terça-feira, 17 de setembro de 2013

A BÍBLIA EXPLICADA (VII)

Por que doze e quem foram os Apóstolos de Jesus? 


Um dos dados mais seguros sobre a vida de Jesus é o fato de ter constituído um grupo de doze discípulos, aos quais chamou os 'Doze Apóstolos'. Este grupo era formado por homens que Jesus chamou pessoalmente; que o acompanharam na sua missão de instaurar o Reino de Deus; que foram testemunhas das suas palavras, das suas obras e da sua ressurreição. 


O grupo dos Doze aparece nos escritos do Novo Testamento como um grupo estável ou fixo. Os seus nomes são: 'Simão', a quem Jesus pôs o nome de Pedro;Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, André, Filipe, Bartolomeu, Mateus,Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, aquele que O entregou (Mc 3, 16-19). 

Nas listas que aparecem nos outros Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos, há algumas poucas variações. Tadeu é também chamado Judas, mas isso se deve devido ao fato de diferentes pessoas ter o mesmo nome – Simão, Tiago – sendo comumente distinguidos, então, pelo segundo nome. Trata-se, pois, de Judas Tadeu. O que é significativo é o fato de, no livro dos Atos, não se falar do trabalho evangelizador de muitos deles: sinal de que se dispersaram muito rapidamente e de que, apesar disso, a tradição dos nomes de cada um dos Apóstolos estava muito firmemente estabelecida.

São Marcos (Mc 3, 13-15) disse que Jesus: 'tendo subido a um monte, chamou a Si os que quis, e aproximaram-se d'Ele. Escolheu doze para que andassem com Ele e para os enviar a pregar, com poder de expulsar os demônios'. Assinala dessa maneira a iniciativa de Jesus e a função do grupo dos Doze: estar com Ele e ser enviados a pregar, com o mesmo poder que tem Jesus. Os outros evangelistas – São Mateus (Mt 10, 1) e São Lucas (Lc 6, 12-13) – expressam-se em tons parecidos. Ao longo do Evangelho, percebe-se como acompanham Jesus, participam da sua missão e recebem um ensinamento particular, embora possam não ter compreendido no momento muitas coisas e até O tenham abandonado num momento da prova. 

É muito significativo que o número dos eleitos seja Doze. Este número remete às doze tribos de Israel (Mt 19, 28; Lc 22, 30; etc.) e não para outros números comuns no tempo – os membros do Sinédrio eram 71, os membros do Conselho em Qumran eram 15 ou 16 e 10 eram os membros adultos necessários para o culto na sinagoga. Por isso parece claro que, desta maneira, assinala-se que Jesus não quer restaurar o reino de Israel (At 1, 6) – pressupondo a terra, o culto e o povo – mas instaurar o Reino de Deus sobre a terra. A isso aponta também o fato de, antes da vinda do Espírito Santo, no Pentecostes, Matias ter passado a ocupar o lugar de Judas Iscariotes, completando assim o número dos doze (At 1, 26).

Quantos são e quem foram os Evangelistas?


Os Evangelhos nos transmitem a pregação dos Apóstolos e os evangelistas foram Apóstolos ou seus discípulos (Dei Verbum n. 19). Com isto, faz-se justiça ao que se recebeu pela tradição: os autores dos evangelhos são: Mateus, João, Lucas e Marcos. Destes, os dois primeiros figuram nas listas dos doze Apóstolos (Mt 10, 2-4 e correlatos) e os outros dois figuram como discípulos de São Paulo e de São Pedro, respectivamente. A investigação moderna, ao analisar criticamente esta tradição, não vê grandes inconvenientes em atribuir a Marcos e a Lucas os seus respectivos evangelhos.Todavia, analisa com olhos mais críticos a autoria de Mateus e de João. Costuma-se afirmar que esta atribuição apenas põe em evidência a tradição apostólica da qual provêm os escritos, mas não que tenham sido eles mesmos os que escreveram o texto.

O importante, portanto, não é a pessoa concreta que escreveu o evangelho mas a autoridade apostólica que estava por trás de cada um deles. Em meados do século II, São Justino falou das 'memórias dos apóstolos ou evangelhos' (Apologia 1, 66, 3) que se liam nas reuniões litúrgicas. Com isto, dão-se a entender duas coisas: que esses escritos tinham origem apostólica e que se colecionavam para serem lidos publicamente. Um pouco depois, ainda no século II, outros escritores já nos dizem que os evangelhos apostólicos eram quatro e apenas quatro. Assim, Orígenes diz que 'a Igreja tem quatro evangelhos, e os hereges muitíssimos, entre eles um que se escreveu segundo os egípcios, outro segundo os doze apóstolos. Basílides atreveu-se a escrever um evangelho e divulgou-o sob o seu nome (...). Conheço certo evangelho que se chama segundo Tomé e segundo Matias; e lemos muitos outros' (Hom. I in Luc. PG 13, 1802). .Expressões semelhantes encontram-se em Santo Irineu que, além disso, acrescenta em certo lugar que 'o Verbo artesão do Universo, que está sentado sobre os querubins e que tudo mantém, uma vez manifestado aos homens, deu-nos o evangelho quadriforme, evangelho que, não obstante, é mantido por um só Espírito' (Contra as heresias, 3, 2, 8-9).

Com esta expressão – evangelho quadriforme – realça uma coisa muito importante: o evangelho é único, mas a sua forma de expressão é quádrupla. A mesma ideia se expressa nos títulos dos evangelhos: os seus autores não vêm indicados, como outros escritos da época, com o genitivo de origem – 'Evangelho de…', mas com a expressão kata: 'Evangelho segundo…' .Desta forma, se assinala que o evangelho é único, o de Jesus Cristo, mas testemunhado de quatro formas que vêm dos apóstolos e dos discípulos dos apóstolos, indicando uma pluralidade dentro da sua na unidade. 

(Da obra 'Jesus Cristo e a Igreja' - Universidade de Navarra)