domingo, 29 de setembro de 2013

O HOMEM RICO E O POBRE LÁZARO

Páginas do Evangelho - Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum 


Na parábola de Jesus no evangelho deste domingo, confrontam-se os valores da riqueza e da pobreza, presentes no corpo e nos sentidos dos liames humanos, fontes diversas que forjam o abismo incomensurável dos destinos eternos da alma. De um lado, o homem rico, avarento e enfastiado pela opulência dos bens materiais; de outro, o mendigo,  na pobreza de sua indigência completa, que almejava apenas 'matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico' (Lc 16, 21). Duas pessoas tão próximas, tão juntas, como as bordas adjacentes de um abismo profundo moldado pelo paroxismo da indiferença humana.

E este abismo tende a se tornar definitivamente intransponível para ambos ao final de suas vidas mortais. Se há um momento em que todos os homens se tornam absolutamente iguais é a hora da morte. Se há um momento em que os homens se tornam absolutamente desiguais é no momento após a morte. Eis a grande lição do evangelho deste domingo: o céu e o inferno são realidades dogmáticas da fé cristã e o pecado mortal impõe ao condenado a definitiva separação de Deus e sua danação eterna no abismo dos abismos: 'há um grande abismo entre nós; por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’ (Lc 16, 25).

Ricos e pobres, todos nós seremos julgados não pela medida do muito ou pouco que fizemos nesta vida, mas pela medida com que fizemos bem aquilo que era da santa vontade de Deus. Ao morrer impenitente, o rico passa a viver a miséria da sua perdição; o pobre, que era apenas um nome neste mundo, torna-se o Lázaro na côrte eterna de Abraão. E, em contraposição à mendicância e às súplicas nunca ouvidas às suas portas, o rico irá suplicar três vezes pela clemência de Lázaro em seu favor e ao de seus irmãos: 'manda Lázaro molhar a ponta dos dedos... manda Lázaro à casa do meu pai ... se um dos mortos for até eles...' (Lc 16, 24, 27, 30).

A resposta de Abraão não estabelece concessão alguma: 'Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos' (Lc 16, 31). É uma sentença definitiva sob o primado da verdade eterna. Com efeito, Jesus ressuscitou, mas quantos O escutam? Escutar Moisés e os Profetas é ouvir a Palavra de Deus, seguir Jesus pelas passagens do Evangelho, combater o bom combate da fé, carregar a cruz de todos os dias com Cristo, por Cristo e em Cristo para que um dia, transposta a morte que nos torna homens todos iguais, sejamos os Lázaros da vida eterna.

29 DE SETEMBRO - SÃO MIGUEL ARCANJO

(São Miguel com elmo e armadura medieval - Catedral de Bruxelas)

'Houve uma batalha no Céu: Miguel e os seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado e não se encontrou mais um lugar para eles no Céu.' (Apoc. 12, 7-8).

'Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande Príncipe, constituído defensor dos filhos do seu povo e será tempo de angústia como jamais houve.' (Dan. 12, 1).

Assim como Lúcifer é o chefe dos demônios, Miguel é o maior dentre os anjos, Príncipe das milícias celestes, protetor da Santa Igreja e da humanidade contra as forças do inferno. Assim, a designação de arcanjo (oitavo coro dos anjos) tem sentido genérico e nominativo, pois certamente São Miguel, sendo o primeiro dentre os Anjos, é o maior dos serafins. Dentre os vários santuários destinados ao Príncipe das milícias celestes, destaca-se aquele localizado no Monte Saint Michel na França, cuja foto constitui a abertura e o símbolo deste blog.

(Santuário de São Miguel - Monte Saint Michel/França)

São Miguel, rogai por nós!
Intercedei a Deus por nós!

sábado, 28 de setembro de 2013

ORAÇÃO A SÃO MIGUEL ARCANJO (PELO PAPA LEÃO XIII)

Papa Leão XIII (1810 - 1903)

A ‘Oração a São Miguel Arcanjo’, composta pelo Papa Leão XIII, tem origem num fato bastante singular. Em 13 de outubro de 1884, após a missa da manhã, o Papa Leão XIII sofreu um desmaio, e muitos o julgaram morto. Assim que recuperou a consciência,  o Santo Padre descreveu um diálogo espantoso que parecia provir do tabernáculo, cujas vozes identificou claramente como sendo as de Cristo e do demônio. Na conversa, o diabo se vangloriava de que era capaz de destruir a Santa Igreja, desde que lhe fosse concedido um prazo fatídico de 100 anos para fazê-lo e que lhe fosse dado maior poder de influência sobre aqueles que o serviam. Em resposta, tal poder e tempo lhe foram concedidos por Jesus Cristo. Sob o impacto profundo destes fatos, o Papa Leão XIII compôs a ‘Oração a São Miguel’, que incorpora um profundo caráter profético, impondo a sua recitação ao final da Santa Missa, como medida de proteção da Igreja contra a ação das forças malignas. A oração completa de São Miguel é transcrita abaixo.

ORAÇÃO A SÃO MIGUEL ARCANJO

'Ó glorioso príncipe da milícia celeste, São Miguel Arcanjo, defende-nos no combate e na luta terrível contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares (Ef. 6)! Vem em auxílio dos homens que Deus criou imortais, feitos à sua imagem e semelhança e que remiu por alto preço da tirania do demônio (Sab. 2; I Cor. 6). 

Combate neste dia, com o exército dos santos anjos, a batalha que o Senhor outrora combateu contra Lúcifer, o chefe dos orgulhosos, e contra os anjos caídos que foram impotentes para resistir e para os quais não há mais lugar no céu. Sim, este grande dragão, esta antiga serpente chamada demônio ou Satanás, que seduz o mundo inteiro, foi precipitado com os seus anjos no fundo do abismo (Ap 12). Mas eis que agora este velho inimigo, este mesmo homicida, levanta ferozmente a cabeça. Disfarçado como um anjo de luz e seguido pela turba inteira dos espíritos malignos, percorre o mundo inteiro para dele se apoderar e banir o nome de Deus e do seu Cristo, para perseguir, matar e levar à perdição eterna as almas destinadas à glória eterna. Sobre os homens de espírito perverso e de coração corrupto, este dragão do mal derrama também, como uma torrente de lama impura, o veneno de sua malícia infernal, ou seja, o espírito da mentira, da impiedade, da blasfêmia e o hálito envenenado da impureza, dos vícios e de todas as abominações.

Os inimigos cheios de astúcia têm acumulados opróbrios e amarguras à Igreja, esposa do Cordeiro imaculado e lhe dado a beber absinto; sobre seus bens mais sagrados impõem suas mãos criminosas para a realização de todos os seus ímpios desígnios. Lá, no lugar sagrado onde está instituída a sede de São Pedro e a Cátedra da Verdade para iluminar os povos, foi instalado o trono da abominação de sua impiedade, com o desígnio iníquo de ferir o Pastor e dispersar as ovelhas.

Nós te suplicamos, ó príncipe invencível, ajuda o povo de Deus e concede-lhe a vitória contra os ataques destes espíritos dos réprobos. Este povo te venera como seu protetor e padroeiro, e a Igreja se gloria de tê-lo como defensor contra os poderes malignos do inferno. A ti Deus confiou a missão de conduzir as almas para a felicidade celeste. Roga, portanto, ao Deus da paz que submeta Satanás aos nossos pés, tão derrotado e subjugado, que nunca mais possa impor a escravidão aos homens, nem prejudicar a Igreja! Apresenta as nossas orações à vista do Todo-Poderoso para que as misericórdias do Senhor nos alcancem o quanto antes. Submete o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e o precipite acorrentado no abismo para que não mais possa seduzir as nações (Ap 20). Amém.

Desde já confiados à sua assistência e proteção, com a sagrada autoridade da Santa Igreja e em nome de Jesus Cristo, Deus e Nosso Senhor, comprometemo-nos com fé e segurança repelir aos ataques da astúcia diabólica.'

Oremos: ‘Ó Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, nós invocamos vosso Santo Nome e imploramos insistentemente a Vossa clemência para que, pela intercessão da Imaculada sempre Virgem Maria, nossa Mãe, e do glorioso São Miguel Arcanjo, de São José, esposo da mesma Santíssima Virgem, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e de todos os santos, dignai-vos proteger contra Satanás e contra todos os espíritos malignos que vagueiam pela terra para destruir a humanidade e fazer perder as almas. Amém’.

Em 1934, a oração original do Papa Leão XIII foi alterada sem maiores explicações. O trecho relativo ao avanço da apostasia universal até as portas da Igreja, ou seja, ao próprio Vaticano (‘a sede de São Pedro’) foi eliminado (Em La Salette, em 1846, Nossa Senhora já havia vaticinado que ‘Roma perderá a fé e se converterá na sede do Anticristo’, demonstrando, assim, cabalmente, a vinculação profética de La Salette com a ‘visão’ de Leão XIII, bem como a gravíssima situação a que estaria submetida a Santa Igreja). Adicionalmente, a oração completa foi substituída por uma versão bem mais sucinta (dada abaixo), que traduz de forma muito difusa o espírito e a força da oração original:

'São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a satanás e a todos os espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém'.

ORAÇÃO DO SANTO PADRE PIO PARA APÓS A COMUNHÃO


Ficai comigo, Senhor, porque é necessária a Vossa presença para eu não Vos esquecer. Sabeis quão facilmente Vos abandono.

Ficai comigo, Senhor, pois sou fraco e preciso da Vossa força para não cair tantas vezes.
Ficai comigo, Senhor, pois Vós sois a minha vida e sem Vós esmoreço no fervor.
Ficai comigo, Senhor, porque Vós sois a minha luz e sem Vós estou nas trevas.

Ficai comigo, Senhor, para me dares a conhecer a Vossa vontade.
Ficai comigo, Senhor, para que ouça a Vossa voz e Vos siga.
Ficai comigo, Senhor, pois desejo amar-Vos muito e estar sempre em Vossa companhia.

Ficai comigo, Senhor, se quereis que Vos seja fiel.
Ficai comigo, Senhor, porque, por mais pobre que seja minha alma, deseja ser para Vós um lugar de consolação e um ninho de amor.

Ficai comigo, Jesus, pois é tarde e o dia declina… e a vida passa. A morte, o juízo, a eternidade se aproximam e é preciso refazer minhas forças para que não fique prostrado no caminho, e por isso tenho necessidade de Vós. É tarde e a morte se aproxima. Tenho medo das trevas, das tentações, da aridez, da cruz, dos sofrimentos... Ó quanta necessidade tenho de Vós, meu Jesus, nesta noite de exílio.

Ficai comigo, Jesus, neste(a) dia (noite); nesta vida de tantos perigos, preciso de Vós. Fazei que, como Vossos discípulos, eu Vos reconheça na fração do pão, para que a Comunhão Eucarística seja a luz que dissipa as trevas, a força que me sustenta e a única alegria do meu coração.

Ficai comigo, Senhor, porque na hora da minha morte quero estar unido a Vós, senão pela comunhão, pelo menos pela graça e pelo amor.

Ficai comigo, Senhor, porque somente a Vós procuro, Vosso amor, Vossa graça, Vossa vontade, Vosso coração, Vosso Espírito, porque Vos amo e não peço outra recompensa senão amar-Vos mais. 

Com um amor firme, amar-Vos-ei de todo o meu coração já aqui na terra para continuar a Vos amar perfeitamente por toda a eternidade. Amém.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

LISTA DOS DOGMAS DE FÉ DA IGREJA CATÓLICA

A) Deus

1. Deus, nosso Criador e nosso Mestre, pode ser conhecido com certeza por meio das coisas criadas, pela luz natural da razão.
2. A existência de Deus não é só objeto de conhecimento da razão natural, mas também objeto de fé sobrenatural.
3. O Ser de Deus é incompreensível para o homem.
4. Os Santos do céu possuem um conhecimento direto e intuitivo de Deus.
5. A visão direta de Deus ultrapassa a potência natural de conhecimento da alma humana, e é portanto sobrenatural.
6. Para ver a Deus de modo realmente direto, a alma precisa da luz da glória. 
7. O Ser divino é incompreensível também para os santos do céu. 
8. Os atributos divinos são realmente idênticos à essência divina e realmente idênticos entre si. 
9. Deus é absolutamente perfeito. 
10. Deus é realmente infinito em cada perfeição. 
11. Deus é absolutamente simples. 
12. Só há um Deus. 
13. O Deus único é verdadeiro Deus no sentido ontológico. 
14. Deus possui uma inteligência infinita. 
15. Deus é absolutamente verídico. 
16. Deus é absolutamente fiel. 
17. Deus é a bondade ontológica absoluta em Si mesmo e relativamente às criaturas. 
18. Deus é a bondade moral ou santidade absoluta. 
19. Deus é a benignidade absoluta. 
20. Deus é absolutamente imutável. 
21. Deus é eterno. 
22. Deus é imenso. 
23. Deus está presente em toda parte no espaço criado. 
24. A ciência divina é infinita. 
25. Deus conhece toda realidade finita no passado, no presente e no futuro (scientia visionis). 
26. Em sua scientia visionis, Deus prevê também com certeza infalível as ações livres futuras das criaturas razoáveis. 
27. A vontade de Deus é infinita. 
28. Deus se ama a si mesmo necessariamente e as coisas exteriores livremente. 
29. Deus é o Soberano Senhor do céu e da terra. 
30. Deus é infinitamente justo. 
31. Deus é infinitamente misericordioso. 
32. Em Deus há três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Cada uma das três pessoas possui numericamente a mesma essência divina. 
33. Há em Deus duas processões imanentes. 
34. O sujeito das processões divinas (nos sentidos ativo e passivo) são as pessoas divinas, não a natureza divina. 
35. A Segunda Pessoa divina procede da primeira por geração e tem, por conseguinte, com ela as relações de um filho com seu pai. 
36. O Espírito Santo procede do pai e do Filho como de um princípio único, por uma única expiração. 
37. O Espírito Santo não procede por geração. 
38. As relações em Deus são realmente idênticas com a essência divina. 
39. Em Deus tudo é uno, se não houver uma oposição de relação. 
40. As três pessoas divinas estão uma na outra. 
41. Todas as atividades de Deus no exterior são comuns às três pessoas. 

B) Deus Criador

1. Tudo o que existe, fora de Deus, foi tirado do nada por Deus.
2. Deus foi levado por Sua bondade a criar livremente o mundo.
3. O mundo foi criado para a glória de Deus. 
4. As três pessoas divinas são o princípio único e comum da criação. 
5. Deus criou livremente o mundo, sem constrangimento exterior e sem obrigação interna. 
6. Deus criou o mundo bom. 
7. O mundo tem um começo no tempo. 
8. Deus criou sozinho o mundo. 
9. Deus conserva na existência todas as coisas criadas. 
10. Deus dirige e protege com a Sua providência tudo o que criou. 
11. O primeiro homem foi criado por Deus. 
12. O homem é composto de dois elementos essenciais, um corpo material e uma alma imortal. 
13. A alma razoável é diretamente a forma essencial do corpo. 
14. Cada homem possui uma alma individual imortal. 
15. Deus deu ao homem um fim sobrenatural. 
16. Nossos primeiros pais, antes do pecado original, estavam ornados com a graça santificante. 
17. Os primeiros pais estavam dotados do dom de imortalidade, ou seja, da isenção da morte corporal. 
18. Nossos primeiros pais, no paraíso terrestre, pecaram gravemente ao transgredirem um mandamento divino. 
19. Nossos primeiros pais perderem por seu pecado a graça santificante e atraíram para si a cólera e o descontentamento de Deus. 
20. Nossos primeiros pais caíram sob o castigo da morte e a dominação do demônio. 
21. O pecado de Adão passou a todos os seus descendentes, em virtude de sua origem, e não como mau exemplo. 
22. O pecado original é transmitido pela geração natural. 
23. No estado de pecado original, o homem é privado da graça santificante, bem como dos dons preternaturais de integridade. 
24. As almas que saem desta vida com o pecado original estão excluídas da visão beatífica de Deus. 
25. Deus criou do nada, no começo dos tempos, seres espirituais (os anjos). 
26. A natureza dos anjos é espiritual. 
27.Os maus anjos (demônios) foram criados bons por Deus; tornaram-se maus por sua própria culpa. 
28. A tarefa secundária dos bons anjos é a proteção dos homens e o cuidado da salvação deles. 
29. O diabo possui, em razão do pecado de Adão, certo domínio dobre os homens.

C) O Redentor

1. Jesus Cristo é Deus verdadeiro e Filho de Deus por essência.
2. Cristo tomou um corpo verdadeiro e não um corpo aparente.
3. Cristo não tomou simplesmente um corpo, mas também uma alma razoável.
4. Cristo foi verdadeiramente concebido e nasceu de uma filha de Adão, a Virgem Maria.
5. A natureza divina e a natureza humana estão unidas entre si hipostaticamente em Cristo, ou seja, na unidade da pessoa.
6. As duas naturezas de Cristo subsistem depois de sua união, sem transformação nem mescla, integralmente em sua particularidade.
7. Em Cristo, cada uma das duas naturezas possui uma vontade física própria e um modo de operação próprio.
8. A união hipostática da natureza humana de Cristo com o Lógos divino ocorreu no momento da concepção.
9. A união hipostática não cessará jamais.
10. O ato da união hipostática foi realizado em comum pelas três pessoas divinas.
11. Só a segunda pessoa divina se tornou homem.
12. Jesus Cristo é, também como homem, Filho natural de Deus.
13. O Homem-Deus, Cristo Jesus, deve ser honrado com um só culto, o culto absoluto de latria que pertence só a Deus.
14. Os predicados divinos e humanos de Cristo devem ser atribuídos só ao Lógos encarnado.
15. Cristo estava isento de todo pecado, tanto do pecado original quanto do pecado pessoal.
16. A natureza humana de Cristo estava sujeita aos sofrimentos corporais.
17. O Filho de Deus se encarnou para salvar os homens.
18. O homem caído não pode salvar-se a si mesmo.
19. Cristo é para os homens Legislador e Juiz.
20. O Homem-Deus Jesus Cristo é Grão-Sacerdote.
21. Cristo se ofereceu a Deus na cruz em verdadeiro sacrifício.
22. Pela morte na cruz, Cristo nos resgatou e reconciliou com Deus.
23. Cristo, por sua paixão e morte, mereceu de Deus uma recompensa.
24. Depois da morte, Cristo desceu aos limbos com sua alma separada do corpo.
25. No terceiro dia após sua morte, Cristo ressuscitou glorioso dentre os mortos.
26. Cristo subiu ao céu, de corpo e alma, e está sentado à direita do Pai.

D) Nossa Senhora

1. Maria é verdadeiramente Mãe de Deus.
2. Maria foi concebida sem a mácula do pecado original.
3. Maria concebeu do Espírito Santo, sem intervenção de um homem.
4. Maria pariu sem dano para a sua integridade virginal.
5. Maria permaneceu virgem também depois do nascimento de Jesus.
6. Maria foi elevada em corpo e alma ao céu.

E) A Graça

1. Existe uma ação sobrenatural de Deus sobre as forças da alma que precede a decisão livre da vontade.
2. Existe uma ação divina sobrenatural sobre as forças da alma que coincide temporalmente com a ação da vontade livre do homem.
3. Para todo ato salutar, a graça interior sobrenatural divina (gratia elevans) é absolutamente necessária.
4. O homem justificado não pode, sem ajuda particular de Deus, perseverar até o fim na justiça recebida.
5. O homem justificado não pode, sem privilégio especial da graça divina, evitar durante a vida todos os pecados, mesmo os veniais.
6. O homem pode, mesmo no estado de natureza decaída, conhecer verdades religiosas e morais com sua faculdade natural de conhecimento.
7. Para efetuar uma ação moralmente boa, a graça santificante não é indispensável.
8. No estado de natureza decaída, é moralmente impossível ao homem conhecer, sem revelação sobrenatural, todas as verdades naturais religiosas e morais, facilmente, com certeza e sem mescla de erro.
9. A graça não pode ser merecida por obras naturais nem de condigno nem de congruo.
10. Deus dá a todos os justos uma graça suficiente (gratia proxime vel remote sufficiens) para observar os mandamentos divinos.
11. Deus, por decisão eterna da sua vontade, predestinou certos homens à bem-aventurança eterna.
12. Deus predestinou, por decisão eterna de sua vontade, certos homens à danação eterna.
13. A vontade humana permanece livre sob a influência da graça eficaz.
14. Existe uma graça realmente suficiente que permanece, porém, ineficaz (gratia vere et mere sufficiens).
15. O pecador pode e deve, com ajuda da graça atual, preparar-se para receber a graça da justificação.
16. Sem a fé, a justificação do adulto não é possível.
17. À fé devem somar-se ainda outros atos de virtude.
18. A graça santificante santifica a alma.
19. A graça santificante transforma o justo em amigo de Deus.
20. A graça santificante transforma o justo em filho de Deus e lhe confere o direito à herança do céu.
21. Com a graça santificante são infusas as três virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade.
22. Sem revelação divina particular, ninguém pode saber com certeza de fé se se acha em estado de graça.
23. A medida da graça de justificação recebida não é igual em todos os justos.
24. A graça recebida pode ser aumentada com as boas obras.
25. A graça de justificação pode ser perdida e é perdida por todo pecado grave.
26. O justo adquire realmente pelas boas obras direito a uma recompensa sobrenatural da parte de Deus.
27. O homem justificado merece por suas boas obras o aumento da graça santificante, a vida eterna e o aumento da glória celeste.

F) Igreja

1. A Igreja foi fundada pelo Homem-Deus Jesus Cristo.
2. Cristo fundou a Igreja para dar prosseguimento à sua obra redentora em todos os tempos.
3. Cristo deu à sua Igreja uma constituição hierárquica.
4. Os poderes hierárquicos conferidos aos apóstolos passaram aos bispos.
5. Cristo instituiu São Pedro príncipe de todos os apóstolos e chefe visível de toda a Igreja, conferindo-lhe direta e pessoalmente o primado de jurisdição.
6. De acordo com a ordem de Cristo, São Pedro deve ter perpetuamente sucessores no primado sobre toda a Igreja.
7. Os sucessores de São Pedro no primado são os bispos de Roma.
8. O Papa tem o poder total e supremo sobre toda a Igreja, não só nas coisas de fé e de moral, mas também na disciplina e no governo da Igreja.
9. O Papa, quando fala ex cathedra, é infalível.
10.Os bispos possuem de direito divino um poder ordinário de governo sobre as suas dioceses.
11. Cristo fundou a Igreja.
12. Cristo é a Cabeça da Igreja.
13. A Igreja é infalível em suas decisões definitivas sobre a fé e os costumes.
14. O objeto primário da infalibilidade são as verdades formalmente reveladas da doutrina cristã sobre a fé e os costumes.
15. O conjunto dos bispos é infalível, quando, reunidos em concílio geral ou dispersos por toda a terra, apresentam um ensinamento sobre a fé ou os costumes como uma verdade que deve ser admitida por todos os fiéis.
16. A Igreja fundada por Cristo é una e única.
17. A Igreja fundada por Cristo é santa.
18. À Igreja pertencem não só membros santos, mas também pecadores.
19. A Igreja fundada por Cristo é católica.
20. A Igreja fundada por Cristo é apostólica.
21. A pertença à Igreja é para todos os homens necessária para a salvação.
22. É permitido e útil honrar os santos do céu e pedir sua intercessão.
23. É permitido honrar as relíquias dos santos.
24. É permitido e útil venerar as imagens dos santos.
25. Os fiéis vivos podem socorrer as almas do purgatório com seus sufrágios.

G) Os Sacramentos em geral

1. Os sacramentos da Nova Aliança contêm a graça que significam e a conferem aos que a tal não se opõem.
2. Os sacramentos agem ex opere operato.
3. Todos os sacramentos da Nova Aliança conferem a graça santificante a quem os recebe.
4. Três sacramentos, o batismo, a confirmação e a ordem imprimem na alma um caráter, ou seja, uma marca espiritual indelével e, por esta razão, não podem ser reiterados.
5. O caráter sacramental é uma marca espiritual impressa na alma.
6. O caráter sacramental subsiste pelo menos até a morte de seu possuidor.
7. Todos os sacramentos da Nova Aliança foram instituídos por Jesus Cristo.
8. Há sete sacramentos da Lei Nova.
9. Os sacramentos da Lei nova são necessários aos homens para a salvação.
10. Para uma administração válida dos sacramentos, é necessário que o ministro execute exatamente o sinal sacramental.
11. O ministro deve além disso ter a intenção de fazer o que faz a Igreja.
12. Para uma recepção digna ou frutuosa dos sacramentos é necessária uma disposição moral no sujeito adulto.

H) Batismo

1. O batismo é um verdadeiro sacramento instituído por Jesus Cristo.
2. A matéria distante do sacramento do batismo é a água natural comum.
3. O batismo confere a graça e a justificação.
4. O batismo opera a remissão de todas as penas, eternas e temporais, devidas ao pecado.
5. O batismo recebido válida, embora indignamente imprime na alma do batizado uma marca espiritual indelével, o caráter batismal, e não pode, portanto, ser reiterado.
6. O batismo de água (baptismus fluminis) é necessário à salvação para todos os homens sem exceção, desde a promulgação do Evangelho.
7. O batismo pode ser dado validamente por qualquer pessoa.
8. O batismo pode ser recebido validamente por qualquer pessoa ainda não batizada, em estado de via.
9. O batismo das crianças que não têm o uso da razão é válido e permitido.

I) Confirmação (Crisma)

1. A confirmação é um sacramento verdadeiro e propriamente dito.
2. A confirmação imprime na alma uma marca espiritual indelével, o caráter, e não pode, por isso, ser reiterada.
3. Só o bispo é ministro ordinário da confirmação.

J) Eucaristia

1. Na Eucaristia o corpo e o sangue de Cristo estão verdadeira, real e substancialmente presentes.
2. Cristo está presente no sacramento do altar pela conversão de toda a substância do pão em seu corpo e de toda a substância do vinho em seu sangue.
3. As espécies do pão e do vinho persistem após a transubstanciação.
4. Na Eucaristia o corpo e o sangue de Cristo com sua alma e sua divindade, portanto Cristo inteiro, estão verdadeiramente presentes.
5. Em cada uma das duas espécies está presente Cristo inteiro.
6. Sob cada parte de cada espécie, depois da divisão, Cristo está presente por inteiro.
7. Depois da consagração, o corpo e o sangue de Cristo estão presentes de maneira permanente na Eucaristia.
8. Devemos prestar a Cristo presente na Eucaristia o culto de adoração.
9. A Eucaristia é um verdadeiro sacramento instituído por Jesus Cristo.
10. A matéria da Eucaristia é o pão e o vinho.
11. Para as crianças, a recepção da Eucaristia não é necessária para a salvação.
12.A comunhão sob as duas espécies não é necessária, nem em razão do mandamento divino, nem como meio de salvação.
13. Só o sacerdote validamente ordenado possui o poder de consagrar.
14. O sacramento da Eucaristia pode ser recebido validamente por todo batizado em estado de via, mesmo pelas crianças não dotadas de razão.
15. Para receber dignamente a Eucaristia, o estado de graça e a intenção reta são necessários. (De fide no que diz respeito ao estado de graça.)
16. A santa missa é um sacrifício verdadeiro e propriamente dito.
17. O sacrifício da missa representa e recorda o sacrifício da cruz, cuja virtude salvífica ele aplica.
18. No sacrifício da missa e no sacrifício da cruz, a vítima e o sacrificador primário são idênticos; só difere o modo do sacrifício.
19. O sacrifício da missa não é só um sacrifício de louvor e de ação de graças, mas também um sacrifício propiciatório e impetratório.

K) A Penitência

1. A Igreja recebeu de Cristo o poder de perdoar os pecados cometidos depois do batismo.
2. Pela absolvição da Igreja, os pecados são verdadeira e diretamente perdoados.
3. O poder que tem a Igreja de perdoar os pecados estende-se a todos os pecados, sem exceção.
4. O exercício do poder de perdoar os pecados é um ato judiciário.
5. O perdão dos pecados que ocorre no tribunal da penitência é um sacramento verdadeiro e propriamente dito, distinto do batismo.
6. A justificação extrassacramental só é produzida pela contrição perfeita se esta estiver unida ao desejo do sacramento.
7. A contrição produzida por motivo de medo é ato moralmente bom e sobrenatural.
8. A confissão sacramental dos pecados é prescrita de direito divino e necessária à salvação.
9. Em virtude de uma ordem divina, estão sujeitos à obrigação da confissão todos os pecados graves, com sua natureza, seu número e as circunstâncias que mudam sua espécie.
10. A confissão dos pecados veniais não é necessária, mas permitida e útil.
11. Deus nem sempre perdoa, ao mesmo tempo que o pecado e a pena eterna, todas as penas temporais devidas ao pecado.
12. O sacerdote tem o direito e o dever de impor obras de satisfação salutares e apropriadas, segundo a natureza dos pecados e a capacidade do penitente.
13. As obras de penitência extrassacramentais, como a prática de exercícios voluntários de penitência e a aceitação paciente das provações enviadas por deus também têm valor satisfatório.
14. A forma do sacramento de penitência consiste nas palavras da absolvição.
15. A absolvição produz, em união com os atos do penitente, a remissão dos pecados.
16. O efeito principal do sacramento de penitência é a reconciliação do pecador com Deus.
17. O sacramento de penitência é necessário à salvação para os que, depois do batismo, cometeram pecado grave.
18. Só os bispos e os padres têm o poder de absolvição.
19. A absolvição dada por diáconos, clérigos inferiores e leigos não pode ser considerada absolvição sacramental.
20. O sacramento da penitência pode ser recebido por todo batizado que, depois do batismo, tiver cometido pecado grave ou venial.

Apêndice: as Indulgências

1. A Igreja tem o poder de conceder indulgências.
2. O uso das indulgências é útil e salutar para os fiéis.

L) A Extrema Unção

1. A extrema-unção é um sacramento verdadeiro e propriamente dito, instituído por Cristo.
2. A matéria distante da extrema-unção é o óleo.
3. A forma consiste na oração do sacerdote pelo doente, que acompanha a unção.
4. A extrema-unção dá ao enfermo a graça santificante para aliviá-lo e confortá-lo.
5. A extrema-unção produz às vezes, se for útil à salvação da alma, o restabelecimento da saúde corporal.
6. A extrema-unção não pode ser administrada validamente senão pelos bispos e sacerdotes.
7. A extrema-unção só pode ser recebida validamente pelos fiéis gravemente doentes.

M) A Ordem

1. A ordem é um sacramento verdadeiro e propriamente dito, instituído por Cristo.
2. O presbiterato é um sacramento.
3. Os bispos são superiores aos sacerdotes.
4. O sacramento da ordem confere ao que o recebe a graça santificante.
5. O sacramento da ordem imprime em quem o recebe um caráter.
6. O sacramento da ordem confere ao sujeito um poder espiritual permanente.
7. O ministro ordinário de todos os graus da ordem, tanto sacramentais como não sacramentais, é unicamente o bispo validamente consagrado.

N) O Matrimônio

1. O matrimônio é um sacramento verdadeiro e propriamente dito, instituído por Cristo.
2. Do contrato de matrimônio sacramental nasce o vínculo matrimonial que une os dois esposos para toda a vida numa comunidade de existência inseparável.
3. O sacramento de matrimônio confere aos esposos a graça santificante.

O) A escatologia do homem individual

a) Morte

1. A morte é, na ordem atual da salvação, uma consequência do pecado.
2. Todos os homens, tendo sido atingidos pelo pecado original, estão sujeitos à lei da morte.

b) O Céu

1. As almas dos justos que, no momento da morte, estiverem isentas de todo pecado e de toda pena devida ao pecado, entram no céu.
2. A bem-aventurança do céu durará eternamente.
3. O grau de bem-aventurança celeste varia nos diferentes santos conforme o mérito.

c) O Inferno

1. As almas dos que morrem em estado de pecado pessoal grave vão para o inferno.
2. As penas do inferno duram por toda a eternidade.

d) O Purgatório

1. As almas dos justos que, no momento da morte, ainda estão carregadas de pecados veniais ou de penas temporais devidas ao pecado vão para o purgatório.

P) A escatologia da humanidade como um todo

1. No fim do mundo, Cristo retornará, na glória, para o juízo.
2. Todos os mortos ressuscitarão no último dia com os corpos.
3. Os mortos ressuscitarão com (numericamente) o mesmo corpo que terão tido na terra.
4. Cristo, depois de seu retorno, julgará todos os homens.

(Lista de concepções dogmáticas de fé da Igreja Católica, retiradas da obra 'Manual e Teologia Dogmática' do Pe. Ludwig Ott (1906-1985), Editorial Herder, 1966, tradução do original alemão 'Grundriss der Katolischen Dogmatik', apresentada no site Christe eleison)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DAS MERCÊS


Na coroa de glórias dadas à Nossa Senhora, a Virgem das Mercês é celebrada em 24 de setembro. Mercês significa 'graças', 'favores', 'bênçãos' mas, acima de tudo, 'misericórdia'. A devoção teve origem na Espanha, durante a dura perseguição e prisão imposta aos cristãos numa Europa então invadida pelos mouros.

Na noite de primeiro pra 2 de agosto de 1218, Nossa Senhora se manifestou em sonho para São Pedro Nolasco, para São Raimundo de Peñaforte,  seu confessor, e para o rei Dom Jaime I de Aragão, dando-se a conhecer com o título de Mercês, e pedindo a fundação de uma ordem religiosa para o resgate dos cristãos cativos dos mouros. A ordem religiosa dos Mercedários foi, então, fundada em 10 de agosto de 1218, em Barcelona, na Espanha, tendo São Pedro Nolasco como primeiro diretor geral. A devoção logo se difundiu por toda a Europa e chegou ao Brasil, pelas mãos dos frades mercedários, dando origem a várias confrarias no país. Em 1696, o Papa Inocêncio XII estendeu a festa de Nossa Senhora das Mercês para toda a Igreja estabelecendo a data de 24 de setembro para a sua celebração.


Oração a Nossa Senhora das Mercês

Virgem Maria, Mãe das Mercês,
com humildade acorremos a Vós,
certos de que não nos abandonais
por causa de nossas limitações e faltas.
Animados pelo vosso amor de Mãe,
oferecemo-vos nosso corpo para que o purifiqueis,
nossa alma para que a santifiqueis,
o que somos e o que temos, consagrando tudo a Vós.
Amparai, protegei, bendizei e guardai
sob a vossa maternal bondade a todos
e a cada um dos membros desta família
que se consagra totalmente a Vós.
Ó Maria, Mãe e Senhora nossa das Mercês,
apresentai-nos ao vosso Filho Jesus,
para que, por vosso intermédio
alcancemos, na terra, a sua Graça
e depois a vida eterna.
Amém!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

SALMO 17

Salmo para invocação da proteção de Deus diante das dores e tormentas do mundo, especialmente para os dias da Justiça Divina:

1. Ao mestre de canto. De Davi, servo do Senhor, que dirigiu as palavras deste cântico ao Senhor, no dia em que ficou livre de todos os seus inimigos e das mãos de Saul.

2. Disse: Eu vos amo, Senhor, minha força!

3. O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu libertador. Meu Deus é a minha rocha, onde encontro o meu refúgio, meu escudo, força de minha salvação e minha cidadela.

4. Invoco o Senhor, digno de todo louvor, e fico livre dos meus inimigos.

5. Circundavam-me os vagalhões da morte, torrentes devastadoras me atemorizavam,

6. Enlaçavam-se as cadeias da habitação dos mortos, a própria morte me prendia em suas redes.

7. Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei para meu Deus: do seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor em sua presença chegou aos Seus ouvidos.

8. A terra vacilou e tremeu, os fundamentos das montanhas fremiram, abalaram-se, porque Deus se abrasou em cólera:

9. Suas narinas exalavam fumaça; sua boca, fogo devorador, brasas incandescentes.

10. Ele inclinou os céus e desceu, calcando aos pés escuras nuvens.

11. Cavalgou sobre um querubim e voou, planando nas asas do vento.

12. Envolveu-se nas trevas como se fossem véu, fez para si uma tenda das águas tenebrosas, densas nuvens.

13. Do esplendor de sua presença suas nuvens avançaram: saraiva e centelhas de fogo.

14. Dos céus trovejou o Senhor, o Altíssimo fez ressoar a sua voz.

15. Lançou setas e dispersou os inimigos, fulminou relâmpagos e os desbaratou.

16. E apareceu descoberto o leito do mar, ficaram à vista os fundamentos da terra, ante a vossa ameaçadora voz, ó Senhor, ante o furacão de vossa cólera.

17. Do alto estendeu a sua mão e me pegou, e retirou-me das águas profundas,

18. Livrou-me de inimigo poderoso, dos meus adversários mais fortes do que eu.

19. Investiram contra mim no dia do meu infortúnio, mas o Senhor foi o meu arrimo;

20. Pôs-me a salvo e livrou-me, porque me ama.

21. O Senhor me tratou segundo a minha inocência, retribuiu-me segundo a pureza de minhas mãos,

22. Porque guardei os caminhos do Senhor e não pequei separando-me do meu Deus.

23. Tenho diante dos olhos todos os seus preceitos e não me desvio de suas leis.

24. Ando irrepreensivelmente diante dele, guardando-me do meu pecado.

25. O Senhor retribuiu-me segundo a minha justiça, segundo a pureza de minhas mãos diante dos seus olhos.

26. Com quem é bondoso vos mostrais bondoso, com o homem íntegro vos mostrais íntegro;

27. Puro com quem é puro; prudente com quem é astuto.

28. Os humildes salvais, os semblantes soberbos humilhais.

29. Senhor, sois vós que fazeis brilhar o meu farol, sois vós que dissipais as minhas trevas.

30. Convosco afrontarei batalhões, com meu Deus escalarei muralhas.

31. Os caminhos de Deus são perfeitos, a palavra do Senhor é pura. Ele é o escudo de todos os que nele se refugiam.

32. Pois quem é Deus senão o Senhor? Quem é o rochedo, senão o nosso Deus?

33. É Deus quem me cinge de coragem e aplana o meu caminho.

34. Torna os meus pés velozes como os das gazelas e me instala nas alturas.

35. Adestra minhas mãos para o combate e meus braços para o tiro de arco.

36. Vós me dais o escudo que me salva. Vossa destra me sustém, e vossa bondade me engrandece.

37. Alargais o caminho a meus passos, para meus pés não resvalarem.

38. Dou caça aos inimigos e os alcanço, e não volto sem que os tenha aniquilado.

39. De tal sorte os despedaço, que não mais poderão levantar-se: eles ficam caídos a meus pés.

40. Vós me cingis de coragem para a luta e ante mim dobrais os meus adversários.

41. Afugentais da minha presença os meus inimigos e reduzis ao silêncio os que me aborrecem.

42. Gritam por socorro, mas não há quem os salve; clamam ao Senhor, mas não responde...

43. Eu os disperso como o pó que o vento leva, e os esmago como o barro das estradas.

44. Vós me livrais das revoltas do povo e me colocais à frente das nações; povos que eu desconhecia se tornaram meus servos.

45. Gente estranha me serve abnegadamente e me obedece à primeira intimação.

46. Gente estranha desfalece e sai tremendo de seus esconderijos.

47. Viva o Senhor e bendito seja o meu rochedo! Exaltado seja Deus, que me salva!

48. Deus, que me proporciona a vingança e avassala nações a meus pés.

49. Sois vós que me libertais dos meus inimigos, me exaltais acima dos meus adversários e me salvais do homem violento.

50. Por isso vos louvarei, ó Senhor, entre as nações e celebrarei o vosso nome.

51. Ele prepara grandes vitórias a seu rei e faz misericórdia a seu ungido, a Davi e a sua descendência para sempre.

domingo, 22 de setembro de 2013

O ADMINISTRADOR FIEL

Páginas do Evangelho - Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum 


Eis a parábola que fala da necessidade imperiosa dos Filhos de Deus viverem a sábia prudência que nasce e se alimenta da verdadeira fidelidade. A prudência dissociada da fidelidade é vanglória humana; a santidade pressupõe a adoção conjunta e harmônica destas duas virtudes, na convivência diária e nas relações humanas, no exercício das atividades do mundo, na utilização criteriosa dos recursos materiais à nossa disposição - inclusive o dinheiro, com foco único e centrado na salvação eterna de nossas almas.

Qual o uso que se dá ao que nos foi dado por Deus? O fruto de nossa herança eterna é a forma com que lidamos com os bens materiais e espirituais que a Divina Providência semeou no campo fértil da sua vinha: saúde, bens, poderes, riquezas, talentos, habilidades - tudo nos é dado como dotes mutáveis e transitórios para serem compartilhados com o próximo e produzir frutos perenes de vida eterna em terras alheias. Por que, tal como no cado do administrador infiel da parábola do Evangelho deste domingo, todos seremos igualmente cobrados pelo Senhor da Vinha: 'Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens’ (Lc 16, 2).

No Julgamento Particular de cada um de nós, já não haverá mais tempo para se administrar o bem que não se fez, a partilha não realizada, a herança não distribuída. Assim, Jesus nos alerta sobre a nossa condição de administradores temporários de bens e graças nesta vida, dos quais teremos de prestar conta de tudo. E cita o exemplo da esperteza do administrador infiel, que usou da sagacidade e de uma falsa e interesseira prudência para obter vantagens e benesses para a sus sua subsistência futura, porque, 'os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz' (Lc 16, 8).

Com sábia prudência, os filhos da luz deveriam agir como administradores fieis dos bens e riquezas do mundo, coisas boas em si, desde que adquiridas com trabalho honesto e tratadas como meios para glória de Deus e não como fins para ganância e soberba dos homens: 'Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro' (Lc 16, 13). Eis aí a nossa herança como administradores bons e fieis: a eterna recompensa nas moradas eternas do Senhor da Vida.

CONCEITO DE DOGMA E GRAUS DE CERTEZA TEOLÓGICA

Em sentido estrito, entendemos por dogma uma verdade revelada (formalizada) diretamente por Deus e, assim, proposta pela Igreja como crença geral dos fieis. O Concílio Vaticano [Vaticano I, embora, à época, não tenha sido utilizado o termo 'dogma'] declara  que: 'Fide divina et catholica ea omnia credenda sunt, quae in verbo Dei scripto vel tradito continentur et ab Ecclesia sive solemni iudicio sive ordinario et universali magisterio tanquam divinitus revelata credenda proponuntur' [deve-se crer, com Fé divina e católica, em tudo o que está contido na Palavra de Deus, seja escrita (Sagrada Escritura) ou transmitida oralmente (Tradição Oral), e que é proposto pela Igreja para ser crido como revelado por Deus, seja por definição solene, seja pelo Magistério ordinário e universal]. 

O conceito de dogma compreende, portanto, dois elementos:

(i) a imediata revelação por parte de Deus (revelatio immediate divina o revelatio formalis). A verdade em questão tem de ter sido imediatamente revelada por Deus, podendo ser explícita (explicite) ou implícita (implicite), e deve estar contida, portanto, nas fontes da revelação,  na Sagrada Escritura ou Tradição da Igreja;

(ii) ter sido proposto pelo Magistério da Igreja (propositio Ecclesiae). Esta proposição inclui não somente a notificação de uma doutrina de fé mas, ao mesmo tempo, a obrigação de crença na verdade proposta. Tal proposição pode ser feita pela Igreja, seja de forma extraordiaria por meio de uma solene definição do Papa ou de um concílio geral (iudicium solemne), ou pelo magistério ordinário e universal de toda a Igreja (magisterium ordinarium et universale). 

O dogma no sentido estrito é objeto da fé divina e da fé católica: é o objeto da fé divina por proceder de uma revelação divina; e é objeto da fé católica por ser proposto pelo magistério infalível da Igreja. Quando um batizado nega ou duvida deliberadamente um verdadeiro dogma, cai em pecado de heresia e incorre em excomunhão ipso facto.

Em conformidade com o Magistério da Igreja, que é preservar íntegro o depósito das verdades reveladas e dar-lhes uma interpretação infalível, constituem o primeiro e o principal objeto dos seus ensinamentos as verdades imediatamente por Deus. Por outro lado, a autoridade infalível da Igreja estende-se também a todas as verdades e fatos que são consequentes ou pressupostos das verdades reveladas (objeto secundário). Tais doutrinas e fatos não revelados imediata ou formalmente, mas que estão tão intimamente ligados com as verdades da fé, que a impugnação delas colocaria em perigo as próprias doutrinas reveladas, são designadas com o nome de verdades católicas (veritates catholicae) ou doutrinas da Igreja (doctrinete ecclesiasticae), para distingui-las das verdades divinas ou ensinamentos divinos da revelação (veritates vel doctrinae divinae). Devem ser acaeitas por meio do assentimento da fé que repousa sobre o magistério infalível da Igreja (fides ecclesiasticae).

Os graus de certeza teológica podem ser:

1. O mais alto grau de certeza pertence às verdades imediatamente reveladas. A crença a elas devida é baseada na autoridade de Deus Revelador (fides divina), e se a Igreja, por seu magistério, garante que uma verdade está contida na Revelação, a certeza então se baseia também na Autoridade Magisterial Infalível da Igreja (fides catholica). Quando são propostas por meio de uma solene definição do Papa ou de um concílio universal, tratam-se de verdades de fé definidas (de fide definita). 

2. As verdades católicas ou doutrinas católicas, sobre as quais a Autoridade Magisterial da Igreja definitivamente se pronunciou, devem ser aceitas com a fé que se baseia na autoridade única da Igreja (fides ecclesiastica). A certeza dessas verdades é infalível tanto quanto a dos dogmas propriamente ditos.

3. Um ensinamento próximo da fé (sententia fidei proxima) é uma doutrina quase que universalmente considerada pelos teólogos como uma verdade da Revelação, mas que ainda não foi definitivamente promulgada como tal pela Igreja.

4. Um ensinamento pertencente à fé, ou seja, teologicamente correto (sententia ad fidem pertinens, i.e, theologice certa) é uma doutrina sobre a qual a Autoridade Magisterial da Igreja ainda não se pronunciou definitivamente, mas cuja verdade é garantida por sua intrínseca conexão com a doutrina da Revelação (conclusões teológicas).

5. Um ensinamento comum (sententia communis) é uma doutrina que, em si mesma, pertence ao campo da livre opinião, mas que é geralmente aceita por todos os teólogos. 

6. As opiniões teológicas de menores graus de certeza são chamadas prováveis, mais prováveis ou bem fundamentadas (sententia probabilis, probabilior, bene fundata, sententia pia) e as chamadas opiniões piedosas (sententia pia), por levar em consideração a piedosa crença dos fieis em geral. Possui o menor grau de certeza a chamada opinião tolerada (opinio tolerata), que é apenas fracamente fundamentada, mas que é tolerada pela Igreja. 

Em relação ao ensinamento doutrinal da Igreja, deve ser notado que nem todas as afirmações da Autoridade Magisterial da Igreja em questões de fé e moral são infalíveis e consequentemente irrevogáveis. Somente são infalíveis as que emanam de Concílios Gerais, representando o episcopado inteiro, e as decisões papais tomadas Ex Cathedra (cf. D 1839). A forma ordinária e comum da atividade magisterial do Papa não é infalível. Além disso, as decisões das Congregações Romanas (Santo Ofício, Comissão Bíblica) não são infalíveis.

Apesar disso, normalmente elas devem ser aceitas com um assentimento interno que se baseia na autoridade sobrenatural do Espírito Santo (assensus religiosus). O chamado silentium obsequiosum, ou 'silêncio reverente', geralmente não basta. Excepcionalmente, a obrigação de assentimento interior pode cessar se um especialista competente, após nova investigação científica de todos os fundamentos, chegar à convicção positiva de que a decisão está fundamentada sobre um erro.

Excertos da obra 'Manual de Teologia Dogmática' de Pe. Ludwig Ott (1906-1985), Editorial Herder, 1966, tradução do original alemão 'Grundriss der Katolischen Dogmatik')