segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A MARAVILHA DAS MARAVILHAS DE DEUS

Se a Eucaristia é a obra de um amor imenso, esse amor teve a seu serviço um poder infinito: a onipotência de Deus. Santo Tomás chama a Eucaristia, a maravilha das maravilhas - maximum miraculorum. Para convencer-se, basta meditar o que a fé da Igreja nos ensina sobre este mistério.

A primeira das maravilhas que se operam na Eucaristia é a transubstanciação: Jesus primeiro, depois os sacerdotes, por sua ordem e instituição, tomam pão e vinho, pronunciam sobre essa matéria as palavras da consagração, e imediatamente desaparece toda a substância do pão, toda a substância do vinho, acha-se mudada no Corpo Sagrado e no Sangue adorável de Jesus Cristo! Sob a espécie do pão como sob a do vinho, acha-Se verdadeira, real e substancialmente, o Corpo glorioso do Salvador.

Do pão, do vinho, restam somente as aparências: cor, sabor, peso; para os sentidos, é pão, é vinho. A fé nos diz que é o Corpo e o Sangue de Jesus velados sob os acidentes que só por um milagre subsistem. Milagre que só o Onipotente pode operar, pois é contra as leis ordinárias existirem as qualidades dos corpos sem os corpos que as sustentam. Eis a obra de Deus; Sua vontade é a razão de ser dessa obra, como a razão de nossa existência. Deus pode tudo quanto quer: isto não Lhe exige mais esforço que aquilo. Eis a primeira maravilha da Eucaristia.

Outra maravilha, que se contém na primeira, é que esse milagre se renova à simples palavra de um homem, do Sacerdote, e tantas vezes quantas ele o queira. Tal é o poder que Deus lhe comunicou: quer que Deus esteja sobre este altar, e Deus está! O Sacerdote faz absolutamente a mesma maravilha que Jesus Cristo operou na Ceia Eucarística, e é de Jesus Cristo que recebe o poder, e em Seu Nome que age. Nosso Senhor jamais resistiu à palavra de Seu Sacerdote. Milagre do poder de Deus: a criatura fraca, mortal, encarna Jesus sacramentado!

Jesus tomou cinco pães no deserto: abençoou-os e os Apóstolos tiveram com que alimentar cinco mil homens: pálida imagem dessa outra maravilha da Eucaristia, o milagre da multiplicação. Jesus ama todos os homens; quer dar-Se todo inteiro e pessoalmente a cada um; cada um terá a sua parte no maná da vida: é, pois, necessário que Se multiplique tantas vezes quantos são os comungantes que querem recebê-l'O, e cada vez que o quiserem; é necessário, de certo modo, que a Mesa Eucarística recubra o mundo. É o que se realiza por Seu poder: todos O recebem todo inteiro, com tudo o Que Ele é, cada hóstia consagrada O contém. Dividi essa santa hóstia em tantas partes quanto quiserdes, Jesus acha-se todo inteiro em cada uma das partes; em vez de dividi-l'O, a fração da hóstia O multiplica.

Quem poderá dizer o número de hóstias que Jesus, desde o Cenáculo, colocou à disposição de Seus filhos! Mas Jesus não somente Se multiplica com as santas parcelas; por uma maravilha conexa, acha-se ao mesmo tempo em um número infinito de lugares. Nos dias de Sua vida mortal, Jesus estava em um só lugar, habitava uma só casa: poucos ouvintes privilegiados podiam gozar de Sua presença e de Sua palavra.

Hoje, no Santíssimo Sacramento, acha-Se por toda parte, por assim dizer. Sua humanidade participa, de certo modo, da imensidade divina que tudo enche. Jesus acha-Se todo inteiro em um número infinito de templos e em cada um. É que, sendo todos os cristãos, espalhados pela superfície da terra, os membros do corpo místico de Jesus Cristo, é bem necessário que Ele, Sua alma, esteja por toda parte, espalhado em todo o corpo, dando a vida e conservando-a em cada um de Seus membros.

(Dos homilias de São Pedro Julião Eymard)