terça-feira, 30 de abril de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (49)


Tocar as sagradas espécies, receber a eucaristia de homens comuns, trajar roupas vulgares na procissão eucarística, transformar a comunhão num ato mecânico ou em um rito social, comungar em pecado mortal: rol de sacrilégios que transforma o homem em réu de condenação; seria melhor que estes insensatos colocassem mós ao pescoço e se lançassem no mais profundo dos abismos ...

A FÉ EXPLICADA (IX)

A EXCOMUNHÃO

Uma pessoa torna-se membro da Igreja quando recebe o sacramento do Batismo e somente poderá ser separado dela por cisma (negação ou contestação da autoridade papal), por heresia (negação de alguma das verdades de fé proclamadas pela Igreja) ou por excomunhão (exclusão da Igreja por manifestar matéria gravemente ofensiva à doutrina da Igreja, sem posicionamentos de arrependimento e reparação). A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, em que Cristo é a Cabeça, o Espírito Santo é a alma e cujos membros somos nós, os batizados como Filhos de Deus. Por razões de cisma, heresia e ou excomunhão, a pessoa está 'fora da Igreja' e, portanto, destituída da graça da salvação eterna. 

A excomunhão, prevista no Direito Canônico, constitui uma pena de caráter medicinal ou de censura imposta pela Igreja, relacionada à pronta suspeição e interdição de um delito ou pecado de extrema gravidade, cometido por uma ou mais pessoas batizadas, bem como à mitigação do escândalo correspondente e à imediata e contundente correção do responsável (ou responsáveis) pelo fato cometido. Além do fato consumado, a imposição da pena da excomunhão implica necessariamente a natureza contumaz dos delitos praticados. Assim, impõe-se sempre que o rito da excomunhão seja precedido pela advertência formal feita por autoridade constituída da Igreja, pela oportunidade ampla de reparação, pelo pleno conhecimento dado ao delituoso da gravidade dos fatos cometidos, bem como da imperiosa necessidade da retratação e de arrependimento pelos atos cometidos. É na contumácia (obstinação) dos fatos e ações delituosas cometidas pela pessoa que se impõe à mesma a validade da censura gravíssima da excomunhão. 

A excomunhão pode ser imposta latae sententiae (aplicável a partir do momento em que o delito foi cometido) ou ferendae sententiae (aplicável à pessoa a partir do momento em que foi imposta). No primeiro caso, incorrem todos aqueles que, por exemplo, participam voluntariamente de um aborto e a excomunhão resulta automática no próprio fato de se cometer tal delito (embora, em alguns casos e por razões que se impuserem oportunas, tais excomunhões possam ser também declaradas formalmente). No segundo caso, ao contrário, a excomunhão exige a caracterização formal do delito por meio de um decreto do bispo diocesano ou por sentença judicial (cf. cânon 1341 e seguintes). 

A excomunhão não caracteriza uma expulsão da Igreja, simplesmente porque esta ação não pode apagar o elo batismal que nos uniram indelevelmente, um dia, à Santa Igreja. Um excomungado está separado, mas não expulso da Igreja e, embora passe a ser réu de inúmeras proibições (ver restrições impostas pelo cânon 1331, dadas abaixo) e, por esta razão, continua sujeito igualmente às leis da Igreja (um católico excomungado comete pecado mortal ao cometer adultério, como qualquer outro católico). E, é sempre bom lembrar, a excomunhão poderá ser revista e cessada, nos termos constantes do Direito Canônico.

§1 - Proíbe-se ao excomungado (Cânon 1331):

1. Possuir qualquer participação ministerial na celebração do Sacrifício Eucarístico ou em quaisquer outras cerimônias de culto;
2. Celebrar os sacramentos ou sacramentais e receber os sacramentos;
3. Desempenhar ofícios, ministérios ou cargos eclesiásticos ou realizar atos de regime.
§2 - Quando a excomunhão foi imposta ou declarada, o réu:
1. Se quiser agir contra o que é prescrito no §1, deverá ser rejeitado ou deve cessar a cerimônia litúrgica, a não ser que obste uma causa grave;
2. Realiza invalidamente os atos de regime, que conforme o §1,3 são ilícitos;
3. Está proibido de gozar dos privilégios que anteriormente lhe foram concedidos;
4. Não pode obter validamente uma dignidade, ofício ou outra função na Igreja;
5. Não tem para si os frutos de uma dignidade, ofício, função ou pensão que tenha na Igreja.

O §1 se refere ao excomungado em geral, sem oferecer maiores especificações. Portanto, diz respeito a todos os excomungados, sejam latae sententiae ou ferendae sententiae. Por outro lado, o §2 refere-se apenas àqueles que foram excomungados ferendae sententiae (excomunhão imposta) ou latae sententiae declarada; excluem-se aqueles que incorreram em excomunhão latae sententiae não-declarada.

Estas observações são particularmente relevantes neste momento, em que o bispo de Bauru/SP infligiu a pena da excomunhão a um padre de sua diocese, em face da natureza e contumácia dos graves delitos por ele cometidos, há tempos. O sacerdote, diante de pena tão terrível, diz-se sentir 'honrado' em recebê-la. Diante da imperiosa característica de contenção do escândalo que se insere tal censura, inúmeros fiéis participam da 'última missa' do sacerdote, mobilizam-se em sua defesa de formas diversas, difamam a Igreja e se sentem consternados com a 'posição radical' do bispo diocesano. Quantos pecados, quanto escândalo, quanta heresia; e quantos se condenando por meros e tresloucados apegos humanos, consumidos em erros doutrinários de gravidade extrema. A Igreja sangra sob a loucura e a insensatez dos seus próprios filhos...

segunda-feira, 29 de abril de 2013

DA VERDADEIRA DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM

§ I. As práticas comuns.

115. Há muitas práticas interiores da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. As principais são, abreviadamente, as seguintes:

1. Honrá-la, como a digna Mãe de Deus, com o culto de hiperdulia, isto é, estimá-la e honrá-la sobre todos os outros santos, como a obra-prima da graça e a primeira depois de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
2. Meditar suas virtudes, seus privilégios e seus atos.
3. Contemplar suas grandezas.
4. Fazer-lhe atos de amor, de louvor e reconhecimento.
5. Invocá-la cordialmente.
6. Oferecer-se e unir-se a ela.
7. Em todas as ações ter a intenção de agradar-lhe.
8. Começar, continuar, e acabar todas as ações por ela, nela, com ela e para ela, a fim de fazê-las por Jesus Cristo, em Jesus Cristo, com Jesus Cristo e para Jesus Cristo, nosso último fim. Mais adiante explicaremos esta última prática (Ver cap. VIII, art, II).

116. A verdadeira devoção à Santíssima Virgem tem também muitas práticas exteriores, das quais as principais são:

1º Alistar-se em suas confrarias e ingressar em suas congregações;
2º ingressar numa das ordens instituídas em sua honra;
3º publicar seus louvores;
4º dar esmolas, jejuar e mortificar-se o espírito e o corpo em sua honra;
5º trazer consigo suas insígnias, como o santo rosário ou o terço, o escapulário ou a cadeiazinha;
6º recitar com devoção, atenção e modéstia ou o santo rosário, composto de quinze dezenas de Ave-Maria, em honra dos quinze mistérios principais de Jesus Cristo, ou o terço de cinco dezenas, contemplando os cinco mistérios gozosos: anunciação, a visitação, a natividade de Jesus Cristo, a purificação e o encontro de Jesus no templo; os cincomistérios dolorosos: a agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras, sua flagelação, a coroação de espinhos, Jesus levando cruz, e a crucificação; os cinco mistérios gloriosos:a ressurreição de Jesus, sua ascensão, a descida do Espírito Santo, a assunção da Santíssima Virgem em corpo e alma ao céu, e sua coroação pelas três pessoas da Santíssima Trindade.

Pode-se recitar também uma coroa de seis ou sete dezenas em honra dos anos que se crê a Santíssima Virgem ter vivido na terra; ou a coroinha da Santíssima Virgem, composta de três Pai-nosso e doze Ave-Marias, em honra de sua coroa de doze estrelas ou privilégios; outrossim o ofício da Santíssima Virgem universalmente conhecido e recitado pela Igreja; o pequeno saltério da Santíssima Virgem que São Boaventura compôs em sua honra, tão terno e devoto que não se pode recitá-lo sem enternecimento; quatorze Pai-nosso e Ave-Marias em honra de suas quatorze alegrias; quaisquer outras orações, enfim, hinos e cânticos da Igreja, como o 'Salve Rainha', o Alma', o 'Ave Regina caelorum', ou o 'Regina caeli', conforme os diferentes tempos; ou o 'Ave, Maris Stella', 'O gloriosa Domina', etc., ou o 'Magnificat', e outras orações e hinos de que andam cheios os devocionários;

7º cantar e fazer cantar em sua honra cânticos espirituais;
8º fazer-lhe um certo numero de genuflexões ou reverências, dizendo-lhe, p. ex., todas as manhãs, sessenta ou cem vezes: 'Ave, Maria, Virgo Fidelis', para, por meio dela, obter de Deus a fidelidade às graças durante o dia; e à noite: 'Ave, Maria, Mater Misericordiae', para, por intermédio dela, alcançar de Deus o perdão dos pecados cometidos durante o dia;
9º ter zelo por suas confrarias, ornar seus altares, coroar e enfeitar suas imagens;
10º carregar nas procissões ou fazer que se conduza sua imagem nas procissões, e trazê-la consigo como uma arma eficaz contra o demônio;
11º mandar fazer imagens que a representem, ou seu nome, e colocá-los nas igrejas, nas casas, nos pórticos ou à entrada das cidades, igrejas e casas;
12º consagrar-se a ela, de uma maneira especial e solene.

117. Há uma quantidade de outras práticas da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, que o Espírito Santo tem inspirado às almas de escol, e que são muito santificantes. Pode-se encontrá-las mais extensamente no livro 'Paraíso aberto a Filágia' do Padre Paulo Barry, da Companhia de Jesus. Aí o autor coligiu grande número de devoções praticadas pelos santos em honra da Santíssima Virgem, devoções maravilhosamente úteis para santificar as almas, desde que sejam praticadas como devem, isto é:
1º Com reta e boa intenção de agradar só a Deus, de unir-se a Jesus Cristo como o nosso fim último, e de edificar o próximo;
2ª com atenção, sem distrações voluntárias;
3º com devoção, sem precipitação nem negligência;
4º com modéstia e compostura, em atitude respeitosa e edificante.

§ II. A prática perfeita.

118. Depois de ler quase todos os livros que tratam da devoção à Santíssima Virgem e de conversar com as pessoas mais santas e instruídas destes últimos tempos, declaro firmemente que não encontrei nem aprendi outra prática de devoção à Santíssima Virgem semelhante a esta que vou iniciar, que exija de uma alma mais sacrifícios a Deus, que a despoje mais completamente de seu amor-próprio, que a conserve com mais fidelidade na graça e a graça nela, que a una com mais perfeição e facilidade a Jesus Cristo, e, afinal, que seja mais gloriosa para Deus, santificante para a alma e útil ao próximo.

119. O essencial desta devoção consiste no interior que ela deve formar, e, por este motivo, não será compreendida igualmente por todo o mundo. Alguns hão de deter-se no que ela tem de exterior, e não passarão avante, e estes serão o maior número; outros, em número reduzido, entrarão em seu interior, mas subirão apenas um degrau. Quem alcançará o segundo? Quem se elevará ao terceiro? Quem, finalmente, se identificará nesta devoção? Aquele somente a quem o Espírito de Jesus Cristo revelar este segredo. Ele mesmo conduzirá a esse estado a alma fiel, fazendo-a progredir de virtude em virtude, de graça em graça e de luz em luz, para que ela chegue a transformar-se em Jesus Cristo, e atinja a plenitude de sua idade sobre a terra e de sua glória no céu.

('Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria' de São Luís Maria Grignion de Montfort)

domingo, 28 de abril de 2013

28 DE ABRIL - SÃO LUÍS DE MONTFORT

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Missionário do Espírito Santo e da Virgem Santíssima, São Luís Maria Grignion de Montfort foi o portador da graça divina de uma mensagem de transcendência extraordinária: a necessidade de uma devoção ardente à Mãe de Deus e do conhecimento da missão ímpar de Nossa Senhora no Segundo Advento do seu Filho. Nasceu em 31 de janeiro de 1637 em Montfort (França), sendo ordenado sacerdote em 1700. Em 1706, foi recebido pelo Papa Clemente XI que, confirmando a sua vocação missionária, outorgou-lhe o título de 'Missionário Apostólico'. Nesta missão, combateu duramente a doutrina jansenista na França, que, crendo na predestinação, apresentava um Deus tirânico e sem misericórdia. Fundou três instituições religiosas: a Companhia de Maria (congregação de sacerdotes missionários), as Filhas da Sabedoria (freiras dedicadas à assistência aos doentes nos hospitais e à instrução de meninas pobres) e os Irmãos de São Gabriel (congregação de leigos voltados para o ensino). Escreveu várias obras, dentre ela o 'Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem', referência básica da mariologia cristã. Morreu em 28 de abril de 1716, aos 43 anos e apenas 16 anos como sacerdote, em Saint-Laurent-sur-Sèvre (França). Foi beatificado em 1888 e canonizado em 1947, pelo Papa Pio XII.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO


'Sou a Rainha das Vitórias e a Mãe do Bom Sucesso'

Esta imagem milagrosa de Nossa Senhora do Bom Sucesso é venerada no Monasterio Real de La Limpia Concepción, primeiro convento de monjas contemplativas da América do Sul, fundado em 1577 em Quito / Equador, sob os auspícios do rei Filipe II da Espanha. Em 2 de fevereiro de 1610, Nossa Senhora se manifestou a uma das oito religiosas fundadoras do mosteiro - Madre Mariana de Jesus Torres, apresentando-se como a 'Rainha das Vitórias e Mãe do Bom Sucesso', dando início a uma série enorme de eventos milagrosos e revelações extraordinárias (ver postagem anexa):

(Madre Mariana de Jesus)

'Rezava insistentemente Madre Mariana à primeira hora da madrugada, prostrada ao solo no coro, pelas necessidades de seu mosteiro, da colônia espanhola da América e da Igreja, quando notou a presença de uma Senhora de extraordinária formosura, sustentando no braço esquerdo um Menino belo como a aurora. Emocionada, a religiosa perguntou:

Quem sois, linda Senhora, e que desejais de mim, que sou só uma sofrida monja?

— Sou Maria do Bom Sucesso, a Rainha dos Céus e da Terra. Porque me invocaste com terno afeto, venho do Céu consolar teu aflito coração. Tuas orações, lágrimas e penitências são muito agradáveis a nosso Pai Celestial. Na mão direita, tenho o báculo que vês, pois quero governar este meu mosteiro como Priora e Mãe. Satanás quer destruir esta obra de Deus, mas não o conseguirá, porque Eu sou a Rainha das Vitórias e a Mãe do Bom Sucesso, sob cuja invocação quero fazer prodígios em todos os séculos.

É vontade de meu Filho Santíssimo que mandes confeccionar uma imagem, tal como me vês, e que a coloques no trono da abadessa. Na minha mão direita porás o báculo e as chaves da clausura, em sinal de minha propriedade e autoridade. Em minha mão esquerda porás meu Divino Filho. Eu mesma governarei este meu Mosteiro.

— Senhora —ponderou a religiosa — como realizar tudo isso, se até desconheço Vossa estatura?

— Dá-me o cordão franciscano que trazes à cintura.

A Santíssima Virgem o tomou e colocou uma de suas extremidades na mão de seu Divino Filho, que o aplicou à cabeça da Mãe, indicando a Madre Mariana que, com a outra ponta, tocasse seus pés.

O cordão milagrosamente se esticou, até alcançar a estatura exata da Santíssima Virgem.

— Aqui tens, minha filha, a medida de tua Mãe do Céu. Meu servo Francisco del Castilho, a quem explicarás minhas feições e minha postura, talhará minha imagem, pois tem reta consciência e observa religiosamente os mandamentos de Deus e da Igreja. De tua parte, ajuda-o com orações e humildes sofrimentos'.


Francisco del Castillo preparou-se com penitências, para tão alto encargo: confessou-se, comungou, e no dia 15 de setembro de 1610 iniciou a confecção da imagem. Quando faltavam apenas os retoques finais, certo de que a imagem, embora satisfatória, nem de longe representava o que Madre Mariana havia visto, resolveu não só fazer mais penitência, mas saiu de viagem em busca das melhores tintas para concluir o trabalho.

De regresso, surpreendeu-se ao encontrar já concluída a imagem. Diante do bispo, fez juramento escrito para testemunhar que a imagem não era obra sua, e que a havia encontrado, ao voltar, com uma forma muito diferente da que havia deixado, seis dias antes.

Madre Mariana de Jesus descreve assim os acontecimentos: rezava às três horas da madrugada do dia 16 de janeiro de 1611, no coro, onde estava a imagem que ia sendo esculpida por Francisco del Castillo, quando viu os arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael, os quais se apresentavam diante do trono da Rainha dos Céus.

São Miguel, saudando-a, disse: 'Ave Maria, Filha de Deus Pai'; São Gabriel acrescentou: 'Ave Maria, Mãe de Deus Filho' e São Rafael concluiu: 'Maria Santíssima, Esposa puríssima do Espírito Santo'. Nesse momento apareceu São Francisco de Assis e se uniu aos três arcanjos. Seguidos da milícia celeste, acercaram-se da imagem semi-acabada, transformando-a e refazendo-a, dando-lhe uma beleza inigualável que mão humana jamais poderia conferir.

A Virgem estava totalmente iluminada, como se estivesse no meio do sol. Do alto, a Santíssima Trindade olhava comprazida o que acontecia, e os anjos entoavam suas melodias. No meio de todas essas alegrias, a Rainha do Céu penetrou pessoalmente na imagem, como raios de sol que se introduzem em um cristal. Como que tomando vida, tornou-se resplandecente, e com celestial melodia cantou o Magnificat. Os anjos entoaram o hino Salve Sancta Parens (Ave, ó Santa Progenitora). 

Salve sancta parens 
Enixa puerpera Regem 
Qui celum terramque regit 
In saecula saeculorum

Eructavit cor meum 
Verbum bonum 
Dico ego opera mea Regi

Gloria patri et filio 
Et spiritui sancto 
Sicut erat in principio 
Et nunc et semper 
Et in saecula saeculorum

Amen

Nossa Senhora do Bom Sucesso, rogai por nós!

AS REVELAÇÕES DE NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO

'A pátria em que vives deixará de ser colônia e será república livre; então, chamar-se-á Equador e necessitará de almas heróicas para sustentar-se no meio de tantas calamidades, públicas e privadas'.

Previsão cumprida 200 anos depois. 

'No século XIX, haverá um presidente verdadeiramente católico, varão de caráter, a quem Deus dará a palma do martírio, na mesma praça onde está este meu convento. Ele consagrará a República ao Divino Coração de meu Filho Santíssimo, e esta consagração sustentará a Religião católica nos anos posteriores, os quais serão amargos para a Igreja'.

Gabriel García Moreno (1821-1875) 

Com efeito, em 25 de março de 1874, Gabriel Garcia Moreno tornou o Equador a primeira nação da América consagrada ao Sagrado Coração de Jesus. E no ano seguinte, a 6 de agosto, entregou sua alma a Deus, assassinado pelos inimigos da fé, na mesma praça em que está situado o mosteiro. Antes de expirar, escreveu no solo, com o próprio sangue: Dios no muere.

Nossa Senhora do Bom Sucesso entregou o Menino Jesus a Madre Mariana. Em seus braços, Ele revelou-lhe a proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, quando 'meu Vigário' estiver cativo; e o dogma da Assunção, depois de o mundo sair de um banho de sangue.

Fatos que ocorreram, respectivamente, em 1854, no pontificado do Bem-aventurado Pio IX, e após a II Guerra Mundial, em 1950.

A Rainha do Céu e da Terra manifestou à Madre Mariana que a invocação de Nossa Senhora do Bom Sucesso seria a sustentação e a guarda da fé, face à total corrupção do século XX, na seguinte revelação:

'nesses tempos de calamidade, quase não haverá inocência infantil [...], a atmosfera estará saturada de impureza, a qual, como um mar imundo, correrá pelas ruas, praças e lugares públicos com uma liberdade assombrosa, de maneira que quase não se encontrarão no mundo almas virgens[...]. Quanta dor sinto ao te manifestar que haverá muitos e enormes sacrilégios públicos e também ocultos, profanações da Sagrada Eucaristia. [...] Meu Filho Santíssimo será lançado ao solo e pisoteado por pés imundos. [...] O Sacramento da ordem sacerdotal será ridicularizado, oprimido e desprezado, porque nesse sacramento se oprime e denigre a Igreja de Deus e a Deus mesmo, representado em seus sacerdotes. [...] O Sacramento do matrimônio, que simboliza a união de Cristo com a Igreja, será atacado e profanado em toda a extensão da palavra [...]. Impor-se-ão leis iníquas, com o objetivo de o extinguir, facilitando a todos viverem mal'.

'Quando tudo parecer perdido, será o início do triunfo da Santa Igreja. O pequeno número de almas que guardarão o tesouro da fé e das virtudes sofrerá um cruel e indizível padecer, a par de um prolongado martírio [...], haverá uma guerra formidável e espantosa, na qual correrá sangue de nacionais e estrangeiros, de sacerdotes e de religiosas. Essa noite será terrível, pois parecerá ao homem o triunfo da maldade. Será chegada, então, a hora em que Eu de maneira assombrosa destronarei o soberbo e maldito Satanás, pondo-o abaixo de meus pés e sepultando-o no abismo infernal. Deixarei por fim livres, a Igreja e a pátria, de sua cruel tirania [...]. Ora com insistência, pedindo a nosso Pai Celeste que se compadeça e ponha termo, o quanto antes, a tempos tão nefastos, enviando à Santa Igreja o prelado (do latim, 'praelatus' — aquele que vai à frente),que deverá restaurar o espírito de seus sacerdotes. A esse filho meu muito querido amamos, meu Filho Santíssimo e Eu, com amor de predileção, pois o dotaremos de uma capacidade rara, de humildade de coração, de docilidade às divinas inspirações, de fortaleza para defender os direitos da Igreja e de um coração terno e compassivo, para que, qual outro Cristo, atenda o grande e o pequeno, sem desprezar o mais desafortunado que lhe peça luz e conselho em suas dúvidas e amarguras [...]. Em sua mão será posta a balança do Santuário, para que tudo se faça com peso e medida, e Deus seja glorificado'.

'Tempos funestos sobrevirão, nos quais, cegando na própria claridade, aqueles que queriam defender em justiça os direitos da Igreja, sem temor servil nem respeito humano, darão a mão aos inimigos da Igreja, para fazer o que estes quiserem. Mas ai do erro do sábio — o que governa a Igreja — do Pastor do redil que meu Filho Santíssimo confiou a seus cuidados. Mas quando aparecerem triunfantes e quando a autoridade abusar de seu poder, cometendo injustiças e oprimindo os débeis, próxima está sua ruína. Cairão por terra estatelados. E, alegre e triunfante, qual terna menina, ressurgirá a Igreja e adormecerá brandamente, embalada em mãos do hábil coração maternal de meu filho eleito e muito querido daqueles tempos, ao qual, se dócil prestar ouvido às inspirações da graça — sendo uma delas a leitura das grandes misericórdias que meu Filho Santíssimo e Eu temos usado contigo —, enchê-lo-emos de graças e dons muito particulares, fá-lo-emos grande na Terra e muito maior no Céu, onde lhe temos reservado um assento muito precioso, porque, sem temor dos homens, combateu pela verdade e defendeu, impertérrito, os direitos de sua Igreja, pelo que bem o poderão chamar mártir'.

'O meu culto sob a consoladora invocação do Bom Sucesso …. será a sustentação e salvaguarda da Fé na quase total corrupção do século XX'.

'Os sacerdotes, a partir do século XIX, deverão amar com toda a alma João Maria Vianney, um servo meu que a Bondade Divina prepara para com ele agraciar aqueles séculos como modelo exemplar do sacerdote abnegado'.

'Saiba ainda que a Justiça Divina costuma descarregar castigos terríveis sobre nações inteiras, não tanto pelos pecados do povo quanto pelos dos Sacerdotes e religiosos, porque estes últimos são chamados, pela perfeição de seu estado, a ser o sal da Terra, os mestres da verdade e os pára-raios da Ira Divina' .

'Quase não se encontrará a inocência nas crianças nem pudor nas mulheres, e nessa suprema necessidade da Igreja, calar-se-á aquele a quem competia a tempo falar”.Essa grave omissão é repetida por Nossa Senhora na aparição seguinte, 

'Campearão vícios de impureza, a blasfêmia e o sacrilégio naquele tempo de depravada desolação, calando-se quem deveria falar.Os que deveriam defender os direitos da Igreja dão as mãos aos seus inimigos.'

'Tempos funestos sobrevirão, nos quais …. aqueles que deveriam defender em justiça os direitos da Igreja, sem temor servil nem respeito humano, darão as mãos aos inimigos da Igreja para fazer o que estes quiserem. Quando tudo parecer perdido, será o início do triunfo da Santa Igreja.'

'O pequeno número de almas que guardará o tesouro da Fé e das virtudes sofrerá um cruel, indizível e prolongado martírio. Muitas delas descerão ao túmulo pela violência do sofrimento e serão contadas como mártires que se sacrificaram pela Igreja e pela Pátria.'

'Para a libertação da escravidão dessas heresias, aqueles a quem o amor misericordioso de meu Filho Santíssimo destinará para esta restauração, necessitarão de grande força de vontade, constância, valor e muita confiança em Deus. Para pôr à prova esta fé e confiança dos justos, haverá ocasiões em que tudo parecerá perdido e paralisado. Será, então, o feliz princípio da restauração completa'.

A Virgem Maria lhe revelou ainda que sempre haveria ao menos uma alma santa habitando o mosteiro. E de fato, muitas religiosas morreram em odor de santidade, inclusive há no mosteiro um altar onde repousam os corpos incorruptos da Madre Mariana e de várias outras religiosas de diversas épocas.


quinta-feira, 25 de abril de 2013

POR QUE OS BONS DEVEM SOFRER?

Como membro da sociedade e cidadão de seu país, você deve se juntar com as demais pessoas para a reparação e satisfação requeridas pela Divina Justiça para os pecados públicos e nacionais cometidos na comunidade em que você vive. Por pecados públicos e nacionais, entendemos alguns pecados de natureza mais grave que são cometidos em escala tão grande e por tantas pessoas em uma comunidade, seja uma cidade, província ou nação inteira, que eles são atribuídos à comunidade como um todo e não somente àquele ou a esse indivíduo. 

Pecados desse tipo são: apostasia da fé, irreligião e esquecimento de Deus; educação sem Deus da juventude; profanação do nome de Deus, imprecações, blasfêmias e perjúrios; profanação do domingo; modas imodestas e escandalosas; artes, literatura e divertimentos imorais; divórcio e adultérios sancionados por lei iníquas do Estado; desonestidade, injustiça e opressão dos pobres, assassinatos e suicídio de raças; e, finalmente, orgias selvagens de grande imoralidade e licença sem freio que periodicamente desgraçam as festividades públicas e celebrações, ou que ocorrem em bailes, danças, banquetes e eventos similares. 

Deus é extremamente paciente e tolera por muito tempo, e não inflige castigos gerais de bom grado, mesmo que sejam muito merecidos por uma comunidade. Ele prefere, na verdade, que seus filhos que o ofendem busquem o perdão por meio do arrependimento e conversão oportuna. Ele esperou cem anos antes de mandar o dilúvio, que havia encarregado Noé de anunciar; Ele permitiu que 40 anos transcorressem entre a previsão feita por Nosso Senhor da destruição vindoura de Jerusalém e o cumprimento da profecia pelos romanos no ano 70; Ele poupou a cidade de Nínive integralmente porque seus habitantes imediatamente deixaram de pecar e se apressaram a fazer penitência com a pregação de Jonas. Deus age dessa maneira ainda agora. Ele frequentemente espera um longo tempo antes de infligir às cidades e às nações pecaminosas os castigos mais pesados que pedem as suas múltiplas iniquidades. Ele deseja poupá-las e tenta, portanto, em primeiro lugar, de todas as maneiras, chamá-los ao dever, à conversão e ao arrependimento. 

Mas se, apesar desses atrasos, elas obstinadamente recusarem a entrar em si e deixar o pecado; se continuarem em sua maldade, às vezes até pecando mais arrojadamente porque suas más ações não foram punidas imediatamente, então deve chegar a hora na qual a medida da iniquidade foi completada até o transbordamento. Essa hora marcará o início de alguma intervenção geral que cairá pesadamente sobre a comunidade culpada como uma punição justa de suas longamente continuadas transgressões à Santa Lei de Deus – enchentes destrutivas ou tempestades, conflagrações, terremotos; períodos de escassez ou fome; epidemias e pestilências; e, especialmente, os horrores de rebeliões e revoluções,  guerras civis e internacionais. A justiça divina usa esses males para a punição e correção do povo pecador da mesma maneira que um sábio pai de família usa a vara para o castigo e a emenda de seu filho teimoso. 

Nem é sempre necessário que Deus mande esse castigo para os pecados públicos como Ele enviou o dilúvio e a destruição de Jerusalém. Há muitos pecados que contêm em si mesmos as sementes de um futuro sofrimento público, como a semente do carvalho contém a gigantesca árvore. Se esses pecados prevalecerem por um tempo suficientemente longo, sem freio e sem arrependimento, eles devem produzir condições tais na ordem social de forma que tornem inevitáveis certas calamidades. Tome-se o caso, por exemplo, do pecado da educação sem Deus, ou seja, sem religião. Onde tal sistema for adotado, os seguintes resultados deverão ocorrer: depois de duas ou três gerações, o conhecimento de Deus desaparecerá mais ou menos completamente entre o povo; o sentido do certo e do errado será perdido; o bem será chamado mal, e o mal, bem; não haverá respeito à lei moral; a depravação da juventude crescerá mais e mais; a desonestidade e a corrupção prevalecerão nos negócios, nos tribunais, nos legisladores e no próprio governo; tributos serão sonegados ou desaparecerão nos bolsos de inescrupulosos; grandes despesas serão necessárias para manter o número crescente de asilos, tribunais juvenis, reformatórios e prisões; não haverá segurança para honrar a propriedade e a vida; as relações entre o capital e o trabalho serão pressionadas até o máximo, de maneira que a violência e o derramamento de sangue serão inevitáveis; a vida familiar será perturbada pelo adultério, divórcio e amor livre; rivalidades nacionais, invejas e ódios, provocados pela cobiça comercial crescerão cada vez mais intensamente, até que levem a guerras internacionais com miséria indescritível para milhões. As nações que semeiam vento colhem tempestade.

Os pecados públicos e nacionais devem ser expiados neste mundo pela simples razão de que não podem ser expiados no próximo. No mundo vindouro, famílias, cidades, províncias e nações não continuarão a existir como corporação. Lá, homens e mulheres existirão apenas como indivíduos, sem estar unidos por vínculos sociais, civis, políticos e nacionais, que são necessários nesta vida para o bem-estar e a preservação da raça humana. Na eternidade, eles gozarão individualmente dos frutos de suas vidas na terra – os bons possuirão o Reino de Deus no Céu, ao passo que os perversos sofrerão por seus atos maus no fogo do Inferno, que não pode ser debelado. Mas como os pecados públicos requerem expiação pública, e como essa expiação não pode ser feita na próxima vida, fica claro que ela deve ser feita do lado de cá da sepultura.

E chegamos afinal à razão do sofrimento dos inocentes, ou seja, a explicação do porquê de que mesmo aqueles que não cometem os pecados graves que assolam um país devem se unir às outras pessoas na reparação dos pecados públicos. Muitos apostatam da fé católica e deixam de acreditar em Deus porque não acham justo o sofrimento do inocente. Mas quem é totalmente inocente? As pessoas têm uma noção errada de inocência porque não têm noção do pecado. E, na verdade, aquele que é inocente mesmo quer sofrer pelos outros. 'Por que o inocente deve sofrer?' Uma questão que termina sendo uma amarga tentação para muitas pessoas cuja fé é fraca e pouco iluminada surge em conexão com o que dissemos: por que os bons e virtuosos não são poupados nesses tempos, mas são compelidos a sofrer como os outros? Se Deus é justo, como Ele pode permitir que o inocente seja afligido com o culpado? Há várias razões pelas quais Deus permite que o bom sofra em tempos de castigo público: 

(i) É certamente justo e correto que os bons auxiliem a Deus oferecendo a reparação necessária pelos pecados públicos, porque no tempo normal eles gozam juntamente com os seus concidadãos das bênçãos da paz, tranquilidade e prosperidade nacional. Os seus interesses temporais são comuns, tanto no tempo de prosperidade quanto no da aflição;

(ii) Aqueles que são inocentes por não terem de fato tomado parte em pecados públicos não são, só por essa razão, completamente livres de culpa diante dos olhos de Deus. Muito frequentemente eles são culpados desses pecados de uma maneira indireta – de maneira acessória a eles, como se diz. Assim, eles podem ter cooperado com alguma forma de imoralidade, podem não ter protestado contra ela, podem ter negligenciado o uso de sua autoridade, ou influência, ou direito de votar, ou no impedimento de sua introdução, ou em conseguir sua remoção quando ela já estivesse introduzida, e isso tudo por meio de indiferença, respeito humano, medo de perseguição, perda de negócios ou razões semelhantes e sem valor;

(iii) Os sofrimentos dos bons têm um valor expiatório muito maior do que aqueles dos maus. Portanto, quanto mais pessoas boas puderem se juntar para fazer a expiação necessária, mais rapidamente ela será feita. Ademais, Deus é facilmente movido, em consideração pelo sofrimento dos bons, a mitigar bastante suas punições, e às vezes cessá-las completamente;

(iv) A visão do sofrimento dos bons por pecados que eles não cometeram é apta a promover a conversão e salvação dos maus, fazendo-os lembrar vivamente dos castigos mais rigorosos que a eles serão infligidos na vida futura. Se o pecado é punido de forma tão severa sobre os bons na terra, quanto mais o será sobre o pecador não arrependido na eternidade;

(v) Esses sofrimentos dão aos bons oportunidade de fazer expiação completa de seus pecados pessoais. Pois não há alguém tão santo e tão confirmado em graça que não tenha cometido alguns pecados, ao menos veniais. 'Até o justo cai sete vezes', isto é, frequentemente. Mas é uma lei imutável que todo pecado, mesmo o menor deles, deve ser expiado ou aqui ou depois, no Purgatório. Mas a expiação feita aqui é muito mais lucrativa do que a que será feita após a morte;

(vi) Suportar pacientemente o sofrimento indevido faz com que o bom se assemelhe a Jesus Cristo, que, apesar de perfeitamente inocente, tomou a si a tarefa de fazer reparação pelos nossos pecados e, com isso, abriu o Céu para nós. Se Ele não tivesse feito essa reparação, não poderíamos ser salvos. Ademais, o sofrimento inocente permite que o bom atinja os mais altos graus de graça e virtude, o que acarretará para eles um correspondente elevado grau de glória eterna no Reino dos Céus. 

(Why must I suffer, Pe. F.J. Remler, C.M., Loreto Publications, 2003).

terça-feira, 23 de abril de 2013

O INFERNO QUE SALVA

O inferno leva muitas almas para o céu. O que leva muitas almas para o inferno é pensar que o inferno não existe. O que leva muitas almas para o inferno é o orgulho desmedido, é a presunção da verdade manipulada pela individualidade de se decidir apenas por si mesmo, é a arrogância da miserável condição humana tutelada por vanglórias efêmeras. O que leva muitas almas para o inferno é a indiferença às graças divinas, é a busca da satisfação a qualquer preço aos mais sórdidos instintos. O que leva muitas almas para o inferno é a maliciosa concessão ao pecado frequente e glamourizado. 

O inferno em si não condena ninguém. Pelo contrário, o inferno leva muitas almas para o céu. Tangido pelo horror da eternidade do inferno, o homem se reconhece pecador e necessitado da misericórdia de Deus. Pecador, mas não refém do pecado; consciente de que é na fraqueza humana que se manifesta a força de Cristo; na incapacidade de amar sem reservas, suplicar pelo Amor sem limites; no vazio das amarguras diárias, construir uma alma revestida da eternidade. Eis o propósito de minha alma eivada da crença do inferno: entregar, com simplicidade a despojamento absoluto, o meu nada no coração de Deus.   

Se é assim, tão transparente e cristalina quanto a misericórdia divina, porque esta verdade demolidora não é trombeteada a plenos pulmões, pelos quatro cantos da terra, pelos servos de Deus? Por que o dogma da existência do inferno é escondido dos fiéis? De que vale as tolas preocupações da vida diante os mistérios dos Novíssimos do homem? Os sacerdotes receberam do Cristo a missão de salvar almas e como se salvam almas mostrando a realidade eterna do inferno! E, qualquer ser humano, morrendo em pecado mortal, ganha a eternidade do inferno. E nisso não existe objeção alguma à misericórdia de Deus; simplesmente porque Deus abomina o pecado, qualquer pecado, mas o pecado mortal, por um ato de responsabilidade pessoal do homem, aniquila em sua alma, absolutamente, incondicionalmente, intempestivamente, definitivamente, a misericórdia de Deus.

Mas a graça persiste e reluz como ouro pela sagrada confissão. Ai dos santos se não tivessem confessado. A confissão nos torna santos; as indulgências nos santificam, as orações e as boas obras nos fazem perseverar no caminho da santidade. O Santo Rosário e o Escapulário são as armaduras da graça. E os santos, os que o são de verdade e os que buscam trilhar os seus caminhos para chegar ao céu, temem, e como temem, o inferno. A meditação frequente e consciente sobre o inferno gera santos. Quem não teme o inferno são os pecadores: quantos milhares de milhares só acreditarão no inferno quando estiverem lá? O inferno não condena ninguém, o inferno salva, porque a crença consciente no inferno leva muitas almas para o céu. 

DA FUGA DAS OCASIÕES DE PECADO

Um sem número de cristãos se perde por não querer evitar as ocasiões de pecado. Quantas almas lá no inferno não se lastimam e queixam: Infeliz de mim! Se tivesse evitado aquela ocasião, não estaria agora condenado por toda a eternidade!

Falando aqui da ocasião de pecado, temos em vista a ocasião próxima, pois deve-se distinguir entre ocasiões próximas e remotas. Ocasião remota é a que se nos depara em toda a parte e que raramente arrasta o homem ao pecado. Ocasião próxima é a que, por sua natureza, regularmente induz ao pecado. Por exemplo, achar-se-ia em ocasião próxima um jovem que muitas vezes e sem necessidade se entretêm com pessoas levianas de outro sexo. Ocasião próxima para uma certa pessoa é também aquela que já a arrastou muitas vezes ao pecado. Algumas ocasiões consideradas em si não são próximas, mas tornam-se tais, contudo, para uma determinada pessoa que, achando-se em semelhantes circunstâncias, já caiu muitas vezes em pecado em razão de suas más inclinações e hábitos. Portanto, o perigo não é igual nem o mesmo para todos.

O Espírito Santo diz: 'Quem ama o perigo nele perecerá' (Ecli 3, 27). Segundo S. Tomás, a razão disso é que Deus nos abandona no perigo quando a ele nos expomos deliberadamente ou dele não nos afastamos. São Bernardino de Sena diz que, dentre todos os conselhos de Jesus Cristo, o mais importante e como que a base de toda a religião, é aquele pelo qual nos recomenda a fuga da ocasião de pecado.

Se fores, pois, tentado, e especialmente se te achares em ocasião próxima, acautela-te para não te deixares seduzir pelo tentador. O demônio deseja que se se entretenha com a tentação, porque então torna-se-lhe fácil a vitória. Deves, porém, fugir sem demora, invocar os santos nomes de Jesus e Maria, sem prestar atenção, nem sequer por um instante, ao inimigo que te tenta. São Pedro nos afirma que o demônio rodeia cada alma para ver se a pode tragar: 'Vosso adversário, o demônio, vos rodeia como um leão que ruge, procurando a quem devorar' (I Ped 5, 8). São Cipriano, explicando essas palavras, diz que o demônio espreita uma porta por onde possa entrar na alma; logo que se oferece uma ocasião perigosa, diz consigo mesmo: ‘eis a porta pela qual poderei entrar’, e imediatamente sugere a tentação. Se então a alma se mostrar indolente para fugir da tentação, cairá seguramente, em especial se se tratar de um pecado impuro. É a razão por que ao demônio mais desagradam os propósitos de fugirmos das ocasiões de pecado que as promessas de nunca mais ofendermos a Deus, porque as ocasiões não evitadas tornam-se como uma faixa que nos venda os olhos para não vermos as verdades eternas, as ilustrações divinas e as promessas feitas a Deus.

Quem estiver, porém, enredado em pecado contra a castidade, deverá, para o futuro, evitar não só a ocasião próxima, mas também a remota, enquanto possível, porque em tal se sentirá muito fraco para resistir. Não nos deixemos enganar pelo pretexto da ocasião ser necessária, como dizem os teólogos, e que por isso não estamos obrigados a evitá-la, pois Jesus Cristo disse: 'Se teu olho direito te escandaliza, arranca-o e lança-o de ti' (Mt 5, 29). Mesmo que seja teu olho direito deverás arrancá-lo e lançar fora de ti, para que não sejas condenado. Logo, deves fugir daquela ocasião, ainda que remota, já que, em razão de tua fraqueza, tornou-se ela uma ocasião próxima para ti.

Antes de tudo devemos estar convencidos que nós, revestidos de carne, não podemos por própria força guardar a castidade; só Deus, em Sua imensa bondade, nos poderá dar força para tanto. É verdade que Deus atende a quem Lhe suplica, mas não poderá atender à oração daquele que conscientemente se expõe ao perigo e não o deixa, apesar de o conhecer, pois, como diz o Espírito Santo, quem ama o perigo perecerá nele.

Ó Deus, quantos cristãos existem que, apesar de levarem uma vida piedosa, caem finalmente e obstinam-se no pecado, só porque não querem evitar a ocasião próxima do pecado impuro. Por isso nos aconselha São Paulo (Fil 2, 12): 'Com temor e tremor operai a vossa salvação'. Quem não teme e ousa expor-se às ocasiões perigosas, principalmente quando se trata do pecado impuro, dificilmente se salvará.

(Santo Afonso Maria de Ligório, Escola da Perfeição Cristã, Compilação de textos do Santo Doutor pelo padre Saint-Omer, CSSR, IV Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1955)

domingo, 21 de abril de 2013

O BOM PASTOR


No Quarto Domingo da Páscoa, ressoa pela cristandade a imagem e a missão do Bom Pastor: 'As minhas ovelhas escutam a minha voz; eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão' (Jo 10, 27-28). Jesus, o Bom Pastor, conhece e ama, com profunda misericórdia, cada uma de suas ovelhas desde toda a eternidade. Criadas para o deleite eterno das bem-aventuranças, redimidas pelo sacrifício do calvário e alimentadas pela sagrada eucaristia, Jesus acolhe as suas ovelhas com doçura extrema e infinita misericórdia.  

E com ânsias de posse calorosa e zelo desmedido: 'Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um' (Jo 10, 29-30). Nada, nem coisa, nem homem, nem demônio algum, poderá nos apartar do amor de Deus. Porque este amor, sendo infinito, extrapola a nossa condição humana e assume dimensões imensuráveis. Ainda que todos os homens perecessem e a humanidade inteira ficasse reduzida a um único homem, Deus não poderia amá-lo mais do que já o ama agora, porque todos nós fomos criados, por um ato sublime e extraordinariamente particular da Sua Santa Vontade, como herdeiros dos céus e para a glória de Deus: 'Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade!' (Rm 11, 36).

Jesus toma sobre os ombros a ovelha de sua predileção, cada um de nós, a humanidade inteira, para a conduzir com segurança às fontes da água da vida (Ap 7, 17), onde Deus enxugará as lágrimas dos nossos olhos. Reconhecer-nos como ovelhas do rebanho do Bom Pastor é manifestar em plenitude a nossa fé e esperança em Jesus Cristo, Deus Único e Verdadeiro, cuja bondade perdura para sempre e cujo amor é fiel eternamente (Sl 99,5). Como ovelhas do Bom Pastor, não nos basta ouvir somente a voz da salvação; é preciso segui-Lo em meio às provações da nossa humanidade corrompida, confiantes e perseverantes na fé, até o dia dos tempos em que estaremos abrigados eternamente na tenda do Pai, lavados e alvejados no sangue do cordeiro (Ap 7, 14b).  

sábado, 20 de abril de 2013

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (VII)

Lívia pressentira. Isso, tinha sido um pressentimento. Uma brisa tênue, um sopro delicado que perpassou pela sua mente num instante fugidio. Uma sensação estranha num vislumbre de inquietude. Aquele lugar, aquelas pessoas, aquela agitação movida a muita bebida e música alta, passaram, num relance, a ser uma encenação medonha, um arremedo de alegria, o estertor de uma loucura. Sentiu no corpo como que uma corrente elétrica em redemoinhos, rápida e instintiva, no complemento do desasossego mental. Teve a convicção imediata de que havia algo errado, do risco iminente, da certeza do mal. E agiu de pronto.

Enveredou-se no meio da massa humana que se movia mecanicamente ao som da balada envolvente, avançando e contorcendo-se contra os corpos em desalinho. A penumbra e o espargir acelerado dos raios de luzes coloridas davam a sensação de que se movimentava em câmera lenta, meio sem direção, quase sem gravidade. E avançava aos empurrões de forma desordenada, impelida por um frêmito de medo e ansiedade de sair dali, o mais rápido possível, de qualquer jeito. Teve a clara certeza do empurrão que a lançou uns três metros à frente, em meio a espaços físicos inexistentes, através de corpos repentinamente abstratos, num voo cego e incompreensível. Sabia, sem saber como, que não podia parar, não devia olhar para trás, nem por um instante, nunca. 

A porta aberta pareceu imensa e luminosa como nas manhãs de sol e o vento frio que chegou de fora foi um oceano de bênçãos. Mergulhou na noite aconchegante como fugitiva de uma masmorra tenebrosa e respirou profundamente, como se o ar limpo tivesse os aromas integrados de todos os bálsamos humanos. E correu, correu, correu desabaladamente para longe dali, sem olhar pra trás, nunca. E teve a súbita percepção das estruturas estremecendo, dos estertores do concreto se partindo, dos gritos lancinantes da massa humana em fuga repentina, da espantosa explosão do mundo, dos vidros se despedaçando em todas as fachadas, da nuvem de destroços arrastando tudo num turbilhão enlouquecido, de gritos distantes e, depois de tudo, de um silêncio pesado como chumbo.

Lívia se levantou com desmedido esforço e cambaleou vacilante. Em câmera lenta, seus olhos foram se acostumando ao cenário de guerra agora projetado à sua frente e seus ouvidos foram se reabrindo aos sons de pessoas gritando desesperadas de algum lugar e a uma longínqua sirene de ambulância. Sabia, sem saber como, que estava viva e sem sequela alguma, embora coberta de pó e de uma máscara de fuligem. Sabia, como ninguém saberia nunca, por quem e porque tinha sido salva daquela enorme e brutal tragédia. Apertou a pequena imagem contra o peito e começou a chorar copiosamente. E, ainda cambaleante, começou a andar vagarosamente em direção às luzes mais próximas da cidade, sem sentir o ar gelado da noite, sem olhar para trás. 

DEZ PASSOS PARA A MORTIFICAÇÃO DO CORPO

1 – Limitai-vos, tanto quanto possível, em assuntos de comida, ao simplesmente necessário. Contemplai essas palavras que Santo Agostinho dirigia a Deus: 'Vós me ensinantes, ó Deus, a só tomar alimentos como simples remédios. Oh! Senhor, quem entre às vezes não cruza o limite? Se houver alguém, declaro que este homem é grande e que ele deve glorificar muito o seu nome.' (Confissões, Livro X, capítulo 31).

2 – Rezai a Deus frequentemente, rezai a Ele todos os dias para vos impedir, por sua graça, de ultrapassar os limites da necessidade e que não vos deixeis que vos dirijais para o atrativo do prazer.

3 – Não tomai nada entre as refeições, a menos em caso de necessidade ou de razões da conveniência.

4 – Praticai a abstinência e o jejum, mas fazei-os somente sob obediência e com discrição.

5 – Não lhe é proibido experimentar alguma satisfação corporal, mas o faça com uma intenção pura e abençoando Deus.

6 – Regulai o vosso sono, evitando, aqui, toda frouxidão, toda moleza, principalmente pela manhã. Fixai uma hora, se podeis, para dormir e levantar; deveis segui-la energicamente.

7 – Em geral, repousai apenas na medida do necessário; dedicai-vos generosamente ao trabalho, não vos poupeis em vossos esforços. Tomai cuidado para não extenuar vossos corpos, mas vigie para não agradá-los; assim que o perceberdes, um pouco que seja, disposto a brincar de mestre, trate-o como escravo.

8 – Se vós sentis qualquer ligeira indisposição, evitai ser uma carga aos outros por vosso mau humor; deixai aos vossos irmãos o cuidado de se queixarem por vós; sejais pacientes e mudos como o cordeiro divino que carregou todas as nossas dores.

9 – Cuidado para não usar a menor inquietação como uma razão de dispensa ou derrogação de vosso preceito ou ordem do dia: 'Deve-se odiar como uma peste toda dispensa em matéria de regras', escrevia São João Berchmans.

10 – Recebei com docilidade, suportai com humildade, paciência e perseverança, a mortificação terrível a que chamamos de doença.


(Revista Sel de la terre, n.º 7, p. 115-116, ‘La mortification chrétienne’, pelo Cardeal Désiré Mercier)

PALAVRAS DE SALVAÇÃO





'Quando nascemos, somos filhos de nossos pais; quando morremos, somos filhos de nossas obras'.

Pe. Antônio Vieira (1608-1697)

A MISSA TRIDENTINA


A Missa Tridentina, ou Missa de Sempre ou Missa de São Pio V constitui  o rito romano original da Igreja Católica, estabelecida como fruto da Tradição da Igreja desde os seus primórdios e formalmente consolidada como rito pleno pelo Papa São Pio V. Em sua bula intitulada Quo Primum Tempore, este grande papa estabelecia que o rito da Santa Missa jamais poderia ser alterado. Na Missa Tridentina, o sacerdote fica sempre de frente para o altar onde é oferecido o sacrifício; o rito é todo rezado na língua formal destinada à liturgia - o latim, que é a língua oficial da Igreja; as palavras, os gestos e a sequência da Missa conduzem a alma para a oração, para o sacrifício da Cruz que está sendo renovado de forma incruenta; o altar do sacrifício e as vestimentas do sacerdote e dos acólitos refletem a solenidade do evento; a comunhão é distribuída pelo sacerdote aos fiéis que a recebem de joelho e na boca; os presentes usam trajes discretos e respeitosos e as mulheres se cobrem com o véu na Igreja. A Missa Tridentina inspira santidade e evoca a santificação de cada um.

Com a introdução da Missa Nova de Paulo VI, instituída após o Concílio Vaticano II, a Missa Tridentina, embora nunca tenha sido oficialmente proibida pela Igreja, foi relegada ao caráter de exceção, sendo ministrada por e para comunidades muito restritas. A Missa Nova rapidamente deteriorou-se nos erros intrínsecos à sua própria concepção, no descalabro das missas-shows, encenações teatrais, quebra do rigor litúrgico, inserção de instrumentos e músicas profanas, mistura com eventos sociais, presença dos ministros da eucaristia, perda da valorização do ambiente de silêncio e adoração, uso de trajes informais e mesmo vulgares, comunhão de pé e nas mãos dos fieis, perda do referencial cristocêntrico do rito original.

Com a Carta Apostólica Motu Proprio Summorum Pontificum do Papa Bento XVI, a Igreja permitiu a qualquer sacerdote rezar a Missa Tridentina, ainda que considerada como 'rito extraordinário'. Neste documento, tem-se a referência e contatos dos locais onde atualmente são celebradas missas tridentinas no Brasil. Como tais oportunidades constituem exceções muito especiais, uma alternativa é acessar vídeos sobre a Missa Tridentina na internet.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

TRINTA E DUAS HÓSTIAS NO CHÃO

Certa vez, poucos meses antes de sua morte, perguntaram ao Bispo Fulton Sheen, quem tinha sido a pessoa que lhe teria causado maior impacto ao longo de toda a sua vida. Teria sido o atual papa ou um anterior? Quem seria tal pessoa? Eis a sua resposta: 'A pessoa que mais me impactou não foi um papa, nem um cardeal ou outro bispo, e não era sequer um sacerdote ou freira. Foi uma pequena menina chinesa de apenas onze anos de idade'. E, em seguida, contou a seguinte história: 

'Quando os comunistas ocuparam toda a China, o ódio ao catolicismo os levou a mandar para a cadeia, quando não assassinar, todos os religiosos e religiosas, particularmente aqueles que não tinham a nacionalidade chinesa, que lá se encontravam. Um destes religiosos contou-me o que havia ocorrido na sua igreja. Ele explicou que tinha sido confinado à casa paroquial, próximo à igreja e assistiu horrorizado, de sua janela, como os comunistas entraram na igreja e se dirigiram ao altar. Enlouquecidos de ódio profanaram o sacrário, atirando o cibório ao chão e espalhando as hóstias consagradas. Como eram tempos de perseguição, o padre tinha tomado a precaução de saber exatamente quantas hóstias continha o cibório: trinta e duas.

Perpetrado o sacrilégio, os comunistas se retiraram, deixando uma sentinela de guarda para impedir quaisquer cultos na igreja. Não perceberam ou desconsideraram a presença de uma menina, de cerca de onze anos, que rezava na penumbra no fundo da igreja. A menina, depois de assistir tudo o que tinha acontecido, foi para casa. Mas, à noite, ela voltou para a igreja, evitando a sentinela comunista de plantão, mais preocupado em monitorar a casa paroquial onde se encontrava o padre do que propriamente a igreja agora vazia, com os danos causados pelos invasores e, mais importante de tudo, com as trinta e duas hóstias consagradas, jogadas e espalhados pelo chão. 

Uma vez na igreja, ela se colocou na parte de trás do templo e ficou a orar por uma hora, num ato de amor e reparação ao ódio demonstrado pelos seus irmãos de raça. Após a sua hora santa, a menina moveu-se sigilosamente até o altar, ajoelhou-se até o chão e tomou, com a língua, uma das hóstias profanadas. Nesta época, ainda não estava em vigor as atuais regras de comunhão como jejum rigoroso, não comer ou beber 12 horas antes, não tocar as espécies consagradas com as mãos. A menina retornou à igreja cada uma das noites seguintes, fazendo inicialmente a sua hora santa e, em seguida, dirigindo-se para o altar e receber com a língua, uma a uma, as hóstias do chão

Na trigésima segunda noite, depois de fazer a última comunhão, a menina tropeçou acidentalmente e o ruído alertou o sentinela de plantão. A pequena tentou fugir, mas foi perseguida pelo guarda comunista que a agarrou e a golpeou até a morte com a coronha de seu rifle. Este ato de martírio heroico foi testemunhado pelo padre, da janela do seu quarto na casa paroquial, onde era mantido recluso'.

Ao tomar ciência da história, o Bispo Sheen disse ao seu entrevistador que ficou tão chocado, que prometeu ao Senhor fazer uma hora santa de oração diante do Santíssimo Sacramento todos os dias, pelo resto de sua vida. Se aquela garotinha chinesa tinha sido capaz de testemunhar com a própria vida a presença real de Jesus no Santíssimo Sacramento, ele, como bispo, teria que fazer o mesmo. Seu único desejo desde então foi atrair o mundo ao Coração Ardente de Jesus no Santíssimo Sacramento. E continuou:

'Embora seja uma bela história, não gostamos do final. Não gostamos que o soldado comunista tenha subjugado a menina e desferido golpes mortais na sua cabeça com a coronha do rifle. E a razão fundamental para este nosso desgosto, é que, como somos corpo e alma, matéria e espírito, a preponderância normal em nós é a do corpo sobre o espírito, pelo que ansiamos um final mais feliz, mais ditoso, mais ao estilo 'hollywood' e não na tristeza da morte do protagonista, da menina chinesa anônima. O que acontece é que, dado esse apego que temos às coisas do mundo, valorizamos mais em nos manter nele, a qualquer preço, do que em valorizar a glória concedida a esta menina no seu martírio. Nossa corporalidade humana nos cega e não percebemos que a parte mais bonita desta história é justamente o seu final, o regalo da palma do martírio, que Deus concedeu à alma dessa menina chinesa, alma privilegiada de quem se fez eleita do Senhor'.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

AS MARAVILHAS DA GRAÇA DE DEUS

'A graça de Deus é um clarão da bondade divina que, vindo do céu à alma, enche-a, até as profundezas, de uma luz, a um tempo tão suave e poderosa, que encanta ela própria o olhar de Deus; transforma-se em objeto de Seu amor e se vê adotada como filha e esposa, para ser elevada sobre todas as possibilidades de sua natureza. E assim, junto de Deus e do Filho divino, participa da natureza divina, de sua vida, de sua glória e recebe por herança o reino de sua felicidade eterna.

Ensina-nos São Tomás na Suma Teológica que o mundo inteiro, com tudo que contém, vale menos aos olhos divinos que um só homem em estado de graça. Santo Agostinho vai ainda mais longe e afirma que o céu e todos os coros dos anjos não lhe podem comparar. Deveria o homem sentir-se mais reconhecido a Deus pela menor graça recebida do que se recebesse a perfeição dos espíritos puros ou o domínio dos mundos celestes.

Estremecemos quando se obscurece o sol por um momento, quando um terremoto devasta uma cidade, quando uma epidemia ceifa homens e animais. E, entretanto, algo de imensamente mais terrível e mais triste repete-se a cada dia sem nos fazer comover: o fato de tantos homens perderem continuamente a graça de Deus, e desprezarem as ocasiões mais favoráveis para alcançá-la ou aumentá-la.

É de toda evidência que pouco amamos a nossa verdadeira felicidade, e mal reconhecemos o amor infinito com que Deus nos cerca e os tesouros que nos oferece... A causa de tão deplorável desprezo vem dos nossos sentidos fornecerem uma ideia por demais elevada dos bens perecíveis o nosso conhecimento dos bens eternos ser excessivamente superficial.

Dizia Santo Agostinho: 'Segundo as palavras do Salvador, céus e terra passarão, permanecerão, porém, a salvação e a justiça dos eleitos, pois contém os primeiros as obras de Deus e os segundos a própria imagem de Deus'. São Tomás nos ensina ser coisa mais grandiosa a volta do pecador à graça do que a criação do céu e da terra. É que esta última obra termina-se em criaturas contingentes, ao passo que a graça nos leva a participar da natureza imutável de Deus. Quando Deus criou as coisas visíveis, construía uma morada para Si; quando dá ao homem uma natureza espiritual, povoa de servos sua mansão; quando lhe confere, porém, a graça, adota-o em seu seio, torna-o seu filho, comunica-lhe sua vida eterna.

Em uma palavra, a graça é um bem sobrenatural, já que nenhuma criatura criada pode possuir por si, já que ela é possuída apenas pela natureza divina. Tanto é assim, que a maioria dos teólogos sustenta que Deus, apesar de sua onipotência, não poderia criar um ente ao qual, por sua própria natureza, corresponda a graça, e chegam a afirmar que se tal criatura realmente existisse, não se distinguiria de Deus.

A isso acresce o que tem, com tanta clareza e frequência, ensinado a Igreja: nenhuma criatura traz em si o germe da graça. Como observou Santo Agostinho, a natureza relaciona-se com a graça, como a matéria inanimada com o princípio vital... Somente Deus, em sua bondade, pode concedê-la, na glória do Seu poder, envolvendo a natureza em Sua virtude divina. 

A graça supera todas as coisas criadas, como o próprio Deus, visto não ser outra coisa que a luz sobrenatural que, das profundezas da divindade, se derrama sobre a criatura racional... Elevemos, pois os nossos olhares a tais tesouros ... Ainda que possuíssemos todos os dons da natureza, ouro, prata, poder, fama, ciência, artes, todas essas riquezas se desvaneceriam diante da graça, como um monte de terra ao lado de uma pedra preciosa. E, pelo contrário, embora pobres em tudo, a graça de Deus nos faz, por si só,   mais ricos que todos os reis deste mundo ... A inconcebível distância que medeia entre a graça e os bens da natureza não só nos deve impedir de perder aquela pelo pecado mortal, mas há ainda de incitar-nos a praticar com diligência as virtudes que aumentam a graça em nós.' 

(Excertos da Obra: 'As maravilhas da graça divina' de M.J.Scheeben, Ed. Vozes, 1952).