deus feito homem, sob duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana: 'Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele' (Jo 3, 16 - 17). Enquanto homem, Jesus teve as três potências da alma humana: inteligência, vontade e sensibilidade; enquanto Deus, Jesus foi consubstancial ao Pai, possuindo inteligência e vontade divinas.

'Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo'. Glórias sejam dadas à Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Neste domingo da Santíssima Trindade, a Igreja exalta e ratifica aos cristãos o  maior dos mistérios de Deus, proclamado e revelado aos homens: O Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho (Conselho de Florença, 1442).

sábado, 30 de maio de 2015

HORA SANTA DE MAIO


Nós Vos adoramos, Jesus Sacramentado, e Vos bendizemos pois, pela graça de Vosso Coração Divino, estais redimindo o mundo. Salvai-nos nele, como prometestes à Vossa serva Margarida Maria; salvai-nos, nós Vos rogamos, pelo amor de Vossa Mãe Imaculada.

(De joelhos e com grande recolhimento interior, peçamos a Jesus a luz para conhecer o seu Divino Coração e dar graças à sua glória)

(Breve pausa)

(Lento e cortado)

Confidência de Jesus

Não fostes vós que me elegeram. Eu que vos predestinei e vos selecionei entre milhares para que participeis aqui, nesta Hora Santa e sublime de intimidade comigo, das confidências, das ternuras e das graças que vos tenho reservadas em Meu sofrido Coração. Aproximai-vos, estendei-me os braços, arrancai-me os espinhos, dai-me consolo, pois desfaleço de amor e de amargura; aproximai-vos! 

Vos tenho amado tanto e tanto! Se vos encontram aqui na ceia deliciosa de Minha caridade, próximo ao Senhor dos anjos, sentindo os ardores de Meu Coração é porque vos escolhi gratuitamente. Vós sim, que sois meus; fostes os servos e sois, agora, os filhos. Vinde, pois, e comei comigo, à sombra do Getsêmani, o pão das Minhas dores.

Necessito aliviar a minha alma convosco, pois nela há tristezas que os anjos não conhecem, e lágrimas que não correm no céu. Sinto ânsias de falar-vos em dolorosa confidência, a mais intima... Se não podeis penetrar em todo o abismo da minha aflição, não importa; leveis, como Eu, uma fibra de soluço e que, agitada pela tempestade, geme com angústia.

Os espíritos angélicos vêm me apoiar neste horto de agonia, mas vós estais muito mais próximos que eles do mar de minhas tristezas; vós podeis beber as minhas lágrimas, podeis suavizá-las sofrendo a minha paixão e as minhas dores. Desapegai-vos, pois, do mundo, abandonai suas mentiras e as lembranças de suas loucuras, e aqui, aos meus pés, sofrei com o Deus encarcerado, que quer que tomeis parte neste amor doloroso, crucificado, aquele amor que, entre estremecimentos de agonia, deu a paz e deu a vida ao mundo.

(Pausa)

As almas

Fazei, Senhor Jesus, que eu veja; fazei que eu saboreie a amargura dos Vossos sofrimentos infinitos; concedei-me o fervor de penetrar com fé vivíssima dentro da Vossa alma dolorosa! Divino Agonizante, sejais benigno e, mesmo eu sendo um pecador, colocai nesta Hora Santa o cálice do Getsêmani em meus lábios; dai-me de beber em Vosso Coração, pois tenho sede de Vós, ó Jesus-Eucaristia!

(Breve pausa)

Voz dos Sacrário

Vós Me conheceis, filhinhos Meus, porque escutais as minhas palavras de vida eterna e, ao conhecer-me, conheceis ao Meu Pai, pois Eu sou o caminho que a Ele conduz. Mas, ai, pensais que há milhões de irmãos vossos, criados para me adorar, livres para me bendizer, e que levantam contra o céu este grito de blasfêmia: 'Deus não existe'! Até o meu trono de paz, até este altar de mansidão, chega esse grito irado, eco da rebeldia de Lúcifer. Esses mesmos que me negam, vivem do meu alento e vivem da minha bondade, e contudo, me negam a palavra, me expulsam de suas obras. Eu, somente Eu, não existo para eles. Meu nome os perturba, meu jugo suave os espanta, meu Calvário os irrita. Blasfemam contra mim!

(Breve pausa)

Buscam a paz! Que paz pode ter aquele que não adora, que não espera, que não me ama, a mim que sou a vida? Ah! e com que tranquilidade renunciam à minha pessoa em tudo, absolutamente em tudo, seja grande ou pequeno, em sua vida. Eu não tenho parte na ternura de suas mães, no cuidado de seus pais, nem no carinho de seus filhos. Me excluem completamente das alegrias de seus lares. Não me chamam nem para uma lembrança vaga em suas dores, ao chegar alguma morte cruel...

Em seus negócios, em seus projetos, em tantas incertezas e desgraças, me tem relegado ao mais completo esquecimento. Acreditais, meus amados? Eu, o Criador e Redentor, não tenho, em milhares de almas, a parte que em seu coração e pensamento tem os empregados, os animais e as flores de suas casas. Assim me paga o mundo por haver me entregado por seu amor à morte de Cruz, e ainda mais, à imolação na Eucaristia!

(Rezemos em alta voz, com fé ardorosa, um Credo, em reparação solene à negação de Deus e de Jesus Cristo da qual padecem tantos incrédulos infelizes)

(Pausa)

Voz do Sacrário

Levo, desde séculos, um Coração doloroso e cheio de lágrimas; Ai! Quantas almas, cujo preço foi o meu sangue, se condenam! Destinadas a se abrasar nas chamas de Meu amor, caíram já, milhares, ao abismo de outras chamas horríveis, vingadoras! E são Minhas! Ouvi-Me; maldizem, desde o profundo do inferno, o meu berço em Belém, minha pobreza, minhas exortações ao mundo; maldizem esta Cruz, marcada com sangue, em suas consciências!

Maldizem a minha Igreja, que lhes ofereceu os tesouros da Redenção; maldizem a minha Eucaristia, desdenhada por eles, que teriam vivido eternamente, se tivessem se alimentado com o Pão da imortalidade, Meu Coração Sacramentado. Ah! E quantos destes réprobos estiveram algumas e muitas vezes, como estais vós, aos Meus pés! E se perderam! Eu os chamei, corri atrás deles, lhes estendi os meus braços, mas romperam todas as correntes, elegeram o gozar por um instante e, depois, chorar com pranto eterno. E maldizem com eterna maldição!

E foram Meus! Ó dor das dores! Como padeceu a minha alma, no Getsêmani, esta sentença de reprovação irrevogável. E eram todos Meus; minhas eram estas legiões incontáveis de condenados ao suplício de uma cólera infinita! Eu os tive aqui, sobre o meu peito, à beira do abismo de Meu Coração amoroso. E os levaram outros abismos, e para sempre, e são, hoje em dia, lágrimas arrancadas para sempre dos meus olhos, criaturas expulsas para sempre do meu Reino, filhos perdidos, pelos séculos dos séculos, do lar do céu...

(Breve pausa)

Voz da alma

Beijo as Vossas mãos chagadas, Jesus, e por Vossa agonia no horto, livrai estes consoladores de Vosso Coração das chamas do Inferno...

Beijo Vossos pés chagados, Jesus, e por Vossa agonia no horto, livrai estes amigos de Vosso Coração de uma reprovação eterna...

Beijo Vosso peito aberto, Jesus, e por Vossa agonia no horto, livrai estes apóstolos de Vosso Coração do suplicio de maldizer-Vos eternamente...

(Breve pausa)

Voz do Mestre

E sabeis por qual caminho fácil se chega à reprovação final? Ferindo Meu coração com o pecado da ingratidão, abusando da misericórdia deste Deus, que é todo Caridade. Sou Jesus, isto é, Salvador. Vim para os que têm necessidade de médico, de paz e de fortaleza e, sobretudo, para os que necessitam de perdão, de misericórdia, e muito amor. A estes enfermos mostrei a piscina de toda saúde: meu Coração, que tudo absolve!

Ó e desta ternura tantos abusaram! Jamais neguei perdão a quem me pediu com humilde contrição, jamais... Por isso, porque a minha bondade é infinita, porque espero com inalterável paciência o pródigo, porque, ao regressar, esqueço os seus pecados e faço festa para celebrar a ovelha que chega ensanguentada ao redil dos meus amores, por isso, tantos se enchem e se condenam no abuso da absolvição que lhes outorgo. Detei-Vos, filhos Meus, na ladeira deste caminho, e chorai o extravio fatal de tantos irmãos vossos que me ferem, porque Sou Jesus dulcíssimo para com eles!

(Peçamos a Jesus perdão pelo abuso de sua misericórdia, especialmente nos Sacramentos da Confissão e da Eucaristia, dizendo a Ele:)

Que tenho eu, Senhor, que não me tenhais dado?
Que sei eu, que Vós não me tenhais ensinado?
Que valho eu, se não estou ao Vosso lado?
Que mereço eu, se a Vós não estou unido?
Perdoai-me os erros que contra Vós tenho cometido...

Pois me criastes, sem que eu o merecesse.
E me redimistes, sem que eu Vos pedisse.
Muito fizestes em me criar,
Muito mais em me redimir...

E não serás menos poderoso em perdoar-me,
Pois o muito sangue que derramastes,
E a cruel morte que padecestes,
Não foi pelos anjos que Vos adoram,
Mas por mim e pelos demais pecadores que Vos ofendem...

Se Vos tenho negado, deixai-me reconhecer-Vos,
Se Vos tenho injuriado, deixai-me reparar-Vos,
Se Vos tenho ofendido, deixa-me servir-Vos,
Porque é mais morte que vida
A que não está empregada em Vosso santo serviço...

(Pausa)

Jesus

Eu tenho ainda uma outra amável confidência para vos fazer. Todavia, recebei-a com especial carinho, pois quero falar-vos da minha Mãe. Maria jamais esteve ausente do meu Coração e seu nome repercutia nele com especial ternura, nas minhas horas de solidão e agonia. No Getsêmani, ó quantas vezes, pensei nela!

Eu a vi chorar amargamente a morte do Filho e dos filhos. Atado à coluna, despedaçaram a minha carne, e ao fazê-lo, flagelaram também a Virgem Imaculada, que me deu essa carne pura, para ser vosso irmão em seu seio. E, neste mesmo instante, entretanto, os carrascos borrifavam as paredes do calabouço com o meu sangue. Vi, no transcorrer dos tempos, o ultraje que fariam à minha Mãe os que negariam a sua maternidade divina, ofendendo ao mesmo tempo o Filho e a Mãe.

Muitos outros pretendem adorar-me, e a relegam a um glacial esquecimento, que fere ainda mais violentamente o meu Coração filial. Maria é vossa; amai-a, amai-a; ó dai-me um grande consolo nesta Hora Santa, uni as minhas lágrimas às de minha doce Mãe, ao consolar o meu entristecido Coração.

(Peçamos perdão ao Senhor Jesus pela dor causada por tantos católicos indiferentes à sua Mãe, tantos afastados e protestantes que recusam o seu amor a ela e que menosprezam ou negam a dignidade e as prerrogativas da Virgem Maria)

(Breve pausa)

E agora, falai-me vós, cujos nomes tenho inscrito em Meu Divino Coração; falai-me palavras que brotem do mais íntimo de vossas almas, unidas à Minha por laços de dor e de carinho imenso. Se tendes tristezas, contai-me; se sentes tédio da vida e, ao mesmo tempo, temor da morte, dizei-me. Ó falai-me sobretudo dos santos desejos que tendes de me ver consolado e de contemplar-me logo, Rei do Amor, pela misericórdia do Meu Sagrado Coração: falai-me, que vosso Deus vos escuta.

(Pausa)

As almas 

Senhor Jesus, nesta Hora Santa, trazemos aos Vossos pés um pedido amabilíssimo. Apresentamos nossos ombros carregados com as vossas mercês, com a alma cumulada com os vossos favores, enquanto Vós arrastais fatigado, agonizante, a Cruz de nossas iniquidades. Ah! Não é possível, Mestre, que para o pecador destineis principalmente o doce ônus da Vossa munificência e o cálice das Vossas ternuras e que reserveis para Vós o sofrimento da agonia, a amargura dos esquecidos e as perfídias incontáveis da terra.

Partilhai, pois, Jesus Sacramentado, partilhai conosco nesta Hora Santa todas as Vossas tristezas, e mesmo que não o mereçamos, aceitai-nos como Cirineus na via dolorosa que conduz ao monte do Calvário. Desde já Vos agradecemos os desgostos da vida; não só os aceitamos resignados, em expiação justíssima de tantas culpas próprias e alheias, não, Jesus, nós Vos bendizemos pelos espinhos que fizestes brotarem em nosso caminho com fins de misericórdia.

Ai! Não ignorais como se ressente nossa natureza nos combates da enfermidade, da pobreza, da calúnia, da ingratidão, dos esquecimentos, do cansaço da vida, da tristeza, das incertezas... Estamos falando de Jesus de Nazaré, nosso irmão, cujo Coração de carne, ó encantadora e divina fraqueza, ressentiu-se com as debilidades da miséria humana. Vos bendizemos, em particular, Jesus, por aquelas decepções diárias que nos desapegam das criaturas e nos fazem volver a Vós! Com que frequência nos aproximamos delas por um consolo momentâneo ou um rasgo de afeição e, então, por projetos de Vosso amor que não entendemos inteiramente, estes laços são rompidos e nossas almas se desvelam, porque quereis, com divino ciúme, o nosso pobre coração por inteiro para Vós! 

Obrigado, Jesus, por tal amável e divina austeridade! E assim como cuidais, Senhor, com zelo irresistível, da salvação dos Vossos filhos e tirais das Vossas dores a santificação da alma, assim também sabeis corresponder as infelicidades em manancial da fé; em ocasiões da fome e da desgraça, tirais a ressurreição e a vida. Bendito sejais, mil e mil vezes, Coração providente, benigno, salvador, que, de nossas grandes desolações, sabeis produzir eflúvios de paz, doçuras inefáveis e delicias do céu.

Divino agonizante do Getsêmani, Vos bendizemos e louvamos pelas tribulações e provas com as quais nos quereis fazer participantes das glórias do Vosso sangue. Espinhos do Coração Sagrado de Jesus, conformai em mim a coroa que aprisione o meu coração também! Torturas e agonia do Coração Sagrado de Jesus, apagai a minha sede de amor terreno e de aventuras! Cruz bendita e chamas do Coração Sagrado de Jesus, crucificai a minha sensualidade e meu orgulho! Ferida sangrenta do Coração de Jesus, dai-me entrada neste Horto da agonia, do amor e de uma sublime santidade!.

(Pausa)

O anátema de justiça tremenda que Vos arranca tantas almas atravessa o Vosso próprio Coração, Salvador amado e fere também os nossos, ansiosos por Vos glorificar e de ver santificado o Vosso nome e o Vosso Sangue derramado em em toda a terra para a salvação dos justos e a conversão dos pecadores. Ó como ficaríamos felizes ainda que arrebatássemos uma única alma da perdição eterna, com o nosso clamor de desagravo, nesta Hora Santa, para glória do Vosso Coração Sacramentado! Recolhei este pedido, Senhor, e salvai a tantos que estão em perigo de perder-se. Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

(Todos em voz alta)

Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

Aos soberbos que negam e rechaçam a existência de um Deus, Criador do Céu e da terra, e tudo quanto existe...
Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

Aos infelizes que negam, Salvador amado, Vossa encarnação maravilhosa, que não querem que Vós sejais nosso irmão por natureza humana...
Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

Aos que propagam estas negações e fazem delas bandeiras de combate, contra Vosso Evangelho e Vossos direitos soberanos...
Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

Aos que, seduzidos por palavras tenebrosas, apostatam da sua fé e renegam Vosso amor e Vossa lei...
Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

Aos que conspiram com raiva infernal para a destruição das instituições cristãs e que juraram derrotar-Vos na ruína de Vossa Igreja...
Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

Aos que em ódio à Vossa pessoa pretendem apagar Vossa Cruz da consciência das crianças, da alma do povo e dos lares...
Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

Aos que, com aparência de luz e com delicadeza de formas pretendem, sem violência, eliminar, Senhor, Vossa pessoa divina de todas as atividades da vida...
Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

Aos que por ignorância lamentável, fazem caso omisso de Vossa palavra e vivem tranquilos fora do ambiente da fé e das inserções de Vossa graça...
Convertei-os, Jesus, por Vosso Divino Coração!

E, enfim, Jesus, pelas milhares de almas que, em terras distantes, vivem, se movem e dormem nas sombras letais do paganismo, da heresia e da morte...
Convertei-os, Jesus, pelo Vosso Divino Coração!

(Pausa)

Tendes desejado confiar-me, Jesus, o Coração da Virgem Mãe, a fim de reparar as suas e as Vossas dores pelas ofensas daqueles que pretendem ser cristãos e que rechaçam a Vossa última palavra a São João no Calvário: 'Filho, Nela, em Maria, aí tendes vossa Mãe'. Senhor, a aceito envergonhado, e Vos ofereço em desagravo as dores, as penas, os prantos e as orações de todas as mães que Vos adoram na terra e que aclamam Maria como Rainha. Vós sabeis, Mestre, que amor e sinceridade existem em suas almas de heroínas; Vós sabeis quanto valem, como rezam, como amam, como sofrem... Jesus, pelas lembranças de Maria Imaculada, pelas lágrimas que Vós chorastes ao vê-la chorar em Vossa ausência, nos sofrimentos de Vossa paixão ignominiosa, escutai às mães que se sacrificam aos Vossos pés ensanguentados...

Vede como pedem, com fé ardorosa, a redenção de seus lares. Escutai como Vos aclamam Rei sobre os berços dos seus filhos e sobre o sepulcro dos seus esposos. Elas Vos pedem, Senhor, a vitória decisiva do Vosso Coração, nele confiam todos os tesouros de seu amor. Ai! São tantas as que temem pelo futuro cristão de seus filhos! São tantas as que padecem com eles as tristes conseqüências dos primeiros extravios! São tantas as que veem, em lágrimas, que as diversões mundanas, que as amizades e leituras perigosas, ameaçam a consciência e talvez a eterna salvação dos seus filhos! Vós às confiastes, adorável Nazareno, as almas do esposo e dos filhos, e elas as depositaram, com amor, sobre o altar de Vosso Sagrado Coração!

Ó Jesus, lembrai-Vos nesta Hora Santa de Vossa Mãe, como vos lembrastes dela no Horto das Oliveiras e, por favor às suas ternuras, às suas virtudes e dores, salvai os lares, salvai as famílias! Senhor, se uma só mãe comoveu o Vosso Coração e obteve a ressurreição de seu filho, ouvi o pedido de tantas mães sofridas nesta hora onipotente, santificai o santuário do lar, que Vós mesmos reivindicais como trono, ó Rei de amor!

(Peçamos esta graça com todo fervor de nossas almas)

(Pausa)

Vós solicitastes, amável Prisioneiro do altar, a nossa companhia consoladora nesta Hora Santa. Vossa caridade nos venceu; já vês; viemos, deixando tudo, tudo, para pedir, com santo fervor, a chegada do Vosso Reino. Que esperais, Jesus, para vencer, quando esta é a Hora da misericórdia e do poder irresistível do Vosso amor? Antes, pois, de esconder-Vos na suavíssima penumbra de Vossa prisão sacramental, deixai-nos exclamar com grito de caridade triunfante:

(Todos em voz alta)

Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

Apressai-Vos, Jesus, e reinai imediatamente antes que o demônio e o mundo Vos roubem as consciências e profanem, em Vossa ausência, todos os estados de vida...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

Levantai-vos Jesus, e triunfai nos lares, reinai neles pela paz inalterável prometida àqueles que Vos tem recebido com hosanas...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

Não demoreis, Mestre amado, porque muitos destes padecem aflições e amarguras que somente Vós prometestes remediar...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

Vinde, porque sois forte, Vós, o Deus das batalhas da vida, vinde mostrando-nos Vosso peito ferido, como esperança celestial na hora da morte...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

Sejais Vós o êxito prometido em nossos trabalhos; somente Vós, a inspiração e a recompensa de todos os nossos empreendimentos...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

Para vossos prediletos, quero dizer, os pecadores, não esqueçais que para eles, sobretudo, revelastes as ternuras incansáveis de Vosso amor...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

Ai, são tantos os tíbios, Mestre, tantos os indiferentes a quem deveis inflamar com esta admirável devoção...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

'Aqui está a vida', nos dissestes, mostrando-nos o Vosso peito atravessado; concedei-nos, pois, que aí bebamos o fervor e a santidade que aspiramos...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

Vossa imagem, a pedido Vosso, tem sido entronizada em muitas casas; em nome delas, Vos suplicamos, permanecei sendo, em todas elas, o Soberano muito amado...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

Ponde palavras de fogo, persuasão irresistível, vencedora, naqueles sacerdotes que Vos amam e que Vos pregam, como São João, Vosso apóstolo amado...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

E a todos que ensinem esta devoção sublime; a quantos publiquem vossas inefáveis maravilhas, reservai-lhes, Jesus, uma fibra similar àquela em que tendes gravado o nome de vossa Mãe...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

E, por fim, Senhor Jesus, dai-nos o céu do Vosso Coração, a estes que compartilham Vossa agonia nesta Hora Santa; por esta hora de consolo, e pela Comunhão das primeiras sextas-feiras, cumpri conosco as Vossas promessas infalíveis; e vos pedimos que na hora decisiva da morte...
Venha a nós o Reino do Vosso Sagrado Coração!

(Pausa)

Senhor Jesus, velamos uma hora convosco no Getsêmani e de bom grado ficaríamos acorrentados ao Sacrário para sempre, se Vosso amor o consentisse. Vamo-nos agora, levando paz, consolos e uma nova vida. Ah! Mas, sobretudo, nos despedimos com satisfação de haver dado a Vós, Mestre, alivio de caridade, desagravo de fé e reparação de amor, que reclamastes, entre soluços, à Vossa confidente Margarida Maria. Atendei, pois, Senhor Jesus, e acolhei com mansidão e bondade a nossa última oração.

(Lento e cortado)

Coração agonizante de Jesus, triunfai e sede a perseverança da fé e da inocência das crianças que comungam; sede, Vós, o Amigo delas!

Coração agonizante de Jesus, triunfai e sede a consolação dos pais nos lares cristãos; sede, Vós, a Vida deles!

Coração agonizante de Jesus, triunfai e sede o amor da multidão que sofre, dos pobres que trabalham; sede, Vós, o  Rei deles!

Coração agonizante de Jesus, triunfai e sede a doçura dos aflitos, dos tristes; sede, Vós, o Irmão deles!

Coração agonizante de Jesus, triunfai e sede a fortaleza dos indecisos e dos fracos; sede, Vós, a Vitória deles!

Coração agonizante de Jesus, triunfai e sede o fervor e a constância dos tíbios; sede, Vós, o Amor deles!

Coração agonizante de Jesus, triunfai e sede o céu ardente e vitorioso dos vossos apóstolos; sede, Vós, o Mestre deles!

Coração agonizante de Jesus, triunfai e sede o centro da vida militante da Igreja; sede, Vós, o lábaro triunfante dela!

Coração agonizante de Jesus, triunfai e sede na Eucaristia a santidade e o céu das almas; sede, vós, o paraíso de amor, o tudo para elas!

E enquanto não chega o dia eterno de cantar as Vossas glórias, deixai-nos, dulcíssimo Mestre, sofrer, amar e morrer sobre a celestial ferida do Vosso peito, murmurando aí, na chaga do Vosso amoroso Coração, esta palavra triunfadora: Venha a nós o Vosso Reino!

(Pausa)

Pai Nosso e Ave-Maria pelas intenções particulares dos presentes.
Pai Nosso e Ave-Maria pelos agonizantes e pecadores.
Pai Nosso e Ave-Maria pedindo o reinado do Sagrado Coração mediante a Comunhão frequente e diária, a Hora Santa e a Cruzada da Entronização do Rei Divino nos lares, sociedades e nações.

(Cinco vezes)

Divino Coração de Jesus, venha a nós o Vosso Reino!

Fórmula de consagração individual ao Sagrado Coração de Jesus, composta por Santa Margarida Maria 
Eu (nome) Vos dou e consagro, ó Sagrado Coração de Jesus Cristo, minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte de meu ser senão para Vos honrar, amar e glorificar. É esta minha vontade irrevogável: ser todo Vosso e tudo fazer por Vosso amor, renunciando de todo o meu coração a tudo quanto Vos possa desagradar. Tomo-Vos, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto do meu amor, protetor de minha vida, segurança de minha salvação, remédio de minha fragilidade e de minha inconstância, reparador de todas as imperfeições de minha vida e meu asilo seguro na hora da morte. 
Sede, ó coração de bondade, minha justificação diante de Deus, Vosso Pai, para que desvie de mim Sua justa cólera. Ó coração de amor! Deposito toda a minha confiança em Vós, pois tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero de Vossa bondade! Extingui em mim tudo o que possa desagradar-Vos, ou se oponha à Vossa vontade. Seja o Vosso puro amor tão profundamente impresso em meu coração, que jamais possa eu esquecer-Vos, nem separar-me de Vós. Suplico, por Vosso infinito amor, que meu nome seja escrito em Vosso coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda a minha glória em viver e morrer como Vosso escravo. Amém. 

(Hora Santa de Maio, pelo Pe. Mateo Crawley - Boevey)

sexta-feira, 29 de maio de 2015

A MÃE DE SÃO BERNARDO


A bem-aventurada Aletha teve sete filhos que foram todos santos. O mais velho de seus filhos se chamava Guido e a este se seguiram Gerardo, Bernardo, André, Bartholomeu, Nivardo e uma filha chamada Umbelina. Os contemporâneos que pessoalmente conheceram esta nobre família são unânimes em prestar grandes tributos de veneração a cada um de seus membros.

Eis o que diz um piedoso cronista do século XII, abade de Saint-Thierry: 'O filho mais velho de Aletha tinha um caráter grave e justo. Amado de Deus e cheio de modéstia, era dotado de uma notável inteligência que brilhava em todos os seus atos como em todas as suas palavras. Gerardo, o segundo filho, gozava da estima geral; tinha costumes simples e castos e uma rara prudência junto a uma não menos rara penetração de espírito. Bernardo, o terceiro, farol e modelo de seus irmãos, tornou-se uma forte coluna da Igreja. André, o quarto, tinha uma alma ingênua e terna, temente a Deus e infensa ao mal. Bartholomeu, na flor da idade, em saber e prudência avantajava os velhos e possuía todas as qualidades de uma vida sem mácula. Nivardo, o mais moço, preferiu os bens do céu às riquezas da terra. Umbelina, nascida em último lugar, soube fugir às atrações da vaidade mundana e chegou a ombrear em virtudes com os seus irmãos'.

A digna mãe dessa grande família de santos pode,  com todo louvor, ser oferecida como um modelo das mães cristãs. É verdade que ela teve a vantagem inapreciável de viver em uma época em que as famílias reproduziam, tanto quanto era possível, a imagem da santa casa de Nazaré. A Igreja, com a sua divina inteligência, regulava a vida privada do mesmo modo que a vida publica, fixava os princípios da educação e intervinha nas relações civis para as nobilitar e consagrar; de sorte que tudo concorria para fomentar a fé, fortalecer a virtude, exaltar os corações e incitar o amor dos grandes cometimentos.

O papel da mulher, nessa obra de civilização cristã, era verdadeiramente belo. A religião determinava todos os seus deveres; e dignificava-os. A mãe não julgava terminada a sua tarefa depois de ter provido a todas as coisas da vida temporal: as suas vistas se erguiam mais alto e a sua ação se estendia mais longe. Mãe cristã, ela iniciava na vida da graça aqueles a quem tinha dado a vida material, e a sua felicidade, como a sua glória, consistia em os ver progredir na virtude, ao mesmo tempo que cresciam em idade. 'A mãe de São Bernardo' — dizia um santo bispo — 'tomava os seus filhos nos braços, logo após o nascimento, para os oferecer a Jesus Cristo; e amava-os desde então com respeito, como si fossem um depósito santo que Deus lhe houvesse confiado. E disto resultou tornarem-se santos os sete filhos que teve'. Felizes os filhos que se desenvolvem sob esta influência cristã e maternal! 

Aletha havia desposado, muito jovem ainda o nobre Teulino, senhor de Fontaines, perto de Dijon. Ela tinha quinze anos apenas e já a sua alma, inspirada pela graça, visava um outro destino. Mas a Providência destinara-a a ser esposa e mãe e propagar em sua numerosa família as bênçãos que a enchiam. O seu mais ardente desejo foi transmitir ao coração de seus filhos a vocação religiosa que ela havia apreciado tanto em seus primeiros anos. Unida profundamente a Jesus Cristo, fonte de todo o amor, ela comunicava aos seus filhos, com o leite maternal, uma virtude toda celeste; formou-os para o céu bem mais do que para a vida deste mundo e ensinou-lhes, desde a mais tenra idade, a discernir o bem e o mal, a preferir o melhor e a amar acima de tudo o Pai das misericórdias e das eternas consolações. 

Esta piedosa mãe era como um anel sagrado que ligava seus filhos a Deus, prendendo-os à Igreja e fixando-os na vida de salvação eterna. Ensinava-lhes a amar, a rezar e a esperar, inspirando-lhes o temor de Deus, a confiança e o reconhecimento, o horror do mal e o desejo da virtude e da santidade. Aletha havia estabelecido no interior da sua casa a ordem perfeita e a disciplina prescrita pelas santas leis da Igreja. 'Eu não posso esquecer', diz o já citado biógrafo, 'quanto se esforçava esta distinta mulher por servir de exemplo e modelo a seus filhos. Dentro ou fora da sua casa, ela imitava de algum modo a vida religiosa pelas suas abstinências, pela simplicidade do seu vestuário e pelo seu afastamento dos prazeres e das vaidades do século. Furtava-se o quanto possível às agitações exteriores, observando os jejuns e as vigílias, perseverando na oração e resgatando por obras de caridade o que podia faltar à perfeição de uma pessoa ligada à sociedade por diferentes laços'.

Compreendem-se as impressões profundas que estes exemplos edificantes deviam ter gravado nas jovens almas que diariamente os testemunhavam. A fidelidade que os pais guardam à autoridade da Igreja é para os filhos o melhor meio de consagrar a fidelidade a todos os outros deveres. Aletha amava os seus com uma ternura desinteressada, sem nada ter desse egoísmo natural que procura nisto a sua própria satisfação e, cultivando as ricas faculdades de seus filhos, evitava provocar-lhes à superfície do espírito certa florescência precoce e brilhante que lisonjeia a vaidade, mas que não produz nenhum fruto. A história refere que ela os habituava a uma prática generosa de renúncia e de sacrifício; que procurava ensinar-lhes a mais útil de todas as ciências, a de sofrer com calma e dignidade; e que se aplicava sobretudo a fazer reinar entre eles, por um constante exercício de caridade fraternal, uma santa harmonia de gostos, de costumes, de ideias e de simpatias.

A austeridade desta educação cristã, temperada por tudo o que há de afetuoso e de suave no coração de uma mãe, desenvolveu as qualidades doces e vigorosas que se admiram em Bernardo e em seus irmãos. Cada um deles manifestou as mais sólidas aptidões e as mais nobres faculdades. Mas, entre as virtudes destes filhos abençoados, a piedade filial reluziu sempre como um diamante no meio das mais ricas pedrarias.

São Bernardo, ainda mais que seus irmãos, prezava sua mãe e se deleitava com a unção religiosa do coração maternal. Bem jovem ainda, ele imitava em segredo as boas obras de sua mãe, apiedava-se dos pobres e dos aflitos, era serviçal para os irmãos e condescendente, obsequioso para todos e, pelos seus progressos de cada dia, na carreira da virtude, preludiava a santidade que mais tarde lhe encheu a vida de celestial magnificência.

Um outro contemporâneo faz ver o quanto a venerável matrona era solícita em acudir a toda a espécie de infortúnios Aletha não se limitou a acolher os pobres com bondade; visitava-os nas choupanas, pois neste ofício de caridade gostava de fazer tudo por si mesma e servia os enfermos nos hospitais, distribuindo a uns e a outros remédios e vestidos e oferecendo a todos os perfumes das consolações evangélicas. 'Se fossemos a narrar tudo o que ela fazia' — acrescenta o biógrafo — 'talvez não acreditassem'.

Progredindo, dia a dia, de virtude em virtude, ela estava completamente preparada à sua última hora. Bernardo tinha vinte anos somente, quando Deus a levou. Foi um golpe terrível para o seu jovem coração, porque, nesta quadra da vida, a piedade filial está como que em plena florescência. O filho, nos seus primeiros anos, ama a sua mãe sem avaliar o preço de uma mãe; ama-a infantilmente, quase que por instinto apenas. Mas, na mocidade, já ele sabe apreciar a mãe e à sua extrema ternura se junta uma estima, uma confiança, um respeito que nenhuma frase poderia exprimir. A morte da venerável Aletha foi rodeada de circunstâncias tão tocantes que as não devemos omitir aqui. Por isso vamos deixar falar um santo monge que assistiu a esta comovente cena e que a conta com toda a singeleza:

'A mãe venerabilíssima do abade de Claraval costumava celebrar todos os anos magnificamente a festa de Santo Ambrósio, padroeiro da igreja de Fontaines, com um banquete solene para o qual todo o clero era convidado. Deus, querendo recompensar a particular devoção desta santa mulher pelo glorioso Ambrósio, fez-lhe conhecer, por meio de uma revelação misteriosa, que ela havia de morrer no mesmo dia da festa. Certamente que não é para espantar que uma tão digna cristã fosse dotada do espírito de profecia. Aletha disse então tranquilamente e com segurança a seu esposo, aos seus filhos e a toda a sua família reunida que o momento da sua morte era próxima.

Todos, estremecendo embora, recusaram crer o sombrio anúncio, mas não tardou que a realização deste dolorosamente os alarmasse. Na véspera de Santo Ambrósio, Aletha foi atacada de uma febre violenta. No dia seguinte, que era o da festa, pediu humildemente que lhe trouxessem o Sagrado Corpo de Jesus Cristo e depois de receber o Santíssimo Viático e a Extrema Unção, sentindo-se confortada, instou para que os eclesiásticos convidados não faltassem ao festim. Quando eles se achavam à mesa, Aletha mandou chamar Guido, seu filho mais velho, e recomendou-lhe que fizesse entrar no quarto, depois do banquete, todos os membros do clero que ali estavam. Guido executou fielmente o que a sua piedosa mãe lhe havia ordenado.

Estávamos todos reunidos em torno do seu leito, quando a serva de Deus nos declarou com ar sereno que era chegado o seu último momento. Ajoelhamo-nos logo todos a rezar a ladainha que Aletha ia também entoando enquanto tinha voz. Mas no instante em que o coro pronunciou esta frase: Per passionem et crucem tuarn, libera eam, Domine, a agonizante, recomendando-se ao Senhor, ergueu a débil mão para fazer o sinal da cruz e, parando nesta atitude, rendeu a sua santa alma que os anjos receberam e levaram para a mansão dos justos. É ai que ela espera, na paz de Deus, o despertar do seu corpo no grande dia da ressurreição, quando o supremo Juiz vier julgar os vivos e os mortos e o século pelo fogo.

Foi assim que esta alma santificada deixou o santo templo do seu corpo; a mão direita permaneceu erguida na mesma posição em que estava quando ela fez o seu último sinal da cruz, o que impressionou muito a todas as pessoas presentes. A feliz transmigração desta mulher cristã foi objeto de júbilo entre os anjos do céu; mas cá na terra este acontecimento mergulhou na desolação os pobres de Jesus Cristo, as viúvas e um grande número de órfãos que ela protegia'. Esta narração singela e tocante indica só por si a perfeita delicadeza do gênio desses séculos de ardente fé.

Sobre a lápide funerária da cripta de São Benigno, onde foram depositados os restos da bem aventurada Aletha. um piedoso escultor gravou o retrato de cada um de seus filhos. Mãe nenhuma teve jamais um epitáfio tão eloquente como este da mãe de São Bernardo. A morte não termina, porém, a missão augusta de uma mãe piedosa. Esta missão se perpetua, debaixo de outra forma, no mundo angélico.

Na vida do grande São Bernardo, nós encontramos irrecusáveis provas das relações que subsistiram além do túmulo, entre a bem aventurada Aletha e os seus filhos. Ela apareceu visivelmente a São Bernardo, segundo o testemunho de um doutor contemporâneo, dizendo-lhe: 'Acaba, meu filho, com coragem, o que começaste a fazer: eu te espero na glória divina'. Uma aparição semelhante a esta determinou a vocação do jovem André, irmão daquele santo. Em um momento em que ele resistia mais obstinadamente as impulsos da graça, exclamou de súbito: Vidi Matrem! 'Vi minha mãe!' E, imediatamente, se lançou comovido aos pés do irmão, consagrando-se desde então para sempre ao serviço de Jesus Cristo. Ó meu divino Salvador, suscita, eu vos conjuro, as mães verdadeiramente cristãs, a fim de que os santos apareçam de novo entre nós e a piedade torne a florescer como nos bons tempos de outrora, para consolação da Vossa Igreja.

(Excertos da obra 'Novo Manual das Mães Cristãs', do Pe. Theodoro Ratisbona, Editora Vozes, 1938).

quinta-feira, 28 de maio de 2015

A MÃE DE SÃO GREGÓRIO NAZIANZENO


Em meados do século IV, venerava-se em Nazianzo uma família, de que todos os membros se inscreveram, cada um por sua vez, no catálogo dos santos. A bem aventurada mãe destes santos se chamava Nonna. Deus lhe havia dado três filhos: São Gregório, São Cesário e Santa Gorgonia. Seu marido, chamado também Gregório e igualmente santo, por seus vastos conhecimentos se tornara ilustre; mas, infelizmente, se havia deixado seduzir pelas seitas heterodoxas que, nesse tempo, viciavam as igrejas do oriente.

A sua admirável esposa é que o fez voltar ao bom caminho, não por meio de contínuas exortações, senão pelas suas ardentes preces e pelos encantos da sua piedade. Ela exercia uma irresistível influência tanto sobre a filha e os dois filhos como sobre o marido. Àqueles, desde os mais ternos anos, inspirou ela o horror ao pecado e o amor à virtude e, ao mesmo tempo que lhes aperfeiçoava a vida moral, desenvolvia-lhes o espírito pela cultura das ciências, das artes e das letras.

O jovem Gregório, todo o tempo que estudava em Atenas, cuja célebre academia era frequentada por um mocidade licenciosa, nutriu na alma, sem se esquecer jamais os princípios que sua mãe lhe havia insinuado. Sempre em guarda contra as tentações desta famosa e corrupta cidade, ele se soube conservar íntegro e firme na sua fé no meio de uma sociedade essencialmente pagã. Felizmente a Providência ai lhe deparou um jovem companheiro e amigo que também se esforçava por seguir à risca os exemplos de uma santa mãe. Este amigo inseparável do nosso santo também veio a ser santo mais tarde: é o ilustre São Basílio Magno, um dos mais brilhantes fachos da fé católica.

Quanto a Gregório, a Igreja o denomina o teólogo por excelência. Ele próprio nos conta a santa intimidade que prendia o seu coração ao coração de Basílio. Morando e trabalhando juntos, tornou-se-lhes comum o que a cada um deles pertencia. Posto que cercados de idólatras e de sofistas, os jovens conservaram ilesa sempre a pureza da doutrina e dos costumes e viviam de tal modo afastados das mundanas agitações que, na grande cidade, não conheciam senão dois caminhos: o que os levava à Igreja e o que os levava à Academia.

Não escreveremos aqui a história deste grande bispo de Constantinopla que se tornou o oráculo de todas as igrejas do Oriente. Diremos apenas que reproduziu em si as nobres virtudes de sua mãe, a quem tomou por modelo, e a sua santidade eminente é como o belo fruto que nos faz conhecer as qualidades da árvore. Gregório fala-nos de sua mãe com fervoroso entusiasmo, tanto em seus discursos, como nas graciosas poesias que compôs e todas as suas fibras pulsam vivamente sempre que se abandona às efusões da piedade filial. Aqui temos algumas provas disto, colhidas em vários trechos esparsos das suas obras.

Minha mãe – escreve ele – era filha de uma raça de santos, mas excedeu em muito a santidade dos seus avós. Era indulgente e modesta, sabendo porém, desenvolver em certas circunstâncias uma força e energia de alma superior à coragem dos homens. Bem que fosse de sangue e estirpe nobre, o maior título de nobreza, a seus olhos, era o seu título de cristã e filha de Deus. Era muito bela, mas desprezava o falso brilho da vaidade e, deixando às atrizes e comediantes os adornos artificiais, para si mesma não procurava mais do que um simples crucifixo ou imagem divina que, aliás, já tinha gravado no coração. Os exercícios de piedade, a que se entregava com fiel vigilância, não a impediam de se ocupar dos serviços da casa e o admirável é que, quando desempenhava os seus deveres domésticos, parecia não cogitar no serviço de Deus, como também quando se absorvia em seus exercícios religiosos, se poderia supor que esquecia todos os encargos do lar; tanto é certo que essas duas ocupações, na aparência opostas, se confundiam sempre em sua consciência calma, serena e vigilante.

A oração era todos os dias o seu primeiro e principal alimento; e com tão vivo sentimento de confiança se entregava às suas preces que parecia estar mais segura do que assim pedia e esperava, do que os outros o estão dos bens em cuja posse se acham. E, ó como era caridosa a minha querida mãe – continua este ditoso filho – Ela era a providência dos órfãos, dos desvalidos e dos aflitos; e tão largo e tão ardente era o seu desejo de os aliviar, de os contentar, de os saciar, que ela teria descido às profundezas do oceano para daí tirar o que fosse necessário a todos os que padeciam sede e fome. Muitas vezes lhe ouvi dizer que, sendo preciso, de bom grado se venderia para não negar nunca uma esmola aos pobres que lhe causavam mais compaixão.

A sua vida, como a de todos os eleitos de Deus, foi bastante atravessada de dores e provações; muitas vezes bebeu ela o cálice amargoso de Jesus Cristo. Nessas dolorosas conjecturas, Nonna evitava que qualquer pessoa de sua casa fosse testemunha das suas penas; dissimulava-as delicadamente, reservando-as só para si, afim de poupar a sensibilidade dos que a amavam. Demais, ela considerava a cruz como a chave do paraíso e como o instrumento da santificação. No meio das piores vicissitudes, não fraquejava nunca; sempre firme e de pé se mantinha, como forte coluna, animando a todos com o seu exemplo, de que se irradiava a esperança e a paz.

Ardia inextinguível no seu coração, o fogo do divino amor, que ela atiçava pela meditação assídua dos textos sagrados, sopro vivificante que a enchia de uma lucidez e de uma dignidade toda celeste. Concebe-se a salutar influência de uma tão perfeita mãe sobre a educação dos filhos. As suas palavras, as suas lições e os seus conselhos, sustentados por constantes exemplos, repousavam sobre os princípios imutáveis dos livros santos, de sorte que seus filhos, obedecendo-lhe, obedeciam ao próprio Deus. Ela se mostrava particularmente zelosa em afastar da sua casa tudo que pudesse alterar a fé ou comprometer a moralidade, compreendendo que um elemento profano ou pagão se aliasse jamais com os hábitos das almas destinadas a serem as companheiras dos anjos. 

Não admira pois que todos os seus filhos se tornassem santos. Também nenhuma bênção faltou a esta família cristã. A bem aventurada mãe e o bem aventurado pai de São Gregório de Nazianzo chegaram à mais avançada idade, pois tinham ambos cerca de cem anos quando deixaram este mundo para irem no outro receber a eterna palma. O real salmista deu um dia à sua harpa sonora este belo tema: Generatio rectorum benedicetur. A geração dos corações retos será bendita!

Não há nada melhor do que verificar o cumprimento desta profecia. Preciosíssima é a herança que os pais fiéis transmitem à sua posteridade. As mais sólidas fortunas da terra se desmantelam, as mais ricas vantagens desaparecem e as mais brilhantes pompas, como os mais vivos prazeres, não duram mais do que um dia; ao passo que a bênção de Deus atravessa as idades e os séculos, semelhante a um largo rio, que espalha longe, bem longe, a fecundidade, a exuberância e a vida.

(Excertos da obra 'Novo Manual das Mães Cristãs', do Pe. Theodoro Ratisbona, Editora Vozes, 1938).

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A MÃE DE SANTO AGOSTINHO


A mãe do grande Santo Agostinho oferece exemplo de perfeição às esposas, às viúvas e às mães cristãs. Seu próprio filho é quem nos ensina a conhecê-la e a apreciá-la. Santa Mônica era de tal modo cheia do seu Deus que ninguém se podia aproximar dela sem se possuir do desejo de ser bom, pois nela brilhavam reunidas todas as qualidades da mulher forte da Escritura. Não soube jamais retribuir o mal nem ter nos lábios uma expressão áspera, senão doces e benévolas palavras que lhe vinham diretamente do coração, tesouro inesgotável de bondade e doçura. Ó como é amável a mulher evangélica, quando a estrela da piedade lhe ilumina o semblante!

É uma providência para milhares de aflitos e o seu simples aspecto infunde veneração e a santa suavidade que lhe banha o rosto cerca-se de uma estranha auréola de graça e de simpatia. As intrigas e as conversações fúteis do mundo não despertam a sua curiosidade nem excitam as suas atenções e as vãs homenagens não a ostentam, nem as injustiças dos outros lhe arrancam murmúrios e queixas, porque ela é sempre igual a si mesma e pelo seu silêncio como pela sua voz, por todos os seus atos e pelos sacrifícios de cada dia e de cada instante, honra a religião, edifica a sociedade e brilha diante dos homens com uma luz serena, pura e ideal, que parece um lampejo de Deus.

Mônica não é propriamente uma dessas almas excepcionais, cuja perfeição espanta a fraqueza humana e que por suas obras heroicas escapam à nossa imitação. Não nos aparece sob as formas de uma severa austeridade, nem a sua vida se assinala por milagres. A sua santidade se manifestou, porém, no circulo dos deveres de uma situação comum: Mônica aperfeiçoou sua alma no meio dessas dificuldades ordinárias em que se encontram a maior parte das mulheres cristãs.

Como esposa, qual foi a sua vida? O seu biógrafo confessa que ela tinha um marido insuportável. Digamos tudo: este marido era pagão. Ai de nós! Que o paganismo ainda existe nos tempos modernos, pois não poucos cristãos se tornam estranhos a Jesus Cristo, adoram a fortuna e incensam ídolos, reduzindo a essa miséria toda a sua religião! Quantos homens, aliás, honrados e instruídos, não conhecem mais o cristianismo e andam arredios deste! Eles tinham aprendido, talvez, nos seus primeiros anos, os rudimentos da religião, mas depois fecharam para sempre o catecismo, imaginando já saberem tudo. Pronunciaram-se então sobre esta vasta doutrina de que nada sabem, considerando-a indigna dos espíritos sérios, muito abaixo dos progressos da ciência e em desacordo com as luzes do século. Que estranha apreciação! 

É como se quisesse julgar das proporções de um homem pelas dimensões de um berço. Disto resulta que, inteiramente absorvidos pelos negócios e coisas da terra, que lhes fazem esquecer tudo que respeita à eternidade, eles repelem a religião como inútil ou embaraçosa para si, tolerando-a apenas para as mulheres e as crianças. Não se lembram de que a doutrina católica cativou os mais eminentes gênios que tenham honrado o mundo, quer pelas suas investigações e descobertas no domínio da ciência, quer pelos seus feitos grandiosos, e consideram talvez como espíritos fracos os Agostinhos, os Jerônimos, os Crisóstomos, os Bernardos e Tomás de Aquino e Inácio de Loyola e Vicente de Paulo e Fenelon e tantos outros luzeiros da ciência divina. E ainda bem, quando esses a que nos referimos não são mais do que simples indiferentes e não se lançam a perseguir com a sua hostilidade ou as suas zombarias as práticas da piedade cristã. Muitas esposas se encontram atualmente nas mesmas condições em que vivia Santa Mônica. Qual deve ser, porém, a regra do proceder delas em tão difíceis circunstâncias?

Seja a mãe cristã, para seu esposo, um catecismo vivo e um compêndio de teologia! Seja, para ele, a exemplo de Santa Mônica, um anjo de edificação e de salvação! Sem dúvida que lhe não compete pregar ou doutrinar, porquanto a sua graça é, ao contrário, a do silêncio; mas este silêncio, só por si, vale uma boa pregação, quando é manso, afável e simpático. Não há eloquência nem lição tão capaz de revelar sob formas atraentes as belezas do cristianismo como a piedade serena e afável da mãe cristã, pois assim a sua vida inteira, opulenta em virtudes, torna-se uma pura manifestação do Evangelho.

Vós chamareis a vós os homens de bem e os salvareis, não por solicitações reiteradas e inoportunas, mas por atos de generosa abnegação, pelas vossas secretas e perseverantes orações, pela vossa dedicação e, sobretudo por um espírito cheio de mansidão evangélica! Ela opera maravilhas que a mais assombrosa magia do mundo não saberia imitar jamais. É um singular talismã que assegura à esposa infalíveis triunfos. 'Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra'. Foi assim que obteve Mônica o seu primeiro triunfo: ela salvou a alma do esposo pela distinção do seu espírito, pela mansidão e brandura da sua piedade. Mas Santo Agostinho, o santo bispo de Hipona, continuando a referir-nos as qualidade eminentes de sua mãe, não quis que ficássemos ignorando o modelo de vida que ela abraçou depois da morte do marido.

Entregando-se toda a Deus, Mônica fechou o coração às seduções de terra, para o não abrir nunca mais senão às inspirações do céu. Segundo os livros sagrados é este, com efeito, o compromisso que a viúva cristã deve firmar. A mulher que passa a sua viuvez em festas e prazeres, diz o grande Apóstolo, parece estar viva, mas de fato está morta; está morta diante de Deus. A verdadeira viúva, segundo a significação da palavra, é a que se sente vazia; vazia de toda a paixão, vazia de toda a afeição desordenada, vazia de todas as recordações importunas e de todos os apegos mundanos, para só se encher, como um vaso de honra, vas honorabile, do bálsamo do amor divino. Ela só pode aspirar às consolações imortais e, por isso, é unicamente para o céu que o seu coração e as suas esperanças se devem voltar. Speret in Domino!

Que a viúva se abstenha, continua São Paulo, de usar mal da sua liberdade, consumindo o seu tempo em ir de casa em casa, a ostentar a sua ociosidade em visitas inúteis e a sacrificar ao luxo as oferendas a que tem direito a caridade. Não tem justificação perante Deus a que perde assim o seu tempo e o faz perder aos outros. É preferível tornar a casar-se a arriscar a alma; mas, casando-se de novo, acrescenta o Apóstolo, ela sofrerá aflições que eu desejaria evitar-lhe. A vida é uma prova rápida e grave em que se prepara o futuro destino. Que loucura é prender-se às ilusões do mundo, em vez de procurar as realidades do supremo e eterno júbilo! A viúva desligada dos laços do mundo está bastante livre e desembaraçada para se consagrar, como as virgens, ao serviço do Senhor, e, quando ela é fiel e zelosa, torna-se digna de uma glória imperecível perante Deus e perante os homens.

Santa Mônica compreendeu as recomendações evangélicas e as executou no meio das circunstâncias difíceis da sua viuvez. Ela tinha um filho de vinte anos; e quando a mãe carrega sozinha com o peso de uma responsabilidade tão grave, precisa possuir mais do que uma virtude ordinária: precisa ser mãe e pai ao mesmo tempo, isto é, juntar uma prudente sagacidade à sua natural ternura e uma firmeza masculina a uma delicada indulgência.

O filho de Mônica, bem que muito jovem ainda, gozava já de grande retórica nomeada pela sua eloquência, arte esta que ele professava com brilho nas mais célebres academias do tempo, aonde o povo afluía de todas as partes, só para o ouvir falar. Tanta glória seria mais que suficiente para fascinar a vaidade do jovem Agostinho e de qualquer mãe menos cristã do que Santa Mônica. Esta, porém, inteiramente desprendida das vãs satisfações do amor próprio e colocada muito acima das ambições vulgares, não somente se manteve inacessível aos ataques da vanglória humana, como também de algum modo serviu sempre de contrapeso às exaltações juvenis de seu filho, sobre cuja soberba e vigorosa inteligência não deixou nunca de conservar um verdadeiro ascendente. Se a não desvaneciam os louros triunfantes do filho, também os desvios deste não conseguiam desanimá-la. As suas constantes preces, as suas piedosas lágrimas e a virtude das suas dores e da sua paciência fizeram surgir na Igreja o grande Santo Agostinho.

Feliz a mãe que, ao sair deste mundo, recebe as últimas consolações da boca de um filho consagrado ao Senhor! Ela abençoou seu filho e o filho abençoou sua mãe! Seus nomes se entrelaçaram no santo altar, inscrevendo-se ambos no livro da vida. As glórias que os homens reciprocamente se conferem, depressa passam e se esvaem; e a mãe que, para seus filhos, tão frágeis e fugitivas glórias ambiciona, nenhuma vantagem colherá perante Deus. Mas vós, ó mães cristãs, que introduzis vossos filhos na senda real da salvação, onde os haveis precedido; vós sim é que os sabeis amar verdadeiramente, pois granjeais para eles uma incorruptível e imarcescível coroa de honra. Desde então recebeis, em paga do vosso amor, o mais profundo, o mais delicioso de todos os sentimentos, o amor filial que não se altera jamais e que jamais se esgota e que não cessará de celebrar, tanto no céu como na terra, a vossa dedicação, os vossos sacrifícios e os vossos piedosos desvelos.

Se Mônica não tivesse ambicionado para Agostinho senão fúteis glórias humanas, nem ela seria Santa Mônica nem seu filho viria a ser o santo que é, o grande Santo Agostinho. Ela preferiu, seguido os conselhos da alta sapiência, os bens imortais do céu a todas as fortunas da terra; e é por isso que a sua memória, juntamente com a de seu filho, será eternamente abençoada.

(Excertos da obra 'Novo Manual das Mães Cristãs', do Pe. Theodoro Ratisbona, Editora Vozes, 1938).