terça-feira, 31 de março de 2015

ORAÇÃO DO CALVÁRIO


Dai-me, Senhor, a Vossa angústia no Monte das Oliveiras, para que eu me surpreenda com o Vosso horror ao pecado;

Dai-me, Senhor, o Vosso suor de sangue para que eu possa apagar o fogo das minhas inquietudes;

Dai-me, Senhor, as marcas dos Vossos flagelos, para que eu possa curar-me das feridas da vaidade;

Dai-me, Senhor, a dor lancinante dos espinhos que perfuraram a Vossa fronte para que possa aliviar os Vossos filhos que sofrem;

Dai-me, Senhor, a Vossa agonia na subida do Calvário para que eu seja capaz de abrir caminhos nas marcas de Vossas sandálias;

Dai-me, Senhor, o desfalecimento das Vossas quedas para que eu possa erguer da terra com mais perseverança;

Dai-me, senhor, o peso do madeiro que vergaste Vossos braços no Calvário, para que eu me desfaleça diante da minha miséria;

Dai-me, Senhor, a rigidez dos pregos cortando Vossos membros, para que eu tenha a ternura dos que constroem a paz;

Dai-me, Senhor, o assombro de Vossos espasmos para que a sombra do orgulho não acompanhe os meus passos;

Dai-me, Senhor, a Vossa sede atroz para que eu possa saciar a muitos com o refrigério da esperança;

Dai-me, Senhor, a Vossa compaixão diante dos Vossos algozes, para que eu saiba amar sem medida alguma;

Dai-me, Senhor, o Vosso peito aberto à lança que mata, para que eu defenda a vida ainda que no ventre;

Dai-me, Senhor, a água que brota do Vosso coração dilacerado para que eu possa lavar todas as minhas faltas;

Dai-me, Senhor, a Vossa Cruz bendita para que um dia, diante de Vós, eu não chegue de mãos vazias...

(Arcos de Pilares)   

segunda-feira, 30 de março de 2015

INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS DA SEMANA SANTA


No riquíssimo acervo das indulgências concedidas pela Santa Igreja, concessões diversas são dadas aos fieis por ocasião do Tríduo Pascal (Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Vigília Pascal) para a obtenção de indulgências plenárias, desde que atendidas as demais condições habituais*:

Quinta-Feira Santa

· Recitação ou canto do hino eucarístico 'Tantum Ergo' durante a solene adoração ao Santíssimo Sacramento que se segue à Missa da Ceia do Senhor;

· Visita e adoração ao Santíssimo Sacramento pelo prazo de meia hora.

Sexta-Feira Santa

· Participação piedosa da Veneração da Cruz na solene celebração da Paixão do Senhor.

Sábado Santo  

· Recitação do Santo Rosário.

· Participação piedosa da celebração da Vigília Pascal, com renovação sincera das promessas do Batismo.

Domingo de Páscoa

· Participação devota e piedosa à benção dada pelo Sumo Pontífice a Roma e ao mundo (bênção Urbi et Orbi), ainda que por rádio ou televisão.


* Condições adicionais para obtenção de uma indulgência plenária:

1. Exclusão de todo afeto a qualquer pecado, inclusive venial.

2. Confissão Sacramental, Comunhão Eucarística e Oração pelas Intenções do Sumo Pontífice. 

(i) estas condições podem ser cumpridas uns dias antes ou depois da execução da obra enriquecida com a Indulgência Plenária, mas é da maior conveniência que a comunhão e a oração pelas intenções do Sumo Pontífice se realizem no mesmo dia em que se cumpre a obra.

(ii) a condição de orar pelas intenções do Sumo Pontífice é cumprida por meio da oração de um Pai Nosso, Ave-Maria e Glória ou uma outra oração segundo a piedosa devoção de cada um.

domingo, 29 de março de 2015

'HOSANA AO FILHO DE DAVI!'

Páginas do Evangelho - Domingo de Ramos


No Domingo de Ramos, tem início a Semana Santa da paixão, morte e ressurreição de Nosso senhor Jesus Cristo. Jesus entra na cidade de Jerusalém para celebrar a Páscoa judaica com os seus discípulos e é recebido como um rei, como o libertador do povo judeu da escravidão e da opressão do império romano. Mantos e ramos de oliveira dispostos no chão conformavam o tapete de honra por meio do qual o povo aclamava o Messias Prometido: 'Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!' (Mc 11, 9 - 10).

Jesus, montado em um jumento, passa e abençoa a multidão em polvorosa excitação. Ele conhece o coração humano e pode captar o frenesi e a euforia fácil destas pessoas como assomos de uma mobilização emotiva e superficial; por mais sinceras que sejam as manifestações espontâneas e favoráveis, falta-lhes a densidade dos propósitos e a plena compreensão do ministério salvífico de Cristo. Sim, eles querem e preconizam nEle o rei, o Ungido de Deus, movidos pelas fáceis tentações humanas de revanche, libertação, glória e poder.

Mas Jesus, rei dos reis, veio para servir e não para reinar sobre impérios forjados pelos homens. '... meu reino não é deste mundo' (Jo 18, 36). Jesus vai passar no meio da multidão sob ovações e hosanas de aclamação festiva; Jesus vai ser levado sob o silêncio e o desprezo de tantos deles, uns poucos dias depois, para o cimo de uma cruz no Gólgota.

Neste Domingo de Ramos, o Evangelho evoca todas as cenas e acontecimentos que culminam no calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo: os julgamentos de Pilatos e Herodes, a condenação de Jesus, a subida do calvário, a crucificação entre dois ladrões e a morte na cruz...'Eli, Eli, lamá sabactâni?' (Mt 27, 46). Na paixão e morte de cruz, Jesus revela seu amor desmedido pela criação do Pai e desnuda a perfídia, a ingratidão, a falsidade e a traição dos que se propõem a amar com um amor eivado pelos privilégios e concessões aos seus próprios interesses e vantagens. 

A fé é forjada no cadinho da perseverança e do despojamento; sem isso, toda crença é superficial e inócua e, ao sabor dos ventos, tende a se tornar em desvario. Dos hosanas de agora ao 'Seja crucificado!' (Mt 27, 22 - 23) de mais além, o desvario humano fez Deus morrer na cruz.  O mesmo desvario, o mesmo ultraje, a mesma loucura que se repete à exaustão, agora e mais além no mundo de hoje, quando, em hosanas ao pecado, uma imensa multidão, em frenesi descontrolado, crucifica Jesus de novo em seus corações! 

sábado, 28 de março de 2015

SENHOR DOS PASSOS


Nosso Senhor dos Passos é a devoção celebrada pela Santa Igreja, desde a Idade Média, em memória à Via Crucis percorrida por Jesus na sua Paixão e Morte no Calvário. Jesus é representado com a cruz às costas, símbolo maior da fé cristã: pela cruz, fomos resgatados do pecado; pela cruz, nos foi legada a salvação da humanidade. A devoção teve início com a visita dos cruzados aos lugares santos do caminho para o Calvário percorrido por Jesus, fixados nas 14 estações da Via sacra, no século XVI:

I. Jesus é condenado à morte
II. Jesus carrega a Cruz às costas
III. Jesus cai pela primeira vez
IV. Jesus encontra a sua Mãe
V. Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a Cruz
VI. Verônica limpa o rosto de Jesus
VII. Jesus cai pela segunda vez
VIII. Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
IX. Terceira queda de Jesus
X. Jesus é despojado de suas vestes
XI Jesus é pregado na Cruz
XII. Morte de Jesus na Cruz
XIII. Descida do corpo de Jesus da Cruz
XIV. Sepultamento de Jesus

Neste tempo da Quaresma e às vésperas da Semana Santa, esta devoção é comumente celebrada sob a forma de duas procissões distintas:

(i) a primeira é a chamada 'Procissão do Depósito' (comumente realizada no 'Sábado dos Passos', que antecede o Domingo de Ramos), em que a imagem velada de Nosso Senhor dos Passos é conduzida até uma determinada igreja (procissão similar é comumente realizada no dia anterior, com a imagem de Nossa Senhora das Dores);

(ii) a segunda é a chamada 'Procissão do Encontro', na qual a imagem do Senhor dos Passos é levada ao encontro de sua Mãe Santíssima (representada em outra procissão, vinda de direção diferente, como Nossa Senhora das Dores), que haviam sido previamente encerradas em igrejas próximas, pelas respectivas procissões de depósito.

A procissão do encontro, em muitas regiões, acontece na Quarta-feira Santa à noite; em outras, é comumente realizada na tarde do Domingo de Ramos. De acordo com uma tradição muito antiga, são as mulheres que devem fazer a procissão que conduz a imagem de Nossa Senhora das Dores, com cantos penitenciais e com figuras bíblicas representando Maria Madalena, Verônica e outras mulheres que acompanharam a caminhada de Jesus para o Calvário. A outra procissão fica ao encargo dos homens, que carregam a imagem do Senhor dos Passos, figura de Jesus Cristo coroado de espinhos e carregando uma cruz. 

As duas procissões, convergem, então, para o local do encontro, onde é proferido o chamado 'Sermão do Encontro', no qual são relembrados os fatos ocorridos na Sexta-feira Santa e se recorda as dores de Nossa Senhora e o sofrimento de Jesus, conclamando o povo à penitência e à conversão. Nesta exortação, o pregador proclama o chamado 'Sermão das Sete Palavras', alusão direta às sete breves frases pronunciadas por Jesus durante a sua crucificação: 

1. 'Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem' (Lc 23,34 a);
2. 'Hoje estarás comigo no paraíso' (Lc 23,43);
3. 'Mulher eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe' (Jo 19,26-27);
4. 'Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?!' (Mc 15,34);
5. 'Tenho sede' (Jo 19,28 b);
6. 'Tudo está consumado' (Jo 19,30 a);
7. 'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito' (Lc 23,46 b).


Após o sermão, Verônica entoa um hino e mostra a toalha ensanguentada com a face de Cristo. A parte final da procissão consiste na condução conjunta de ambas as imagens até um destino final, representando os Passos da Paixão no caminho do Calvário. O evento é, então, finalizado, com o chamado 'Sermão do Calvário', que proclama as dores e sofrimentos de Jesus ao longo de sua condenação, paixão, crucificação e morte na cruz.

ORAÇÕES A NOSSO SENHOR DOS PASSOS

'Ó Jesus, relembro tua Paixão, teu Calvário e tuas dores. Olhando as imagens do Senhor carregando a Cruz, imagens com as quais te invocamos sob o título de Nosso Senhor dos Passos e veneramos como símbolos de teu sacrifício e representação de teu ato de amor salvífico, que foi teu sacrifício na cruz, te pedimos como teu discípulo Pedro: Senhor, salva-nos! Salva-nos por tua Cruz, salva-nos por teu sangue; salva-nos por tua misericórdia; salva-nos por teu amor e cura-nos de nossas feridas tanto físicas quanto espirituais, emocionais e psíquicas. Amém'.

'Meu Jesus, Senhor dos Passos, açoitado, coroado de espinhos, escarnecido e cuspido, condenado à morte, carregado com a cruz, caído por terra, pregado no madeiro! Vós sois a Vítima das nossa iniquidades. Eu quero acompanhar os vossos dolorosos passos rumo ao Calvário, em cujo cimo consumiu-se a vossa vida. Mas, do vosso sacrifício, brotou a nossa salvação. Senhor dos Passos, perdoai as minhas maldades e apagai os pecados de todo o mundo. Meu Jesus, Senhor dos Passos, tende piedade de nós. Amém'.

PALAVRAS DE SALVAÇÃO (PARA BEM VIVER A SEMANA SANTA)

'Se és Simão Cireneu, toma a cruz e segue a Cristo. Se, qual o ladrão, estás crucificado com Cristo, como homem íntegro, reconhece a Deus; adora aquele que foi crucificado por tua causa. Se és José de Arimateia, pede o corpo a quem o mandou crucificar; e assim será tua a vítima que expiou o pecado do mundo. Se és Nicodemos, aquele adorador noturno de Deus, unge-o com perfumes para a sua sepultura. Se és Maria, ou a outra Maria, ou Salomé, ou Joana, derrama tuas lágrimas por ele. Levanta-te de manhã cedo, procura ser o primeiro a ver a pedra do túmulo afastada, e a encontrar talvez os anjos, ou melhor ainda, o próprio Jesus'.

(São Gregório de Nazianzeno)

sexta-feira, 27 de março de 2015

DA INSENSATEZ DO MUNDO

'Assim que a tua devoção se for tornando conhecida no mundo, maledicências e adulações te causarão sérias dificuldades de praticá-la. Os libertinos tomarão a tua mudança por um artifício de hipocrisia e dirão que alguma desilusão sofrida no mundo te levou por pirraça a recorrer a Deus. Os teus amigos, por sua vez, se apressarão a te dar avisos que supõem ser caridosos e prudentes sobre a melancolia da devoção, sobre a perda do teu bom nome no mundo, sobre o estado de tua saúde, sobre o incômodo que causas aos outros, sobre a necessidade de viver no mundo conformando-se aos outros e, sobretudo, sobre os meios que temos para salvar-nos sem tantos mistérios.

Filoteia, tudo isso são loucas e vãs palavras do mundo e, na verdade, essas pessoas não têm um cuidado verdadeiro de teus negócios e de tua saúde: 'Se vós fôsseis do mundo', diz Nosso Senhor, 'amaria o mundo o que era seu; mas, como não sois do mundo, por isso ele vos aborrece'. Veem-se homens e mulheres passarem noites inteiras no jogo; e haverá uma ocupação mais triste e insípida do que esta? Entretanto, seus amigos se calam; mas, se destinamos uma hora à meditação ou se nos levantamos mais cedo, para nos prepararmos para a santa comunhão, mandam logo chamar o médico, para que nos cure desta melancolia e tristeza. Podem-se passar trinta noites a dançar, que ninguém se queixa; mas por levantar-se na noite de Natal para a Missa do Galo, começa-se logo a tossir e a queixar de dor de cabeça no dia seguinte.

Quem não vê que o mundo é um juiz iníquo, favorável aos seus filhos, mas intransigente e severo para os filhos de Deus? Só nos pervertendo com o mundo, poderíamos viver em paz com ele, e impossível é contentar os seus caprichos. 'Veio João Batista', diz o divino Salvador, 'o qual não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Ele está possesso do demônio. Veio o Filho do Homem, come e bebe, e dizeis que é um samaritano'.

É verdade, Filoteia, se condescenderes com o mundo e jogares e dançares, ele se escandalizará de ti; e, se não o fizeres, serás acusada de hipocrisia e melancolia, se te vestires bem, ele te levará isso a mal, e, se te negligenciares, ele chamará isso baixeza de coração. A tua alegria terá ele por dissolução e a tua mortificação por ânimo carrancudo; e, olhando-te sempre com maus olhos, jamais lhe poderás agradar. As nossas imperfeições ele considera pecados, os nossos pecados veniais ele julga mortais, e malícias, as nossas enfermidades; de sorte que, assim como a caridade, na expressão de S. Paulo, é benigna, o mundo é maligno.

A caridade nunca pensa mal de ninguém e o mundo o pensa sempre de toda sorte de pessoas; e, não podendo acusar as nossas ações, condena ao menos as nossas intenções. Enfim, tenham os carneiros chifres ou não, sejam pretos ou brancos, o lobo sempre os há de tragar, se puder. Procedamos como quisermos, o mundo sempre nos fará guerra. Se nos demorarmos um pouco mais no confessionário, perguntará o que temos tanto que dizer; e, se saímos depressa, comentará que não contamos tudo. Espreitará todas as nossas ações e, por uma palavra um pouco menos branda, dirá que somos insuportáveis. Chamará avareza o cuidado por nossos negócios, e idiotismo a nossa mansidão. Mas, quanto aos filhos do século, sua cólera é generosidade; sua avareza, sábia economia; e suas maneiras livres, honesto passatempo. É bem verdade que as aranhas sempre estragam o trabalho das abelhas!

Abandonemos este mundo cego, Fioloteia; grite ele quanto quiser, como uma coruja, para inquietar os passarinhos do dia. Sejamos firmes em nossos propósitos, invariáveis em nossas resoluções e a constância mostrará que a nossa devoção é séria e sincera. Os cometas e os planetas parecem ter o mesmo brilho; mas os cometas, que são corpos passageiros, desaparecem em breve, ao passo que os planetas brilham continuamente. Do mesmo modo muito se parece a hipocrisia com a virtude sólida e só se distingue porque aquela não tem constância e se dissipa como a fumaça, ao passo que esta é firme e constante.

Demais, para assegurar os começos de nossa devoção, é muito bom sofrer desprezos e censuras injustas por sua causa; deste modo nós nos prevenimos contra a vaidade e o orgulho, que são como as parteiras do Egito, às quais o infernal faraó mandou matar os filhos varões dos judeus no mesmo dia de seu nascimento. Enfim, nós estamos crucificados para o mundo e o mundo deve ser crucificado para nós. Ele nos toma por loucos; consideremo-lo como um insensato'.

(Excertos da obra 'Filoteia ou Introdução à Vida Devota', de São Francisco de Sales)

quinta-feira, 26 de março de 2015

DO JEJUM QUARESMAL

'Depois de ter posto as cinzas sobre a cabeça dos fieis, a Santa Igreja ordena aos seus ministros que os notifiquem sobre a necessidade do jejum quaresmal: 

Canite tuba in Sion: sanctificate ieiunium (Jl 2, 15): ‘Fazei soar a trombeta em Sião, santificai o jejum’.

Lembra, pois, ó cristão, que em breve terás de deixar o mundo e, portanto, cuida da tua eternidade e procura aplacar a justiça divina com penitências e orações'.


'Ó meu amabilíssimo Redentor, consenti que eu una à minha salutar abstinência com a que Vós com tanto rigor por mim quisestes observar no deserto. Consenti também que nesta união eu a ofereça ao vosso Pai Divino, como protestação de minha obediência à Igreja, em desconto de meus pecados, pela conversão dos pecadores e em sufrágio das almas santas do purgatório. Tenho intenção de renovar esta oferta em todos os dias da Quaresma. Vós, porém, ó Senhor, concedei-me a graça de começar este solene jejum com a devida piedade e de continuá-lo com devoção constante, a fim de que, chegada a Páscoa, depois de ter ressurgido convosco para a vida da graça, também eu seja digno de ressuscitar para a vida da glória. Fazei isso pelo amor de Maria Santíssima'.

(Santo Afonso Maria de Ligório)

quarta-feira, 25 de março de 2015

NOS TEMPOS DO ANTICRISTO


Nos dias difíceis e de tempestade da Igreja, ai das almas minadas pela incerteza e nas quais a fé e a piedade estiverem ainda em estado embrionário ou ainda na infância. Umas, surpreendidas no embaraço de suas incertezas e atrasadas por causa das irresoluções de seu espírito constantemente irrequieto, estarão muito pesadas para escapar às perseguições do anticristo. Outras, tendo apenas degustado os mistérios da fé e embebidas somente de uma fraca dose de ciência divina, não terão força suficiente e habilidade necessária para resistir a tão grandes assaltos'.

...

'Na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles' (Mt 14, 25). Na expressão 'quarta vigília da noite' encontra-se o número correspondente às marcas da sua solicitude. Com efeito, a primeira vigília foi a da Lei, a segunda a dos profetas, a terceira a da sua vinda corporal, a quarta coloca-se no seu regresso glorioso. Mas Ele encontrará a Igreja decadente e cercada pelo espírito do Anticristo e por todas as agitações deste mundo; virá num momento de extrema ansiedade e de tormentos. [...] Os discípulos estarão aterrorizados pela vinda do Senhor, temendo as imagens da realidade deformadas pelo Anticristo e pelas ficções que se insinuam no olhar. Mas o Senhor, que é bom, falar-lhes-á imediatamente, afastará o seu medo e lhes dirá: 'Sou eu', dissipando, pela fé na sua vinda, o temor do naufrágio ameaçador'.

(Santo Hilário de Poitiers)

segunda-feira, 23 de março de 2015

A FÉ EXPLICADA (XVII): SOBRE A POSSESSÃO DIABÓLICA


A possessão diabólica é um fenômeno singular em que um corpo humano é tomado e invadido por uma espírito diabólico, que passa a dominar e a manipular este corpo como se fosse o seu próprio. Há, portanto, duas características intrínsecas à possessão: (i) a presença do demônio no corpo do possuído; (ii) o domínio completo e despótico do demônio sobre o corpo. Esta manifestação pode incluir um ou mais espíritos malignos conjuntamente e possui um caráter periódico indefinido (a manifestação não ocorre o tempo todo, mas em períodos repentinos e específicos). Por outro lado, a possessão é sempre limitada, porque a ação diabólica, por mais virulenta que possa ser, não é capaz de se apoderar da liberdade humana, a qual é sempre preservada por Deus. 

São inúmeras as referências de possessões diabólicas nos Evangelhos; no capítulo 5 do Evangelho de São Marcos, Jesus se defronta com um caso de possessão envolvendo uma legião inteira de espíritos malignos:

'Assim que saíram da barca, um homem possesso do espírito imundo saiu do cemitério, onde tinha seu refúgio e veio-lhe ao encontro. Não podiam atá-lo nem com cadeia, mesmo nos sepulcros, pois tinha sido ligado muitas vezes com grilhões e cadeias, mas os despedaçara e ninguém o podia subjugar. Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras. Vendo Jesus de longe, correu e prostrou-se diante dele, gritando em alta voz: Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus, que não me atormentes. É que Jesus lhe dizia: Espírito imundo, sai deste homem! Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe: Legião é o meu nome, porque somos muitos. E pediam-lhe com instância que não os lançasse fora daquela região. Ora, uma grande manada de porcos andava pastando ali junto do monte. E os espíritos suplicavam-lhe: Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles. Jesus lhos permitiu. Então os espíritos imundos, tendo saído, entraram nos porcos; e a manada, de uns dois mil, precipitou-se no mar, afogando-se'.

O texto permite a caracterização de alguns elementos típicos da possessão verdadeira: (i) o endemoniado ou energúmeno (outros nomes dados à pessoa possuída) manifesta uma força descomunal, muito além da sua capacidade física normal; (ii) o possuído expressa viva dor e tormento diante do sagrado: 'Conjuro-te por Deus, que não me atormentes'; (iii) o possuído manifesta traços animalescos, como urros, gritos e obsessão por lugares inóspitos. E, principalmente, por aparentar uma comodidade absurda na posse, tende a manifestar uma retaliação violenta em relação à expulsão do corpo possuído ou, em caso consumado, pender por uma 'transferência de posse'. Estes elementos demonstram a gravidade e os riscos extremos do fenômeno da possessão diabólica.

Evidentemente, as possessões não constituem eventos comuns, mas seriam tão raros assim hoje em dia, numa sociedade que se desacostumou por completo com a ideia do pecado? Pois é o pecado grave, tornado uma rotina de blasfêmias e de revolta contra Deus, que constitui a fonte primária das possessões. Muitas vezes, por outro lado, a possessão é o resultado da franca disponibilidade da pessoa à ação diabólica, por meio dos chamados pactos ou concessões da alma ao maligno. Em casos muito particulares ainda, a Providência Divina permite um estado de perseguição maligna em grau muito elevado a pessoas especialmente santas, como atributos e provações extremas para a sua própria ascensão espiritual.

Em função da natureza e do grau de intervenção diabólica presente em um dado fenômeno de possessão, a Igreja faz uso de fórmulas específicas ou adota um ritual completo de exorcismo. Neste processo, incorre uma série de súplicas e orações invocatórias, acopladas a ritos sacramentais, jejum e silêncio, sem quaisquer interpelações ou 'diálogos' com os espíritos malignos. O procedimento final visa não apenas expulsar o demônio do possuído, como também o de não permitir que a ele possa retornar e nem se transmudar para outra pessoa presente, bem como extinguir o pecado ou a possível causa que deu origem à possessão diabólica.

domingo, 22 de março de 2015

A GLORIFICAÇÃO DE JESUS

Páginas do Evangelho - Quinto Domingo da Quaresma


Aproxima-se a consumação do sacrifício de Jesus na Paixão e Morte de Cruz. E, neste cenário de antecipação do cumprimento integral de sua missão salvífica, o evangelho de hoje prenuncia que o triunfo messiânico de Jesus perpassa pela conversão dos gentios. O sinal da natureza universal deste triunfo e da aproximação da hora final de sua missão na terra estava dado, pela presença de alguns gregos (símbolo de todos os gentios) que queriam 'ver Jesus' (Jo 12, 21), no sentido de não apenas conhecer, mas também de aceitar e viver em plenitude a doutrina cristã.

Eis definida, então, num episódio aparentemente pouco relevante da subida daqueles gregos até Jerusalém, a revelação contundente da proximidade do calvário e, com ela, da manifestação da glorificação do Filho do Homem, ratificada prontamente pelo Mestre: 'Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado' (Jo 12, 23). A morte próxima de Jesus é prenunciada neste momento como um triunfo da glória de Deus, como expressa claramente logo na sequência: 'quando for elevado da terra, atrairei todos a mim. Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer' (Jo 12, 32 - 33).

A correlação direta entre sacrifício e glorificação é ensinada por Jesus pelo exemplo da semente que deve morrer para produzir muitos frutos: 'Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto' (Jo 12, 24). A glória perpassa pelo sacrifício, a vida humana nada mais é que uma estreita via de sofrimentos e tribulações rumo à pátria celeste; morrer para o mundo traduz a percepção cristã da debilidade da semente que morre, não apenas para não sucumbir às paixões humanas, mas para produzir frutos de salvação: 'Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna' (Jo 12, 25).

Jesus, diante a proximidade de sua hora final na terra, contempla, à luz da ciência divina, a vitória final da Cruz sobre as forças do mal ('julgamento do mundo'), na proclamação universal da sua Palavra e da conversão futura dos gentios. E, como a glória de Cristo é a glória do Pai, Jesus assim o manifesta: 'Pai, glorifica o teu nome!' (Jo 12, 28) e, de imediato, assim o faz também o Pai: 'Então veio uma voz do céu: Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!' (Jo 12, 28). Assim, pela terceira vez, Deus Pai glorifica o seu Filho (a primeira tinha sido no batismo de Jesus e a segunda, na transfiguração do Senhor); desta vez, como manifestação dirigida a todos os homens, povos, raças, nações e gentios, como revelação antecipada dos frutos da Paixão e do Triunfo e Glória do Verbo Encarnado.

sábado, 21 de março de 2015

SOBRE A CERTEZA DA MORTE


A sentença de morte foi escrita para todo o gênero humano: és homem, deves morrer. Dizia Santo Agostinho: 'só a morte é certa; os demais bens e males nossos são incertos'. É incerto se o recém-nascido será rico ou pobre, se terá boa ou má saúde, se morrerá moço ou velho. Tudo isto é incerto, mas é indubitavelmente certo que deve morrer.

Magnatas e reis também serão ceifados pela morte, a cujo poder não há força que resista. Resiste-se ao fogo, à água, ao ferro, ao poder dos príncipes, mas não se pode resistir à morte. Conta Vicente de Beauvais que um rei da França, achando-se no termo da vida, exclamava: 'com todo o meu poder, não posso conseguir que a morte espere mais uma hora!' Quando chega esse momento, não podemos retardá-lo nem por um instante sequer.

Por muitos anos, querido leitor, que ainda tenhas de viver, há de chegar um dia, e nesse dia uma hora, que te será a última. Tanto para mim, que escrevo, como para ti, que lês este livro, está decretado o dia, o instante, em que nem eu poderei mais escrever nem tu poderás ler. 'Quem é o homem que viverá e não verá a morte?' (Sl 89,49). Está proferida a sentença. Nunca existiu homem tão néscio que se julgasse isento da morte. O que sucedeu a teus antepassados, também sucederá a ti. De quantas pessoas, que, no princípio do século passado, viviam em tua pátria, nenhuma existe com vida. Até os príncipes e monarcas deixarão este mundo. Não subsistirá deles mais que um mausoléu de mármore com inscrição pomposa que somente serve para nos patentear que dos grandes deste mundo só resta um pouco de pó resguardado por aquelas lajes. São Bernardo pergunta: 'Dize-me: onde estão os amadores do mundo?' E responde: 'Nada deles resta, senão cinzas e vermes'.

É mister, portanto, que não procuremos essa fortuna perecedora, mas a que não tem fim, já que nossas almas são imortais. De que te serviria ser feliz neste mundo — ainda que a verdadeira felicidade não se pode encontrar numa alma que vive afastada de Deus — se depois tens de ser desgraçado eternamente? Já tens preparado tua casa a teu gosto, mas reflete que cedo terás de deixá-la para ir apodrecer numa cova. Talvez alcançaste uma dignidade que te torna superior aos outros, mas a morte virá e te igualará aos mais vis plebeus deste mundo.

...

É certo, pois, que todos fomos condenados à morte. Todos nascemos — disse São Cipriano — com a corda ao pescoço, e a cada passo que damos mais nos aproximamos da morte. Meu irmão, assim como foste inscrito no livro do batismo, assim, um dia, o serás no registro dos mortos. Assim como, às vezes, mencionas teus antepassados, dizendo: meu pai, meu tio, meu irmão, de saudosa memória, o mesmo dirão de ti teus descendentes. Como muitas vezes tens ouvido planger os sinos pela morte dos outros, assim outros ouvirão que os tocam por ti.

Que dirias de um condenado à morte que se encaminhasse ao patíbulo galhofando e rindo-se, olhando para todos os lados e pensando em teatros, festins e divertimentos? E tu, neste momento, não caminhas também para a morte? E em que pensas? Contempla nessas sepulturas teus parentes e amigos, cuja sentença já foi executada. Que terror se apodera de um condenado, quando vê seus companheiros pendentes da forca e já mortos! Observa esses cadáveres; cada um deles diz: 'Ontem, a mim; hoje, a ti' (Ecl 38, 23). O mesmo te repetem, todos os dias, os retratos de teus parentes já falecidos, os livros, as casas, os leitos, as roupas que deixaram.

Que loucura extrema não pensar em ajustar as contas da alma e não aplicar os meios necessários para alcançar uma boa morte, sabendo que temos de morrer, que depois da morte nos está reservada uma eternidade de gozo ou de tormento, e que desse ponto depende o sermos para sempre felizes ou desgraçados! Temos compaixão dos que morrem repentinamente e não se acham preparados para a morte e, contudo, não tratamos de nos preparar, a fim de não nos acontecer o mesmo. Cedo ou tarde, quer estejamos apercebidos, quer de improviso, pensemos ou não na morte, ela há de vir; e a toda hora, a cada instante nos vamos aproximando do nosso patíbulo, ou seja da última enfermidade que nos deve tirar deste mundo.

Em cada século, as casas, as praças, as cidades enchem-se de novos habitantes. Os antigos estão no túmulo. Assim como para estes passaram os dias da vida, assim virá o tempo em que nem tu nem eu, nem pessoa alguma das que vivemos atualmente, existirá na terra.Todos estaremos na eternidade, que será, para nós, ou intérmino dia de gozo, ou noite eterna de tormentos. Não há aqui meio termo. É certo, e é de fé que um ou outro destino nos espera.

...

A morte é certa. Tantos cristãos sabem-no, o creem, o veem e, entretanto, vivem no esquecimento da morte como se nunca tivessem de morrer! Se depois desta vida não houvesse nem paraíso nem inferno, seria possível pensar menos na morte do que se pensa atualmente? Daí procede a má vida que levam.

Meu irmão, se queres viver bem, procura passar o resto dos teus dias sem perder de vista a morte. Quanto aprecia com acerto as coisas e dirige suas ações sensatamente aquele que as aprecia e dirige pela ideia de que deve morrer! (cf. Ecl 41, 3). A lembrança da morte — disse São Loureço Justiniano — desprende o coração de todas as coisas terrenas. Todos os bens do mundo se reduzem a prazeres sensuais, riquezas e honras (cf. 1Jo 2, 16). Aquele, porém, que considera que em breve não será mais que pó e que, em baixo da terra, servirá de pasto aos vermes, despreza todos esses bens.

Foi efetivamente pensando na morte que os santos desprezaram os bens terrestres. Por este motivo, São Carlos Borromeu conservava sobre sua mesa um crânio humano; tinha a morte continuamente diante dos olhos. O cardeal Barônio tinha gravado no anel esta inscrição: Memento mori: 'Lembra-te que tens de morrer'. O venerável Pe. Juvenal Ancina, bispo de Saluzzo, gravara numa caveira estas palavras: 'Fui o que és; serás o que sou'. Um santo ermitão, a quem perguntaram na hora da morte por que se mostrava tão contente, respondeu: 'tantas vezes tive a morte diante dos olhos, que agora, quando se aproxima, não vejo coisa nova'.

Que loucura seria a de um viajante que só cuidasse de ostentar luxo e grandezas nas localidades por onde teria de passar, sem pensar sequer que depois teria de viver miseravelmente no lugar onde durante toda a sua vida iria residir? E não será igualmente demente aquele que procura ser feliz neste mundo, onde são poucos os dias que tem de passar, e se arrisca a ser desgraçado no outro, onde viverá eternamente? Quem pede emprestado um objeto, pouca afeição lhe pode ter, porque sabe que em breve o tem de restituir. Os bens da terra são todos dados de empréstimo; é, pois, grande loucura tomar-lhes afeição, porque dentro de pouco tempo temos de abandoná-los. A morte de tudo nos privará. Todas as nossas propriedades e riquezas acabar-se-ão com o último suspiro, com o funeral, com o trajeto ao túmulo. A casa que mandaste construir passará às mãos de outrem; o túmulo será morada do teu corpo até ao dia do juízo, depois do qual passará ao céu, ou ao inferno, onde tua alma já lhe terá precedido.

(Excertos da obra 'Preparação para a morte – Considerações sobre as verdades eternas', de Santo Afonso de Ligório)

21 DE MARÇO - SÃO NICOLAU DE FLÜE



Nicolau de Flüe, conhecido também com Bruder Klaus (Irmão Klaus), nasceu em Sachseln, na Suíça, em 1417. Desde muito cedo, manifestou claramente uma vida de oração e mortificação. Em obediência aos pais, casou-se com Dorotéia Wyss e tiveram dez filhos, sendo cinco homens e cinco mulheres. No âmbito da vida matrimonial, continuou a desenvolver, com redobrado fervor, a sua prática religiosa e de oração cotidiana intensa, agora junto a uma numerosa família.

Em torno dos 50 anos, tomou a decisão que iria percorrer até a morte na via da santificação pessoal pelo ascetismo. Com o consentimento da esposa (mas não de todos os seus familiares) abandonou todo e qualquer afeto humano para viver em absoluto isolamento do mundo, dedicando-se exclusivamente a uma vida de oração e contemplação. Vivendo inicialmente numa pequena cabana e, mais tarde, numa ermida de pedra construída especialmente para ele, com acesso diário ao Santo Sacrifício, o santo foi personagem de um milagre impressionante: passou os últimos 20 anos de sua vida sem se prover de água ou de alimentos, mas vivendo somente da Sagrada Eucaristia!

Neste período, praticou intensamente a catequese espiritual a seus concidadãos, manifestando, em várias ocasiões, o dom da profecia. Em certa ocasião, atuou, de forma decisiva, para evitar conflitos associados a uma potencial divisão do território suíço, pelo que é celebrado também como padroeiro da Suíça. Após a sua morte, o culto pessoal estendeu-se não apenas na Suíça, mas também na Alemanha, França e Países Baixos. São Nicolau de Flüe faleceu no dia 21 de março de 1487, data do seu nascimento, aos setenta anos de idade. Foi canonizado por Pio XII em maio de 1947.

São Nicolau de Flüe, rogai por nós!

quinta-feira, 19 de março de 2015

19 DE MARÇO - SÃO JOSÉ


São José, esposo puríssimo de Maria Santíssima e pai adotivo de Jesus Cristo, era de origem nobre e sua genealogia remonta a David e de David aos Patriarcas do Antigo Testa­mento. Pouquíssimo sabemos da vida de José, além de suas atividades de carpinteiro em Nazaré. Mesmo o seu local de nascimento é ignorado: poderia ser Nazaré ou mesmo Belém, por ter sido a cidade de Davi. Ignora-se igualmente a data e as condições da morte de São José, mas existem fortes razões para afirmar que isso deve ter ocorrido an­tes da vida pública de Jesus. Com certeza, José já teria falecido quando da morte de Jesus, uma vez que não se explicaria, então, a recomendação feita aos cuidados mútuos à mãe e ao filho, dados, da cruz,  por Jesus a Maria e a São João Evangelista.

Não existem quaisquer relíquias de São José e se desconhece o local do seu sepultamento. Muitos pais da Igreja defendiam que, devido à sua missão e santidade, São José, a exemplo de São João Batista, teria sido consagrado antes do nasci­mento e já gozava de corpo e alma da glória de Deus no céu, em com­panhia de Jesus e sua santíssima Esposa. As virtudes e as graças concedidas a São José foram extraordinárias, pela enorme missão a ele confiada pelo Altíssimo. A dig­nidade, humildade, modéstia e pobreza, a amizade íntima com Je­sus e Maria e o papel proeminente no plano da Redenção, são atributos e méritos extraordinários que lhe garantem a influência e o poder junto ao tro­no de Deus. Pedir, portanto, a intercessão de São José, é garantia de ser ouvido no mais alto dos céus. Santa Tereza, ardorosa devota de São José, dizia: 'Não me lembro de ter-me dirigido a São José sem que tivesse obtido tudo que pedira'.

A devoção a São José na Igreja Ca­tólica é antiquíssima. A Igreja do Oriente celebra-lhe a festa, desde o século nono, no domingo depois do Natal. Foram os carmelitas que in­troduziram esta solenidade na Igreja Ocidental; os franciscanos, já em 1399, festejavam a comemoração do Santo Pa­triarca. Xisto IV inseriu-a no bre­viário e no missal; Gregório XV ge­neralizou-a em toda a Igreja. Cle­mente XI compôs o ofício, com os hinos, para a celebração da Festa de São José em 19 de março e colocou as missões na China sob a proteção do Santo. Pio IX introdu­ziu, em 1847, a festa do Patrocínio de São José e, em 1871, declarou-o Pa­droeiro da Igreja; muitos pontífices promoveram solenemente a devoção a São José, por meio de orações, homilias, encíclicas e devoções diversas.

São José, rogai por nós!

terça-feira, 17 de março de 2015

TRÍDUO DE SÃO JOSÉ


Oração Inicial (para todos os dias)

Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus de nossos inimigos.
V. Benditos e amados sejam os dulcíssimos nomes de Jesus, Maria e José.
R. Amém.

A Vós recorremos, bondoso Patriarca, e com todo o fervor de nosso afligido Coração, vos pedimos que, deste trono de glória em que vos colocaram vossas virtudes e merecimentos, escuteis propício nossas súplicas e tenhais piedade de nós. Humildemente confessamos que nossas tribulações são penas de nossas culpas; por isso, com dor no coração, pedimos a Deus perdão por todas elas.

Amoroso São José, pelo amor que professais ao vosso Jesus e Maria e pela autoridade que sobre eles exercestes aqui na terra, intercede agora por nós no céu, escutando nossas petições e apresentando-as vós mesmo à vossa Esposa Imaculada e ao vosso Divino Filho, para que sejam favoravelmente ouvidas, para maior glória de Deus e santificação de nossas almas. Amém.

Castíssimo esposo da Virgem Maria e amável protetor, meu São José, que jamais se ouviu dizer que alguém já tenha invocado a vossa proteção e implorado o vosso auxílio sem haver sido consolado. Cheio de confiança em vosso poder, já que exercestes com Jesus o cargo de pai, venho, à vossa presença, recomendar-me a Vós com todo o fervor. Não desprezeis minhas súplicas, antes bem acolhei-as e dignai-vos atendê-las piedosamente. Amém.

Primeiro Dia (16/03)

Aqui nós estamos em vossa gloriosa presença, doce protetor nosso São José, implorando o vosso eficaz patrocínio.

Dirige, ó grande santo, um olhar amoroso sobre nós, miseráveis filhos de Eva, e alcançai-nos a graça que vos pedimos, as virtudes da humildade, pureza e obediência, a honra de morrer assistidos por Jesus, por vossa Esposa e por vós, para o bendizermos e o louvarmos no céu eternamente. Amém.

Pede-se a graça que se deseja...
Rezar sete Pai-Nossos e Ave-Marias em memória das sete dores e alegrias de São José.

Segundo Dia (17/03)

Ao vossos pés nos prostramos com o mais humilde afeto, ó incomparável protetor nosso São José, confiando em vosso eficaz patrocínio.

Dirige, ó grande santo, um olhar amoroso sobre nós, miseráveis pecadores filhos de Eva, e alcançai-nos a graça que vos pedimos, juntamente com as três virtudes de terna piedade, gratidão aos divinos benefícios e firme confiança em Deus, que tanto e com tanto fruto praticastes vós mesmo, a fim de que enriquecidos com elas, possamos expirar docemente nos braços de Jesus e Maria, e chegarmos depois em vossa companhia no céu, por toda a eternidade. Amém.

Pede-se a graça que se deseja...
Rezar sete Pai-Nossos e Ave-Marias em memória das sete dores e alegrias de São José.

Terceiro Dia (18/03)

Prostrados ante Vós, insigne protetor nosso São José, acudimos também hoje em demanda de vosso eficaz patrocínio.

Dirige, ó grande Santo, um olhar amoroso sobre nós, miseráveis filhos de Eva, e apresentai nossas súplicas ao Pai Eterno, cujas vezes fizestes na terra tutelando o seu Divino Filho; oferecei-as também ao Espírito Santo, de quem fostes representante como Esposo de Maria; apresentai-as, enfim, ao Filho, para que sejam benignamente atendidas pela Santíssima Trindade, objeto de todo nosso amor, agora e sempre, por todos os séculos. Amém.

Pede-se a graça que se deseja...
Rezar sete Pai-Nossos e Ave-Marias em memória das sete dores e alegrias de São José.

Oração Final (para todos os dias)

Gloriosíssimo Patriarca São José, castíssimo Esposo da Mãe de Deus; ao vosso amparo acudimos, não desprezais nossas súplicas e livrai-nos de todos os perigos.
V. Bendito Patriarca São José, rogai por nós.
R. Para que sejamos dignos da graça que imploramos.

Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, uni vossos rogos aos de vosso castíssimo Esposo e pelos maternais cuidados que dedicastes ao Menino Jesus, intercedei e rogai por nós, para que sejamos dignos de alcançar a graça que vos pedimos.

Sacratíssimo Coração de Jesus, ouvi benigno as súplicas de Maria, cheia de graça, e de José, varão justo, para que, por sua intercessão, logremos o favor solicitado, se for para a maior honra e glória vossa e bem de nossas almas. Vós que viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém.

POEMAS PARA REZAR (XVIII)


BUSCANDO A CRISTO 

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa Cruz sacrossanta descobertos:
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, olhos divinos eclipsados,
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Que, para perdoar-me, estais despertos
E, por não devassar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não fugir-me;
A vós, cabeça baixa, por chamar-me;
A vós, sangue vertido, para ungir-me;

A vós, lado patente, quero unir-me;
A vós, cravos preciosos, quero atar-me;
Para ficar unido, atado e firme.

(Gregório de Matos)

domingo, 15 de março de 2015

A LUZ DE CRISTO

Páginas do Evangelho - Quarto Domingo da Quaresma


O Quarto Domingo da Quaresma é chamado Domingo Laetare ou Domingo da Alegria, e constitui um dos mais festejados do Ano Litúrgico. Por se enquadrar na metade do tempo quaresmal, período este vivido pela Igreja em meio à tristeza e penitências, a liturgia desse domingo se propõe a reacender nos católicos a firme alegria e esperança que devem ser o sustento dos católicos até a plenitude do tempo pascoal, à espera do Senhor Que Vem.

Santa alegria, pois 'Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele' (Jo 3, 17). A Primeira Vinda de Cristo é um exercício contínuo da graça divina nas sendas do perdão e da misericórdia, no acolhimento do pecador, na manifestação exaustiva da compaixão e do amor extremado de Deus pelas criaturas humanas, para salvar o mundo e maturar a boa semente em frutos de eternidade: 'Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna' (Jo 3, 16).

A alegria e esperanças cristãs se fundem em plenitude na Luz de Cristo, mas nem todos a receberão, mas nem todos a tomarão como guia e exemplo, conforme as próprias palavras de Jesus dirigidas a Nicodemos, no diálogo que se imortalizou no evangelho deste domingo: 'a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más (Jo 3, 19). Na eternidade, verão Deus face a face os Filhos da Luz, aqueles que praticam a Verdade e se comprazem na jubilosa esperança da posse eterna da Plena Visão. 'mas, quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito' (Jo 3, 18).

Neste domingo, celebramos a luz, a luz de Cristo, que rompe a escuridão de nossa alma cega nos afazeres mundanos e que nos liberta das trevas do pecado, moldando a argila frágil da natureza humana pelo cinzel da graça e do amor de Deus. Ao se debruçar até o pó, Jesus nos dá ciência de que conhece a nossa imensa fragilidade; ao proclamar sua divindade, nos conforta de que, como Filhos da Luz, somos definitivamente os herdeiros da divina misericórdia. No meio do caminho desta jornada quaresmal, elevemos a Cristo nossas almas frágeis de argila e a Ele supliquemos conservá-las firmemente na direção do Círio Pascal, ao encontro da luz do Cristo Ressuscitado Que Vem.

sábado, 14 de março de 2015

SANTOS E MÁRTIRES (VI)


OS QUARENTA MÁRTIRES DE SEBASTE

No ano de 313, com a promulgação do Edito de Milão pelo imperador Constantino, o império romano passou a garantir a livre expressão de culto pelos cristãos. Na prática, porém, as perseguições ainda se mantiveram por longo tempo, particularmente no Império do Oriente, sob o governo de Licínio, que declarou insurreição ao imperador. 

Em 320, na guarnição da cidade armênia de Sebaste, na Ásia Menor, um grupo de 40 soldados da chamada Legião Fulminata do exército romano recusou-se a abandonar a fé cristã em favor do culto aos ídolos pagãos de Licínio e, desta forma, foram destituídos de suas funções e lançados na prisão, por longo tempo. Presos, escreveram uma espécie de testamento coletivo, que foi assinado por todos*, resguardando-se, assim, seus nomes para conhecimento da posteridade (com algumas variações de grafia).

Impassíveis diante dos interrogatórios e ameaças, foram condenados à morte por congelamento. No inverno rigoroso de então, foram submersos seminus nas águas congeladas de um lago local, nas proximidades das termas da cidade. Assim, para a tortura dos sentidos, os soldados experimentavam o martírio do frio glacial nas vizinhanças imediatas dos banhos públicos de vapor. Cedendo à tentação do calor, um dos soldados acessou as câmaras térmicas, pelo que morreu instantaneamente. Os demais resistiram impassíveis ao suplício da provação.

Sensibilizado pelo heroísmo daqueles homens, um dos soldados da própria custódia, de nome Aglaios, converteu-se, abandonou de pronto as suas insígnias romanas e juntou-se ao grupo imerso na água congelada. Na tortura e no sofrimento contínuos, amparando-se mutuamente na fidelidade ao Senhor, todos pereceram finalmente sob o flagelo do frio cortante e das temperaturas extremas, em 09 de março do ano 320. O martírio dos quarenta soldados de Sebaste foi exemplo e objeto de grande veneração por parte dos primeiros cristãos, principalmente no Oriente.

* Acácio, Aécio, Alexandre, Angias, Atanásio, Caio, Cândido, Chúdio, Cláudio, Cirilo, Domiciano, Domno, Edélcion, Euvico, Eutichio (ou Aglaios), Flávio, Gorgônio, Heliano, Helias, Heráclio, Hesichio, João, Viviano, Leôncio, Lisimacho, Militão, Nicolau, Filoctimão, Prisco, Quirião, Sacerdão, Severiano, Sisínio, Smaragdo, Teódulo, Teófilo, Valente, Valério, Vibiano e Xanteas.

QUANDO O INFERNO É AQUI...

21 mártires da Igreja Copta, assassinados covardemente pelo Estado Islâmico em 15 de fevereiro de 2015, por professarem a fé cristã.




Ante o progresso crescente da iniquidade, a caridade de muitos esfriará. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo (Mt 24, 12 - 13).

sexta-feira, 13 de março de 2015

HORA SANTA DE MARÇO


Adoramo-Vos, Coração de Jesus Sacramentado, em união com os nove coros de Vossos anjos, que Vos engrandecem no Paraíso. Bendizemo-Vos, Coração de Jesus Sacramentado, em união com as legiões de serafins e de santos que Vos adoram em Vosso solitário Tabernáculo. Glorificamo-Vos, Coração de Jesus Sacramentado, em união de amor e de reparação fervente com Maria Imaculada e Rainha do Céu nas alturas, e a Soberana do céu terreno de Vossos Sacrários. 

Ó sim, em união com Ela, sobretudo, viemos cantar, Jesus, Vossas misericórdias infinitas e a chorar Vossas agonias místicas, os pecados de ingratidão do mundo e Vossas solidões na Hóstia! Em união com Ela, queremos nesta Hora Santa percorrer a Via Dolorosa, para convertê-la, com as glórias da Imaculada e com os nossos consolos, no caminho de Vossas vitórias, e para fazer de Vosso Calvário o Tabor de triunfo de Vosso adorável Coração. 

Jesus amado, depois de vinte séculos, não Vos conhecemos ainda o bastante em Vossa Santa Eucaristia; perdoai e aceitai em desagravo a visão amorosa de Maria Santíssima, as adorações de seu Coração de Mãe. Jesus benditíssimo, não obstante Vossas liberalidades e as maravilhosas invenções de Vossa ternura, não Vos amamos ainda com a generosidade sem limites com que devêramos corresponder-Vos. Perdoai e aceitai, em compensação de nossa frialdade, os fogos divinos que abrasaram as entranhas e a alma de Maria Santíssima no dia da anunciação venturosa. 

Jesus - Hóstia, amor de nossos amores, vida de nossa vida, apartai vossos olhos formosíssimos de nossos culpados desvios, de tantas indiferenças, de tantos desmaios em nossos propósitos de virtude, em nossas promessas de santidade. E perdoai em obséquio à Mãe, cujo Coração Imaculado Vos oferecemos em reparação de caridade e em homenagem da mais fervorosa adoração. 

Jesus Divino, em honra, pois, da Imaculada, em agradecimento aos cuidados da Virgem, em obséquio à encantadora nazarena, rogamo-Vos, Senhor, que esqueçais os incontáveis esquecimentos de Vossa lei em que incorreram estes filhos Vossos, que vêm chorar suas faltas e as de tantos irmãos culpados no cálice de ouro do Coração de Maria Santíssima. Recolhe nele nosso pranto de arrependimento e prometei-nos reinar, Jesus, com mais intensidade de fé, de amor, de humildade e de pureza em nossas almas, em nossas famílias, na sociedade inteira, pelo amor e os martírios da Virgem Mãe.

(Pausa) 

(Dizei a Jesus em silêncio eloquente que O amais muito, mas que desejais amá-lO mais, imensamente mais ainda, em resposta ao seu Coração, que solicita os nossos. Mas já que nossa pobreza é tão grande, ofereçamos o dom incomparável, quase divino, do Coração de Maria. Ah! E pedi a Ela que ao se oferecer por nós nesta Hora Santa, consiga-nos a graça infinita de amar com santa paixão e de fazer amar, com zelo infatigável, o Coração de seu Filho Salvador). 

Voz de Maria 

Ninguém mais do que Ela tem certamente o direito de falar das intimidades do Coração de Jesus e de suas próprias angústias redentoras. Escutemo-La com filial carinho:

'Eu Sou, desde o dia da anunciação do anjo, a mãe do Amor Formoso, e quero que as almas se abrasem nas chamas de minha caridade. Nesta hora mil vezes sublime e venturosa, desde o dia 25 de março (Festa da Encarnação do Verbo), em que Jesus e eu formamos uma só corrente de vida, pensei em vós, que Me chamais vossa Mãe; e dizeis a verdade, porque eu o sou...'
(Lento e com devoção) 

Como tal gemi, solucei filhos Meus, queimando com Minhas lágrimas ardentes a face de Jesus Infante, em Belém inesquecível. Ao acalentá-lO então, ao contemplá-lO Deus e meu filho entre os meus braços, ao beijá-lO em sua fronte divina, eu Lhe oferecia, prevendo com inteira certeza o deicídio de séculos e mais séculos, que destroçaria, com o dardo do pecado, o Coração de vosso Salvador. Eu, sua Mãe, levantava-O ao alto e ao Pai, rogando-Lhe, com martírios da alma, que aceitasse-O pela redenção dos filhos ingratos... 

(Com devoção) 

Beijei as suas mãos, que me acariciavam, e marquei suas chagas com os meus beijos. Pus meus lábios em seus pés, curando de antemão com os meus ósculos as feridas dos ferros inclementes. Ungi a sua fronte com as minhas lágrimas e, sobretudo, pus minha cabeça, torturada com pensamentos de agonia, e depois minha boca, abrasada de sede de mais amor, em seu lado ardente, celestial. E nesse Getsêmani de deliciosas amarguras, aí Jesus e eu, sua Mãe, resolvemos, amando e padecendo, a ressurreição de tantos pródigos do lar, de tantos renegados da Cruz e do altar. 

(Pausa) 

Ó noite de paz e de tortura salvadora a que envolveu em suas trevas o berço de Jesus! Extática e de joelhos, Maria Santíssima velava o repouso do menino, do Eterno, e meditava em outra Belém, com outro berço de repouso aparente e de perpétuo sacrifício: o Sacrário, contemplado à distância. Através dos séculos, via a Virgem amante e dolorosa esse portal permanente, indestrutível, onde Jesus Infante nasceria milhões e milhões de vezes entre as sombras de um altar humilde, para ser aprisionado em seguida no cárcere inerte, mas dulcíssimo, de incontáveis Tabernáculos. Em cada um deles, o Deus-Prisioneiro, Jesus, infinitamente pequeno, segue cochilando, enquanto o seu Coração Divino vela sobre nós e enquanto, sobre seu Berço-Sacrário, vela a rainha dos seus amores, a Virgem Maria. 

(Pausa) 

As almas 

Ó sim, Jesus - Eucaristia, ao lado do dourado cibório que Vos aprisiona está vossa Mãe; Ela nos presenteia a Vós nesta Hóstia Sacrossanta! Louvai-a, Senhor, em Vosso nome, já que Vós também Lhe deveis o ter realizado Vosso anseio de encontrar Vossas delícias entre os filhos dos homens. Cantai-Lhe com os anjos do Vosso Santuário, engrandecei-a com os anjos de Vosso Paraíso, glorificai-a, com os filhos, com os desterrados que a chamam por sua Mãe, gemendo neste vale de lágrimas. Ah! Em obséquio a ela, a quem não podeis negar nada, dai-nos, Senhor, o reinado do vosso Coração em Vossa Santa Eucaristia. Não queirais permitir que fiquem defraudadas Vossas esperanças e as de Vossa Mãe, sempre onipotente na causa da Vossa glória.
(Com intensa devoção)

Reinai, Jesus Sacramentado, entre os afligidos, como um consolo, naquele Pão consagrado de cada dia, que nos dá a Rainha das Dores...
Reinai, Jesus Sacramentado, entre os meninos, como uma proteção de inocência perfeita e de sinceridade, mediante aquele Pão consagrado de cada dia que nos dá a Rainha das Virgens...
Reinai, Jesus Sacramentado, entre os pobres e desamparados, como um alento em tantas penalidades, mediante aquele Pão consagrado de cada dia que nos dá a humilde Rainha dos pastores de Belém... 
Reinai, Jesus Sacramentado, entre os sacerdotes, como um fogo em amor de santidade e zelo, mediante aquele Pão consagrado de cada dia que nos dá a Rainha dos Apóstolos... 
Reinai, Jesus Sacramentado, nos lares, como virtude de fé vivíssima nas almas dos pais e dos filhos, mediante aquele Pão consagrado de cada dia que nos dá a Rainha do Éden de Nazaré... 
Reinai, Jesus Sacramentado, no Episcopado, em Vosso Vigário, em Vossa Igreja, com um Pentecostes de caridade abrasadora, mediante aquele Pão consagrado de cada dia, que nos dá a Rainha onipotente do Cenáculo... 

Jesus amabilíssimo e adorável do Belém dos Sacrários, pagai os desvelos, os ósculos de ternura, os abraços, as lágrimas de Vossa Mãe, seus delíquios de amor junto ao Vosso berço, coroando Maria Imaculada com as glórias e os triunfos de Vosso Coração Sacrossanto. 

(Pausa) 

Queixas de Maria 

Sua voz dolorida é a de uma Mãe cruelmente ferida, que pede compaixão aos filhos fieis, pela decepção dos outros, dos pródigos que, no mesmo lar, oprimem com amarguras seu Coração Santíssimo. A história de Jesus de Nazaré não é uma história antiga; é, hoje em dia, uma triste história de dores que cercam o Filho e sua Mãe de agudíssimos espinhos. Que nos fale, pois, a Virgem Dolorosa: 

'Uma terra estranha, uma terra de gentios, de inimigos, brindou com um asilo ao meu Filho-Deus lá no Egito. O deserto mitigou seus ardores e seus oásis tiveram mananciais e refrigérios que nos negaram os ingratos, os preferidos nazarenos. Ai, como feriu o Coração de Vosso Deus esse desdém de soberba, essa inveja inflamada dos de sua própria casa! Aí onde deveriam aclamá-lO batendo palmas, tramaram com ira contra Ele, e procuraram pedras para ultimá-lO, e um horrendo abismo para precipitá-lO com a sua glória.

Choramos juntos, Jesus e Maria, os desvios dos nossos, o desprezo altivo e injurioso daquela Nazaré de tantos e de tão suavísimas recordações. A solidão nos fez silenciosa companhia. E o ódio nos teceu, nesse terreno de ternuras, nossa primeira coroa de espinhos. Aí onde eu, sua Mãe, contemplei-O, menino e adolescente, aí onde cantei a sua formosura divina, num coro com os anjos, vi-O amaldiçoado, e tive de chorar o desconhecimento com que Nazaré recusou ao manso Redentor.
Ai! Sua pena e a minha se afundavam, pensando nas idades por vir, prevendo que tantos filhos alijados, que tantos cristãos soberbos e renegados, desconheceriam a sua voz, no seio mesmo de Israel e da Igreja, a lei de graça e a verdade do Senhor Jesus. Ó sim! Vi-os fugindo do cercado do pastor, longe e esquecidos do lar do Pai celestial. Vós, filhos meus, porque sois os irmãos menores de Jesus, meu Primogênito, e que viestes em procura de seu Coração Divino, consolai-O em seu desamparo. Tomai o meu amor, minhas finezas e os meus sacrifícios e ponde-vos na mesa do altar, como um holocausto de reparação cumprida. Vossa Rainha vos pede para Ele uma íntima prece. Eu, a Imaculada, a Virgem-Mãe, quero repeti-la convosco...' 

(Digamo-la em união com Maria) 

(Lento e com devoção) 

As almas 

Jesus de Nazaré, retornai e ficai encadeado, como Rei, entre nós! Não cedais, mil vezes não, ao clamor de um mundo mau, que Vos arroja e Vos fere com desprezo de altivez satânica. Retornai e ficai encadeado, como Rei, entre nós. São muitos, Senhor, os que amaldiçoam Vosso nome e negam o Vosso Evangelho; mas, vede, estamos tão resolvidos, somos tão Vossos os que Vos suplicamos, que não deveis sair jamais de nosso lado; retornai, pois, e ficai encadeado, como Rei, entre nós. Que faria o mundo sem Vós, que sois a sua paz; sem Vós, que é o Céu? Que faria eu, senão gemer entre correntes por Vos ter desterrado, sendo Vós a liberdade? Os desgraçados que assim ousaram Vos ofender, não souberam o que fizeram, perdoai-lhes. Salvador benigno, retornai e ficai encadeado, como Rei, entre nós. 

Ah! Os mesmos que, como os nazarenos ingratos, Vos arrojaram de Vosso solo e de Vossa casa, estranharão um dia o calor do Vosso Coração, que salva e que perdoa; recordarão que Vós, que só Vós, dissestes a verdade, ensinando a justiça e esbanjado a misericórdia. E então, muitos desses mesmos Vos chamarão e Vos rogarão com lágrimas para que volteis. Retornai Jesus, retornai então perdoando, e ficai para sempre encadeado, como Rei, entre nós. Sim, para sempre; não partais, não nos deixeis jamais. Mestre; por isso viemos, em nome de todos os ingratos da terra, e para eles e para nós Vos pedimos: 

(Todos em voz alta) 

Vosso Coração Divino, Senhor Jesus! 

Viemos procurar-Vos em nome de muitos enfermos da alma, de muitos que vacilam entre dois abismos: o do pecado e o do inferno, e para eles e para nós, Vos pedimos: 
Vosso Coração Divino, Senhor Jesus! 
Chegamos aos Vossos pés em nome dos agonizantes, que na vida Vos falaram mal, que em sua juventude Vos feriram e Vos esqueceram. Pobrezinhos, precisam de clemência infinita; e por isto, para eles e para nós, Vos pedimos: 
Vosso Coração Divino, Senhor Jesus! 
Aproximamo-nos do Vosso Sacrário em nome de tantos pais que esqueceram os seus deveres para convosco, em nome de tantas mães que padecem de amarga incerteza pelo porvir eterno do esposo e dos filhos; para eles e para nós, Vos pedimos: 
Vosso Coração Divino, Senhor Jesus! 
Viemos, cheios de confiança em Vossa misericórdia, a pedir-Vos, sem vacilações, grandes prodígios e aqueles milagres de ternura, prometidos à Hora Santa e à Comunhão frequente e cotidiana; viemos pedir Vosso reinado na conversão de muitos e dos grandes pecadores; para eles e para nós, Vos pedimos: 
Vosso Coração Divino, Senhor Jesus! 
Aqui nos tendes, Senhor, trazidos pela Vossa Mãe; inspirados por ela, viemos pedir-Vos pelas boas almas, por vossos Apóstolos, pelo sacerdócio, pelos corações que Vos estão consagrados e que Vos fizeram promessa de viver em santidade; para eles e para nós, Vos pedimos: 
Vosso Coração Divino, Senhor Jesus! 
E, enfim, ó Deus Sacramentado! Viemos em demanda do enorme triunfo, universal, decisivo, do Vosso Coração em Vossa Santa Igreja, em Vossa Eucaristia, em Vosso Evangelho, em Vosso Vigário. Para os meninos e dirigentes, para os ricos e os pobres, para os cristãos, os hereges e os gentios, para todos, Jesus, para todos, e em especial para nós, Vossos amigos, pedimo-Vos: 
Vosso Coração Divino, Senhor Jesus! 
Nos dai -O hoje, Senhor, em nome e por amor ao Coração de Maria Imaculada. 

(Pausa) 

Ensinos de Maria 

Uma Hora Santa é uma solene meditação de amor que se leva a Jesus Cristo. Que caminho pode nos levar a Ele que não seja o de Maria Santíssima, sua doce Mãe? E, nestes dias em que nos rodeiam as trevas tão espessas da ignorância e do pecado, tenhamos atencioso o ouvido às insinuações desta amável soberana. Que nos ensine, pois, os perigos do deserto. Ela, que o atravessou levando sobre o seu peito virginal, são e salvo, o Filho do Seu Coração Imaculado. Ouçamos...
'Filhos do meu amor e das minhas angústias, escutai-me: Não há senão um mal grave e imponderável, só um, e é perder a Jesus, cujo Coração é a vida, o amor e o paraíso! Eu, sua Mãe, perdi-O durante três dias em Jerusalém, e minha alma padeceu agonias inenarráveis. Ai, sabê-lO ausente; viver longe dEle, não O ver, não O sentir, não O possuir, depois de tê-lO estreitado sobre o coração, depois de tê-lO visto sorrir e chorar, depois de ter-l„he entregado toda a alma num beijo de carinho... que suplício horrendo!
Mas que poderei dizer-vos se vos contar as dores da Minha alma maternal, destroçada na tarde da Quinta-Feira Santa com a suprema despedida? Que dor superou a minha dor, quando o amanhecer da Sexta-feira Santa trouxe-Me a visão de suas ignomínias, de sua flagelação e de seus escárnios? Sangue e espinhos, blasfêmias, ódio e gritos de morte; tal foi o quadro de desolação infinita que Deus Pai quis por ante os meus olhos de Mãe, a mais triste e dolorida de todas as mães da terra.
Dizei, vós que me amais, dizei-Me nesta Hora Santa, se é possível, se conheceis uma dor semelhante a essa dor. Filhinhos meus; não queirais saber jamais quão mortal é essa angústia. Jesus é vosso; eu, Maria, vo-lO entreguei; é inteiramente vosso; não queirais jamais, jamais, perdê-lO pela culpa grave. Os que conservastes ainda a pureza batismal, a inocência, ó não O magoeis com a cruel lançada do primeiro pecado mortal, que rasga o lado do amabilíssimo Jesus. Essa primeira hora de orgulho, de prazer, na contramão de sua lei; esse primeiro pecado grave, atravessa com dardo de fogo o seu Coração terníssimo! 

Mas... Se já tivésseis caído, se vos tivésseis manchado, eu vos conjuro a que laveis com lágrimas essa afronta queimante do rosto de Jesus. Recobrai-o, filhos meus; vinde, vinde cedo, abraçai-vos a Seus pés e não O deixeis jamais. Ele vos ama tanto! Amai-O! E em especial ouvi-Me vós, mães de um lar, que deve ser o templo santo de Jesus, cuidai que o esposo e que os filhos não percam, por indiferença vossa, a companhia deliciosa de meu Filho-Deus. Que reine sempre neles. Sim, que fique, eternamente com o pai, com a mãe, com os filhos do lar cristão que O adora; que fique nos dias de inverno e de pesar, nas horas de primavera e de alegria. Almas queridas, amarrai-vos com paixão divina a Jesus Cristo, deixai que Ele vos encarcerem para sempre, sobre o Coração, entre seus braços. Ah não O percais jamais! 
(Digamo-lo nós mesmos ao Senhor Sacramentado) 

As almas 

Jamais Vos abandonaremos, Jesus; com o auxílio de Vossa graça e de Vossa Mãe, jamais! Mas como nossa fragilidade é tanta, rogamo-Vos, Salvador amado, que não nos deixeis longe de Vossa mão, que Vós também Vos acorrenteis a nós, pela Vossa grande misericórdia! 

(Lento e com devoção) 

Coração de Jesus, não nos deixeis nos abismos de tentações que nos assediam, como feras famintas do inferno; não consintais que nós Vos percamos. 
Coração de Jesus, não nos deixeis nas grandes debilidades do coração humano, tão propenso às seduções do amor terreno; não consintais que nós Vos percamos. 
Coração de Jesus, não nos deixeis no desespero de nossos males, porque Vós bem sabeis que certos sofrimentos adoecem de morte a alma; não consintais que nós Vos percamos. 
Coração de Jesus, não nos deixeis nas desolações e solidões em que, com frequência, abandonam-nos as criaturas que não sabem amar como Vós amais, e que são indiferentes às nossas penas ou não podem aliviá-las; não consintais que nós Vos percamos. 
Coração de Jesus, não nos deixeis no abismo de nossas constantes recaídas, naquelas prostrações de nossa débil vontade, tão inconstante, no propósito de amar-Vos com verdadeiro sacrifício; não consintais que nós Vos percamos. 

(Breve pausa)

Por amor da Virgem Mãe, Vos conjuramos que permaneçais, Jesus, sempre ao nosso lado, não queirais jamais dormir durante a tempestade, na barca tão frágil de nosso paupérrimo coração, que hoje em dia Vos ama. 

(Todos em voz alta) 

Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Nos momentos de amargura... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Nos dias de debilidade moral... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Nos momentos de vacilação e incerteza... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Nas horas de fastio e de cansaço... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Nas ocasiões tão frequentes de esquecimento de nós mesmos... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Nos dias de desalento em Vosso serviço... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Nas horas de fragilidade e de queda... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Nos momentos de dúvida perigosa ou de temível ilusão... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Nos dias de doença e nos perigos de morte... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 
Em nossos derradeiros instantes, nas convulsões da suprema agonia... 
Coração de Jesus, em Vós confiamos. 

Jesus, amor de nossa Vida e amor de nossos amores, confiamos nossa existência, nossas tribulações e a esperança final de nosso céu, em vosso benigno, em Vosso doce, em Vosso misericordioso Coração.
Dores Inenarráveis de Maria 

Suas agonias foram mais amargas e mais profundas do que o oceano; as lágrimas de sua alma virgem, maternal e mártir, se convertessem em luz, formariam muitos sóis. Que Ela mesma nos diga. Falai-nos Vós, Maria Santíssima, Rainha dos mártires! 
'Minhas dores são inenarráveis, porque não são minhas; são as agonias do Coração de meu Jesus que inundam, como um mar embravecido, meu coração de Mãe. É a dor infinita de um Filho-Deus, que torturou minha alma com aflições sem medida. E como não ia ser assim quando vi banhado em sangue, coberto de injúrias, vexado com maldições, pisoteado pelos soberbos, escarnecido pelo lodo dos caminhos o Meu Senhor, o Filho das minhas entranhas, o Meu Deus e o Meu tudo!

Vi-O através de minhas lágrimas; vi-O, por iluminação do alto, na via, perpetuamente dolorosa de séculos e mais séculos, sempre ofegante, sempre desolado e triste, sob o madeiro infame de todas as perfídias. Vi-O à distância, concluída a sua vida terrena e a paixão de seu Calvário; vi-O arrastado sempre pelas multidões, despojado de sua realeza, coroado de espinhos, burlado em sua soberania, cuspido naquele rosto que é o encanto de todos os bem-aventurados. Vi-O, filhos meus, na subida íngreme desse Gólgota perpétuo, seguido pelos hipócritas, pelos impuros, pelos sacrílegos, pelos traidores, pelos blasfemos, e todos, com ira na alma, com fel nas palavras, xingavam-nO, a Ele, que abençoava entre soluços e que perdoava agonizando.
Vi-O, ó dor!, procurando com o olhar, desde milhares de Sacrários empoeirados, desde a prisão do Tabernáculo, quase sempre solitário, procurando à distância os olhos do amigo, do irmão, da esposa, do consolador e do apóstolo; e quantas vezes, quantas, não encontrou senão o silêncio, o esquecimento e a solidão e a frieza, que renovou a profunda ferida do seu peito destroçado! Ah, e O vi morrer, e morrer inutilmente, esterilmente, para tantos infelizes pecadores, para tantos filhos renegados de seu Templo, de sua Cruz e de sua Lei! Pelo menos, vós, seus amigos, que trazeis o lenço de pureza e de carinho da amantíssima Verônica, vós, que O conheceis de perto, subi comigo, sua Mãe, subi até o seu lado aberto, e coloqueis aí, num beijo apaixonado, a alma, excitada em viva caridade. Vinde, choremos juntos tantas desventuras; vinde, e amemos, em nome de um mundo que lhe deu a morte com a apostasia da perversa ingratidão. 

(Pausa)
(Não esqueçamos; a história da horrenda noite da Quinta-Feira Santa, do pretório, da Via Dolorosa, é uma história escrita hoje com caracteres de culpa deicida e é culpa nossa. Pecaram nossos pais, pecaram os carrascos, e nós seguimos recaindo no pecado. Ah! reparemos e lavemos, se preciso for, com sangue, nossa própria afronta. Digamos a Jesus Sacramentado uma palavra de amoroso desagravo). 

As almas 

Senhor, lembrai-Vos que dissestes que viestes dar a vida e a dá-la com superabundância inesgotável; pedimo-Vos, por Maria Imaculada e pelo Vosso Coração piedoso: 

(Todos em voz alta) 

Que não sejais nosso Juiz, e sim, nosso doce Salvador! 
Senhor, lembrai-Vos que dissestes que viestes em procura das ovelhinhas desgarradas de Israel. Ah! Não as desampares entre os espinhos do caminho extraviado; pedimo-Vos, pois, por Maria Imaculada e pelo Vosso Coração piedoso: 
Que não sejais nosso Juiz, e sim, nosso doce Salvador! 
Senhor, lembrai-Vos que prometestes celebrar no lar de Vossas ternuras a chegada do pródigo arrependido, com cantares e festejos de anjos; pedimo-Vos, pois, por Maria Imaculada e pelo Vosso Coração piedoso: 
Que não sejais nosso Juiz, e sim, nosso doce Salvador! 
Senhor, lembrai-Vos que, convidado à mesa de Vossos inimigos, dos pecadores, aceitastes o convite para conquistá-los, em seguida, com palavras de ternura e de esperança; pedimo-Vos, pois, por Maria Imaculada e pelo Vosso Coração piedoso: 
Que não sejais nosso Juiz, e sim, nosso doce Salvador! 
Senhor, lembrai-Vos que procurastes sempre com marcada preferência aos mais caídos, e que Madalena, a Samaritana, o Bom Ladrão e tantos culpados, saborearam a suavidade infinita de Vosso Evangelho; pedimo-Vos, pois, por Maria Imaculada e pelo Vosso Coração piedoso: 
Que não sejais nosso Juiz, e sim, nosso doce Salvador!  
Senhor, lembrai-Vos, por fim, em Vossa vida de Hóstia redentora, que perdestes a vida terrena por perdoar ao homem, e que expirastes convidando ao céu de Vosso Pai a um ditoso desgraçado que adoçou a Vossa agonia e comprou o Vosso Paraíso com uma só palavra de arrependimento humilde; pedimo-Vos, pois, por Maria Imaculada e pelo Vosso Coração piedoso: 
Que não sejais nosso Juiz, e sim, nosso doce Salvador! 

Que assim seja Jesus, em especial para aqueles que souberam consolar-Vos na Comunhão Reparadora e na belíssima prece da Hora Santa. Cumpre com eles e os seus as Vossas promessas de misericórdia. 

(Pausa) 

Triunfos de Jesus e Glórias de sua Mãe 

O filho de Maria é Deus em sua morte e deve ser Deus em seu triunfo. Os resplendores, que cobrem o sepulcro despedaçado, envolvem sua Cruz, sua Igreja e seu Tabernáculo e glorificam a Virgem Maria. Mas esse triunfo do Senhor Crucificado é um triunfo secreto e misterioso, é uma vitória, íntima como a graça e como as almas. Assim é como esse Deus, realmente presente mas oculto nessa Hóstia, vai dominando todas as tempestades do inferno. Todas morrem diante o humilde Sacrário. E essa grande vitória, irremovível, eterna, é também a vitória e a exaltação da mulher puríssima de Maria Imaculada, unida a Ele, como nas supremas angústias do Coração do Filho, nas inefáveis alegrias de sua glória e do seu triunfo. Terminemos, pois, esta Hora Santa com uma prece de louvor e com um hosana de júbilo. 

As almas 

Jesus adorável, já é chegado o tempo em que vejamos convertido o Vosso altar no Tabor de Vossas glórias, pois com este fim revelastes a Margarida Maria as magnificências de Vosso vitorioso Coração. Vosso Vigário e o sacerdócio, acendidos em novo zelo; Vossa Eucaristia, amada e recebida com a veemência de um amor inusitado; a prática da Hora Santa; a consagração dos lares, convertidos em Vossos templos; tudo, enfim, ó Deus Sacramentado! Tudo nos está dizendo com dizer eloquentíssimo que o lábaro de Vosso Coração avança, recuperando o mundo que derramou Vosso sangue. 

Afiançai, pois, Senhor, Vosso reinado, e avançai mais e mais, ó Rei dos amores! Rogamo-Vos, em nome de Maria Imaculada, em cujos braços Vos encontramos sempre exequível e sempre ao nosso alcance. Coração de Jesus, Vós sabeis tudo; Vós sabeis que Vos amamos; perdoai, pois, e derramai pelo mundo inteiro as graças prodigiosas com que alentais e confirmais esta sublime devoção; pelo Coração Imaculado de Maria: 

(Todos) 

Venha a nós o Vosso Reino! 

Coração de Jesus, Vós sabeis tudo; Vós sabeis que Vos amamos; perdoai, pois, e dilatai até os últimos confins da Terra o fecundo alento de regeneração cristã que ofereceis às almas neste amor incomparável; pelo Coração Imaculado de Maria: 
Venha a nós o Vosso Reino! 
Coração de Jesus, Vós sabeis tudo; Vós sabeis que Vos amamos; perdoai, pois, e afiançai a realeza de vossa suavíssima ternura no lar, em todas as famílias que Vos estão dizendo que sois a sua paz e o seu céu antecipado; pelo Coração Imaculado de Maria: 
Venha a nós o Vosso Reino! 
Coração de Jesus, Vós sabeis tudo; Vós sabeis que Vos amamos; perdoai, pois, e alentai aos apóstolos que almejam coroar-Vos com um diadema de almas, de muitas almas pecadoras, conquistadas com vossa caridade infinita, inesgotável; pelo Coração Imaculado de Maria: 
Venha a nós o Vosso Reino! 
Coração de Jesus; Vós sabeis tudo; Vós sabeis que Vos amamos; perdoai, pois, e cumpri com a Vossa Igreja as solenes promessas de vitória feitas à Margarida Maria, como bênção e recompensa deste querido e fecundo apostolado; pelo Coração Imaculado de Maria: 
Venha a nós o Vosso Reino! 
Coração de Jesus; Vós sabeis tudo; Vós sabeis que Vos amamos; perdoai, pois, e, em obséquio à Virgem Mãe, dai aos trabalhos e às palavras de Vossos apóstolos a virtude irresistível de entronizar-Vos onde quer que tenha uma alma ou um lar que precise de Vossa grande misericórdia; pelo Coração Imaculado de Maria: 
Venha a nós o Vosso Reino! 

Sim, estabelecei-O, Senhor, na família, no povo, no governo, no ensino, reinai por Vosso Coração Divino! Conjuramo-Vos pelas lágrimas de Vossa Mãe. Nós Vo-los exigimos pela honra da Virgem Imaculada, rainha do mundo e da Igreja universal, Rainha por Vosso Sagrado Coração! 

Pai Nosso e Ave-Maria pelas intenções particulares dos presentes. 
Pai Nosso e Ave-Maria pelos agonizantes e pecadores. 
Pai Nosso e Ave-Maria pedindo o reinado do Sagrado Coração mediante a Comunhão frequente e diária, a Hora Santa e a Cruzada da Entronização do Rei Divino em lares, sociedades e nações. 

(Cinco vezes) 

Coração Divino de Jesus, venha a nós o Vosso Reino! 

Ato Final de Consagração 

O divino fogo que viestes atear na terra, acendeu-se, Jesus amado, em nossas almas e, tomados por Ele, já não sabemos pedir nem desejar senão a Vossa glória. Vós o dissestes ao revelar as maravilhas de Vosso Coração; Ele é o supremo e o último recurso de redenção humana. Apoiados, pois, em Vossas revelações, viemos ao Vosso altar em busca de palavras de vida eterna, e ao Vosso Coração adorável, ardentemente desejosos daquelas águas que devem regenerar o mundo, inflamando-o em vossa caridade. 

Ó, sede Rei dos ingratos, que Vos olham como um Soberano derrocado em suas almas infelizes; reconquistai-os, Jesus, pelo Vosso perdão. Sede Rei dos apóstatas, que Vos olham como Monarca de escárnios, e que riem, desdenhosos, ao quebrar o cetro de Vossa divina realeza; voltai-lhes a luz perdida e vingai-Vos de suas ofensas, perdoando essas traições. Sede Rei das multidões sublevadas por aqueles sinedristas, Jesus, que Vos aborrecem. Acalmai esse oceano rugidor de almas pervertidas, desorientadas; imperai por Vosso Evangelho e vontade no coração do povo pelo Vosso Sagrado Coração. 

Sede Rei de tantos bons, mas tímidos e apáticos, que temem exagerar no tributo de amor acendido que Vos devem. Derretei o gelo, sacudi a sonolência maligna em que vivem tantos, enquanto o mundo Vos julga e Vos condena. Sede Rei nos lares, ó sim; transladai a eles Vossos exemplos, inspirai Vós uma vida de trabalho, de amores e de penas das famílias que Vos brindaram o assento de honra entre os pais e os filhos. Sede Rei, enfim, nos Sacrários; rompei já o silêncio de Vosso cárcere um hino imenso, universal, de famílias, de povos e nações, hino de amor que diga, do um a outro confins da terra redimida: Aclamado seja o Divino Coração, por quem atingimos a salvação! A Ele, só a Ele, a glória e a honra pelos séculos dos séculos! Venha a nós o Vosso Reino! Amém. 


(Cinco vezes, em voz alta) 

Coração Divino de Jesus, venha a nós o Vosso Reino!

Fórmula de consagração individual ao Sagrado Coração de Jesus, composta por Santa Margarida Maria 
Eu (nome) Vos dou e consagro, ó Sagrado Coração de Jesus Cristo, minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte de meu ser senão para Vos honrar, amar e glorificar. É esta minha vontade irrevogável: ser todo Vosso e tudo fazer por Vosso amor, renunciando de todo o meu coração a tudo quanto Vos possa desagradar. Tomo-Vos, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto do meu amor, protetor de minha vida, segurança de minha salvação, remédio de minha fragilidade e de minha inconstância, reparador de todas as imperfeições de minha vida e meu asilo seguro na hora da morte. 
Sede, ó coração de bondade, minha justificação diante de Deus, Vosso Pai, para que desvie de mim Sua justa cólera. Ó coração de amor! Deposito toda a minha confiança em Vós, pois tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero de Vossa bondade! Extingui em mim tudo o que possa desagradar-Vos, ou se oponha à Vossa vontade. Seja o Vosso puro amor tão profundamente impresso em meu coração, que jamais possa eu esquecer-Vos, nem separar-me de Vós. Suplico, por Vosso infinito amor, que meu nome seja escrito em Vosso coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda a minha glória em viver e morrer como Vosso escravo. Amém. 

(Hora Santa de Março, pelo Pe. Mateo Crawley - Boevey)